quarta-feira, 23 de julho de 2025

Antes Do Adeus

Quando você ama um irmão
Tanto quanto eu amei o meu,
O último lugar onde você espera
Encontra-lo é num leito de hospital,
Principalmente, quando ele sai
De casa sadio e forte
Pilotando sua moto
Rumo ao trabalho.
Meu irmão, sempre tão forte
Escolheu a profissão de higienizar ambientes,
Dirigir aquela máquina de água,
Exige muito esforço,
Geralmente, ele limpa
Aviários e chiqueiros para a Sadia.
Trabalha direto com o suinocultor e avicultor,
A pessoa o contrata
E ele vai lavar,
Entrega limpo e recebe
O valor acordado.
Este trabalho dura no geral
Três dias cada barracão,
Aí o dinheiro já entra na conta.
Ele está despreocupado financeiramente,
Vai até o local de Fusca,
É um carro pequeno,
Mal cabe a máquina grande
No banco de trás,
Ele leva nosso pai para ajudar.
Os porcos são retirados
E enviados para a Sadia,
Então, ele chega limpar
Para recolocar novos porcos,
É assim com os frangos também.
Outro dia, embarcamos na moto
E fomos até o eucaliptal
Dar voltas,
Ele queria me ensinar a pilotar,
Eu senti medo de ir sozinha,
Mas recebi as diretrizes,
Aprendi onde era o acelerador,
Onde ligava,
Que a marcha era trocada no pedal,
Através do pé para cima,
Para aumentar e vice-versa,
E o acelerador era no punho,
Através de rolagem
E o freio através daquele
Daquela maçaneta onde
Se coloca a mão.
Ele fez zeros fechados,
Fez zigue e zague,
Aprendeu a estacionar,
Fazer ultrapassagem,
A aumentar a velocidade
E a diminuir de maneira rápida.
Com seu primeiro salário,
Que recebeu em cheque
Do trabalho feito num aviário
Ele nos comprou carne
Para o churrasco
E chocolate em barra.
Me deu uma toda para eu.
Ele mesmo fez o fogo
Embaixo da laranjeira
E espremeu o limão
Sobre a carne depois a pôs
No espeto, então, assou.
Nosso pai ficou feliz,
Se sentia orgulhoso,
Ele estava sendo independente.
Contudo, logo ele caiu da moto,
Sofreu um acidente sozinho,
Derrapou no chão,
E deslizou com a cara
E o corpo sobre a terra.
Quando nós soubemos
Ele já estava hospitalizado,
Nossos pais correram buscá-lo,
Eu faltei a faculdade só para vê-lo.
Ele disse para a namorada dele
Que não queria me ver,
Eu era um mal exemplo para ele,
Pois eu gostava de relacionamentos
Em que eu traísse o esposo,
E meu nariz era feio,
Então, por inveja,
Eu desejei o dele do mesmo jeito
E agora ele fraturou o nariz.
Eu o ouvi falar,
Aí me sentei triste
Ao lado da porta,
Eu queria vê-lo,
Meu coração se aprisionou.
Eu não sei quem era ela,
Nunca soube,
O relacionamento logo teve fim.
Mais tarde,
Nós fomos no rio,
Ele desceu até lá de moto,
Eu fui caminhando,
Sou mais medrosa,
Há lá um pequeno moro,
Só isso,
Não é mesmo um caminho difícil,
Mas, veja, nem piloto.
Lá tiramos fotos,
Eu fiquei assustada
Em vê-lo,
Ele teve grandes cicatrizes
No nariz e ombro.
Chamou de deformação,
Eu mostrei a ele
Que jamais seria
Ele era perfeito,
Inacreditavelmente, perfeito.
Nosso pai trocou mamãe
Por uma garota mais jovem,
Disse que precisava beber
Do vigor da juventude,
Nossa mãe voltou a estudar,
Disse que estava com pouco cérebro.
Eu guardo nossas fotos,
Eu sonho em estar sempre
Com meu irmão,
É meu sonho ver ele pilotar
Para mim,
Eu não preciso ser melhor
Que ele,
Nem independente,
Ele pilota e eu vou na carona.
Eu gosto que ele seja
Auto determinado e
Que me veja como alguém frágil
Que sempre irá precisar dele.
Certa vez, tomei remédio
Para morrer,
Apenas dormi,
E quando acordei odiei isto,
Estar viva não teria sentido
Nem nossa mãe,
Sempre forte nos fazendo
A melhor comida,
Mantendo nosso chão limpo,
Nossas roupas bem organizadas,
Nosso papai trabalhando
Para nos vestir, dar casa e comida,
E meu irmão,
O garoto forte
Em que me baseio
E busco amparo.
A roupa dele grudou no corpo
Devido a quantidade de sangue
Que escorreu do ferimento,
Teve que ser cortada,
Mamãe cortou com a tesoura,
Eu sofri,
Era a linda camisa branca
Que escolhemos juntos.
Agora iremos juntos a loja
Escolher outra tão linda
Para ele sair e se sentir bem.
A loja que escolhemos
Pertence a um amigo da família,
Ele não chegou nos cumprimentar,
Eu me sento estranha,
Compramos uma legal
Verde esmeralda,
Então, fomos tomar sorvete juntos.
Em frente a loja,
Escolhemos sorvete
Com refrigerante,
Ficamos muitas horas lá.
Ele também não foi convidado
Para o sorvete,
Era verão quente,
Não nos importamos
Em deixá-lo trabalhando
Naquela sala fechada
De loja de vestuário,
Sozinho, contando vendas.
Eu me preocupo com ele,
Tenho medo de perde-lo,
Eu tento dizer isto a ele,
Mas, as garotas que ele conquista
Sentem ciúmes da nossa ligação,
Não compreendem nosso
Sentimento de união e carinho.
Ele sempre foi meu braço forte,
Meu punho fechado,
A voz grossa e estridente,
Meu amparo para dias ruins,
Meu sorriso de sempre,
Logo depois, outra vez ele caiu.
Queria descobrir de que ele foge
Que precisa correr tanto,
De que ele precisa
Que busca sempre estar em movimento,
O que o aprisiona
Pra ele almejar tanta liberdade,
Por quê parece buscar algo
Tão distante,
Se estamos tão próximos...
O que ele ouve?
Será que há alguém o perseguindo?
Os amigos não falam
Coisas tão boas quanto os pais,
O que o aflige,
Queria saber por que
Ele não divide estas coisas comigo.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Amar é Compreender

O amor é carinho E felicidades, Amar alguém é cuidar E dar liberdade, Permitir que o outro Possa ter sonhos, E se nestes s...