domingo, 3 de agosto de 2025

A Cova Aberta do Cemitério do Bairro

Ranson pegou a pá,
E pôs-se a cavar,
Preferiu a noite,
No instante em que
Os mortos dormiam,
Lhe pareceu mais seguro.
Estava a esmo,
Sentia profunda cede,
Queria algo para beber,
Um lugar para ficar,
Algo para comer...
Encontrou a pá,
Na entrada do cemitério,
Então, viu um lugar de terra
Fácil para retirar
E iniciou a escavação.
Enquanto a lâmina
Da pá cortava o chão,
Um barulho parecia
Tremeluzir sob aquela grama
Verde é viscosa
Que se espalhava
Por toda a terra.
Isto não o assustou,
Insistiu em cavar
Próximo a duas lápides,
Então, um galho se quebrou,
Caiu sobre sua cabeça,
Sangue líquido e fino
Escorreu por seu rosto,
Nem isto o conteve.
Suas mãos tremiam,
Ele sentia medo
Do que quer que
Houvesse ali dentro,
Mas, queria dinheiro,
Precisava de bens de valores
Financeiro.
A luz desfragmentada
Pela copa das árvores
Que chegava até ele
Era insuficiente para que
Ele fosse reconhecido,
Mas, era perfeita para
Ele encerrar o trabalho.
Tirou a terceira pá de terra
Para o lado,
Raízes se sobressaiam da terra,
Aprofundou outra pá
Até parti-las,
Não estava tão fácil,
Mas, a lua ia e voltava,
E isto era perfeito
Para manter sua identidade
Protegida.
A lápide da esquerda
Se inclinou em sua direção,
Porém, não deixou nada a mostra,
A da direita se rachou,
Mas, não abriu,
Ele insistiu,
Estava no lugar certo.
“mortos não retornam”.
Ele falou em voz alta,
E cavou um metro
Para dentro da terra,
De repente, sua pá
Começou a balançar
Como se tivesse vida própria,
Ele a soltou no chão,
Como se uma mão
A tivesse puxado de seus dedos,
Ela rodopiou e caiu
Ao seu lado.
Ele se agachou
Buscou na cova
Algum indício de algo,
Ainda não havia nada,
Nisto juntou a pá
E deu continuidade.
Contudo, quando a pá
Cavou mais profundo
Um barulho terrível
Saiu lá de dentro
Como se ele a passasse
Sobre pedras e soltou luz
Daquele buraco,
Mas, olhando-se lá dentro
Não se via nada.
“podem ser seus testudos.”
Ele falou em voz alta,
E continuou.
Trêmulo devido a luz,
Olhou ao redor,
Não viu ninguém perto,
Insistiu.
Todavia, a cova partiu-se
Ao meio e uma força
Sobre-humana o puxou
Para dentro,
Ela parecia sugar seu ar,
E fazer seu coração
Parar de bater
E ser tragado,
Como se outro indivíduo
Agora o recebesse,
Então, seus olhos ficaram cegos,
Ao levar sua mão sobre
Seu rosto,
Notou a ausência dos olhos,
E sentiu uma dor terrível,
Como se sua pele caísse
Dos ossos
E descesse para a terra fofa.
Não havia nada abaixo dele,
Apenas está força estranha
E silenciosa.
Porém, ele se soltou,
Pulou fora da cova
E pegou a pá rapidamente
Para bater sobre a cova,
Como se estivesse matando
Algo,
Sabendo que ali
Nada se via.
A cova parecia
Estar se abrindo para recebê-lo,
Por isso, tornava tudo
Tão fácil,
Ele não soube se pelo medo
Ou por qual motivo
Resvalou na beira da cova
E caiu dentro,
De um pulo se jogou
Para o outro lado.
Seu sapato ficou caído
Lá dentro,
Como se algo o puxasse,
Mas, não havia nada ali.
Ele não quis abaixar-se
Para buscar o sapato,
Mas pulou de volta
Para o outro lado
Onde estava a pá caída
Para fora da cova
E o retirou com ela.
A terra subitamente ficou
Molhada como se olhos
Chorassem lá dentro,
Num instante ela ficou
Inundada até chegar
Aos seus pés,
Então, ele abaixou-se
Para tocar na água
E viu que não havia nada ali.
Ela retornou toda
Para baixo da terra,
E sua cede piorou,
Ela parecia convida-lo.
O chão começou a se agitar,
As lápides começaram
A se quebrar,
E a árvore que estava
Ao lado dele
Se partiu ao meio
Permitindo que a luz da lua
Passasse.
De súbito seu rosto
Foi iluminado,
Agora, ele seria reconhecido,
Estava a mercê.
Mas, uma nuvem cobrou
A lua, levemente,
Como um véu.
Sem poder conter
A vontade que possuía
De abrir a cova,
Ele cavou outro metro
E lá viu um braço estendido,
Nele um bracelete
De ouro e pedras,
Haviam apenas ossos
E dedos sem pele
Com anéis de ouro e pedras.
“Mas isso é muito valioso”.
Ele pensou rápido,
Olhou de soslaio
Não viu ninguém,
E se agachou de joelhos
Para juntar o objeto,
Os dedos no entanto,
Prenderam seu braço
E o puxaram,
E eram muito fortes,
Eram os ossos mais fortes
Que ele já viu.
A terra começou a tremer,
E cair para dentro,
A cova começou a se desgrudar
E pedaços enormes de terra
De sua beirada
Se deslocaram para dentro.
Depois disso,
A lápide da esquerda
Se quebrou onde tinha
A nomenclatura do morto,
Caiu sobre a cabeça dele,
E seu corpo se estendeu
Sobre a cova,
Inconsciente.
Seus dedos presos
Nos ossos do morto,
A lápide grossa de mármore
Caída sobre sua cabeça,
Um pouco de terra
Sobre seu corpo,
E água.
A cova voltou a fazer água,
Quando chegou ao seu corpo
Ele sentiu profundo frio,
Seu corpo tremia involuntário,
Depois disso,
Ela chegou ao seu nariz.
Então, um tremor maior
Deslocou a lápide do lado,
E ela veio inteira sobre ele,
Como se seu lugar anterior
Fosse ali.
Contudo, apresentou rachaduras,
Pois quebrou ao meio
Sobre ele,
Que estava estendido
Sobre a cova aberta.

Rainha Vermelha

Em fuga
Eu rezei para que
A ponte do castelo
Estivesse baixada
Conforme eu pedi a Rolinton,
Eu precisa não ser pego.
Nono na sucessão ao trono,
Recebi a informação de que
A sala do trono estaria vazia,
Logo, pedi pão a vovó Rainha,
Ela me cedeu,
Fui a cozinha buscar,
Levei com está fatia
Uma faca,
E com ela destranquei a sala.
Lá, roubei a primeira joia
Que encontrei,
Não me preocupei se era a coroa
Ou o que vinha a ser,
Logo que entrei na sala
Reluzente em amarelo,
Imaginei que seria tudo,
Menos merda,
Embora vovó em seus tempos
Se ócio gostasse
De receber visitas,
Contudo, apesar de todos
Os meus esforços,
Eu nunca foram chamado
Para aquele determinado local.
Amaldiçoo os que entraram,
Ali só fui recebido
Mediante o comparecimento
De toda a família,
Do primeiro ao nono príncipe,
Todos enfileirados
Para ouvi-la falar,
Sentada ao trono,
Que, em evidências mais óbvias
Era esculpido do ouro,
Embebido a pedras preciosas,
Adornado por tudo que houvesse
De valor,
Até mesmo os nomes dos
Sucessores numa bandeja
Ao lado do magnificente.
Bem, dentro da sala de ouro,
Eu esqueci todo o resto,
Quando vislumbrei o enorme
Trono, de espaldar grande,
E quatro pernas,
Uma cadeira normal,
Contudo de pedrarias.
Corri para ele,
Tentei arranca-lo,
Mas parecia grudado,
Tentei retirar algumas
De suas pedras,
Mas, só consegui quebrar
A faca e deixar uns dentes,
Depois ao quebrar a mão,
Optei por pegar um baú
Que estava solto
Logo atrás dele,
E corri.
Corri muito.
Estava mais que
Com a cabeça a prêmio,
Mas, também com meus
Direitos de sucessor em jogo.
Provável rei,
Após a queda de oito,
Eu não poria minhas chances
No lixo por nada.
Fora da sala,
Recordei dos nomes
Sobre aquela bandeja,
Me veio logo o sorriso
De vovó Rainha,
Sem dentes,
Cabelos brancos,
Rosto coberto de rugas
Devido a idade avançada.
Abri a porta que já estava
Puxando para fecha-la
E corri até aquela bandeja,
Risquei o nome de Adriane,
Também, o de Paula,
E fui tomado por um ímpeto de coragem:
Deixei apenas três –
Enrique, Ariane, e Cleiton.
Agora eu era o quarto,
Ok.
Estava tudo melhorando
Bastante.
Risquei de maneira
Que jamais alguém
Poderia ler
O que havia anteriormente
Escrito.
E eu jamais seria testemunha
Contra eu próprio,
Então, o caminho estava a salvo.
Corri, fechei a porta.
Dentro do amplo corredor,
Busquei a porta de saída,
Estava trancada,
Eu não poderia bater
Para que fosse aberta,
Então, busquei minha faca
E lembrei de tê-la quebrado
E abandonado ela
Ao lado do trono.
De maneira estratégica
No estofado de pele
Para que vovó Rainha
Se sentasse sobre ela
E nunca imaginasse
Que foi trabalho de um adulto.
Agora, sem a faca,
Já que quebrou-se toda,
Eu deveria achar outra saída,
Estava com o baú de mão
Em meu poderio,
Tinha dinheiro em propriedade,
Não poderia desistir,
Fui até a janela,
Sem recordar muito
O que havia embaixo
E pulei.
Me larguei de lá
Para o pátio,
Cai sobre arbustos,
Destruí o jardim de vovó Rainha,
Sobre escoriações
Devido aos galhos
E penso que fraturei
Uma perna.
Mesmo assim,
Me levantei e fugi,
No caminho,
Lembrei de Sabine
Docemente a espera
De ser amada em seu quarto,
Sem avisá-la
Sobre minhas intenções
Fui até lá.
Subi pelas janelas,
Vi que o baú de mãos
Estava pesado
E o soltei para o lado
Sobre um dos arbustos,
Então,
Escalei uma,
Escalei a outra
E depois a terceira.
Ela estava na terceira,
Em seu quarto,
Rasguei a cortina
Antes de ela me ver,
Fiz dela uma espécie de touca,
E entrei,
Fingi que era seu esposo.
- Oi amor,
Sou eu Normaro.
No corpo de Sabine
Eu perdi a contagem do tempo,
Quando saí de lá,
Ao descer as janelas
Resvalei na terceira
E cai.
Normaro me pegou
No quintal,
Ainda descendo das janelas,
Normaro me bateu tanto,
Que minha touca sobre o rosto
Ficou irreconhecível de sangue.
Ao ser jogado no rio,
Rolinton me encontrou de barco,
Soube das minhas dores,
E correu para buscar o baú
De mão,
Encontrando o trouxe,
Voltou ao barco
E me acolheu daquela água
Ensanguentada
E fria.
Eu tremia,
E soluçava minhas dores.
Logo ele iniciou a remar,
Levou o barco para o meio
Do rio
E desceu água a baixo.
- por quê não cruzamos a ponte?
Indaguei,
Recostado na beirada
Do barco.
- você está muito ferido,
E não pode andar.
- mas, por quê você não
Me carrega?
Eu sou o príncipe.
- o quê? A que preço?
- a preço pequeno!
- quanto exatamente?
A custo me virei de costas,
Escondi o baú de mão
E verifiquei o que tinha:
Fiquei estarrecido,
Havia ali somente jóias
Que eu já havia levado
Anteriormente e troquei
Por falsas.
- vovó Rainha nos enganou.
Eu disse.
- o quê?
Rolinton gritou
E bateu o remo
Contra o lado do barco.
- não destrua isso
Ou afundaremos.
Estamos com pouco
Dinheiro, apenas isso.
- não entendi.
Ele insistiu.
- olha, a cópia de joias
De valor ainda são
Réplicas perfeitas
Àquelas pertencentes a coroa.
- claro, terei uma réplica perfeita.
Rolinton falou
Concordando
E seguiu remando para longe.
Passamos por três cidades,
Eu não faço ideia
Por quais eram,
Nunca decorei nomes
Ou me importei com territórios,
Mas, precisava fugir:
*Para gastar o valor das réplicas;
*Para ser esquecido do quarto de Sabine;
*Para que o esposo dela
Me esqueça mais que ela.

Enchente Braba

O rio encheu
Tão de repente
Quanto iniciou
A chuva.
A água ficou marrom,
E o barulho
Se tornou ensurdecedor,
Otaviano acordou assustado,
Eram cinco horas da manhã,
Não havia previsão
No dia anterior para chuva,
Porém chovia.
Ele notou pelo barulho
No telhado,
Teve certeza,
No instante em que
Uma telha se rachou,
E começou a pingar
Sobre a cama.
A chuva estava tão densa,
Que o foro não suportou
Segurar a chuva
Para impedi-la de cair,
Ela escolheu cair sobre seu pé.
- acorde, Judite.
Está chovendo sobre a cama,
Acho que molhou os cobertores,
E talvez, já tenha chegado
Ao colchão.
A esposa dele acordou
No mesmo instante,
Assustada e sonolenta.
- não permita que molhe tudo,
Temos poucas roupa
De inverno.
Ela respondeu,
Saindo da cama rapidamente,
E pegando ao lado da cama
Para puxa-la
Para o seu lado
E tentar evitar que a goteira
Molhasse completamente.
- puxe a cama
Até que a goteira suma.
Ela disse.
- você não acha melhor
Trocar a telha
E cobrir o furo?
Respondeu Otaviano.
Auxiliando Judite
A empurrar a cama
Para a direita.
- como você trocará a telha
Embaixo da chuva?
Pode cair um raio,
Ou então, você pode resvalar
E cair de lá.
Judite respondeu preocupada.
- tem razão amor.
Se retirar a cama debaixo
Da goteira ajuda,
Já fizemos o bastante.
Ele encerrou.
Encostando a cama
Para o lado
E ajudando Judite a sair de lá.
Judite aceitou a mão
Que ele lhe estendeu,
Depois aceitou encarecida
O abraço que ganhou,
Se demorando recostada
No peito do esposo.
Otaviano saiu para a sala,
E foi até a janela da cozinha,
De onde constatou
Que o rio estava cheio,
Uma enchente sem tamanho
Chegou e seu caico
Poderia ter se perdido,
Ou arrebentado a corda
Que o mantinha preso
A margem.
- querida, o rio encheu
E nosso caico se perdeu.
Ele disse,
Se virando assustado
Para o lado da esposa
Que entrava da sala
Para a cozinha
E abria bem a cortina.
- talvez a árvore esteja
Já dentro do rio,
Mas não tenha se quebrado,
Então, ela o segurou...
- tem razão.
Ele respondeu,
E correu trôpego
Para abraça-la,
A esposa sempre lhe traziam conforto.
- eu preciso nadar até o caico,
Desamarar a corda
E puxa-lo para a margem
É de lá que tiramos nosso pescado,
Sem o peixe que nos sustenta
Morremos de fome.
- mas amor,
O rio pode estar cheio demais,
Vamos escolher deixar o caico...
-querida, não podemos.
O caico é difícil de fazer,
Caro pra comprar...
- amor, você não está
Pensando direito,
Você não pode arriscar sua vida
Desta maneira.
- querida, entenda:
Eu nado bem!
Otaviano respondeu,
Dando a conversa por encerrada.
Abraçou a esposa com carinho,
Pegou o guarda-chuva
Que estava pendurado
Num prego atrás da porta
E saiu para fora.
Judite ficou boquiaberta,
Sem entender o motivo
Seus olhos lacrimejaram.
Chovia muito.
Estava escuro.
O céu não dava trégua
E o rio não perdoava.
Buscou sua sombrinha
Atrás da porta
E correu atrás do esposo.
Não o deixaria sozinho.
Na saída da porta
Uma lufada de vento
Quebrou a sombrinha
Para trás,
Agora nada adiantaria.
Ela jogou a sombrinha
Sobre a área
E saiu embaixo da chuva,
Preocupada com o esposo.
Ao chegar próxima
Ao porto,
Resvalou na terra,
E foi parar dentro da água,
A água estava rápida,
Porém ela se firmou
Sobre uma galho
E se puxou para cima.
Em terra dura,
Ela se agarrou
Num galho ao lado
E buscou o esposo,
Ele estava nadando.
Realmente, a árvore
Que segurava o caico
Estava no meio da água
E o caico foi puxado para baixo
E batia contra as pedras
E árvores.
- a corda não irá mantê-lo?
Ela teve tempo de gritar
Ao esposo,
Ele estava chegando lá,
Em meio a braçada na água
Ele olhou para ela.
Um olhar assustado.
Um olhar apaixonado,
Talvez, um último olhar.
Chegando lá,
Ele foi obrigado a cortar
A corda
Para poder puxar o caico
Para seu lado.
Isto demorou um pouco,
Então, ele cortou,
Puxou o caico,
E subiu nele buscando o remo
Que continuava dentro dele,
Que embora cheio de água
Não se perdeu por estar amarrado.
Com o remo ele retirou a água
De dentro
E então o empurrou
Para o lado da margem,
Pulando dentro dele
Rápido.
Quando ele estava
Próximo a chegar,
Na metade do caminho,
O caico bateu contra
Uma pedra debaixo
Da água
E Otaviano caiu contra a borda
E quebrou a perna,
Estabilizado,
Não foi capaz de impedir
Que o caico se perdesse
Para baixo
Levando ele em cima.
Judite correu pela margem,
Juntou um cipo mil homens,
O cortou da árvore
Em que ele subia
E laçou o caico,
Então, a árvore o manteve.
Impedido de seguir o caico
Chegou a margem,
E ficou lá.
Judite correu,
Subiu nele,
Pegou sua corda e
O amarrou numa árvore.
Agora ele estava seguro
Pelo cipo
E também pela corda amarrada.
Depois disso,
Ela ajudou Otaviano
A voltar para a casa,
Seguros.
Também seu ganha pão
Foi salvo,
Agora restava apenas
Trocar a telha
E esperar a chuva acalmar.
Logo, o dia foi amanhecendo,
A chuva continuou,
O rio aumentou ainda mais,
 Porém, não foi capaz
De levar o caico
Ou causar danos.

sábado, 2 de agosto de 2025

A Rachadura Lá de Casa

Com pouco dinheiro
E muito a fazer,
Eu dei meu primeiro passo
Para dentro da casa,
No mesmo instante
Um barulho de algo
Se partindo
Cruzou por meus ouvidos.
Fiquei mais atento,
Para entender o que ocorria,
Percebi que embaixo
Do meu pé
Originou-se uma rachadura,
E está andou para frente
Em velocidade desmedida
Ganhando quase todo
O chão que viria.
Eu levantei o rosto
Para o alto,
Sem temer,
Dei o segundo passo,
Nada mais ouve,
Então, decidi cruzar a sala.
Me deslocando para
O meio dela,
A rachadura continuou
Comigo,
Se refez a partir do chão
E correu pela parede,
Subindo até o foro da casa.
De súbito parei,
Medi a pressão
Do meu próximo passo,
Dei uma olhada para trás,
Tentando analisar
Se retornava a partir do zero
E buscava outra casa,
Ou se optava por economizar
Meu dinheiro.
Apertei minha carteira,
E lembrei que dispunha
De pouco, muito pouco.
Eu precisava,
Mais que nunca,
Contar com a sorte,
Então, segui.
Cheguei a cozinha,
E lá do teto
Caiu outra rachadura,
Foi como se ela estivesse
Medindo esforços comigo
Numa tentativa inútil
De me aterrorizar
Ao buscar estar sempre
A minha frente.
Bem, eu realmente,
Não iria até a janela
Que ficava ao final
Da cozinha,
Não neste instante,
Assim, deixei a rachadura
Como estava,
Parei de pensar nela
E me dirigi para o quarto.
Lá me deitei,
Me refiz do cansaço
Do dia.
Ao acordar
As rachaduras
Não ganharam tanto espaço
No meu pensamento.

sexta-feira, 1 de agosto de 2025

Vizinha

Já estou quase
Sentindo o amor
Do vizinho
Pela esposa dele.
É o segundo mês
Depois que eu descobri
Seu horário de tomar banho
E trocar de roupa
Que eu me posiciono
Estrategicamente da minha sala,
Com minha cortina
Semicerrada para vê-la.
Já decorei suas curvas,
Admiro seu perfume,
E tenho preferência
Por seu hidratante.
Agora, encontrei minha coragem,
E escrevi o horário
Em meu vidro
Molhado de suor
E sereno
Em que irei vê-la.
Convenhamos que a sua
Veneziana de madeira
Não me convence
Sobre ela desejar me afastar.
Há dois meses
Que tenho por hábito
Cuida-la,
E me deliciar com a visão
Dela nua,
A desfilar feito uma deusa
Por seu quarto,
Fazendo poses
E apelos,
Que já não acho possível
Que ela me ignore,
Ou não tenha notado
Minha presença.
Estou doente por ela,
Já estou quase
Pedindo a ela
Que se divorcie.
Bem, se aproxima
Do horário expresso no vidro,
Desta distância,
Não há como ela
Não ter enxergado.
Vou-me embora,
Rumo a sua janela.
Chegando ao pátio
Do vizinho,
Não encontrei até agora
Problema nenhum com seu
Portão sujo,
Contudo, minha roupa
Já não está como outrora.
Bem, vejo daqui debaixo
Que a veneziana está fechada,
Está certo,
Porém, a luz do quarto está acesa,
De tempos em tempos,
Ela aparece nua
Na janela,
Este deve ser meu aceite,
De fato.
Me agarro numa árvore,
Subo pelo tronco,
Chego às venezianas
E pulo em direção a ela.
A moça me vê,
Eu aceno,
Me seguro no espaldar
Da janela,
Ela abre a boca,
Faz cara de susto,
Eu sorrio sem jeito.
Indico as venezianas
Semiabertas,
Ela confirma com a cabeça,
Então, é isto,
O convite foi aceito,
Com está informação
Subentendida
Eu movo meus dedos
Para a veneziana
Que se parte ao meio.
Eu perco minhas forças,
E odeio a maneira
Como um tombo
Termina odioso
Quando ao final dele
Você se vê de costas,
Caído no chão,
Olhando para o céu tão distante,
E sua boca exclama
Um grito de dor involuntário.
Contra o involuntário
Não há como lutar,
Ferido,
Enganado,
E abandonado.
Com o custo da minha
Autoestima eu levanto,
Chacoalho a sujeira
Da minha roupa
E vou embora
Depois de um último tchau.

Saudade

A saudade gosta
De ficar comigo,
Você chega,
Ela passa,
Você vai embora,
Ela decide chegar.
Sempre que você não está,
Ela insiste,
Parece gostar
De estar aqui
O tanto que você
Não quer ficar.
É certo,
Você tem outras coisas
Para fazer,
Enquanto a saudade
Só sabe ficar,
Mas sabe?
Mesmo quando você está,
Só agora
Penso em confessar,
Quando ela passa,
Eu a vejo
E penso nela,
Poxa há tanta coisa
Em que pensar,
Que já estou acostumada,
Já me imagino
Te vendo distante,
Enquanto, ela
Sempre fica mais atraente,
Mas, neste pouco instante,
Em que ela me deixa,
E eu posso ser só sua,
Vamos brindar,
Beber whisky com coca cola,
Ver se posso entorpecer
Os sentidos,
Mudar o rumo da conversa,
Afastar os pensamentos,
Eu já não quero
Pensar em nada,
Quero aproveitar você,
Te abraçar
E esquecer todo o resto.

Um Grandalhão

Fui passar e esbarrei
Em alguém,
De início foi difícil
Perceber
Quem seria,
Era noite,
E o ambiente estava
Mal iluminado.
Contudo, aquele ombro
Bateu feito ferro
Contra o meu,
Eu tentei passar
Por ele, na verdade,
Porém, fui jogada
De volta tão rápido
Quanto seu ombro
Me tocou e me jogou
Para trás.
Me alicercei com um pé,
Segurei firme meu corpo,
E busquei aqueles olhos,
Quem seria?
Como poderia ser tão forte,
Eu esfreguei o ombro,
Tentei olhar séria,
Fazer de tudo
Para evitar o sorriso,
Estava ferida
E ele parecia uma muralha,
Uma espécie de muro
De pedra,
Contudo, seu olhar
Foi pior que isso.
Ele parecia estar preparado
Para ser minha linha
De limite,
Me olhou gélido,
Quase ameaçador,
Seu rosto era quase
Sem expressão,
Parecia feito de pedra,
Daquela pedra só havia
Uma espécie de fenda,
De onde brilhava seu olhar,
Aquela fenda a me ver
Levou embora toda
A minha coragem.
Gelada de medo,
Desisti de reclamar,
Quis passar correndo,
Fugir apressada,
No entanto, aquele gelo
Parecia exigir mais que isso,
Talvez, cautela,
Precaução em minhas
Atitudes.
Uma onda gelada
De medo me ganhou,
Eu estagnei,
Permitir que a multidão
Nos separasse,
O olhar era duro demais,
Foi como se uma luz
De alerta
Brilhasse por dentro
De mim e me dissesse:
Cuidado, este não é
Como aqueles
Com quem você brinca,
Esnoba e chama
Quando deseja.

Na limpeza do pátio externo

Quando se tem um sonho A gente o busca, Suporta os obstáculos E persiste até alcançar. Foi assim com nós, Adquirimos nossa...