Assim, se criam amores raros,
Existe a paixão, como existe de tudo,
Mas quando o amor chega e torna-se possível,
Quando ao final do beijo não se quer abrir os olhos,
Ou se quer, apenas para poder contemplar aquele,
Tudo ao redor toma forma e se encaixa, concilia-se,
Como antes eu vivia? Como? Talvez, eu saiba dizer,
Quem sabe até o final dessas linhas eu o possa fazer,
Ao pagar o preço para ser digna de quem se quer,
Instante em que a majestosa luz do amor nos toca,
Não se deseja outra coisa senão ele,
Seu beijo, seu carinho e sua graça,
Naquela época, amores eram sonhos,
Mas no instante em que o tem em seus braços,
Torna-se a doce e fluída realidade,
A percorrer por seus corpos e entregar-se em carinhos,
Um roçar de dedos em sua pele quente e macia,
E o sorriso que a alma sente ressoa em seus lábios,
Não é mais que reflexo dos olhos daquela que ama,
Depois a dor de ter que se afastar e ir embora,
O triste sentimento de querer ficar e não poder,
O querer estar mais que tudo,
Mas, ter algo que ainda impeça – o início-,
O momento em que ainda se cogita:
Será que amo ou estou me enganando?
Por dois toques em sua pele macia aveludada
E tem-se seu sorriso e um abraço apertado,
Que mais iria querer aquela que está apaixonada?
Para que chegasse a estar em seu quarto,
Conhecer seu corpo desnudo e contemplá-lo,
Levaram-se anos, ou meses, pelo menos,
Tempos difíceis de se atravessar,
Há sempre outros que buscam um lugar em sua vida,
Mas quando o coração escolhe pertencer,
Não há o que dizer contra,
Não tem como oscilar num tom rosado e intenso,
Que cobre o rosto sempre que se admite:
Bem, sim, o amo acima de tudo!
As investidas dos que se colocam ao redor,
Ela não dá única chance.
Suporta a privação de olhar de longe,
De querer mais que tudo estar perto e não poder,
Suporta tudo, menos abrir sua alma a outro homem,
Poderia afirmar que jamais dirigiu único olhar a outrem,
Pessoa alguma duvidaria do que diz,
Para ele, aquele olhar foi uma espécie de libertação,
Para ela, a escravidão,
Apaixonou-se doce e perdidamente,
Fez tudo por ele e não se deteve.
Diz-se que um abraço e uma afago é pior que um beijo,
Aprisiona mais a alma que outros meios,
Porque o abraço sincero conquista a alma,
Enquanto um beijo toma apenas a boca,
E quem beija pode ferir com palavras,
O contrário de quem abraça,
Um carinho é capaz de esbofetear,
Mas no abraço, ainda hoje ela teima em acreditar,
Poderia beijar os lábios sem tocar o corpo?
Com isso, se distanciaria de tocar a sua alma?
Quem sabe, não foi dessa forma, o sentiu por inteiro,
Passaram muitos instantes juntos,
Tempo o bastante para olhar no fundo do olhar,
E encontra-lo, reconhece-lo passa a importar,
Sentiu cada uma de suas extremidades responder,
Usou de toda a sua força para ter cautela,
Por ela, o beijaria desde primeiro instante,
Mas, ceder a impulsos pode levar a fraqueza da alma,
Velava ciosamente por sua calma e sentimento,
Tal meio como tudo ocorreu e tal atitude,
Ainda hoje é reverenciada,
Qualquer outro jeito lhe pareceria uma deferência,
Forçar um beijo soaria indigno, então se retraia,
Sem a questão do forçar não haveria a despedida,
Não requerendo recuar, também, não se aventurava,
Guardava no rosto um rubor severo,
Destes que só o tem aquelas que são verdadeiras,
Era tão tímida que chegava a ser evasiva,
Tanto quanto era esguia...
Mas, o tão esperado dia do beijo chegou afinal...