Barulhos ensurdecedores,
Dia e noite,
Olhos abertos no escuro,
Sem ambição de futuro,
Algo me sonda,
Não é remédio,
Talvez seja veneno,
Ou algo preso e apregoado.
Este algo me deixa enfermo.
Escolhe minha dor,
Sabe meu veneno.
Tento contar minha história,
Ninguém parece querer ouvir,
Eu tento escrever a rotina,
Eles quebram a letra o do teclado,
Substituo pelo zero,
Quando a vida lhe joga numa esquina,
E a melhor escapatória é o beco,
Você não se direciona,
Se joga de bruços e pronto.
Oh!
Zero substitui o maldito o.
-Ac0rdo aturdida.
Med0 d0mina minha vida.
Meu café está m0rn0.
Nã0 tenh0 c0mpanhia.
Nunca est0u s0zinha.
Um idiota ri lá fora.
De quê ele sabe?
Por quê faz fará?
Escarnece da minha carne que se dilata,
Se diverte do cheiro podre
Que logo sairá dela,
Presa dentro de casa,
Como se estivesse numa jaula.
Logo alguém se irrita com o que escrevo,
Me pergunta se eu acho
Que não tenho limites,
Que sou mais que os outros,
Por quê eu teimo em querer contar tudo...
Então, some a letra a,
E ela grita: ahhhh!
Penso que de algum lugar
Ela quer me esganar,
Me indago se irá atirar
Contra eu,
Me destruir,
Já está matando minha alma.
Agora falta o a,
Eu insisto escrevo mais,
Relato,
Conto a quem se importa,
A quem não se importa,
Eu falo e falo,
Na ausência da letra,
Eu copio e colo da frase anterior,
Colar letra o,
Letra a
Se torna cansativo,
Mas eu prossigo,
Então, ela desliga o computador,
Eu perdo o conteúdo,
Religo, insisto.
Ela exclui minhas linhas,
Passa a escolher o que digo,
O que leio,
O que acredito.
O que ouço.
O que vejo.
O que sinto.
Presa,
Presa e desacreditada.
Ela envia alguém
Para tirar minha vida.
Eu espero.
Já nem sei se luto.
Fugir para onde?
Que método é este,
Qual o intuito?
Me vigiar para quê?
Um corpo a deriva,
Movido por ondas fortes,
Chuva sobre a cara
Para ter o que beber,
Perigo ao redor,
Comida em escassez,
Afogada,
Afogueada,
Sem poder falar,
Sem ser ouvida,
Perto da areia,
Longe de tudo.
- há defesa?
Eu tento,
Como última tentativa,
- vamos negociar isto?
Teclo forte e intensa,
Busco o pedido de socorro,
Espero a bala perdida
Achar minha porta
E perfurar meu crânio.
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