Amada,
Profundamente amada,
Mil promessas,
Um anel de compromisso,
Depois disso,
Água,
Muita água.
Profunda água,
Esverdeada e escurecida,
Quase sem vida,
Um sopro de amor dentro de si mesma,
Fora isso,
Mais nada.
Perdida,
Talvez, nunca encontrada.
Ela saiu depressa,
Tinha pressa para chegada,
Uma curva mal feita,
E um mergulho em água fria,
Rio cheio de vida,
Água pura,
Fonte de sonhos,
Levava-a.
Não pedia,
Não despedia,
Tragava.
Segurava com braços invisíveis,
Não adiantava chamar,
Chorar não bastaria.
Acelerar a toda força,
Não levava a lugar algum,
O cinto de segurança
Apertava seu peito,
Reprimia,
Mantinha,
Com suas unhas vermelhas,
Bem feitas e compridas,
Ela conseguiu com um clique audível
Destrava-lo,
Estava solta.
Notou com lágrimas nos olhos,
E pouca visão
Que havia arranhado seu tecido,
O cinto estava comprometido.
Um sinal de que cairá em vida,
Porquê fora do carro
Água, pedras, lodo e madeiras
Seu carro parecia não estar
Sendo carregado pela água,
Estava preso,
Estava escuro,
Escuro demais para pensar,
Para enxergar,
Para pedir ajuda.
Caída,
Dolorida,
Com medo.
Profundo pavor
De um casal apaixonado,
A separação,
Ver o amor acabar,
Aguentar a pressão
De sonhos comprometidos.
Não havia isso.
Havia apenas a morte,
E um anel em seu dedo.
Sem chorar e contendo o ar,
Ela socou o vidro,
Havia pressão dentro da água,
Talvez um tronco a manter a porta,
Ou pedras,
Uniu todas as suas forças
E lutou,
Buscou pelas juras correspondidas,
Juntou cada promessa
Colocou em seus músculos
E esmurrou o vidro,
Violenta,
Respirava com dificuldade,
Coração acelerado,
Olhos a escorrer,
Quis gritar,
Implorou pra não sofrer,
Não adiantaria.
Morta.
Enterrada em água doce,
Areia grossa, lodo, madeira e pedras,
E morte.
Sua própria morte.
Não conseguia ver adiante,
Não havia luz alguma.
Um escuro excruciante
Que mantinha.
Num gesto de desespero,
Como despedida desta que ama,
Ele puxou a mão para sua boca,
Beijou o anel de noivado,
Disse adeus,
Então, como vislumbre de atitude,
Lembrou de usa-lo para cortar o vidro,
O fez,
Foi difícil,
Tragou todo o ar que pode,
Último suspiro,
Um adeus choroso,
E o vidro partiu-se,
Abriu-se,
Após isso,
Foram poucos socos,
Sangue a manchar água doce,
E o vidro partiu-se por inteiro,
Ela pode então salvar-se,
Uniu forças que não tinha,
Coragem que nunca imaginou sentir,
E jogou-se com o cuidado
Que pode ter,
Pelo buraco do vidro quebrado,
Cortando a pele,
Prendendo roupa,
E saindo para longe,
Num ímpeto pôs-se sobre o carro,
Arqueou e colocou cada força que sobrou,
Então se empurrou para cima,
Pegou direção contrária
De onde o carro estava preso,
E conseguiu alcançar a superfície,
Sem ar,
Sem forças para nadar,
Com estilhaços pelo corpo
E sangue escorrendo,
Boiou.
Lembrou de respirar,
Com dificuldade,
Respirou.
Lembrou de mover-se.
Se salvou.
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