O motivo de eu ter abandonado
Minha terrinha lá na roça,
Eu não faço ideia,
Calcei as botas de couro de boi gordo
E fui pra cidade próxima.
Lá parecia haver tantos sonhos,
Tanto falatório sobre oportunidades,
Eu quis galgar novos ares,
A terrinha rendia pouco,
Concordo.
O sol rachava a sola dos pés,
O mato tomava conta da terra seca,
E a colheita se enfraquecia,
Amarelava e se perdia.
As músicas falavam de bons sonhos,
De receber um salário,
Ter um bom emprego,
Pensei: o melhor é ser funcionário,
Então, peguei carona e fui.
Lá corri de porta a porta,
Trabalhei na chuva,
Trabalhei no sol,
E no final do mês
Vinha aquele salário fixo,
Gastei no aluguel,
Na comida,
Na água,
Na energia elétrica.
Mas o futuro estava lá.
Lá era onde estava o movimento,
E só aconteciam coisas lá.
Você sabe bem.
Na roça é tudo igual.
Vem a chuva
E molha o feijão amontoado,
Apodrece os montes,
Perde- se o lucro.
O mato cresce mais que qualquer coisa,
A enxada quebra,
Os braços doem,
E as plantinhas desfalecem.
Depois de tanto ódio na roça,
Você não pensa em sofrer
Por tão pouco
E simplesmente voltar.
Não.
Você sente vergonha.
Não quer estar errado.
A roçar é um lugar que parece esperar,
A cidade não.
A cidade cresce em demasia.
Enquanto não roça só cresce o mato.
Mas, no dia em que segui aquela garota,
E ela me meteu em um furto,
Em senti vergonha
E foi extrema,
No outro dia
Para se desculpar,
Ela me prometeu coisa boa,
A melhor das experiências,
Grana fácil,
E progresso,
Quando vi
Estava sendo guiada a um programa,
Prostituída assim tão fácil,
Eu disse:
- menina, não é assim que se ganha a vida.
Passei na cooperativa da cidade,
Comprei facão, enxada e foice
E voltei aparar meus matos.
Tive vergonha de voltar, confesso.
Mas nem foi o de cair o cu da bunda.
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