Vultos no ar,
Efeito sonho,
Pesadelo,
Difícil descrever,
O imaginável se misturava ao real,
E estava difícil distinguir,
Não havia limites para a mente
Que prestes a explodir,
Falava, gritava e expunha,
Colocava a público.
Eu não quis segredos.
Abri a página do livro,
E disse em voz alta: leitura.
Iniciei a história fictícia,
Romance e aventura,
Então, minha avó
Esticou sua mão enrugada,
Frágil e magra
Até tocar minha perna,
E disse com voz trêmula,
A denunciar a chapa mal colocada
Que usava devido
A ausência de seus dentes,
Como medida de beleza,
Formosura,
Último ato de uma idosa,
Que tenta a todo custo
Manter a feminilidade
Lá atrás perdida pelo pó da terra
Em que cruzam as horas
E anos do tempo.
- não morro antes de você
Terminar a última página,
Eu gosto muito
De te ouvir ler.
Mas ela sofria de muitos males,
Entre eles, o alzheimer,
Uma lágrima rompeu
Sobre minha face,
Pegou -se a descer,
Li até ficar rouca,
Passei o máximo de páginas que pude.
Então, fechei o livro,
Com um estalo
Como se quisesse acorda-la,
Os remédios muito fortes
A faziam dormir muito.
- infelizmente, terei que continuar
Outro dia.
Me sinto muito cansada, agora.
Olhei para a frente e ela ainda
Não se movia,
E assim, ficou, onde estava
Imóvel e desfalecida,
Ela não pode me ouvir,
Ou ouvir o continuar da história,
Ficou ali onde estava
E como estava: morta.
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