Minha boca sentia fome e sede,
No exato instante em que pus os olhos nele,
Senti-me tremula e segura do que sentia,
Amava-o e o queria,
Sobretudo sede,
Minha saliva escorreu um pouco,
Meus lábios molhados estavam intolerantes,
Precisava de algo diferente e arredio,
Algo que não havia provado antes,
A garganta seca parecia pedir-lhe: aproxime-se,
Eu teria feito tudo que fosse possível,
Eu teria feito o máximo que estivesse ao meu alcance,
Mas, se você vir como ele é,
O homem intenso e verdadeiro,
Bem, você dirá que não fiz muito,
Dirá também que fiz pouco esforço...
E ali era,
A boca sedenta e arredia,
Era o último lugar em que me faltaria água,
Mas não, não o foi,
Meus lábios sedentos e escorregadios
Pareciam chamar-lhe e até mais que isso,
Eu ansiava por um segundo com ele,
Meu olhar lacrimejante parecia implorar-lhe,
Como um mar cheio de água,
Inundado por si mesmo e vazio ao mesmo tempo,
Doce água que não sabe saciar,
A água que não adianta beber...
-Eu gosto de você! – ouvi ele dizer,
Sorri absolutamente feliz,
- Eu também gosto de você e você?
Ele não me deu resposta,
Pareceu-me que não soube responder,
-Você cuida de mim?
Este cuidar inclui um amigo,
Você se importa por eu me sentir assim?
Ele sorriu não me pareceu indeciso,
Apenas demonstrou não entender,
Mas acreditei que dentro dele
Ele sabia bem do que eu me referia,
O cuidar do outro,
Inclui o cuidar-se quando se é amado,
E ele era intensa e profundamente amado,
Antes de dizer que me amava,
Antes do seu olhar sedento secar a água da minha boca,
Antes mesmo de eu imaginar
Que a partir daquele instante eu não em bastaria,
Podiam ser três horas da tarde quando nos vimos,
Mas eram quatro quando paramos,
Nos viramos e finalmente nos olhamos,
Antes não foi mais que soslaio e conversa fora,
Agora era de frente e olho no olho,
Minhas pernas já estavam sequias,
Eu já não tinha mais força para seguir,
Eu sabia que ele estava melhor que eu
Mas me poupou e isso me fez bem,
Meus joelhos doíam mas eu tinha ele,
Não teria como haver nada melhor que isso,
Os lábios ansiavam ainda mais que antes,
Bem, estava apaixonada,
Outra pessoa teria ficado indecisa quanto ao caminho,
Este não foi nosso caso, nem um pouco,
Ele diminuiu e muito suas passadas,
Apenas para me acompanhar,
Eu fui até onde minhas forças permitiram,
Eu iria mais longe por ele e por nós,
Mas, naquele ponto não houve dúvida:
- Descer ou subir?
Estavamos em frente a um prédio,
Podiamos adentrar ou insistir...
Ele pensou que a situação exigia pressa,
No que falou foi absolutamente preciso,
- A qualquer risco, ganhar um beijo da sua boca!
Em outras palavras: ficarmos juntos!
Esta foi sua escolha, não teria como ser mais perfeito,
-Vire-se para a minha esquerda...
(Ele virou-se de modo encantador)
-Então, você me aceita?
Indaguei levando uma mão ao seu rosto,
Até a orelha, cruzando por sua pele,
Sentia-me árida e sedenta.