terça-feira, 15 de outubro de 2024

A beira do rio

Sentada na pedra
Onde a rainha da França
Reza suas horas,
Dezesseis dias
Antes de se passar
Está história ,
Ela já molhava o pé na água,
Cuidava a grama,
E via os peixes nadar,
Não daria para negar:
Sonhava.

Numa bela manhã
De quarta,
Até resolverem demolir
Cada moita de flor do lugar,
Trocar aparências,
Puxar um barco a remo,
Tudo andaria bem,
Se não fosse o relinchar
Do cavalo,
A acorda-la.

Ela não era mais
Que um espécime vivo
Deitada sobre aquela pedra,
Marcas no corpo,
Mas o ano era do Senhor
De 2020,
Ano prometido.
Mil moedas jogadas
Naquela água,
Se falassem,
Diriam tudo:
Promessas e cumprimento!

- Otário.
Disse ela ao levantar
A face
E direcionar-se,
Ao belo homem,
De porte atlético
E elegante,
De rédeas a mão,
E chapéu sobre o rosto.
Ela respirou a realidade,
Levantou-se,
E lhe estendeu a mão
Em cumprimento,
- Olá, como está?
Sorriu.
E um rubor lhe correu a face,
Ao devorar com o olhar
O peito másculo
Que se mostrava
Por entre botões
Frouxos da camisa azul,
Sua realidade
Era um lindo homem
Alto, magro e fascinante!

Ele permaneceu imóvel
E ao seu dispor,
Sorriso fraco e contido,
Se tivesse uma borboleta
No bolso,
Certamente,
Ele lhe daria a borboleta,
Mas este homem
Não tinha nada no bolso,
Aliás nem tinha bolsos,
Felizmente, um incidente
Veio a socorre-lo,
Iniciou-se chuva forte,
Então, apeou do cavalo,
Abrigou-se a uma árvore,
Despiu-se da camisa,
E abrigou-a em seu peito,
Aquecida pelo tecido.

domingo, 13 de outubro de 2024

Neblina

Noite sem lua,
Noite escura,
Noite vazia,
Noite fria.
Olhar fixo
Naquela que amava,
Ali não era percebido,
Ela não o procurava.
Logo baixaram-se pontos brancos,
Mesmo as estrelas
Não estavam mais presentes,
Seu sorriso pálido
De um sonhador que ama,
Não consegue esquecer,
Não tenta buscar.
Tudo se apaga,
Assim que os olhos se fecham,
Tudo fica escuro,
Repousa uma mão no peito,
Um vazio que não se preenche,
Torna a acordar-se,
E não há nada
A não ser si próprio.
- Rápido, rápido.
Ele corre a gritar para o moço.
- Sei de moça que o ama.
E neste mesmo segundo
Ela o chama.
O rapaz grita ao outro
Não no coração dele segredo,
A moça ao dormir chama
Um nome,
E ao acordar
O procura por entre as ruas,
Tal rapaz, moço galante.
Belo rapaz
Que não resiste a aventuras,
Beija de boca a boca,
Troca seus nomes,
E número de suas casas,
Não se negaria a vê-la,
Não está,
Tão bonita e importante.
(Amada pelo amigo)
Seria tão ou mais querida
Por este,
O amante!
Mas a bota do belo rapaz
Veio ensurdecida e cega
Ao seu peito,
A empurrar chute violento,
Sabe-se,
Botas não sentem,
Ouvem ou vêem,
Chutaram-o com máxima força,
E pernas são para manter
Um homem em pé,
E aquele,
Por sua natureza conquistadora,
Queria tudo,
Menos amor,
- venha.
Como você é feliz por ter alguém
Que o ama!
Venha!
O amigo ainda tentou
Último gesto.
O rapaz ignorou toda conversa,
Simplesmente deu-lhes as costas,
O amigo também fez
Uso de suas pernas,
Teve amor por si mesmo,
Pegou rumo diverso
E foi-se embora.
- Oh, recusar-se a isso?
Sussurrou ele,
A sumir-se
Através da neblina.
Há homens que esperam.
Mulheres que esperam.
E há, outros.

sexta-feira, 11 de outubro de 2024

Si mesma

Aterrada,
Infeliz,
Destruída,
Sonhos a ruir.
Promessas obscuras.
Lábios trêmulos
Como se estivessem
Sempre a rezar.

Já não se tratava de juras.
Seus olhos estavam adiante,
Subiam aos céus,
Não havia promessa alguma.
Foi quando ele contou a multidão,
Aproximou-se de seu ouvido
E falou com sofrega paixão,
Como se única alternativa:
- você me quer?
Eu ainda posso ser seu homem.
-O que pensa que sou?
Ela respondeu.

É como se a ideia de mulher
Fosse afixada a um alicerce,
E que este fosse o homem,
Sem o qual ela não poderia ser.
Mulher dependente.
Mulher amparada.
Mulher escorada.
Apenas é mulher
Se tiver um homem.
- Só desejo o amor.
- então, no que depender
De mim,
Não será de ninguém.

Ele respondeu
Cuspiu em seu rosto
E gritou: vagabunda.
Ela sai por dinheiro!
Os olhos de todos
Se jogaram contra seu rosto,
Era como se ela fosse acorrentada,
E que cada olhar
Contasse suas horas de vida.
Morte.

Morte por se entregar
A quem não merecia.
Morte.
Por ter feito sexo por prazer.
Ergueu os olhos aos céus,
Falou baixo o nome
Do homem por quem nutria sentimento,
Ele estava distante,
Não era capaz de ouvir,
Talvez,
Não tivesse disposição
Para ajudar.

Lhe lançar uma palavra amiga,
Fazer uma aproximação de conforto.
Nada além de desprezo.
O céu azul parecia fazer
Recortes nas nuvens claras,
Era como se produzisse impulso
Para que baixassem,
Ela não queria permanecer,
Desejou com todo o seu ser,
Uma saída
Daqueles olhares punitivos.
Duro é o amor,
Tão frágil, belo e delicado,
Que as vezes,
Não parece querer
Pertencer a mãos humanas,
Ela apertou seu próprio
Corpo com os braços,
Quis dar-se carinho e amor próprio.

Rejeitada,
Devido a boatos e murmúrios,
Especulações de esposas fracassadas,
Banida por homens
Que não a queriam
Se não fosse apenas por prazer,
De repente,
Ela correu a praça
Abraçada a si feito uma louca,
Caindo e levantando,
Limpando a sujeira da roupa
E gritando:
- amor! Amor! Amor!
Amor ou um soco na cara!

Foi até o fim da praça,
Retornou e correu a avenida
Abraçada a si mesma
E gritando:
- Amor! Amor! Amor!
Amor ou um soco na cara?!

Escondidas

Deslumbrado com a pele
De chocolate espesso,
Dizia a si mesmo:
Foi um erro,
Melhor fingir que não a conheço.
Dois tragos de bebida,
Um beijo,
E algumas horas.
Não passou disso.
Ele tentou fechar a porta.
Evitar.
Mas, de alguma forma,
Está não era como as outras,
Ela requeria o olhar,
Cativava,
Parecia apaixonar.
Como eu amaria alguém
Que não fosse está morena?
Ambos guardavam o silêncio,
Porém, ele preferia a distância.
Indiferença forçada,
Nunca foi tão desmascarada.
De vez em quando
A moça erguia os olhos
E parecia ganhar a todos,
Um pudor avermelhado
Lhe tomava o rosto.
No seu lugar mais íntimo,
Nada parecia existir nela
Que não fosse cristalino.
Tímida garota dos olhos escuros.
Seus cabelos ganhavam
O tom leitoso do chocolate
Ao sol da manhã quente,
Brilhava,
E cheirava tão bem.
Neste momento de meio-dia,
Da cidade antiga,
Um murmúrio de satisfação
Percorria.
Ela tinha sido dele,
E agora todos pareciam saber.
Aconteceu.
Mesmo que a evitasse.
Houve.
E foi a poucos instantes.
Não foram seus gemidos de prazer,
Ou a satisfação
Da rubra face,
Era sua altivez que contava.
Mulher.
Doce e altiva criatura.
A última vibração da décima segunda badalada
Ainda não se extinguia,
Quando todas as cabeças
A olharam,
Nenhum rosto resistiu a ela,
Seu passar conquistava,
E ele já não conseguia fugir.
Decididamente,
Ela não era como as outras.
Era como se uma tempestade
Ganhasse as ruas,
Nada mais ficava como antes.
Ela pareceu pôr a mão no rosto
Para não ver.
Sozinha,
Deveria ser difícil
Enfrentar todos os olhares,
Cúmplices de sua noite
De entrega e luxúria,
Infelizmente,
Não é para tal instantes
Que o pudor é feito,
Sexo é bom e acontece,
Não precisa existir no outro dia,
Nem o casal permanecer junto,
Muito menos jurar que é amor.
A moça seguia a calçada,
Como se a contar os ladrilhos,
Num último grau de desonra e desgraçada,
Talvez, escolheu o cara errado,
E ele já erguia a voz e riso
Para de oferecer
Como melhor amante
Quando percebeu que
O erro se tratada dele,
Calou-se,
Sem um mínimo de vergonha,
Apenas, sentiu cautela,
Iria aguardar
Que aquela lágrima
Que se via em seu olhar,
Vitria e cristalina,
Parecendo congelada
Desaparecesse,
Ou que ela estivesse
Menos exposta,
Mas haveria segunda vez,
Certo que sim,
Direito a conversinha
E regalias,
Mas, as escondidas.
Como sempre foi e seria.

quinta-feira, 10 de outubro de 2024

Saudade

Sua presença
É um anjo que acaricia,
Sua ausência,
Um demônio que belisca.
Certa manha de outubro,
O céu se levantava
Num dia escuro,
Algo desperta,
Um barulho.
Me vejo agitar,
Não entendo.
A anos abraço este casaco,
Meu amor,
Antes de ir embora,
Esqueceu-o,
Deixou-o para trás,
Também deixou nosso amor.
Meu pensamento ficou nele,
Assim será até minha morte.
Abraço este casaco,
Meu consolo e desespero,
Pelos próximos anos,
Até que um dia eu possa encontra-lo.
Eu não vou desistir.
Me desmanchou em dores,
Mas o amo,
Como amei desde o primeiro dia.
Assim será.
Até sempre.
Para a saudade,
O último beijo
Possui o mesmo gosto
Do primeiro.
Essa saudade não envelhece,
A espera não desgasta,
A roupa é que desbota,
Mas o coração permanece.
Feito este casaco.
Ele não é uma roupa qualquer.
Nos viu juntos.
O céu é que sabe
Dos meus desejos tocantes,
Das minhas saudades,
É Ele quem acolhe minhas preces,
Conhece dos meus soluços,
Nunca maior desespero
Se derramou sobre um casaco.
Mesmo que não o veja mais.
O amo.
Sempre acho que foi ontem.
O último beijo.
O primeiro beijo.
Deus não poderia tê-lo levado,
Oh, foi tão cedo.
Melhor seria nunca ter conhecido.
Ter sido aquecida por este casaco.
Por quê o deixei ir aquele dia?
O que houve de errado,
Será que terei respostas?
Aguardo, aguardo e aguardo.
Quem foi capaz de tira-lo
De mim,
Não se importou
Nenhum pouco
De me ver infeliz.
Maldita.
Maldita seja.
Saudade de seus beijos,
De seu cheiro tão perto,
Me sentir segura,
Poder amar com toda alma.
Quem o levou
Não provou o amor.
Oh, querido,
Esqueceu seu casaco,
Será que sente frio?
Será que me entende
Daí onde você está?
O que fizeram de nós?
Foi tão bonito
Cada instante juntos.
Levaram-no.
Roubaram-nos.
Meus joelhos
Estão esfolados em prece,
Dias parecem minutos,
De tanto que a saudade não entende
Chamo seu nome.
Sim.
Ainda lembro.
De cada beijo.
Cada abraço.
Se o pudesse ter,
Por um minuto poder ver,
Após isso,
Que eu fosse atirada ao inferno,
Gemesse por uma eternidade,
Sofresse a pior dor,
Porém,
Que tivesse notícias suas,
Pudesse ver que está bem,
Não sente frio,
Nem precisa deste casaco.
Seu formoso casaquinho,
Quem levou meu amor
Não tem piedade.
Oh, será que está que o roubou
Seria capaz de devolver,
Tamanho remorso,
Ódio deve sondar em seu coração.
Não o amor
Eu sei disso.
Que ele seja aquecido pelo sol.
Como eu iria fazer.
Como poderia fazer
Com este lindo casaquinho.
Quem o tirou de mim
Quis me ver na ruína,
Me fez pecadora.
Só por ele fui devota.
Quis uma família,
Sonhei anos futuros.
Pobre amor,
Onde estará agora.
Pego este casaquinho
E o vejo.
Quase o sinto.
Tão perfeito ficava,
Tão lindo o tornava.
Meiga criatura.
Que miséria,
Seu casaquinho
E mais nada,
Seus beijos
Em lembranças
Para consolo
E mais nada.
Quem o roubou
Não teve sentimentos.
Não será capaz de ama-lo.
Não sabe deste casaco.
Saudade.
Saudade é dor que não envelhece.
Saudade é amor que não desgasta,
São lágrimas que não pedem,
Sentimento que não desbota.
Saudade é amor que permanece.

Prisioneira

Ao seu primeiro grito
De dor,
Eu dilacerei minha carne,
Se houvesse um segundo,
Eu arrancaria meu sangue.
Mas, não.
Apesar de tudo,
Você foi mais forte,
Silenciosa em seus medos,
E eu a salvar-me.
Ah, quem me dera estes pés,
Poder tocar-lhe,
Eu caminharia mundos
Para lhe repousar um beijo,
Virtuoso de tocar-lhe,
Por você iria até a morte.
Justa por entre meus dedos
Ou os infortúnios da virtude?
Não.
Querida,
Não pronuncie outro nome.
Grave o meu.
E a nenhum outro.
Eu.
O seu homem.
Você sabe que me tem.
Ao primeiro olhar e me vi absorto,
Não queira ter outro.
Outra não me séria suficiente.
Grave meu nome.
Eu, o seu homem.
Esqueça os malditos outros nomes,
Estes miseráveis,
Foram eles quem nos fizeram mal.
Veja, você sofre.
Eu sofro.
Chame a meu nome.
Esqueça qualquer outro.
Eles não são capazes de entender.
Você não seria amada tão ardentemente.
Veja o frio que acolhe seu corpo,
Sinta minhas mãos tão quentes,
Eu posso lhe dar um beijo,
E você jamais sentiria dor, cede ou fome.
Que estes lábios trêmulos
Sintam saciar-se,
Prove da minha boca,
Chame por meu nome.
Esqueça todo outro.
Desista desta masmorra que te envolve,
Eu posso cobrir sua pele,
Curar suas feridas,
Deixe deste jogo de fatalidades,
Querida,
Outro nome não lhe dará virtude,
Veja que no fundo você
Possui luz própria,
Ascenda seu olhar,
Mova seus lábios
E me chame.
Há um calabouço dentro de mim,
Lá as palavras caem ao vazio,
Se perdem nesta vácuo,
Diga meu nome,
Esqueça todo outro,
Você sabe o quanto sofri,
Eu assisti a todo o seu sofrimento,
Fui testemunha da sua dor,
Quando a conduziram,
Eu estava lá,
A cada discurso,
A cada aparição sua,
Eu estava lá.
Chame a isto tortura,
Eu me preocupar tanto,
E você nem ao menos me chamar,
Diga meu nome,
Eu sei que você é capaz.
Eu daria um império
Por seus beijos,
Ser o destino de seu caminho,
O caminhar destes lindos pés,
Que quanto mais admiro
Mais pisam sobre minha cabeça,
Querida,
Não haja desta forma,
Assim, iria parecer
Que não possuo um cérebro,
Que sou um mísero idiota,
E não que a vejo
Por todo o lugar que olho.
Pelo menor de seus sorrisos
Eu doaria minha alma,
Escravo de seus passos,
Aí de mim vê-la palpitar
E sangrar por beijos de outro,
Chame meu nome,
Esqueça todo o resto,
Enxugue o suor do meu rosto,
Dê paz a este amor,
Sinta piedade,
Chame meu nome.

quarta-feira, 9 de outubro de 2024

Única Esperança

Caí sem vida,
Nas profundezas da alma,
Num funil de esperança,
Onde não se alcança,
Onde eu não posso tocar,
Nem seu nome pronunciar.
Única esperança,
As lembranças,
Vidas a me apagar,
Não aceito outra boca,
Não sei deixar de te amar.
Perdida nestas trevas,
Chão frio e lembranças,
Paredes tórridas
E lembranças,
A afagar,
A te trazer de volta,
Aqui sozinha,
Esquecida,
Não há música
Que possa chegar,
Não há fala,
Não há nada.
Profundezas e lágrimas,
Sangue e torturar,
Te lembrar,
Não há outra esperança,
Nada me alimenta,
Não sinto sede ou alegria,
Você se afasta,
Feito o fogo da palha,
Acende e queima na hora,
Resta apenas fumaça,
E este cheiro intenso que fica.
Quem me viu feliz, estremeceria,
Perdi seus beijos,
Seu amor.
Nada me resta.
Condenada a ser sozinha,
Quase sem respirar,
Neste buraco que me enterra,
Não há vento a acariciar meus cabelos,
Nem seus carinhos,
Não há seus beijos,
Apenas o vazio profundo
E dor.
Intensa dor que atormenta
E o chama.
Primeiro o encontro,
O beijo, o sorvete,
O passeio juntos,
Então, a declaração de amor,
Depois o velho do bar,
As mentiras,
O punhal,
As desfeitas,
Você foi embora,
Me trancando nesta cela fria.
A música que toca lá fora,
De tão distante,
Aqui não pode ser ouvida,
Você foi figurante,
Não foi o amor da minha vida,
Acreditou no que quis,
Se apegou a mentira,
Não aceitou que eu estava aqui
Enquanto você dormia,
Sua vigia,
Noite ou dia.
Hoje esquecida.
Me apego a única esperança:
As memórias.
Poder manter.
Guardar.
Não te esquecer.
Sentir algo que me aqueça.

Polícia e Tiro

Sirenes, buzinas ou apitos Não avisaram Que uma guerra Havia iniciado no país inteiro. A televisão foi cancelada Por ordem...