quarta-feira, 19 de fevereiro de 2025

A Classe

- uau, como é lindo
Como ela se veste.
Ela respondeu
Folheando a revista,
Acompanhando a banda
De música jovem que surgia.

Ela já tinha doze anos,
Era boa moça,
Pegou o talão de cheques do pai,
Falsificou assinatura,
Comprou tudo que pôde.

Foi elogiada
Pelos garotos da rua,
Recebeu convite da amiga
Para festa do pijama.
- que legal.

Ela disse,
Folheou a revista
E viu que precisava
De um pijama novo.
Foi até às lojinhas da cidade,
Comprou vários
No nome dos pais dela.

Encontrou revista da banda novas,
Adquiriu todas,
Se declarou fã,
Comprou cds, dvds
Faixas de cabeça,
Camisetas e coisas legais para as unhas.

Ela não tinha emprego,
Não conseguiu dinheiro,
Não pode pagar,
Não tardou
E o telefone passou
A tocar sem parar,
Ela se certificou de atender,
Esconder as ligações do pai.

Mas, não tardou muitos meses,
O pai chegou cansado do trabalho,
Atendeu o telefone suado,
E incomodado com tanta coisa
Dando errado.

- o quê?
Como assim,
Minha filha comprou tudo isto?
Ele gritou incrédulo.
- sim.
Respondeu a dona da loja.

Ele tentou devolver a roupa,
As revistas e o que pode.
Não foi aceito.
A garota comprou de novo.
As lojistas venderam.
A história se repetiu.

Ele tirou o cinto da calça,
E bateu na garota,
Na frente de todos,
No meio da rua.
Abriu uma lojinha
Tentou vender tudo que ela adquiriu,
Ele não tinha dinheiro para pagar.

A garota se incomodou,
As amiguinhas da festa do pijama
Deram a ideia,
Espalhar pulgas nas roupas,
Jogar baratas
E manchar com sujeira.

O pai retornou ao final da tarde,
Foi visitar a lojinha,
Tudo sujo, rasgado,
Recortado destruído.

Uma foto do pai foi recortada
Do álbum de família
E colado na parede
Com desenhos de chifres
A caneta big,
Olhos arrancados e jogados
No chão,
Suas roupas foram pichadas
Com spray de tingir cabelo
Em desenhos de vestidos.

Ele caiu no chão,
Chorou dando socos no assoalho.
Levantou,
Pegou a garota
Levou na calçada
E seu um único tapa no rosto dela
Que a deixou caída.

A mãe que era responsável
Pela loja estava fazendo a unha
No salão.
Quando voltou encontrou
Pai e filha chorando,
Um carro da polícia estacionou
Juntou o homem,
Bateu nele,
Jogou spray de pimenta na cara,
O deixou algemado de joelhos
Na calçada,
Cortou sua cara a arma,
Apontou contra a cabeça dele.

A garota fugiu
Foi com o grupo de amigos
Que ficavam todos os dias
No ginásio ao lado da escola,
Descobriu o que eles curtiram,
Droga.

Droga de dia.
Droga a noite.
Deitou com eles no gramado
E ficou lá,
Falhou aula,
Perdeu prova.
Teve que fazer aula de reforço.
Mas eles não frequentavam a escola.

Foi difícil,
Muito difícil ter de abandona-los.
Eles a aceitaram.
Entenderam-na e deram carinhos.
Eles não trabalhavam.

Tinham as roupas mais legais.
Eram livres.
Ela teve que deixar os amigos
Para entrar no colégio,
Doeu ver a grade se fechar,
Doeu ver a professora chavear,
Era uma espécie de presídio.

E todos lá dentro se vestiam
Como na revista.
A revista que o pai lhe tirou.
As roupas que ela não tinha.
Ela olhou para fora das grades,
Viu os amigos lá
Escorados na parede...

Olhou para seus bolsos
E encontrou a caneta
Que um deles lhe deu
Para que ela não sentisse tanta saudade,
Ela a apertou forte.

Retirou do bolso
E teve coragem de entrar na sala.
Ver aquele quadro negro
Sujo de giz,
Exalar cheiro forte,
E sentir o pó do giz
Invadir suas narinas
Até que não pudesse respirar.

Alguns amigos gripados,
Espirando gripe
Um na cara do outro.
A garota legal de calças novas.
Todos com algumas coisas novas.
Ela apertou a caneta e ficou.

Cuidando aquele ventilador no teto,
Enferrujado,
Meio desgrudado,
Funcionando e cambaleando sobre
Suas cabeças.

As classes estavam estragadas,
A mesa estava soltando lascas
De madeira e ferrugem,
As cadeiras eram pequenas
Feriam as pernas,
As lascas delas cortou sua calça.

Sua calça legal.
Destruída.
De longe,
Se ouvia vozes e risos indefinidos.

terça-feira, 18 de fevereiro de 2025

Medo

Houve a época
Do rompante,
Tudo era explosivo,
Desde as falas aos métodos.

Num instante
Parecia que a felicidade
Estava perfeita,
No outro se diluída
No puro ódio,
E sorte daquele
Que fugia de um soco.

O soco se tornou cumprimento,
O tapa na cara
Era o sobreaviso,
O coice era o estímulo
Que forçava o seguir
Em frente.

Era um tal de pulseiras
Amigas para sempre,
E no outro dia
Não sinto sua falta,
Nem se aproxime.

Houve explosão demais,
Frases faladas
Sem serem pensadas,
Atos violentos perdoados,
E nunca esquecidos.

Agora resta choro,
Repensar o tempo,
Curar feridas,
Restabelecer dos erros.

Cara,
Meu pai me batia muito,
Ele me fez sangrar
Através de socos,
E meios ofensivos.

Ele me bateu de cinto,
De galhos de árvores,
De madeira fina e até grossa,
De corda,
De suiteira,
Um objeto feito do couro do boi.

Olha,
Ele não bateu com tudo que pode.
Cara,
Me desculpa dizer isto,
Mas chegou a hora de contar,
Ele corrompeu meu corpo,
Fraturou ossos a tapas,
Socos e pedradas...

Quando olhei nos olhos dele,
Eu só pensei que eu não merecia isso.
Eu quis morrer,
Quis fugir de casa
E ter qualquer fim
Que me pudesse longe dele.

Muito longe.
Eu não o matei
Porquê o amava.
Sim.
Eu lhe cultivei amor.
E isto me impediu
De qualquer ato agressivo.
Minha mãe me rejeitou.

Alegou tudo que pôde.
Meu irmão,
Mais novo que eu dois anos,
Me deu socos,
Pontapés, tapas,
Ele me bateu a valer.

Eles me afugentaram
Para dentro de mim,
Quando me deu conta
Eu não sabia me defender,
Só sinto medo de proximidade,
Medo quando dizem que me amam
E pânico se me odeiam.

Minha irmã
Assediou todos
Os rapazes com que estive.
Foram poucos, claro.
Eles deram socos
Em meu rosto,
No meu corpo,
Nos meus músculos e ossos.

Me deformaram.
Doeu.
Dói lembrar.
Eu sinto dores terríveis em meu corpo.
Sinto medo
E ódio de tê-los perto.
Precisava falar.
Não lhes tenho confiança.

Estou Cinza

Olá.
Você disse que iria me proteger,
Que não gosta de chuvas
Em horários de sol,
E que quando for pra ser azul,
Não pode ser cinza.

Pois é,
Hematomas cinzas
Já estão cicatrizando,
Os azuis são recentes ainda,
E, descobri também,
Que a noite é sempre escura,
Nem por isso é feia,
E que dias chuvosos
Trazem calma e tranquilidade,
Ok.
Eu estou azul,
Toda azul.

Com meus ferimentos recentes,
O que você fará?
Bem, entenda,
Ainda não estou a sangrar,
É menos dolorido
Ou trágico,
Sei lá.

Mas, quando acreditei em alguém,
Eu nem conhecia seu rosto,
Eu o ouvia através da fita cassete,
Mas, cacete,
Ele me deixou azul,
E desgostou do cinza
Para caramba.

O que quer dizer isto,
Você saberia cantar
Neste seu tom profundo
Que me acalma a alma
E me faz dormir,
Querido,
Eu perdi tão profundo o sono,
Que acho que não posso mais dormir,
Então, você cantaria pra mim?

Psicológico Abalado

O cara era um estranho,
Eu sentia medo,
Sem razão,
Mas o coração apertava
E eu sentia que algo estava errado.

O rapaz tinha feridas na boca,
E me pediu um beijo,
Eu pensei: “uau, deve ser legal”.
E não sei até hoje
Por quê pensei desta forma,
Mas fui e cedi o tal beijo na boca.

Era febre entre a moçada,
Beijar e ter um cara,
Isto é que era divertido,
O mais era passado enterrado.

Eu saí limpando a boca,
Que bom,
Sou modinha,
Agora eu sou boa garota,
Mais meninas serão minhas amigas,
Vai ser muito bom.

Não foi.
As feridas eram doença,
Seriam o quê?
Sei lá,
Eu não pensei,
Eu só quis ser boa garota.

Aí,
Passou os anos,
A doença ficou,
O cara eu nunca mais vi,
As amigas não aumentaram,

O contrário,
Não gostaram de eu ser a doentinha,
Não bastava ser a reclusa,
Agora portava uma doença
Notória e grudada na boca.

Ótimo.
Preferi me esforçar,
Ser boa filha,
Melhor amiga,
E tive que falar bem,
Me expressar ainda melhor,

E que droga
Lá vinham as feridas na boca,
Eu com a mão na frente
E as palavras por trás,
Droga de vida.

Fugi disso,
Não quis falar no assunto,
Senti medo,
Mas segui.
Então, o garoto chegou e disse:
“ sabe por que eu te passei
Aquela doença das feridas?”

Eu pensei,
Caramba, como eu iria saber,
Meu Deus, por quê?
E fiquei quieta.

Ele respondeu que eu tinha
Um pé de pitanga,
E ele queria,
Eu me recusei a ofertar,
Ele não conseguiu levar,
Era uma árvore.

Mais tarde, porém,
Nos dias de hoje,
Ele chega e diz:
“corta o pé de pitanga”
Eu fico boquiaberta,
Entendo menos o assunto.

“agora você está com um rapaz,
Isto é pior que me negar
O que lhe pertence,
A pitanga, você e o que mais eu quiser”.

Caramba,
Negar a ele o que nos pertencia
Foi risco de vida,
Encontrar alguém que me ama
É morte garantida.

Droga de vida,
Eu disse,
E removi a mão da boca,
Peguei alho exprimi os dentes dele
E coloquei sobre a boca,

Depois tomei alho puro
Por algum tempo,
Estou melhor dos lábios,
Mas quanto ao psicológico
Eu me encontro abalada.

domingo, 16 de fevereiro de 2025

Leitura Nova

Conforme costume,
Ela acordou,
Organizou o quarto,
Abriu a janela para o dia,
Ligou o rádio,
Foi para a cozinha.

Em meio a manhã,
Colheu laranjas no quintal,
Juntou ovos no galinheiro,
Olhou os pintinhos comer ração,
Retornou e fez um bolo.

Cortou todo em pequenos pedaços,
Recheou e guardou em um potinho.
Levou ao colégio,
Onde repartiu com a turma,
E encheu a barriga,
Vários colegas
Trouxeram comida,
Todo mundo comeu junto
E foi divertido.

Escolheu um livro diferente
Para leitura,
Adorou cada linha,
Se sentiu tão imersa
Que não conseguiu parar de ler,
Isto atrapalhou a aula,
Mas não tanto
Quanto a saída da sala.

Com mochila no braço,
Livro na mão,
Olhos nas linhas,
Saiu pela porta
E deparou-se com o colega
Da sala ao lado,
Caiu atordoada sobre ele,
Deu de encontro
De maneira estrondosa,
O chicle dele
Colou na boca dela,
E isto soou ridículo.

Depois estourou
No rosto de ambos,
Não podia piorar,
Ela tentou se desvencilhar
Tropeçou no tênis dele,
E mergulhou
Escada abaixo.
- garota, fecha o livro.

Esquece esta página,
Ela deve conter maldição.
Ele falou
Tomando o livro com uma mão,
Segurando ela com outra,
O cabelo dela colou no zíper dele,
Na jaqueta toda
Devido ao chicle,
Então, ao tentar andar embasbacada,
Ela teve os cabelos puxados:

- aí, Allah.
Que dor,
Meus cabelos estão sendo arrancados!
O garoto se voltou rápido,
Juntou uma tesoura
No bolso da mochila
E foram obrigados
A recortar o cabelo,
Não pioraria,
Se a mochila dela
Não tivesse grudado os grude
De abrir e fechar na dele,
E ao sair ele a puxou
Para o chão de volta
Com mochila e bunda no piso.

-ai, ai, ai Caraaaa.
Que dor!
O garoto voltou-se
E deu um sacolejo nela.
- garota, Allah.
Você está toda presa em mim.

Ele disse ajudando-a
A levantar-se do chão.
- imagina,
São seus olhos.
Ele pôs a mão na boca
Embasbacado
E foi andando de costas,
Mantendo o olhar nela,
Parece que ficou amedrontado.

Recapitulando a conversa
Pela milésima vez,
E ela nunca se sentiu mais burra
Por ter dado resposta
Tão idiota.
De tanto ler,
Em nada conseguiu convencer.

Lembrou, lá pelo final da tarde,
Enquanto desenhava um jardim
Para o palco do ACDC que estava voando
Na parede do quarto
De giz colorido
Que esqueceu o livro
Com o garoto.

Pronto,
Agora no outro dia
Teria um encontro forçado,
Ou seria obrigada a esquecer a leitura
Sem chegar ao fim,
E isto parecia mais idiota
Que uma frase burra...

Borboletas e borboletas
Invadiram o palco da banda,
E o estômago envergonhado
Da garota Puriel.

Sorvetão

Afinal,
Quem tolera sala quente,
Em noites de estrelas
E ruas iluminadas?
Com minhas amigas,
Nenhuma garota!

Calçamos nosso tênis,
Colocamos nosso jeans favorito
No banheiro do colégio,
E no caminho,
Olhando uma para a outra,
Bem nos olhinhos,
Nossos dedinhos se colaram
E decidimos,
Sem mais:

- correr pelo portão,
Com o cabelo jogado no rosto
Para não descobrirem quem era,
Deixar, é claro,
A mochila na sala,
A amiga que fica leva para a gente.

Fomos,
Deu tudo certo,
A chave estava no portão,
Chegamos no barzinho,
Pedimos um sorvete de taça,
E nele jogamos uma tequila,
Só pra tranquilizar a alma
Sobre ter prova surpresa,
Ou não na aula
Que deixamos lá atrás.

Tequila no sorvete,
Coca na tequila,
Seguimos a rua,
Brincando entre os postes,
Caras e bocas,
Sorvete no cabelo
E um pouco na camiseta,
Só um pouquinho pra abrir o apetite.

Uma piscadela pro gatinho da rua,
O garoto gosta,
E vem pro lado da gente,
Aí já sabe, né?
Corrida...
Fugir dele em disparada.

Enfim,
Paramos na ponte
Do rio que margeia a cidade,
Ponte iluminada,
Local pra passar as pessoas,
Sentamos na lateral,
Jogamos um sorvetinho
Pro peixinho.

E as horas voam.
Como voam.
Até o sorvetão dura pouco.
Uma da a mão para a outra,
Confidências vem e vão,
Descubro que minha amiga
Está apaixonada,
E eu preciso encontrar alguém,
Isto é chato,
Mas é mais chato deixar
Ela amar sozinha...

Recostamos a cabeça
Uma na outra
E ficamos,
Ficamos e ficamos.
Os garotos passam por nós,
A gente não se importa,
Eles vão,
Parecem estar longe,
Nos sentimos completas.

Trocamos figurinhas de cantor,
Ela conhece minha banda favorita,
Eu o seu ator da novela.
Um beijo meu,
Um beijo dela,
E as figuras vão para o mural do quarto,
Na verdade,
Foto de nós juntas
Temos poucas,
Mas de beijinhos em figurinhas
Temos muitas.

Um dia escolhemos
Uma frase legal
E escrevemos na parede,
Pichar a parede exige atitude,
E isto requer uma tinta
Super legal,
Assunto pra outro dia,
Hoje os peixes na água,
E o sorvete entre os dedos lambidos.

Salto de Aniversário

O jeito legal
De chegar a festa da escola
Comemorar seu aniversário
Usando seu presente,
Um carro novinho
A seu gosto,
Existe.

Pode acreditar que existe.
Eu fiz isso.
E mais,
Fui ao salão fiz o cabelo,
Fiz maquiagem e unha.

Não bastava,
Aluguei um daqueles vestidos
De supermodelo,
Daqueles de usar única vez
E sentir vergonha para sempre,
Tamanha coragem, altivez
E preparo mental
Que você fingiu ter.

Mas tive.
Por está noite eu teria...
Bem.
Levei a amiga comigo.
Ela no carona,
Eu no dirigível,
Cerveja pra regar o riso,
Champanhe pra molhar o batom.

Na esquina da escola,
O segredo é a buzina,
Esqueça tudo que te ensinaram
Dentro da sala de aula,
Desrespeite seu professor
Mais velho,
Meio surdo
Que não se aposentou
Por falta de preparo dictorio.

Cole a mão na buzina,
E faça chegar o mais alto possível,
Colocamos o cede do Metallica,
E buzinamos mais alto,
Entramos em frente ao ginásio,
Estacionamos de frente
Em frente a porta,
A uns cinco metros da entrada.

Abrimos as portas do carro
Com ele ligado e andando,
Diminui a marcha,
Deixei no ponto morto,
E virei a chave e puxei o freio de mão,
Eu de fora do carro,
O carro andando
Sem ninguém dentro,
Então, parou certinho.

O salto agulha
Tilintando naquelas pedras soltas,
Minha amiga com a cerveja,
Já abrindo outra,
Olhamos uma para a outra,
Cerveja entre os dentes,
E empurramos a porta,
Foi legal,
Muito legal.

Sorriso na boca,
Cumprimento de beijinho,
Em frente ao capô,
Saltos combinando no barulho,
Taquinho no ouvidinho.

Depois disto,
Faz quatro dias que tento
Tomar coragem de voltar ao colégio.
Mas o carro está na garagem,
A chave no roupeiro,
Sobre a sandália,
Ai Allah,
Está chave pede um salto,
E salto pede as amigas....
(Risos).

A Hora

Anunciaram os djins, - aproxima-se a Hora. O povo daquelas areias Sobre o mar azul e limpo Estremeceu. Aguardaram uns de Al...