Como ela se veste.
Ela respondeu
Folheando a revista,
Acompanhando a banda
De música jovem que surgia.
Ela já tinha doze anos,
Era boa moça,
Pegou o talão de cheques do pai,
Falsificou assinatura,
Comprou tudo que pôde.
Foi elogiada
Pelos garotos da rua,
Recebeu convite da amiga
Para festa do pijama.
- que legal.
Ela disse,
Folheou a revista
E viu que precisava
De um pijama novo.
Foi até às lojinhas da cidade,
Comprou vários
No nome dos pais dela.
Encontrou revista da banda novas,
Adquiriu todas,
Se declarou fã,
Comprou cds, dvds
Faixas de cabeça,
Camisetas e coisas legais para as unhas.
Ela não tinha emprego,
Não conseguiu dinheiro,
Não pode pagar,
Não tardou
E o telefone passou
A tocar sem parar,
Ela se certificou de atender,
Esconder as ligações do pai.
Mas, não tardou muitos meses,
O pai chegou cansado do trabalho,
Atendeu o telefone suado,
E incomodado com tanta coisa
Dando errado.
- o quê?
Como assim,
Minha filha comprou tudo isto?
Ele gritou incrédulo.
- sim.
Respondeu a dona da loja.
Ele tentou devolver a roupa,
As revistas e o que pode.
Não foi aceito.
A garota comprou de novo.
As lojistas venderam.
A história se repetiu.
Ele tirou o cinto da calça,
E bateu na garota,
Na frente de todos,
No meio da rua.
Abriu uma lojinha
Tentou vender tudo que ela adquiriu,
Ele não tinha dinheiro para pagar.
A garota se incomodou,
As amiguinhas da festa do pijama
Deram a ideia,
Espalhar pulgas nas roupas,
Jogar baratas
E manchar com sujeira.
O pai retornou ao final da tarde,
Foi visitar a lojinha,
Tudo sujo, rasgado,
Recortado destruído.
Uma foto do pai foi recortada
Do álbum de família
E colado na parede
Com desenhos de chifres
A caneta big,
Olhos arrancados e jogados
No chão,
Suas roupas foram pichadas
Com spray de tingir cabelo
Em desenhos de vestidos.
Ele caiu no chão,
Chorou dando socos no assoalho.
Levantou,
Pegou a garota
Levou na calçada
E seu um único tapa no rosto dela
Que a deixou caída.
A mãe que era responsável
Pela loja estava fazendo a unha
No salão.
Quando voltou encontrou
Pai e filha chorando,
Um carro da polícia estacionou
Juntou o homem,
Bateu nele,
Jogou spray de pimenta na cara,
O deixou algemado de joelhos
Na calçada,
Cortou sua cara a arma,
Apontou contra a cabeça dele.
A garota fugiu
Foi com o grupo de amigos
Que ficavam todos os dias
No ginásio ao lado da escola,
Descobriu o que eles curtiram,
Droga.
Droga de dia.
Droga a noite.
Deitou com eles no gramado
E ficou lá,
Falhou aula,
Perdeu prova.
Teve que fazer aula de reforço.
Mas eles não frequentavam a escola.
Foi difícil,
Muito difícil ter de abandona-los.
Eles a aceitaram.
Entenderam-na e deram carinhos.
Eles não trabalhavam.
Tinham as roupas mais legais.
Eram livres.
Ela teve que deixar os amigos
Para entrar no colégio,
Doeu ver a grade se fechar,
Doeu ver a professora chavear,
Era uma espécie de presídio.
E todos lá dentro se vestiam
Como na revista.
A revista que o pai lhe tirou.
As roupas que ela não tinha.
Ela olhou para fora das grades,
Viu os amigos lá
Escorados na parede...
Olhou para seus bolsos
E encontrou a caneta
Que um deles lhe deu
Para que ela não sentisse tanta saudade,
Ela a apertou forte.
Retirou do bolso
E teve coragem de entrar na sala.
Ver aquele quadro negro
Sujo de giz,
Exalar cheiro forte,
E sentir o pó do giz
Invadir suas narinas
Até que não pudesse respirar.
Alguns amigos gripados,
Espirando gripe
Um na cara do outro.
A garota legal de calças novas.
Todos com algumas coisas novas.
Ela apertou a caneta e ficou.
Cuidando aquele ventilador no teto,
Enferrujado,
Meio desgrudado,
Funcionando e cambaleando sobre
Suas cabeças.
As classes estavam estragadas,
A mesa estava soltando lascas
De madeira e ferrugem,
As cadeiras eram pequenas
Feriam as pernas,
As lascas delas cortou sua calça.
Sua calça legal.
Destruída.
De longe,
Se ouvia vozes e risos indefinidos.
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