sábado, 9 de agosto de 2025

Assassina

“Tome,
Tentei escrever.
Diga o que houve”.
Ela ficou sentada
Na mesa da escrivaninha
Vendo o papel em branco
Que o doutor lhe alcançou,
E junto a ele:
Um lápis com uma borracha
Na ponta.
Sua mente estava em branco,
Ela gostaria de voltar
Ao passado,
Ser forte o bastante
Para reviver o que houve
E falar sobre isso
Com clareza,
Se defender,
Ter mais cautela,
Não sentir medo.
Já estava quase
Na hora de tomar
Seu remédio,
Agora, dormia porquê
Era dopada,
Acordava quando era chamada,
Respondia aos estímulos,
Vivia feito um corpo
A esmo com pouca vida.
“Assassina”,
Ela ouviu bem a palavra
Com a qual a designaram,
“assassina”,
Ela permaneceu calada,
Não soube o que dizer,
Há algum tempo
A voz lhe fugiu,
Levou lágrimas,
Dor e remorso.
Agora estava presa
Num cômodo de algum lugar,
Tão branco e de azulejo pegajoso,
Era como se ela visse
O doutor ali dentro,
Como se ele fosse parte
Do lugar,
De repente seu rosto
Cresceu tanto
Que já não se distinguia
Da parede,
Seus olhos estavam ali dentro
Por mais que ele não
Aparentasse estar,
Ela podia sentir a vigília eterna,
Ver o peso de seu olhar
Sobre ela,
Em busca de melhoria,
Em busca de sua fala,
A lembrança que guardava
De determinado dia,
Seus remédios pingados
Lhe buscavam este efeito.
Ela era impedida de sair
Até a sala comunitária,
Mas, podia ouvir as vozes
Sussurrantes por trás
Das portas:
“Assassina”
 Lhes diziam,
As rachaduras da parede
Lhes traziam as falas:
“assassina”.
Por entre as falas
Vinha o doutor,
Com seus olhos sérios
E acusatórios.
Os enfermeiros não
Lhe definiram outro nome:
“assassina”.
As paredes tão vivas,
Mesmo em seu silêncio
Lhe traziam o termo:
“assassina”.
Ela tentava dormir,
Buscar paz em algum lugar,
Se recompor
Para se sentir segura,
Mas, no fundo da sua alma
Algo latejava e lhe dizia:
“assassina”.
Mas, sua mão de recusava
A rascunhar ou definir palavra,
E o termo partia para longe,
Escondido e omisso
Por entre as rachaduras
Da parede tão idênticas
A face do doutor,
Com seus olhos vívidos
E brilhantes apontados
Para ela,
Como se pichassem o termo
“Assassina”.
Aquele rosto pálido
De mente atenta,
Em busca do dia perdido,
Da palavra pronunciada
Em baixa voz,
Mas, que ela não se atrevia
A assimilar
“assassina”.

Estrada Mal Assombrada

Um fazendeiro cruzava
Uma floresta rumo a feira,
Ele tinha intenção de fazer
Negócios,
Gerir sua propriedade.
No caminho,
Um homem saiu do nada
Parou na estrada
E bateu com a palma
Da mão aberta sobre a perna
Da égua
Que o fazendeiro cavalgava.
- bom dia,
Lindo animal,
Desejo comprar.
O fazendeiro assustado
Apenas pensou que não feira
Conseguiria um valor maior
Pelo animal e decidiu
Não ceder enquanto não
Ouvisse todas as propostas.
- me faça uma proposta!
Ele pediu,
Sabendo que nenhuma
O satisfaria.
O homem fez,
Ele se recusou:
- irei até a feira
Se não houver proposta maior
Eu retorno e a vendo.
- está certo.
Concordou o fazendeiro.
E fez sinal para a égua seguir.
Alguns passos para frente
O fazendeiro olhou para trás
E não viu ninguém,
De onde o homem tenha saído,
Da mesma forma sorrateira
Ele retornou.
Haviam árvores lá atrás
E folhas secas,
E sinais nenhum da presença
De alguém,
Ciente de si próprio
E corajoso o fazendeiro seguiu.
Adiante, o homem ressurgiu,
Desceu de dentro das árvores,
Chegou até a égua
E ela estacou,
Ficou empacada com o olhar
Assustado.
O homem chegou e lhe segurou
As rédeas:
- sinto como se fosse minha.
O homem disse,
O fazendeiro ficou mais sério,
E chacoalhou a rédea
Em sinal para a égua seguir:
-ela é bem ensinada,
Chegará até a feira.
Ele respondeu.
-Sei disso.
O homem falou,
Deu dois tapas na cocha
Da égua e ela seguiu
Com a crina esvoaçante.
Mas o caminho circundado
Pela floresta era grande,
Ele temia não chegar ao fim,
Parecia ver o rosto do homem
A frente onde havia mais luz,
E parecia não ter árvores.
Olhou ao seu redor,
Avistou uma grande rocha,
Ela parecia muito humana,
Feito olhos a cuida-lo,
De repente se desfez
Para ficar maior,
Se tornou um rosto
Um enorme rosto,
Feito o daquele homem
Que não desviava dele
Um único segundo.
Tinha a sua cor,
Quase a sua forma,
Era humana demais
Para ser simples rocha,
O chacoalhar das árvores
Denunciavam sua presença,
Mas a ausência de pegadas
Dificultava encontrá-lo,
Era como se houvesse um feitiço
Ali naquela estrada,
De repente,
A égua parou de caminhar,
Mas, não havia ninguém,
De repente, a égua flutuou,
O fazendeiro já não via o chão,
Ao tentar apear da égua
Percebeu que estavam presos
Numa rede e está rede
Foi puxada para cima,
Muito para o alto,
E mantinha os dois presos,
Ao buscar o tronco da árvore
Encontrou o homem ali encostado,
Ele tinha uma faca em sua mão,
Ele estava de costas
Encostado no tronco,
A árvore e ele pareciam
Um único ser.
-eu posso vender.
O fazendeiro respondeu.
- e eu posso ajudá-lo.
Revidou o homem
Seguro de si.
- faça a proposta.
Disse o fazendeiro.
- eu tenho este relógio
Em meu pulso.
O homem disse.
- falta apenas trocar a pilha.
O fazendeiro aceitou.
O homem cortou a corda
Da rede quadriculada
Feita em tecido negro,
E a égua caiu em pé.
O fazendeiro bateu nela
Com um ramo que puxou
Da árvore enquanto a égua descia,
E bateu muito forte,
A égua correu rápida.
- eu tenho tempo,
Posso aguardar.
Gritou o homem
Incapaz de alcança-los.

quinta-feira, 7 de agosto de 2025

A Cidade Escondida

Ocorreu de,
Em certa cidade
Próxima a está,
Existir um cemitério
De lápides grotescas,
A esmigalhar-se de pouco
Em pouco.
Ao lado,
Há a praça pública,
Local central da cidade
Reconhecido para lazer.
No terreno abaixo de ambos,
Há apenas gramado,
Abaixo há algumas casas
Com aparências antigas
De telhado de telha,
Feitas de maneira rústica.
Fumaça sai de suas chaminés
O dia inteiro,
Há quem diga
Que seus moradores não tem
Sono,
Isto se comprovaria devido
A fumaça que sempre sai.
No entanto, outros dizem
Que o sono é confundido
Com os sonhos,
Pois dormir dorme-se.
Ao lado da praça
Reside uma mulher de 90 anos,
Ela está sempre sentada
Em sua máquina de costurar,
Nunca para
Ou faz outra coisa.
Moradores juntaram
Suas bíblias e objetos
De orações e se dirigiram
Para aquele terreno,
Lá acenderam uma fogueira,
Rezaram em voz alta.
As fogueiras se acendeu
Com fotos de familiares
E roupas que os moradores
Desejaram doar a este Deus
Em troca de favores,
Como dinheiro e sucesso.
Muitos pertences foram queimados,
Então, as lápides ruíram
Ainda mais
Se quebrando em uma diversidade
De pedaços,
Ossos rolaram de dentro
De suas covas até parar no fogo.
As pessoas presentes
Se deram as mãos
E passaram a rodear está
Fogueira e entoar seus cânticos
De louvores e favores,
Os ossos continuaram a rolar.
Atrás delas apagaram-se todas
As suas pegadas,
Como se fosse um dom
Da fumaça que subiu,
Se alargou e consumiu.
As pessoas diziam
“Deus me dá dinheiro,
Veja meu sofrimento,
Lhe dou minha filha
Em juramento,
Preciso de sucesso,
Estou disposto a pagar
Qualquer preço,
Leve meu sobrinho,
Queime o gado de meu tio,
Rasgue o cabelo de minha prima,
Esconda o vestido de minha esposa,
Traga dinheiro a minha carteira,
Derramo seus pertences
Como se queima mais perfeito
Incenso,
Traga-me dinheiro,
Leva meu pai que só traz gastos.”
Neste dia, Tia Afonso
Pegou seu celular
E enviou uma mensagem
A sua entrada de 13 anos:
- me dê sua buceta,
Em troca lhe dou drogas.
A mãe da menina viu o celular
Receber a mensagem e a leu,
Indagou a ele sobre o que houve,
Ele disse que fez um teste
Para ver se ela usava drogas,
Ela acreditou nele.
Mandou a menina embora,
Ela foi morar com o pai,
No caminho para a escola,
Tio Afonso a alcançou,
Ofereceu carona para a aula,
Ela aceitou,
Ele desviou de caminho
E a levou para aquele local,
Aqueceu uma adaga na fogueira,
Amarrou as mãos dela
E a esfaqueou no peito,
Depois fez sexo com ela
Sem sua permissão
E então, a jogou lá dentro,
Ela queimou feito um osso,
Não restou dela
Mais que fumaça,
Mas, sua mãe nunca desconfiou,
Ela o ama perdidamente,
Ela confia nele.

Festa no Céu

Via-se lá do jardim
Por entre nuvens brancas
Feito algodão doce,
E outras avermelhadas
Muitas luzes e algum som.
Lá da beira do açude,
Enquanto viam os peixes
Pular dentro da água
Ninguém entendia o que dizia
Lá em cima.
Todavia, todos concordavam
Que deveria ser música,
Então, chegava aos seus ouvidos
Sons baixos, outros mais altos
Finalizados por estrondos
E muita luz.
- a festa está enorme lá.
Comentou Pitelmario,
Sem desviar o olhar dos céus.
- talvez, esteja mais bonita
Que a dos peixes.
Enfatizou Bruce
Jogando pão na água
Para os bichinhos comerem.
- eu adoraria estar em uma
Festa no céu.
Disse Pitelmario
Com ar sonhador para o alto.
- eu também.
Respondeu Bruce,
Virando a cabeça
Para olhar o céu.
Em pouco tempo
Diversas nuvens se aproximaram,
Havia uma que se jurava
Tratar-se de escada.
- veja lá,
Parece uma escada.
Comentou Bruce.
- é certo.
Com tão pouco de viagem
Chegaríamos a escada
E poderíamos dançar.
Emendou Pitelmario.
Os peixes pularam em três
Para o alto,
Ao cair fizeram voar água
Nos meninos
Que naquele instante
Voltaram o olhar para o açude.
- de repente eles deixassem
Eu cantar.
Exclamou Pitelmario
Enquanto chacoalhava
As penas para remover a água.
- e eu poderia tocar violão.
Falou Bruce.
De tão feliz Bruce correu
Até Pitelmario
E o olhou com os olhos esperançosos.
Havia um brilho nele
Que mais de iluminava
Pela luz do céu.
O sol estava escondido
Em algum lugar,
Havia apenas o azul
E algumas nuvens brancas
E coloridas.
- venha, se segure nas minhas
Costas, eu te levo até a festa.
Falou Pitel feliz.
Bruce deu um pulo
E se segurou no pescoço de Pitel,
Encantado com a ideia
De ir dançar em plena
Metade da semana.
No entanto,
Quando Pitel estava ereto,
Com a cabeça reta,
O bico apontado para a frente,
As asas abertas,
E as patas segurando o violão
Que Bruce iria tocar,
Aconteceu algo inusitado,
Começou a garoar.
Do céu despencaram
Poucas e finas gotas de água,
Depois a chuva foi ficando
Mais intensa:
- não era festa,
Se tratava de uma chuvaaaaaa.
Pitel gritou.
-voltaaaaa.
Bruce falou agachadinho
Sobre o Pitel
Sem nem olhar para a frente
De medo de cair.
Já estavam no alto do céu,
Longe da copa das árvores,
Muito acima do gramado,
Sobrevoando as flores,
Mas, tiveram que voltar,
Não havia algodão doce,
Música ou luz,
Era apenas chuva.

A Flor Colorida do Sítio

Enquanto a chuva cai em Dubai,
Lá na chácara Ahmed,
As nuvens se dissipavam
Para abrir o sol.
Com o sol a resplandecer
Feito um sorriso em rosto feliz,
Bruce caminhou pelo gramado molhado,
Vendo as ultimas gotas de chuva
Descerem para a terra,
Até sumir,
Deixando a mostra apenas a lama,
Lá embaixo,
Depois do gramado,
Lá onde fica a raiz da grama.
Feliz por estar todo o redor molhado,
Sentindo o cheiro encantador
Que emanava do jardim
Pitel voou para o horizonte
Tentando ser mais rápido que Bruce.
De tão feliz que ficou,
Ele cruzou pela flor de Camelia,
Chocou sua asa contra a flor
E a fez cair sobre a grama.
De imediato Pitel se entristeceu,
Parou seu vôo alguns metros a frente,
E escondeu o rosto por entre as asas,
Hartman veio correndo ao seu encontro,
Bruce também o acudiu:
- que houve com você Pitel?
Indagou Bruce Wayne Ahmed.
- a flor, tão linda, caiu no chão.
Ele respondeu.
Seus olhos se empalideceram,
Ele levantou suas asas
Para o alto e correu até Bruce,
Que havia chegado alguns
Metros mais perto dele,
Então, abraçaram-se.
Hartman também os abraçou,
Ao chegar por trás de Bruce,
Ele foi o primeiro a se desvencilhar
Do abraço,
Nisto caminhou até a flor,
Pisou no final de suas pétalas
E concluiu que caiu:
- sim, Pitel, ela está caída.
Pitel abraçou Bruce ainda mais forte,
E Efruziva voou até a flor:
- só tinha uma.
Ela disse,
Ao chegar na flor
Parando de bater suas asas.
- não se preocupem,
Peço ao papai para ele arrumar.
Respondeu PrinssosRah,
Feliz por confiar na capacidade
Do pai para resolver tudo
Que acontecia de errado.
-e ele vai arrumar ainda
Com uma cor nova.
Concluiu Namaduna
Se juntando a eles.
- é certo que sim.
Disse Morahme,
Feliz por ver Pitel parar
De chorar,
E seus olhos se encherem
De esperança.
Pitel, por sua vez,
Soltou Bruce de seu abraço,
E arriscou passos até a flor,
Que estava agora
Nas mãos de PrinssosRah.
- será que papai concerta?
Ele indagou triste e esperançoso.
- sim!
Responderam em uníssono
Batendo as mãozinhas
Todos eles.
Mohamed se aproximou deles,
De longe ele ouviu a história
E chegou a ver a flor cair,
Realmente, Pitel ficou triste
E ele quis ajudar.
Então, pegou vários
Pequenos potes de tinta,
Soltou no chão
E pediu para cada um
Pintar uma parte da flor,
Todos fizeram,
A flor foi solta sobre o gramado,
As tintas também,
Em cada potinho de cor diferente
Haviam pincéis
Que foram usados por cada um.
Depois de todos
Passarem uma pincelada
De cor que desejaram na flor,
Mohsned passou cola
E colou a flor na pequena árvore.
Foi Bruçano quem soltou a flor,
Ao ser erguido nos braços
Do pai,
Que passou cola na pequena planta
E no final da flor.
Todos bateram palmas,
Seus sorrisos retornaram
Aos pequenos rostos gentis.
No entanto, o sol se foi,
A tinta teve de ser guardada rápido,
Porquê pequenos pingos
Começaram a descer do céu,
E molhar tudo pela frente.
Ao iniciar a chuva,
Já nos primeiros pingos
A flor caiu,
Bruçuno deu um salto
Da área e alcançou o lugar
Onde a flor estava,
Há uns seis metros adiante,
A pegou entre os dentes,
E olhou para Mohamed triste.
Pitel e Bruce começaram
A cavar no chão
Retiraram terra,
Então, Mohamed guardou
A terra num vaso
Para soltar a flor dentro.
Todos os dias
As crianças davam água a flor,
Que colorida de azul, rosa,
Vermelho, verde, amarelo e preto,
Murchou depois caiu,
E de seu pequenino caule
Nasceu uma nova planta,
Que ao florir não possuía
A cor original
Que era rosa,
Ao contrário,
Possuiu todas as cores usadas.

terça-feira, 5 de agosto de 2025

Lá na Plantação

Meu pai e eu
Iniciamos uma plantação
De manga,
Uma fruta doce,
Difícil de ser encontrada
E nutritiva.
Nossa intenção era vender
De casa em casa,
Talvez, montar uma barraca
Na beira do asfalto
E tirar algum proveito
Destes frutos
Para sobreviver.
Em cada dia
A vida na roça se tornava
Mais difícil,
Plantar milho, feijão
E criar galinhas
Já não supria o suficiente
Para encher a mesa.
Contudo, o vizinho
Artêmio Joseniro não poupava
Esforços em buscar
Comprar a terra,
No entanto, achava
A terra desnutrida,
Fraca para o plantio
E queria pagar o quanto menos.
Isto não nos bastava,
Meu pai nasceu nesta terra,
Eu também e mais meu irmão,
Não podíamos vender
A propriedade ao vizinho
Quê valorizava o quê lhe pertencia
E queria pôr preço no que
Era dos outros.
Contudo, nossos quatro
Alqueires de terra
Nos trazia pouco sustento,
Num primeiro instante,
Quase na época da colheita
O milho pegou fogo,
A palha estava quase seca,
A espiga já se abria
Para ser colhida,
Sem sabermos como
A plantação toda queimou,
Restou cinzas de meses
De trabalho.
Não bastasse,
A chuva trouxe vento,
E o vento trouxe enormes pedras de granizo
Que despencaram do céu
Como se fossem torrentes
De água despejadas a balde,
Isto levou a plantação de feijão,
Catamos os poucos grãos
Ainda verdes,
Quase bons para colher
Para pôr na panela.
- nossa, papai.
Tantas pedras de tamanho
Tão enorme não pertencem
A ventosa dos céus.
Eu disse, triste,
Sentada na terra molhada
Com uma bacia sobre
As pernas
Enquanto catava na vagem
Os grãos que sobraram.
- sim, filha.
É inacreditável.
São pedras grandes demais.
-parece que alguém passou
Com uma madeira,
Levou o que quis
E destruiu o resto,
Depois, jogou gelo
Aproveitando-se do tempo chuvoso
Para disfarçar o mal que fez.
Meu pai sentou
Na terra molhada,
Levantou os joelhos
E não conseguiu conter
O choro.
Minha mãe e meu irmão
Continuaram o trabalho
Até o fim da roça.
De bacia em bacia,
Pé em pé,
Conseguimos colher
Três sacas de feijão verde.
- vamos investir nas frutas.
Falou meu pai.
De manga a manga que colhemos
Plantamos o caroço,
A maioria brotou
E formou muda,
No decorrer de um ano
Conseguimos 50 mudas
Aptas ao plantio.
Minha mãe foi na frente
Desbotando os tocos
Com um facão,
Eu e meu irmão fomos
Afastando as pedras
Para o lado da roça,
E nosso pai foi arando
A terra com os bois.
Em nossa ausência
Alguém invadiu o galpão
Onde estavam as galinhas,
Levaram 20 galos de estimação,
E 10 galinhas ponhadeiras,
Além de todos os ovos
De cada ninho.
Ao chegarmos em casa,
Minha mãe foi colher ovos
Para fazer a massa,
E avistou o galpão sem nada,
Correu chamar meu pai,
Ele pegou um facão
E correu até lá.
Bateu o facão no chão,
Bateu contra o galpão,
Gritou por misericórdia,
Não foi ouvido,
Exceto pelo vizinho
Que ao meio dia tornou
A vir até nossa casa
Nos fazer a proposta de compra.
Não desistimos,
Na mesma tarde plantamos
Todas as mudas,
Fomos até a cidade de carro,
Juntamos o que sobrou
Do milho e do feijão,
Levamos uma balança
E vendemos de porta
Em porta.
Em dois anos
Colhemos os primeiros frutos,
Armamos uma barraca
Na beira do asfalto,
E ficamos lá
O dia todo oferecendo
Os produtos: milho, feijão, manga e ovos.
Agora, trinta anos depois,
Eu retorno com meu filho
Em meus braços,
Meu esposo nos abandonou,
Cansou de viver comigo,
Buscou outra vida.
Eu perdi o emprego,
Não consegui sustento,
Retorno ao lar,
De longe avisto meus pais
Sentados na área
Tomando chimarrão,
As mangueiras carregadas
De manga,
Com seus frutos maduros
Caindo no chão.
Sorrio, já tenho o que fazer,
Tenho por onde começar,
Porém, antes de descer do carro
Avisto o vizinho,
Com a velha proposta esdrúxula
Em mente sobre vender a terra.
Logo, já sei que nosso produto
Não adquiriu valor,
Que a vida está desassossegada,
Lá no galpão os galos cantam
Felizes por nos receber,
Próximo a casa,
Meu irmão joga adubo
Na roça com sua esposa
Ao seu lado
E duas crianças brincando
Sobre a terra por entre as vergas.
Elas pegam a terra
E amontoam para fazer desenhos,
Há esperança,
Eu posso ver isso,
Há alimento,
Estamos a salvo.
A noite sussura por entre
Seus serenos
Que produzem a vida,
Há nela uma sombra
Que caminha comigo
E nos protege,
É meu avô,
Ele permanece.

domingo, 3 de agosto de 2025

Cidade Perdida

Elena perdeu seu filho
Outra vez,
Dez anos de casada,
De ano em ano
Tentou engravidar,
Amava seu esposo,
Queria consagrar a união.
Contudo, está vez
Foi diferente.
Enriqueeh dirigia seu carro,
Ela estava trocando um cd
No rádio,
Grávida de seis meses,
Quando um caminhão
Desistiu de sua pista,
Sem aviso algum,
Veio para cima deles.
Não houve meios
De desviar,
Apenas ela pôde ver
As luzes acesas e intensas
Do caminhão mudarem
Para sua direção,
E então, veio um escuro,
E mais nada.
Ela acordou chorando,
Estava sobre um monte
De terra nua,
Ao lado havia um gramado,
Ela se escorou na lápide,
Sem entender o que
Estava acontecendo.
Apenas notou
Que não sentia a alma
De seu bebê,
Outra vez,
Perdeu o filho,
Outra vez,
Não foi capaz
De mantê-lo vivo
Em seu ventre.
Depois de chorar
Abraçada aos joelhos,
Percebeu que o esposo
Não estava ao seu lado,
Outra vez,
Ele fugiu para o trabalho,
Outra vez,
Ela enfrentaria a perda sozinha.
Era culpa dela,
Suas entranhas não
Mantinham filho,
Seu ventre era incapaz
De engravidar,
Sua barriga não dava a vida,
Apenas mantinha a dela
E mais nada.
Ao levantar o rosto dos joelhos,
Secou os olhos ao ver
O dia descendo por trás da cidade,
Lá no final do prédio mais alto,
O sol se punha,
Lhe parecia ter corrido
Um dia inteiro,
Doze horas ou mais.
Baixou a vista para o chão,
Notou assustada
Que não estava em casa,
Estava num local
Com muitas lápides,
Com muita terra,
Estava no cemitério da cidade.
Olhou para trás
Para ver no que estava escorada
Então, viu sua fotografia
Ali colada junto ao seu nome,
Logo ao lado,
Havia uma fotografia do esposo,
E seu nome,
E uma data,
Parecia ser a da noite passada
Ela não entendeu,
Mas, algo em seu íntimo
Lhe ditou: estavam, ambos, mortos.
Manteve o choro,
De repente, suas lágrimas
Percorreram aquela terra,
E muitas velas se acenderam
Do nada.
Velas ao redor dela,
Da lápide do esposo
E de outros túmulos,
Velas atendidas a anos,
Outras recentes,
Todas ganharam chama,
E creditaram como se
Estivessem tremendo devido
Aos seus soluços.
Porém, mais tarde,
Outros soluços se juntaram
Ao dela,
Pertenciam ao que pareciam
A bebês,
Então, a terra toda
Passou a verter água
E cera de velas.
Cada túmulo verteu,
Cada túmulo tremeu,
E as lágrimas se misturaram
A cera,
Depois desceram do monte,
No qual o cemitério
Estava localizado
E cruzaram a rua que o ligava
A cidade,
Depois desceram até o centro.
As luzes da cidade
Começaram a falhar,
Em todo lugar
Onde haviam velas,
Elas se acenderam de súbito,
E não se apagavam
Mesmo que fosse tentado,
Seja com o dedo
Ou com o que for,
A chama retornava
E tremeluzia
Como se fossem chacoalhadas
Pelos soluços secos e curtos
Como os de bebês.
De repente,
Surgiu uma rachadura
No cemitério,
E ela se estendeu por ele
Inteiro,
Lá de dentro saíram
Pequenos braços,
Que se firmaram na terra,
Depois surgiu suas cabeças
E depois seus pequenos corpos,
Eram bebês de todo tipo
Que emergiam do chão
Como grama em terra molhada.
As crianças se ergueram
Daquela rachadura
Chorando,
Suas barrigas soluçando,
E seus olhos arregalados
De espanto.
- o que vocês são?
Ela indagou assustada,
Abraçada a sua lápide.
- somos bebês abortados!
Responderam em uníssono.
Os bebês provenientes
De abortos deram seus
Primeiros passos
Em direção ao centro,
E deixaram de olhar
Para ela,
E deram seus segundo passo
E terceiro e foram todos.
Ela ficou estarrecida,
Vendo crianças surgirem
De todo lado
Indo em direção a cidade.
Em momento posterior,
Do cemitério foi audível
Gritos de casais,
Homem e mulher gritando juntos,
Pois tiveram suas camas
Invadidas pelos bebês mortos,
As luzes das cidades
Passaram a ser acesas.
Alguns corriam para fora de casa
Com velas e acendiam
Holofotes para o céu
Em busca de ajuda.
Os casais que receberam
Suas visitas tiveram
Os vestidos de noivas
Cortados por seus dentes
E tesouras,
E queimados.
Uma cera descia de seus
Bracinhos para as roupas,
E elas passaram a queimar
Mesmo sem haver fogo,
As alianças foram tomadas,
E em suas mãos
Viravam líquidos
Que escorriam para o chão
E fugiam como se tivessem vida.
- você não merece papai.
Elas diziam.
Ediane acordou assustada
Quando um bebê
Retirou seu cobertor
E tomou sua aliança.
Ela ligou a luz do quarto,
E boquiaberta viu
Que era um bebê
Igual ao que ela enterrou
Quando tomou remédio
Abortivo.
- me dê minha aliança.
Ela exigiu.
Porém, o bebê a queimou,
Estarrecida ela viu a aliança
Virar líquido amarelo,
Escorrer por cima do cobertor,
Seguir para fora do quarto,
E o bebê a olhava fixo.
- você me matou.
A criança falou.
- impossível, eu o abortei
Com sete meses apenas,
 Você nem sorriu,
Nem ao menos respirou...
Ela gaguejou,
Vendo a criança.
A criança estendeu
A mão e encostou no rosto
Dela dizendo:
- você nunca será mãe.
Depois disso,
O bebê olhou para fora
Do quarto
E desceu escorregando
Da cama para o chão,
Então, saiu.
Neste enfoque, o bebê
Foi até a casa de seu pai,
O encontrou dormindo,
Subiu sobre o cobertor
E o acordou tocando em
Seu braço que estava
Sobre o cobertor e disse:
- você abandonou mamãe,
Quando ela estava grávida
De mim,
Você nunca será pai.
O homem acordou assustado,
Não sabia de ninguém
Que havia engravidado dele,
Também nunca desejou ser pai,
E ver uma criança sobre a cama
Tão bebê lhe soou terrível.
Tentou ligar a luz,
Mas ela só piscava,
Seu quarto ficou iluminado
Por reflexos de suas velas
Que se acenderam
Sem ele saber como
Sobre a espelheira do roupeiro.
Depois o bebê escorregou
Pelo cobertor e saiu.
Todos os bebês
Se encontraram na igreja,
Foram até o altar,
E juntaram diversas velas
Junto uma da outra,
Próximo as cortinas,
Então, as cortinas se acenderam
Junto com as velas
E queimaram,
A igreja inteira pegou fogo.
Um médico que praticava
Aborto odiou o que estava
Havendo e correu de encontro
Aos bebês com uma seringa
Em mãos e alguns frascos
De remédios abortivos
Para mata-los outra vez.
Como eles estavam
Todos dentro da igreja
Ele foi obrigado a entrar lá,
E uns vez, lá dentro,
Uma cortina se desprendeu,
E o segurou preso ao chão,
Enquanto as chamas
O consumiram no fogo.
As crianças saíram de lá,
Andando em soluços,
E voltaram ao cemitério.
Nenhuma das pessoas
Pode fugir daquela cidade,
Os casamentos de pessoas
Abortivas sempre foram
Impedidos por seus abortos,
E os pais que abortaram filhos
Não puderam mais ter nenhum.
A cidade foi envelhecendo,
O mato cresceu ao seu redor,
E foi se aproximando,
Os jovens envelheceram,
Até os últimos morrerem,
Presos no que fizeram.
Nunca casados,
Nunca pais,
Impedidos de fugir,
Os últimos não tiveram
Quem os enterrassem,
Então, os bebês saíram
Do cemitério
E os puxaram para a rachadura,
Era um último casal.
A placa na estrada
Com o nome da cidade
Apodreceu e caiu,
Uma anterior aquela cidade,
Que tinha uma seta
Que informava que haveria
Tal cidade próxima
Se apagou com a chuva.

Irremediavelmente Sua

Chega a madrugada Alguém bateu palmas, Eu me mantenho calada, Cansei de ligar, Desisti de chamar, Desta vez, Terá que se ...