-Senhora, você precisa
Vir aqui agora.
Uma voz estranha
Falou usando o telefone
De sua neta,
Nelma assoou o nariz,
Como se chorasse por dentro
E secou o suor da testa,
Estava nervosa.
Ok.
Estava muito incomodada.
- me diga,
Aonde eu o encontro.
O estranho passou o endereço.
Nelma pegou o carro
E partiu até lá,
Ao se aproximar
Viu que se tratava
De um acidente.
O carro de sua neta
Estava com a frente destruída,
Parecia ter colidido
Contra o muro do asfalto,
Não sabe-se,
Talvez, o carro vermelho
Detrás do carro dela
A estivesse perseguindo.
Bem.
Neste instante,
O carro longo e vermelho
Estava estacionado
No meio do asfalto
De frente para o carro
Da neta,
Porém, não estava nem
Ao menos riscado,
Não poderia dizer-se
Que colidiram de frente.
O da neta rodopiou
Na pista e parou na contra mão.
Era o que tudo sugeria.
A porta do carro
Estava aberta,
A neta estava caída
Em uma poça de sangue
Com a cabeça encostada
No asfalto.
Calada.
O telefone dela
Estava nas mãos
Daquele estranho de terno.
Haviam dois estranhos.
O mais magro de pele escura,
O mais cheinho de pele alva,
No mais eram parecidos demais.
Nelma estacionou ao lado
Da mureta que ladeava
A pista,
Deixou o pisca do alerta ligado
E saiu com a carteira em mãos.
Logo mais,
Tinha agendado um horário
No presídio local
Onde poderia encontrar
Sua filha.
Ela era drogada,
Viciada em adrenalina
E drogas ilícitas.
Aos doze entrou
Para o cigarro,
Logo depois conheceu o álcool,
Nunca parou
Nem desistiu de provar
Sabores, cores e rancores.
Foi presa porque
Furtou a loja
Onde trabalhava como
Vendedora,
Lá roubou todos os calçados
Que pôde.
Isto proporciou a sua mãe,
Nelma a abertura de uma loja
Exclusiva para calçados
De onde retirava seu sustento
E o da neta.
Até onde Nelma sabia,
A filha dela trabalhou por três anos
Nesta loja exclusiva de calçados,
O dono era um homem robusto
E exigente,
Atrasava o pagamento
E gostava de exigir garantias
De suas empregadas,
Uma destas era sexo gratuito.
Bem, Lara foi bem educada,
Não aprendeu a se prostituir,
Nisto ela foi exigente.
No primeiro atraso,
Lara tratou de garantir
O pagamento:
Iniciou com três caixas de sapatos
Femininos a esmo.
Nunca parou,
Nem o pagamento foi correto,
Nem o sexo deixou
De fazer parte do contrato.
Escondido.
Exigido.
Ilícito.
Agora, foi pega.
As câmaras lhe roubaram
A imagem quando ela roubou
Sua primeira linha inteira,
Masculina, feminina e infantil,
No entanto, a loja
Possui estoque suficiente
Para muito tempo,
E Nelma mesmo discordante
Do decurso de tudo
Retira Notas Fiscais
E adquire novas linhas
Por meios legais.
Ela viaja ao Paraguai
Apenas para garantir preço bom,
Qualidade e manutenção
Da loja.
Ter de marcar horário
Para ver a filha é horrível,
Ela sente saudade,
No entanto,
O fato de o policial
Tê-la encontrado com drogas
Entre suas roupas ajudou
A manter a pena.
Agora, sua neta
Com treze anos decidiu
Entrar neste mundo
De drogas,
Algumas amiguinhas ligaram
No telefone de casa
E também da loja pedindo drogas...
No último mês,
Nelma a encontrou inconsciente
Dormindo dentro do carro
Do lado de fora da casa,
Estacionada em frente
Ao portão.
Havia whisky dentro do carro,
Uma garrafa vazia
A seus pés,
Outra pela metade
No alcance de suas mãos,
Próxima ao câmbio de marchas,
Um maço de cigarros aberto
Sobre o banco do caroneiro,
E pó branco sobre
O volante.
Ela estava seminua,
Sozinha e inconsciente,
Hoje, porém,
Tudo está diferente,
Há sangue próximo a ela.
-Que houve?
Indagou Nelma,
Se aproximando
Dos dois estranhos
A passadas largas e seguras.
- sua neta nos deve
Dez mil reais em drogas.
Nelma estagnou,
Levou a mão aos lábios
Trêmula.
“Então, se foi...”
Ela pensou.
Lembrou o rosto de Lara
Atordoada atrás daquelas grades,
As poucas roupas que tinha,
O frio que corroía a alma.
Ela não podia ter tantas roupas,
Era permitido apenas
O uniforme,
Mais nada.
Os cobertores eram apenas
Aqueles que estavam ao dispor,
As doações precisavam
Ser feitas ao diretor
E ele encaminhava para
Os mais necessitados.
Nelma doou tanto,
Buscou entre conhecidos
E amigos doações
Que, com certeza,
Já não havia os mais necessitados,
Porém, Lara padecia de frio,
Ela era frágil,
Sempre foi friolenta,
Ali não fazia diferença
Sua especial necessidade...
Seus cabelos estavam brancos,
Desregrados, duros e caíam.
O sabonete lhe rompia a pele,
Lhe causava secura,
Tudo lá dentro era do mais simples.
A comida era escassa,
Permitida apenas nos horários
Reservados.
A água era escassa e suja,
Tinha gosto ruim.
O frio chegava até as grades,
Ganhava as paredes
E congelava todas lá dentro,
Algumas não resistiam.
Haviam as carcerárias
Que cobravam sexo
E dinheiro por vantagens,
Lara contou aos prantos
Que estava aprendendo a usar
Pênis artificial.
Era obrigada a dar prazer.
De toda a forma,
Satisfazer as carcerárias
E por vezes, as detentas.
Com o tempo,
Seus muitos namorados
Deixaram de visitá-la,
Mas, Nelma sempre buscava
Algum garoto disponível
Para Lara não se sentir abandonada,
Mas, de fato,
Ela mesma sabia,
Os homens não queriam
Relacionamentos sérios,
Ao primeiro obstáculo
Eles desistiam.
Foi assim com todos
Os que ela teve,
E nunca soube o nome
Do pai de Lara.
Mas, Lara garantia por
Sua filha, Genna.
“A menina tinha pai,
No entanto, ele era ausente.”
- dez mil?
Nelma pegou um talão
De cheques e preencheu
O valor.
Assinou e entregou a eles.
- agora vocês podem
Nos deixar em paz?
Ela indagou.
Se ajoelhando até a neta.
Levantando sua cabeça inconsciente.
A dívida tinha um pequeno valor,
Dez mil,
E sua neta se calou
E agora morreu.
Nelma a pôs
Em suas pernas
E chorou mais ainda.
Os dois homens
Entraram no carro,
Deram meia volta
E saíram.
Talvez, se Lara consiga
Abandonar o vício,
Só então,
Estes dois nunca mais
Serão vistos.
Do contrário,
A morte é o fim previsto.
-Alo, é do presídio?
Indagaram quando Nelma ligou...
-Sim. Informaremos Lara.
Respondeu uma voz masculina,
Vinda de um rosto rechonchudo
E branco que olhou para o lado.
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