Fazia frio ali naquele lugar,
Xícara de chocolate quente em mãos,
Mas o pensamento estava distante demais,
As ondas iam e voltavam na praia,
Era noite, o mar havia se perdido em algum lugar,
Somente as estrelas brilhavam ali na praia,
E o cheiro do mar noturno vinha para buscá-la,
Ela se pôs em pé, e pegou-se a percorrer a areia,
Caminhou até sentir-se cansada e desejou ir um pouco além,
A noite a pegava pela mão e a conduzia,
Até algum lugar que ela não sabia onde era,
Mas desejava profundamente chegar,
A brisa soprava suavemente sussurrando aos seus ouvidos,
Carícias que tocavam sua pele e brincavam com seus cabelos,
Algo bom de se ouvir, de sentir, e a água beijava a areia de
maneira apaixonada,
Nem uma estrela ousou piscar naquela hora,
Encantadas com toda a beleza que sentiam,
Ela imaginou que se fosse qualquer outra pessoa,
Iria se lamentar e sentir-se sozinha,
Afinal ela parecia ser a única vida humana naquele lugar,
Mera ilusão de um coração saudoso,
Mas ela não era assim, ela ainda era Carina,
Aquela que beijou um rapaz aos 15 anos
E nunca mais fora capaz de esquecê-lo,
Aquela que fechava os olhos apenas para trazê-lo para perto,
Aquela que abraçava a si mesma na esperança
De que lá, onde quer que ele estivesse, ele ainda pudesse,
Ao menos, por um único instante que fosse,
Lembrar-se dela, como a menina que fora antes,
Aquela que até hoje ainda o amava e o amaria para todo o sempre,
Sorveu um gole do chocolate quente,
Sentiu-se aquecer por dentro,
Não era nada parecido com o abraço de Jon,
Mas mantinha seu amor intacto para ele,
Sentou-se ali em um canto escuro,
Seus pés penetravam a areia e brincavam com ela,
Diferente da areia que escapava por entre os vãos,
Mesmo a distância ou o passar dos anos,
Nunca foram capazes de tirarem-no do seu coração,
Ela o manteria presente na noite escurecida diante dos seus
olhos,
Só para que ela contemplasse o firmamento e pudesse vê-lo,
Em cada estrela que brilhava, em cada momento que viveram,
Imaginando seu olhar com aquele brilho único a contemplá-la,
Ou lindamente fechados, em um sono tranquilo,
Em que dormiam aconchegados um ao outro,
Doces estrelas que cintilavam a cada acorde seu,
Brisa fresca que estremecia sua pele somente para lembrá-la
Do quanto seu toque era quente e aconchegante,
Com um suspiro que vinha do fundo da alma,
Desejou tirá-lo da sua memória e fazê-lo presente,
Saboreou mais um gole do chocolate
E agora, sentiu nele um sabor diferente,
Revivendo em sua boca o gosto do seu beijo,
Era doce, com um toque aveludado,
Ela sabia que em outras bocas ele pareceria gelado,
Mas na sua, ele derreteria qualquer barreira,
Ele parecia amar penetrar em sua alma,
Descer líquido por sua garganta, para revivê-la a cada
instante,
Ela virou o rosto para o lado esquerdo,
Desejou encontrar o peito dele,
Onde poderia recostar-se um pouco,
Até que aquela sensação de amor a invadisse por inteira,
Não o encontrou, sentiu-se tola,
Lágrimas vieram aos seus olhos cor terra,
Olhou para trás de olhos fechados
Fechou os dedos em figa e desejou do fundo da alma: vê-lo,
Em um suspiro disparou ela: eu amo, por que não admito?
Ela desejava tocar sua mão, até poder demonstrar tudo que
sentia,
Mas a última vez que o viu, tudo que foi capaz de fazer,
Foi dar-lhe um sorriso de longe, e olhá-lo com imenso
carinho,
É claro que os seus olhos a entregaram naquela hora,
Dizendo a ele o quanto o amava, desejou que pudesse ouvi-la,
De vez em quando sua lembrança criava passos ao seu redor,
Querendo convencê-la de que ele estava perto,
E ela nunca havia cansado de esperá-lo,
Desejosa, abraçou seus joelhos rasurados de quando ela caíra na escada,
Ao percorrer aquele caminho escuro e desconhecido,
Seu pensamento a abandonava e ela sabia que agora,
Estaria a guiá-lo, abraçando-o e talvez, algum dia
Conseguisse convencê-lo de trazê-lo para ela,
Para que ela pudesse sentir-se inteira, segura, amada,
Então, deitou-se ali e ficou imóvel a contemplar a noite
escura,
O sentia de maneira tão forte que a solidão se retirou do
seu entorno
E se perdeu em algum lugar onde ela não poderia encontrá-la,
Outra lágrima lhe veio a face, apenas desejou que sua
solidão
Não tivesse ido atormentá-lo com tantos sonhos de amor
Que agora pareciam perder-se no imenso espaço entre o tempo
E a suave, rouca e aveludada sinfonia da lembrança,
Prometeu a si mesma, que não iria dormir naquela noite,
Permitiria a si mesma, reviver aquelas lembranças
Em pequenas doses, como se elas fossem aquele chocolate,
Que de alguma forma, ainda estava quente, a esperá-la,
Sabia que ele possuía a chave da sua casa,
Não ousou trocá-la, se ele desejasse procurá-la;
A encontraria, no mesmo lugar onde a deixou,
Sorvendo o mesmo chocolate que ele, tantas vezes, havia
Feito para ela, somente para vê-la feliz e aquecida,
Cuidando das mesmas flores que ele a havia presenteado,
Ouvindo suas músicas preferidas,
E tentando rasurar palavras que permaneceriam ali escritas,
Para serem proferidas somente para ele,
Palavras que só ousava contar para as estrelas,
Véu que tantas vezes cobriram e testemunharam
Seus momentos e juras de amor eterno,
Momentos que ela guardava com ela,
Juras que criavam vida e escreviam histórias,
Somente para que um dia, em um acaso qualquer,
Pudessem chegar até ele e trazê-lo, ou ao menos recordá-lo
De tudo que viveram.