Aquela sensação ruim se estendeu
Durante muitos dias seguidos,
Ligou o rádio em uma música romântica,
Ferveu a água, sentou-se na varanda
E tomou seu chimarrão,
A música era muito boa,
Porém, algo dentro dela não estava bem,
Nem mesmo as palavras ousavam
Passar por sua mente,
Parecia que haviam se escondido
Em algum lugar, escuro, frio... vazio,
Ousou olhar para o céu azul e límpido,
Ele sempre a enchia de energia,
Aquilo era mágico, parecia um sonho,
No entanto, bela contradição, estava
negro
Escurecido, digo até a-me-a-ça-dor,
Por instinto, ela olhou para o seu
peito,
E o viu refletido em tudo aquilo,
Percebeu que algo estranho viria a
seguir,
Sentou-se e ficou ali,
Sabia que não havia nada a temer,
Também, não se sentia sozinha,
Ao longe viu que um vento forte se
aproximava,
Ele mexia e retorcia todas as
árvores ao seu redor,
Houve, inclusive, aquelas que não
aguentaram,
Quebraram... sem problemas:
virariam lenha,
Aqueceriam sua lareira,
Muitas folhas voaram ao longe,
Feito um tapete verde cobrindo o
firmamento,
Nem mesmo as flores ousaram
contrariar,
Sorte tiveram as que foram flexíveis
e souberam
Se curvar, afinal, quem ousaria
contrariar uma tempestade?
Quando os céus entram em ira, algum
lugar tem que ceder,
É certo que os atos dos céus são
apenas consequências
De ações humanas... humanas...
Por que tão poucas pessoas são
humanas?
Existem tantos discursos vazios,
Mas sempre que os ouvia sentia que
faltava algo,
Ela continuou seu chimarrão contemplando
tudo ao seu redor,
Raios e trovões rompiam o ar,
A chuva tão esperada naquela terra
árida e sedenta,
Trouxe consigo uma bela tormenta,
Ela sabia que somente o que possuía
Raízes profundas sobreviveria a tudo
aquilo,
Levantou-se, olhou para os céus e
uma
Lágrima quente percorreu seu rosto,
Foram doze minutos de ventos fortes,
Que pareciam não querer ceder,
Porém, quando sua lágrima correu,
Molhando seus lábios e descendo
Até alcançar o seu coração e secar
ali,
Pareceu-lhe que ela penetrou sua
pele
E alcançou seu sangue, a partir
dali
Faria parte dela, afinal havia saído
dela...
Mas naquele mesmo segundo,
Uma chuva calma desceu dos céus
Contendo o vento, os raios e tudo o
mais,
Tudo se acalmou, as nuvens empalideceram,
E a chuva descia a terra como uma
dança ao vento calmo,
Aceitou considerar a possibilidade
De que talvez, sua lágrima tivesse
Flutuado e alcançado o céu,
Pedindo para acalmar tudo ao seu
redor
E voltou a terra para trazer
vida...
Sempre acreditou que apenas
O amor seria capaz de transformar,
A chuva durou por horas seguidas,
Agora ela se sentia calma,
Era como se sua mágoa fosse dividida
Com outra pessoa, uma mágoa estranha,
Ela, finalmente, se sentia segura,
Amada, admirada, feliz,
Precisava de alguém com quem
Dividir o que sentia, e os céus a
ouviram.
Nenhum comentário:
Postar um comentário