quarta-feira, 25 de novembro de 2020

Feliz

 

Aquela sensação ruim se estendeu

Durante muitos dias seguidos,

Ligou o rádio em uma música romântica,

Ferveu a água, sentou-se na varanda


E tomou seu chimarrão,

A música era muito boa,

Porém, algo dentro dela não estava bem,

Nem mesmo as palavras ousavam


Passar por sua mente,

Parecia que haviam se escondido

Em algum lugar, escuro, frio... vazio,

Ousou olhar para o céu azul e límpido,


Ele sempre a enchia de energia,

Aquilo era mágico, parecia um sonho,

No entanto, bela contradição, estava negro

Escurecido, digo até a-me-a-ça-dor,


Por instinto, ela olhou para o seu peito,

E o viu refletido em tudo aquilo,

Percebeu que algo estranho viria a seguir,

Sentou-se e ficou ali,


Sabia que não havia nada a temer,

Também, não se sentia sozinha,

Ao longe viu que um vento forte se aproximava,

Ele mexia e retorcia todas as árvores ao seu redor,


Houve, inclusive, aquelas que não aguentaram,

Quebraram... sem problemas: virariam lenha,

Aqueceriam sua lareira,

Muitas folhas voaram ao longe,


Feito um tapete verde cobrindo o firmamento,

Nem mesmo as flores ousaram contrariar,

Sorte tiveram as que foram flexíveis e souberam

Se curvar, afinal, quem ousaria contrariar uma tempestade?


Quando os céus entram em ira, algum lugar tem que ceder,

É certo que os atos dos céus são apenas consequências

De ações humanas... humanas...

Por que tão poucas pessoas são humanas?


Existem tantos discursos vazios,

Mas sempre que os ouvia sentia que faltava algo,

Ela continuou seu chimarrão contemplando tudo ao seu redor,

Raios e trovões rompiam o ar,


A chuva tão esperada naquela terra árida e sedenta,

Trouxe consigo uma bela tormenta,

Ela sabia que somente o que possuía

Raízes profundas sobreviveria a tudo aquilo,


Levantou-se, olhou para os céus e uma

Lágrima quente percorreu seu rosto,

Foram doze minutos de ventos fortes,

Que pareciam não querer ceder,


Porém, quando sua lágrima correu,

Molhando seus lábios e descendo

Até alcançar o seu coração e secar ali,

Pareceu-lhe que ela penetrou sua pele


E alcançou seu sangue, a partir dali

Faria parte dela, afinal havia saído dela...

Mas naquele mesmo segundo,

Uma chuva calma desceu dos céus


Contendo o vento, os raios e tudo o mais,

Tudo se acalmou, as nuvens empalideceram,

E a chuva descia a terra como uma dança ao vento calmo,

Aceitou considerar a possibilidade


De que talvez, sua lágrima tivesse

Flutuado e alcançado o céu,

Pedindo para acalmar tudo ao seu redor

E voltou a terra para trazer vida...


Sempre acreditou que apenas

O amor seria capaz de transformar,

A chuva durou por horas seguidas,

Agora ela se sentia calma,


Era como se sua mágoa fosse dividida

Com outra pessoa, uma mágoa estranha,

Ela, finalmente, se sentia segura,

Amada, admirada, feliz,


Precisava de alguém com quem

Dividir o que sentia, e os céus a ouviram.

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