Haja vista, a necessidade de um progresso equilibrado da
vida,
Em suas mais variadas formas expressas,
Pode-se dizer que a vida é regida por uma unidade de
fatores,
A qual, permite, abriga e rege as circunstâncias a nossa
frente,
Essa visão, corrobora com o que consta nas linhas do caderno
constitucional,
Mas, quanto ao viver preceitua mais que constituir uma face
idealista,
Com a promulgação das leis em minha mente, tudo parecia
ideal,
Tive a certeza de que as coisas se direcionariam para algo
bom,
A qualidade de vida recebia um tratamento inovador, eu
acreditava nisso,
As frases se definiam de forma precisas e atualizadas, a
constituição cidadã,
Aquela que erguera-se pelo bem e para o bem do povo, eu estava
segura agora,
Emergia ao meu alcance diversas disposições de mecanismos de
proteção,
Tudo o que me vitimizava, seria contido, estava entre os
meus dedos,
Os mais diversos fatores atuantes e indispensáveis a vida do
ser humano,
Uma ameaça a um ser humano, agora atingira o patamar de um
todo,
O medo havia sido espalhado, havia pânico em todos os lados,
Era respeitar a vida humana atinando-se aos seus deveres
como cidadão,
Ou tolerar-se a ser sujeitado as penas da lei, uma pluma
afagava meu coração,
Minha autonomia, minha liberdade, estava descrita a ferro em
cláusulas pétreas,
Não teria como ser removida dali nunca, a árvore do direito
se ramificava,
E, suas sombras estavam a postos para me permitir descansar,
Segura, com a lei a reger meus passos e distanciar-me dos
fantasmas do inseguro,
Sendo seu dever o respeito, todos haveriam de preserva-lo,
Estavam vedadas as formas de crueldade, de tratamento sub-humano,
Haviam sanções em que eu poderia acreditar, estava segura
agora,
Já não andava a esmo pelas ruas tortuosas, tinha uma
diretriz a frente,
A proteção se descentralizava e abrangia a todas as pessoas
de forma indistinta,
Uma responsabilidade além da idade, do tempo, da classe
social,
Ações conjuntas seriam concretizadas conforme a realidade
local,
As ilicitudes ganhavam nome, roupagem e evidência,
É claro que este fato preceitua competência,
Mas, não haveriam lacunas em que pudessem esconder-se,
A proteção dos interesses econômicos já não vigia como
outrora,
Haveria um agente regulador que atenderia a critérios
específicos,
Atitudes nocivas seriam afastadas, a liberdade estava
embasada em letra viva,
Via suas letras crescerem em minha cabeça, estava guarnecida
do inseguro,
Mesmo que mínima a proteção tomava forma, a legislação me
convencia,
Bastava apenas um empurrão para viabilizar e incentivar a
sociedade nesse processo,
O direito é muito mais que normas escritas, é a efetivação
destas,
Resta esclarecida a predisposição normativa na qual me
apregoara,
No entanto, o fato de eu estar caída agora sobre este chão
frio,
Vendo-me sangrar em ferida aberta, traída e amordaçada não
me alcança,
Meu caderno de leis se apaga em minha cabeça, as letras escorrem
da minha visão,
Não tenho um nome para informar a polícia, nem ao menos
meios de chegar a ela,
Resta uma calça rasgada e uma calcinha perdida em algum
lugar,
Talvez, seja o bastante ante a ausência de um rosto para
apresentar,
Foram previstas e instituídas normas, eu me agarrara a elas
com força,
Mas toda lesão, é capaz de causar danos, a minha também cicatrizaria,
No entanto, dos seus danos, não sei se conseguiria fugir com
maestria,
O dano recaiu sobre a minha face e escureceu meu semblante,
Com um vestígio de nitidez o vejo escorreito por meu corpo e
alma,
O certo é que o dano ricocheteava por todas as minhas
crenças e ideias,
Apagava as certezas, confundia a minha memória, me via
esvaída,
Nem mesmo o som das minhas lágrimas ganhava guarida,
É certo que eu fizera o que pude para evita-lo, mas agora
estava amordaçada,
Sozinha em lugar ermo, a soltura parecia estar ao meu
alcance,
Mas o medo me impedia de me utilizar dela, o evento que se
seguiria,
Poderia ser irreparável, um tiro certeiro calaria meus
lábios,
Morta seria destino traiçoeiro para quem crera tanto na
vida, não seria?
A previsão contida em minha cabeça se alicerçava e tomava
força,
Lá fora, eu acreditava que a luz se escondia, um dia se
passava,
Sujeitos de direitos que se negavam as obrigações me feriam,
Seriam mais de um? Me sentia fraca, incapaz de
compreender-me,
Enquadrada por acreditar em tudo que admirava e me apoiava,
Não seriam palavras bonitas que me salvariam agora, nem a
eles,
Em que pese, o risco iminente de morte, eu poderia me
arriscar a salvar-me,
A criminalidade estava sendo praticada sob o resguardo de
algum escudo,
Eu era forte o bastante para não cair por qualquer descuido,
Havia algo premeditado, um sistema se operava em contrário,
Caberia a mim a decisão de acatar a decisão superior ou
lutar,
Embora não recordasse das últimas horas com exatidão
concreta,
Me recordava de estar me direcionando a uma palestra
jurídica,
Lágrimas molharam as chagas da minha alma, eu teria
responsabilidade subsidiária?
Havia esquecido as chaves do carro e aceitara um táxi para
me levar ao destino,
Recordo ter sentido um sono exaustivo, depois disso, mais
nada se via,
A primeira amarra se escapava, me apegaria a segunda
corrente doutrinária,
Me sentia culpada, pelo fatídico erro de memória, estava
vitimizada agora,
Embora haja objeção a ideia, ela me ocorrera a tempo para me
dar guarida,
Tivesse me apegado a culpa não sairia de lá com vida,
Não estaria aqui, agora, pendendo sobre estas folhas em
branco,
A descrever minha história, a leis nem sempre produzem e
efetuam efeitos práticos,
Mas a criminalidade não perdoa suas lacunas, ao contrário,
A sinto como se estivesse viva percorrendo a chagas do meu
corpo,
Mesmo não tendo restado feridas abertas, mesmo tudo ainda
sendo vago,
Minha história é um marco inicial acerca da violência
doméstica,
Datas passadas relatam de forma superficial minha vivência,
Ato contínuo, relato de forma sucinta que confiara em
demasia,
Peço a quem me ouvir, ou se prender a leitura destes versos,
Que tenha um olhar abrangente, esculpido em minha dor
sofrida,
Não obstante a ocorrência do impacto negativo, o resultado:
É que cumpria de forma escorreita com meus deveres de
trabalhador,
Acrescente-se a este cenário, que preferi me definir como
mulher,
Fora, demasiado intenso, aceitar o fato de ter sido
estuprado por alguém,
O tema poderia ser breve, não tivesse a relevância de ter
sido intimado,
Recebera hoje, através do correio um pedido de alimentos,
Estou sendo acusado de ser pai, de um filho fruto de um delito,
Esta mulher, embora eu me negue as lembranças,
Fora a que dissecou sobre leis pátrias, amor e outras
falácias,
Me direcionara até um lugar ermo, jogara algo sobre a minha
cara,
E ao acordar, estava sozinho em meio ao nada, sem o carro,
sem roupa,
Prevendo a preservação no estribo das normas insculpidas,
Ante o medo, a ausência de provas a meu favor, calara-me, hoje pago o silêncio.