Dias e dias de tormentas,
E logo após,
Um sol escaldante.
Representava que nunca
Houve chuva,
E nem mais haveria.
Havia reportagens jornalísticas
Que o sol se aproximava da terra,
Em questão de poucos anos
No mais tardar décadas
Iria consumi-la,
“Plantem árvores,
Reguem as flores,
Tenham vida sustentável”.
Ela se empertigou,
Pegou o controle,
Desligou a televisão.
Sentia-se sem saída,
Presa aquela casa.
Pegou as chaves do carro
E foi até a praça pública do bairro
Onde residia,
Pagou um passeio a cavalo,
Cavalgou ao redor do lado,
Colheu uma flor de agapanto,
Tirou fotografias de si própria,
Montada, com o agapanto no peito,
Depois no rosto,
Então, solto sobre a montaria.
Um rapaz bonito aproximou-se,
Mas ela era mãe de família,
Enviuvada,
Não tinha idade para amores passageiros,
Outros homens vieram,
É difícil ter de olhar
Para sujeitos masculinos
Sentindo-se na obrigação
De escolher um dentre eles.
O marido partiu para o além,
Deixou poucos recursos,
As propriedades eram geridas pelo
Filho homem,
(Havido de um primeiro casamento).
Ela e a filha ficaram a deriva.
Precisavam pagar o aluguel,
Comprar comida, água enfim,
Quitar despesas.
A última coisa que queria na vida
Era ver a filha sofrer,
Ou pior,
Coloca-la em seu lugar
Para escolher marido...
Os homens neste viés de olhar:
“Necessidade de relacionar-se seriamente,
E ter um alguém para dividir a vida
E as despesas,
Ficavam cada vez mais feios.”
Dava arrepios de pensar,
Ódio de si própria,
É muito mais fácil quando
Se é jovem e cheia de sonhos,
Ela não queria roubar os sonhos da filha.
Precisava, ao menos,
Beijar alguém.
Um vento forte soprou contra
Seus cabelos,
Brincando com a crina do cavalo,
Ela sorriu,
Mesmo ante tanta dor,
Ela encontrava forças para sorrir.
Jogou o agapanto na água,
Vou peixes pularem alto
Por curiosidade e vê-la.
Desceu do cavalo,
Pagou cada centavo,
E não teve coragem de beijar nenhum.
Juntou as chaves do carro,
Saiu calma e entristecida.
Depois de tanto tempo
Não é apenas a mocidade
Que fica para trás,
É também a coragem.
Beijar,
Marcar encontro
Com quem não se gosta,
Transar.
Por dinheiro...
Sim.
Mediante as circunstâncias,
Não era mais que dinheiro
Que a movia.
Ela sentia pena de sua filha,
Rancor por não ter feito diferente,
Mas nunca houve o que fazer,
Ela nasceu mulher,
O outro homem,
A lei estava entre todos.
“Será que fechar os olhos
Diminui o tormento?
Imaginar outro rosto,
Encontrar um apelido?
Existe alguma posição sexual
Que auxilie com isso?
Fingir orgasmo,
Alimentar sentimento
Sem sentir nada,
Por anos e anos,
Ou ao menos até que a filha
Encontrei alguém que a mãe.
Depois disso,
Resta a ela ser o encargo
Que a filha será obrigada a levar consigo?”
Oh. Maldito destino!
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