sábado, 23 de novembro de 2024

A colina

Sentadas.
Lado a lado.
Mãe e filha.
O sol partia na coluna
Em frente aonde
Estavam sentadas,
Ambas abraçadas.

Pensativas.
A pouco tempo sofreram
A perda do ente querido,
Pai – marido.
Agora restariam lembranças,
Nunca se pensa
Que dias não voltam atrás,
Que o sorriso de hoje da filha,
Não se repetiria no amanhã,
Nenhum é igual ao outro.

Mas perder alguém
Para sempre,
É tanto tempo
Se imaginar
Que se tem muito para viver
E algum tempo
Se você pensar
Que não conhece
O seu destino.

Ela olhou no rosto da filha,
Viu o sorriso cativante do pai,
Viu o olhar de menina,
Viu seus sonhos de adolescência.
Enxergou seus primeiros passos,
O abraço satisfeito do marido,
Ao vê-la linda e forte
A caminhar ao seu encontro.

Se viu indo até ele,
Lhe depositando um beijo
Leve e demorando
Sobre seus lábios,
Abrigando marido e filha
Em único abraço,
Apertado e demorado.

Naquele dia imaginou
Que o amor dura para sempre,
Que nada separa família,
Então, veio a morte.
Cruel desengano.

Desatino de um fim inesperado.
A penumbra foi chegando,
Ela lembrou de tantas vezes
Que o marido a protegeu do escuro,
Não havia mais ele,
Apenas a filha grande,
Adulta, forte e deslumbrante.

Enchia o coração de alegria
Ver nela
Detalhes tão nítidos do pai.
Seu marido não partiu,
Nem partiria.
Havia uma linda parte dele
Ao seu lado.
A lhe abraçar,
Fazer companhia.

A primeira estrela brilhou num infinito
Tão alto
Que parecia próximo.
Do alto da estrada,
Sentia-se que
Num estender de mãos,
Se poderia tocar a estrela,
Mas o que o alcançar de uma estrela
Poderia trazer de tão bonito?
Estrelas são para o infinito.

Infinitas delas brilharam.
As árvores foram se tornando sombras,
Cigarras cantavam alto,
Alguns pássaros ainda voavam.
Uma coruja chegou perto,
Parecia ter um ninho
Num buraco próximo a elas.

Ela acariciou o rosto da filha,
Correu a mão por seu braço,
E apertou forte sua mão.
Chorou em silêncio.
A filha escorregou para seu ombro.
“Assim, são os filhos desmoronam”.
Ela pensou.

Mas as mães não tem este direito,
As viúvas solitárias,
Muito menos.
Carros passaram,
Ligaram pisca alerta,
Buzinaram para elas,
Ela não teve interesse,
Não quis saber quem era,
Não tirou o olhar da filha.

Linda e educada.
Não fez por menos.
Permaneceu íntegra.
Não retirou o olhar da colina.
Lembrava muito a integridade de seu pai,
Ele foi um homem único,
Gentil, cortes e lutador.

Soube trabalhar longas horas
Para lhes dar a melhor vida,
Soube educar, amar
E estar sempre próximo,
Mesmo se não estivesse.
A morte dele não era vista como morte,
Parecia uma distância
De horas,
Seu coração sempre
Esperava por sua volta.

Ela teve que retirar o relógio do pulso
Para parar de contar horas e minutos,
Mas coração de esposa
Sofre calado,
E não desiste por nada,
Ela aprendeu a contar as horas
Por outras formas,
O olhar choroso da filha,
O instante de entregar
O casaco para ele ir ao trabalho,
O horário do almoço,
Horário do banho,
O sol a mover-se,
A saudade a chama-lo,
A busca incessante da filha.
A saudade.

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