Por um momento, tudo desapareceu do meu redor,
Exceto seu rosto, que eu via mesmo de olhos fechados,
No teor dos seus carinhos conforme me percorriam,
No frescor dos seus dedos que sentiam minha alma,
De repente, sem razão alguma, me sentia feliz por nada,
O fato de estar em seus braços me bastava como nunca,
Talvez tenha sido a saudade ou poderia ter outra causa,
A forma como me beijava parecia ser diferente agora,
Quanto a ser intensa, é certo que recordava do fato,
Mas parecia mais profunda, exigente quase como uma jura,
Ou algo que sem palavra alguma remete ao infinito,
Sentindo seus lábios me veio em mente nossas vídeo-chamadas,
A forma como nossa conversa desenvolvia e me envolvia,
O jeito como ele sabia dominar a situação, me amordaçar,
Via as minhas palavras fugirem da boca, sedenta por seus
beijos,
Sentia as minhas mãos vazias, ambas desejosas por suas
carícias,
Inquieta me via desviar o olhar, incapaz de conter o desejo,
Era como se eu pudesse absorvê-lo de lá, trazendo-o para
perto,
Recordei os seus lábios beijando a tela do celular,
molhados,
Um arrepio percorreu minha espinha, me agarrei nele com
força,
Apertei-o de encontro ao meu peito, com um único pedido,
De que nunca saísse de perto de mim, ficasse para sempre
ali,
O calor que emanava de nós, era algo maravilhoso,
Eu recordava isso, sempre que rememorava o nosso beijo,
Porém, senti-lo em mim, era intenso demais para explicar,
Um afago dos seus lábios soprou um eu te amo em minha boca,
Absorvi o beijo e com ele cada palavra, sabendo que nunca
esqueceria,
Estremeci com medo que a saudade o levasse embora,
Lágrimas molharam meus olhos fechados, com um soluço,
Busquei seu cheiro, e repousei minha cabeça em seu pescoço,
Abri os olhos tristonhos na direção oposta por onde ele
veio,
Pude avistar um rastro de dor, que evidenciava as
lembranças,
E com elas, o quanto ele sentira por causa da distância
entre nós,
Não saberia dizer se foi com um soluço, um suspiro, ou
murmúrio:
Eu te amo, repousei com um beijo em seu ouvido, com voz
entrecortada,
Ele sibilou algo que não entendi, me fazendo voltar para
trás
Com um movimento seguro em afago, - não desista de mim -,
Não acreditei no que ouvi da sua boca, - jamais desistiria
de nós dois,
Seria o mesmo que me condenar a uma vida de saudade e
sentir,
Por quê, mesmo distante, nunca pude esquecer ou apagar você
em mim,
Eu respondi com lábios trêmulos e certos sobre o quanto o
amo,
Com um beijo, um afago, um vestígio do passado e um
movimento,
Ele me fizera abandonar a posição esquiva em que estava
refugiada,
Para me assegurar na emoção de sentir-me única por ser sua,
E retomar aquela mulher que um dia parecera ter ficado para
trás,
Mas que, por nenhum segundo fora esquecida ou esquecera,
Eu era aquela mulher que buscara se afastar para se
aproximar,
Aquela que dissera eu te amo em cada instante de sua vida,
Que acreditara ser amada e lutara por este amor com as armas
que tinha,
Não imaginara que em seus braços me viria desarmada e
humana,
Humana demais para negar o quanto sentia e sentiria por toda
a vida,
Longe do seu abraço, não me sentia completa, faltava algo,
Com ele em mim, me via busca-lo de todas as formas que
podia,
Como se houvesse uma medida em que apenas ele cabia,
Uma peça chave para desanuviar meus medos, romper segredos,
Como se o amor derramasse entre os afagos, e me conduzisse a
ele,
O cheiro do sentimento no qual todo o meu corpo estava
concentrado,
O aroma doce e úmido do sangue mais delicioso que havia
rastreado,
Saia das nossas almas para repousar em meus lábios
encharcados,
Deliciada, nem mesmo podia acreditar que o amor escorria de
nós,
Minha procura havia chegado ao fim, o amor estava consumado,
Eu percebia isso em cada carinho, em cada sonho que trocávamos,
Eu sentia a boca e a garganta calorosas por muitos beijos,
Seu gosto me percorria e inundava a minha alma por algo
desconhecido,
Era amor, com certeza, pois não havia nada maior,
Nos relatos que ouvira de outras pessoas e nas experiências
de outrora,
Nunca havia tido conhecimento sobre algo tão intenso,
Tentei, de olhos fechados em busca de menosprezo, fugir
daquilo,
Não sabia reconhecer, não confiava no que sentia,
Perder o controle diante de alguém nem sempre é tolerado,
Eu gostava de ser dona de mim mesma, de controlar cada
passo,
Agora, não conhecia nem mesmo minhas buscas ou respostas,
Pensar que para ele, talvez não houvesse um próximo
encontro,
Eu tinha conhecimento do fato de ele ter outra melhor que
eu,
Mas, naquele momento isso perdia a importância, sem domínio de mim,
Me perdi por inteira em seu corpo, isso era arriscado e
estranho,
A sensação era de que eu me via rasgar ao meio sem sentir
dor,
Na busca por continuar onde estava me sentia uma
desconhecida,
A humana – que usava o meu nome – se via no espelho, não se
reconhecia,
Enxergava o próprio corpo, não se concordava, amava como
nunca,
De uma forma que não achara ser capaz, não distinguia o
próprio olhar,
Abri-lo e encará-lo enquanto afagava a sua nuca, tornava
tudo pior,
Eu conseguia ver o sangue correndo sob sua pele fina,
Tentei me projetar em outro aspecto, buscar o controle
perdido,
Mas meus olhos eram atraídos para ele, sem que pudesse me
conter,
Meus cabelos caiam na face, falei com ele em voz baixa e
feminina,
Minha garganta estava a poucos centímetros, eu tinha
necessidade,
Não era qualquer uma, era de pertencer-lhe, por sorte ele sabia se conter,
Por mais estranho que fosse, desejei não tê-lo encontrado,
Rejeitei o que vivi, fora rejeição o que sofri?
Aquele aspecto de mim eu não reconheci, quanto ao que se desenvolveria,
Seria fácil precisar o fim, o mesmo do beijo anterior,
Meses de ausência, distância precisa para me colocar em meu lugar.