Não desejei olhar para ele por algum tempo,
Mas mesmo toda a mágoa que eu sentia,
Para tal fato não prestava de argumento,
Deixei escapar um suspiro de alívio em minha alma,
Assim que escutei o doce da sua voz me chamando,
Ele dizia o meu nome de forma serena e melodiosa,
Com entusiasmo disse me amar, mas não fez promessas,
Existem coisas mais fortes que prendem um homem,
E isto independe das palavras, é algo do sentir amor,
Pensei um pouco, o meu dar de ombros perdia o efeito,
Declinava sempre que tentava colocar obstáculos entre nós,
Afora a mágoa, não tinha nada em que me agarrar para me
manter,
Nem sei ao certo porque discutimos,
Triste momento passageiro e sem efeito,
Posso alegar com certeza não estar em meu juízo perfeito,
Em pensamento eu remexia um cubo de gelo em minha boca,
Tentava esfriar a língua, gelar as palavras macias,
Queria encontrar ao menos uma frase feia para ser pronunciada,
Uma boa o suficiente para magoar quem mais amava,
Sabe por quê? Pelo motivo de ter me sentido ferida,
O instante em que lágrimas tomaram o meu olhar
Me fez desejar não ver mais nada a minha frente,
Cega a quem amava, lhe virei as costas sem pensar em nada,
Mas o gelo derretia e me embriagava de algo quente,
Sempre que ele falava eu cedia sem pestanejar,
Seu efeito sobre mim nunca era diferente,
Meu fechar de olhos momentâneo continha as lágrimas,
Isso bastava para esfriar os fatos, mas não para esquecer,
Não enquanto ele não passasse um braço sobre o meu ombro,
Me puxasse para o seu abraço e me colocasse de encontro a
ele,
Olhando em seus olhos, recostada em seu peito,
A espera de que o seu beijo pudesse sugar o que viesse,
Fosse o gelo da dor escorregadio por minha língua,
Ou melhor: o amor que a tudo colocava panos quentes,
A jura que me mantinha abrigada a este amor
Não havia sido pronunciada em palavras,
Embora tenha sido escrita por seus lábios
De outra forma, ou seja, através de beijos e mais nada,
Pois os afagos que me percorreram através da voz aveludada
Não faziam promessas, eram frases seguras como o seu abraço,
- Fica comigo ele pedia antes de eu desejar partir,
Ensaiei um olhar frio, agora presa em seu peito másculo,
Queria tomar um drinque qualquer coisa que me desviasse,
Mas, isso apenas até eu abrir meus olhos e fita-lo,
Lembrei do incidente da briga pondo gelo entre meus lábios,
Virei o rosto para me afastar para o lado,
Tentativa inútil de não senti-lo, nem mesmo queria me
esquivar,
Permaneci recostada a ele, sem saber o que ele fazia,
Mas condizente por que conforme ele agia eu o sentia,
E quanto isso significa? O suficiente para eu ficar,
Meus pensamentos desaceleravam conforme o seu pulsar,
Ele tinha um ritmo e eu o acompanhava,
Até o lacrimejar do olhar tomava outro gosto na boca,
Pensei por alguns segundos e decidi lhe dar uma amostra,
Me empurrei para trás, levantei os pés e o beijei,
Em silêncio, provando o que havia de mais profundo,
Desejei o contorno dos seus lábios entre os meus,
Senti o gosto macio da sua voz dentro da minha boca,
Eu te amo suspirei de encontro a ele e o empurrei,
Em desiquilíbrio tremular do seu corpo, um piscar de olhar
E o eu te amo lhe molhou os lábios em juras apaixonadas,
Puxei-o junto a mim, juntei em sua camisa na altura do seu
peito,
Com a mão fechada e em punho, atitude de defesa ou ataque,
não sabia,
Amassei-a entre os meus dedos e colei meu rosto no dele,
Com sofreguidão e intensidade pressionei meus lábios nele,
Em seu rosto, sua pele, sua boca, suguei-o com forçada
serenidade,
- Eu te amo, fica comigo para sempre?!
Ouvi sua voz me responder e (agora) pedir em um tom grave,
Quase uma ordem.