segunda-feira, 25 de novembro de 2024

Cobrança de Aluguel

Quinze dias na casa nova.
Cidade nova.
Saudades do pai.
Não haveriam novas notícias.
Ele estava distante,
Estava onde não há retorno.
Alguém bate a porta,
Ela calça os chinelos
E vai até a porta.

Um rapaz,
Parece advogado.
- assunto de negócios.
Ela pasmou-se.
Sentiu medo e pigarreou.
- de quê se trata?
Ele sorriu polido.
Meticuloso,
E maquinal.

- um contrato para que assinem.
Entregou a ela um envelope.
- tá bom. Eu posso ler antes?
Trêmula ela pegou o envelope,
Virou as costas,
E dirigiu-se ao sofá.
- leia com atenção,
Não há nada em desacordo.
Ele manteve-se a porta.
A mãe saiu do quarto assustada,
Cabelos molhados,
Presos na toalha de banho.

- o que é isto?
Indagou trêmula,
Suas pernas tropeçaram
E ela caiu ao lado.
- mamãe, mamãe.
Parece apenas um contrato de aluguel.
A filha disse,
Massageando os ombros da mãe.

- tem que pagar algo?
A mãe pediu entre soluços.
Queria ser forte,
Por Allah,
Pela filha,
Pelo marido que foi embora.
Mas não se conteve.
Sentia dor intensa.
- mãe, por favor.
Não infarte.
Precisamos ser fortes.

A mãe correu até o quarto,
Com papel na mão,
Assinou e o entregou,
Com lágrimas a borrar as letras,
E assinatura torta.
- pronto.
Vai embora!
Ela disse a ele,
Ao correr devolvendo o documento.

- preciso do envelope.
Ele exigiu
Estendendo a mão para a moça.
Ela estremeceu
E estendeu o envelope.
- agora o pagamento senhora!
Está em atraso há 15 dias,
Outros 15 e seja despejada!

Ele falou
Sem retirar o sorriso
Que pareceu congelar
Naquele rosto impassível.
- sim.
Me desculpa,
Só um instante.
A mãe correu até o quarto,
Tateou na carteira,
Juntou o valor
E o entregou.

Nota sobre nota.
Não eram muitas.
O valor não parecia significativo.
Mas era um valor gasto mensalmente,
Retirado de outros afazeres,
Comida, energia elétrica, água,
Roupas.
Ela não era mais dona.
Pagava para poder estar.

O valor era exigido,
Devido e passível
De reprimenda.
Ela olhou para a rua,
Agora tão grande,
Parecia caber tantas pessoas,
Ela não queria ser mais uma.

Fazia calor,
O sol queimava o chão,
Todos pareciam ver sua situação,
Era triste.
Mas se esforçaria e iria pagar.
Nunca esquecer.
Nunca negar.
Estar ao relento.
Recebendo sereno,
Chuva, frio e calor no rosto,
Isto era o de mais terrível.

A filha levantou-se,
A abraçou e sorriu,
Terna e amorosa.
O rapaz pareceu assustar-se
Diante de tamanha beleza,
A mãe não importou-se,
Bateu a porta contra a sua cara
Sem despedida.
Sentiu medo,
Sentiu pavor,
Mas abraçada a filha,
Sentia profundo conforto,
Um calor que lhe tocava,
E uma esperança de futuro bom.

Não iria medir roupa,
Maquiagem,
Ou apostar em seduções,
A vida é um ato de quitar
Suas dividas.
- ao menos ele foi polido.
Não tentou se sobressair
Através de seu trabalho
Para se aproveitar de nossa situação
Financeira e te seduzir.

Ela falou
Enquanto puxava a roupa da filha
Para baixo,
Como se num ato de desespero,
A camiseta sobre a calça,
Fosse inapropriada,
E se aproximasse do vulgar,
De alguma forma,
Diante de um coração aflito.

- ele tem o endereço da casa,
Sabe a forma de entrar em contato.
Tem tudo que precisa.
Talvez, ele estivesse se preparando.
Disse a filha,
Olhando firme os olhos da mãe,
Marejada em lágrimas.
- não seja tola.
Eu estarei preparada.
Ambas abraçaram-se,
Fortes e seguras
Uma na outra.

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