sábado, 18 de janeiro de 2025

Saudades

Eu vi você,
Gostei de você,
Parecia que eu sabia
E antes ainda o amaria.

Fui ao seu encontro,
Caminhar um mundo,
Foram dois passos,
Mover coisas ao nosso redor,
Afastar pessoas,
Me aproximar,
Foi tudo tão simples
Assim que vi você.

Então, ficamos frente a frente,
Foi como duas estrelas que se movem,
Se buscam
E não se colidem,
Foi um brilhar sobre-humano,
Um existir que teve sentido
E sonhos,
Muitos desejos e sonhos.

Então, eu o esperei,
E a saudade ganhou final
E nota,
Dei a ela um 9,
Numérico máximo
De se estar sozinho,
Sentei e fiquei a esperar,
Não tive outros sonhos
Ou imaginei-me com outro,
Apenas fiquei a espera.

Porquê o amo,
E meus sonhos estão com você,
Você voltou logo
E disse saudades,
Eu disse
Saudades de você.

Escrita

O ano é 2025,
Minha família preocupa-se
Em saber ler, interpretar e escrever,
Transcrevemos nossas primeiras ideias,
Tentamos nos livrar de um passado
De escravagismo literário,
E trabalhos de mão de obra forçada.

Nós não nos preocupamos
Em descrever um manual
De como foi nossa trajetória,
Ou como seria de tudo fosse diferente,
Não profetizamos nomes de descendentes,
Não temos um lugar específico no cemitério,
Mas temos fé
E rezamos quando temos medo.

Neste instante
Nos preocupamos em reconhecer
Os números, saber soma-los
E outras regras simples relacionadas,
Tentamos identificar vozes,
Nos defender de artimanhas
E desejamos uma casa
Que a tempestade não derrube
E o rio não carregue.

Nós não pensamos
Em guardar os mortos,
Mas guardamos o dia dos finados,
Não tentamos deixar heranças significativas,
Mas plantamos uns pés de frutas,
Cuidamos dos animais,
E gostamos dos vagalumes.

A gente sonhou com castelos
A vida toda,
Aí plantamos árvores
Para nossas casas em madeira,
Aprendemos a pregar a madeira,
Cortar as árvores
E já fazemos nossas primeiras
Embarcações de água doce,
Os caicos,
Fazemos nossos primeiros
Meios de locomoção em madeira,
As carroças.

Tudo vai bem
Para os que trabalham,
Mas nós gostamos de sombra
E água fresca,
Não escrevemos mais em pedras,
Deixamos de rabiscar
Para incluirmo-nos na escrita,
Falta saber falar bem a língua,
Desenvolver técnicas de aprendizados,
Mas estamos nos esforçando.

Caso não haja equívoco,
Logo trocamos os bois 
Pelo trator,
E talvez, deixemos o cavalo
E adquiramos bicicletas...

Mas não há planos
De abandonar a terrinha 
E partir para a vida
Da cidade grande,
Deixar de ser patrono
Para se tornar empregado.

Dor Triste

É triste contemplar
Lágrimas no rosto dos pais,
Olhar para a mãe,
É tentar buscar você em seu colo,
Buscar o rosto do pai,
É querer encontrar seu conforto.

Quando você mesmo sofre,
Entende que tem muita idade
A frente,
E que a dor cessa com o tempo,
O problema é quando não há tempo.

A dor logo se vê abatida
Ao verter-se em lágrimas
O coração tem seus meios
De alívio,
Buscar a pipoca quentinha da mãe,
O filme no sofá ao seu lado,
A história sobre o trabalho do papai,
Seu abraço protetor,
Produzem conforto,
Saciedade para toda dor.

Mas a dor que aflige os pais,
Está dor é muito traiçoeira
E fere muito mais que qualquer uma.
É triste sentir lágrimas quentes
Verter-se sobre seus cabelos
Em um abraço que busca conforto,
Que deseja amparo,
E você nunca teve outro lugar
Para encontrar tais saciedades da alma.

Mas a juventude ampara
Por si mesma,
Ela tem o relógio a seu favor,
O tempo que constrói feridas
Parece fazer cicatrizar por si mesmo.

Mas seus pais não possuem
Isto a seu favor,
Eles encontraram um ao outro,
E colocaram em você suas expectativas,
Eles vêem em você coisas evidentes.

As feridas no coração dos velhos pais,
Encontram naquele lugar
Muitas dores,
E ficam ali,
Até que deixem de pulsar,
O vigor da juventude saiu dali
Há tempos suficientes.

Se eles caem,
Você cai,
É horrível.

Fica pra sempre.
Senti-los tremer de dor,
Vê-los buscar amparo
Em você,
Isto é um passo para uma dor
Que ninguém merece sentir,
É a desgraça além da vida.

O desconforto de usar um sapato apertado
Num pé calejado,
E ser obrigado a sempre dar novo passo,
E nunca conseguir chegar a lugar algum,
Mas ser obrigado a ir.

Ver sua pele saltar para fora,
Arder até lá no fundo da alma,
E simplesmente ter de seguir.
É o ápice da dor.
O choro deles é pior que o sapato,
Compactuando com a calça apertada,
Te produzindo assadura.

Prendedor apertado
Arrancando os cabelos
E sendo obrigado a estar ali,
Para que eles não estejam soltos
Naquele calor desértico do Saara,
Escorrendo suor na sua camisa
Branca transparente,
Para deixa-la colada ao seu corpo
E vulgarizar as suas vestes,
De sapato apertado,
Calça colada,
Prendedor de cabelos bonitos,
Camisa combinando.

E cinto apertado na cintura
Para prender sua calça justa
Que cai o cós,
Desprende o botão,
Abre o zíper sozinha,
Enfim, tem vontade própria.

Então, marca sua pele,
Fere e corta a cintura,
Depois tem os botões da camisa,
Que decidem pular as casinhas,
Saltar para fora
E te expor ao ridículo,
Exceto isto,
Eles decidem apertar sua pele,
E o botão raspa contra seu peito
Para produzir cicatriz,

O punho acaba sujando sozinho,
Prejudicando seu cumprimento,
Aperta-se e marca,
Perde um botão ou outro,
Comprime suas veias,
E suor respinga,
Por todo o canto,
Porém, não escorre ainda.

Dor Envelhecida

É como se um rosto enrugado
Com tivesse algo de uma rosa,
Com suas pétalas aveludadas,
Que sempre que cai o sereno
Ele não resvala,
Ele desce feito carícia,
Terno e demorado sobre as pétalas.

O sofrimento no rosto do meu velho
Eu o sinto desta forma,
É sempre mais maduro e contudo,
Sua dor não se derrama,
Nem é gritada,
Simplesmente é sentida
Terna e profunda.

Sinto como se a dor
Em meu peito fosse mais devotada,
Eu sinto,
Logo grito e espalho pelos ares,
O choro em meu rosto
Desce feito sereno em zínia,
Longo e rápido,
Chega e não se demora
Vai as profundezas.

E lá fica até criar raízes,
Lá naquele seio onde
Moram suas sementes.
Mil brotos de dor saem
Por minhas veias,
E eu os entrego em cada movimento,
Palavra ou gesto.

A dor não foi feita
Para rostos envelhecidos,
Estes devem ser poupados,
As lágrimas em suas faces
São como cachoeiras soltas
Rumo aos riachos...

Da cachoeira nota-se o riacho,
Do riacho não vê-se a cachoeira.
A dor num rosto sofrido
Passa despercebida,
Este rosto já não fala muito
E a dor se instala sem reclamar.

É certo que dor foi feita
Para rostos jovens,
Lá a lágrima brilha,
A dor reluz e a fala se aflige,
Lábios jovens contorcidos
São facilmente notados.

E jovem sabe lavar o rosto
Na água fria,
Construir um sorriso
E curar as próprias feridas.

É o que penso,
Quando vejo a dor
Próxima a meu velho
Eu me aflito,
Eu penso
“quando será que a dor irá leva-lo?”
Prefiro, então, carregar a dor comigo.


Nadando no Rio

O calor estava intenso,
O verão veio com ardor,
O rio estava com águas calmas
Em um tom esverdeado convidativo.

A mamãe de Pitelmario pegou
A câmera de pneu,
Encheu de ar,
Convidou Bruce Wayne
E foram nadar.

Chegaram no porto de areia e terra,
Entraram na água,
Mas a mamãe se assustou,
A terra estava fofa,
Conforme pisava-se nela
Saiam bolhas de ar do fundo,
E ela desbarrancava,
E o leito do rio ficava
Cada vês mais profundo
Até não dar pé.

Os papais de Pitel foram também,
Todos se agarraram a boia
E não saiam do lugar,
Apenas eram levados pelo remanso
Mais para o meio do rio.

Todos gritavam assustados,
Aí Bruce Wayne forte e corajoso,
Mordeu o ventil da boia
E nadou puxando todos
Para fora,
Pitelmario o patinho fofo,
Nadou ao lado.

Bruce Wayne nadava
E empurrava a boia 
Com a cabeça,
Numa espécie de mergulho 
Na superfície da água,
Todos ajudavam com a mão
Que estava livre
Para moverem-se 
E alcançar a beira do rio.

Ao chegar na parte rasa,
Todos riram muito
E continuaram por algum tempo
De molho na água.

Agora eles decidiram
Amarrar uma corda na boia
E da boia amarrar a corda no tronco caído,
O tronco é tão forte que é capaz
De segura-los na água
Sem se mover
Ou deixar que eles vão para longe.

O barranco do Porto desmoronou
Um pouco,
Sujando a água
E jogando água para o leito do rio.

Mas tudo foi muito divertido
E quem mais nadou foi Bruce.
Wolverine acertou em não ir
Neste dia para o rio nadar.

sexta-feira, 17 de janeiro de 2025

Dia de Acampar

Ele a chamou para um passeio,
Foram acampar na beira do rio,
Chegando lá,
Ele a levou até o caico de madeira,
Jogou as linhas de pesca dentro,
As iscas e juntou o remo.

O rio era enorme,
Cheio de peixes a nadar e saltitar,
Haviam marrecos nadando,
E patos juntando peixes.

Uma borboleta pousou no braço dele,
Ele a juntou com o dedo indicador,
E a colocou sobre o nariz dela,
Que sorriu
Vendo as asas da borboleta baterem,
Então, ele se aproximou
E a beijou ternamente.

Então, iscaram as linhas
E jogaram do meio do rio,
Depois de apoitar o caico
Com uma corda e uma pedra
Na ponta.

Não tardou e veio o primeiro peixe,
Ele puxou com ímpeto,
O peixe voou com a corda
E bateu no braço dela,
Os dois riram muito
Vendo o peixe que após bater
Caiu no chão de madeira do caico
E se sacudiu sem parar.

Eles mexeram um balde de peixes,
Depois voltaram a margem,
Foram a sombra de uma árvore,
Juntaram madeiras velhas e secas,
 Também gravetos e folhas secas
Que estavam próximas,
Colocaram entre um amontoado de pedras
E fizeram fogo.

Depois soltaram uma frigideira
Com gordura de porco,
E fritaram os peixes
Depois de limpos e salgados.
O sol estava forte,
O calor escaldante,
Sentiram vontade de nadar,
Ela sentia medo da água,
Mal molhava os pés na margem
E gritava desesperada.

Ele, então, decidiu fazer-lhe uma boia,
Pegou o estepe do carro,
Retirou a câmera de dentro,
Encheu ela de ar,
Pegou a corda de apoitar,
Amarrou na câmera do pneu
E colocou a moça dentro da boia cheia.

Foi até a água com a moça no colo,
Soltou ela com a boia,
E a puxava para cima e para baixo,
Depois nadou com a corda
Amarrada na cintura
E atravessou o rio,
Ela batia os pés e as mãos na água.

Então, ele virou-se para ela,
E ganhou um beijo,
Depois voltou a margem
E comeram peixe frito dentro da água,
Ele servia em sua boca
E beijava ela,
Os peixes estavam muito bons,
A água estava morna,
E a ideia da boia foi super legal.

quinta-feira, 16 de janeiro de 2025

Pão Quente

Desolada,
Desesperada,
Incerta de um futuro,
Suas apostas e objetivos
Se encerraram naquele ponto.

Não havia previsão de melhoria.
Expectativas zeradas.
Ruína e incertezas.
Erros e injustificativas.

Ela abriu a porta da casa da mãe,
Sentiu cheiro de pão,
Se aproximou sem falar nada,
Abriu a cortina que dividia a sala
Da cozinha,
Entrou e sentou-se na cadeira
De madeira simples.

Sentiu dores nas ficou ali,
A mãe abriu o forno
E certificou-se de que o pão
Estava quase pronto,
Cresceu o suficiente
E a receita era ótima.

Então, voltou-se
E a viu.
A filha sentada a mesa,
Parecia uma menina,
Seu coração pulou de felicidade,
Ela correu até a geladeira
Pegou leite gelado
E ofereceu-a:
“Aceite, como nos velhos tempos”.

Você gostava de leite
Com pão quentinho,
Espere poucos minutos
E o pão estará pronto.

A moça segurou a xícara
Com as duas mãos,
Tomou o leite como se fosse
A mais deliciosa cerveja,
Relaxou na cadeira
Como se estivesse no mais
Requintado lugar.

O cheiro invadiu suas narinas,
Fez roncar a barriga.
Finalmente ela comeria bem,
Comeria o bastante,
Comida farta e simples,
Quis chorar pensando em seus
Momentos de pura festa
E aparentes regalias,
Ali protegida de tudo,
Havia comida,
Havia a mãe,
E tudo como ela desejava.

Não se rejeitou por desejar algo diferente,
Não se repudiou por todos os erros,
Pois logo o pão quente estava pronto,
A nata sobre o pão se derretia,
Escorria pelos contornos,
Ela jogou açúcar
E tomou com leite fresco.

A vida estava completa,
Retirou os saltos,
A maquiagem e a roupa cara,
Satisfez suas vontades
Por comida boa,
Companhia de quem se gosta,
E lugar onde seja desejada.

Abraçou a mãe apertado,
Comeu meio pão quente,
Andou descalça,
Desistiu de desistir,
Mudou seus planos,
Pegou o pano de chão
Limpou o soalho,
Ligou a televisão e jogou-se no sofá,
A vida cobra caro
Por tudo que a mãe dá.

A Hora

Anunciaram os djins, - aproxima-se a Hora. O povo daquelas areias Sobre o mar azul e limpo Estremeceu. Aguardaram uns de Al...