terça-feira, 16 de fevereiro de 2021

Sentada no Vão da Porta

 

Eu me sentia estranha por sempre ceder as suas vontades,

Caminhar sempre em busca de atingir suas expectativas,

Então, tudo o que eu era não bastava para o convencer?

Entregava minha alma, todo o sentimento que eu tinha,

Se isso era pouco, o que mais ele precisaria?

Houve ocasiões em que me perguntei se poderia fazer mais,

 

Mas como alcançar alguém que se coloca tão distante?

Por mais esforço que eu dispendesse, não conseguia senti-lo,

Me peguei insegura, senti os cantos da minha boca tremerem,

E a expressão que vi em mim não era exatamente a de um sorriso,

Me era oportuno entregar todo o amor que eu possuía em mim,

Tinha vistas de ser amada em troca, estaria errada em pensar assim?

 

Eu permaneci estagnada no mesmo lugar por algum tempo,

Se ele sentisse minha falta não viria ao meu encontro?

Se viesse saberia onde me encontrar, no mesmo lugar em que deixou,

Esperei que algo acontecesse, sem respostas e sem lágrimas,

Preferindo expor meus sentimentos a críticas construtivas,

Entreguei meus segredos para amigas próximas,

 

Nem sempre se tem as respostas para todos os argumentos,

Talvez eu devesse me ater um pouco mais nas perguntas,

Aquelas que jogava para o meu inconsciente sem medir seus pontos,

Há como fugir do amor quando ele sempre nos encontra?

Tentei admira-lo em meu pensamento, analisar meus sentimentos,

Mas uma ponta de repulsa ganhava meu olhar, e desejava se afastar,

 

Se afastar dele ou de mim mesma? Alguém estaria errado neste jogo do amor?

Quando se coloca o coração como garantia, há ainda como perder no final?

Existem erros insuperáveis quando o coração guia nossos passos?

Confesso que amar sem me sentir retribuída estava me deixando ausente,

Dispersa entre os sonhos e a loucura, até passar pela porta soava diferente,

Ao meu lado tudo parecia muito aberto ou eu havia expandido meu ser?

 

Quando tentava buscar o tamanho dela, acabava por fugir apressada,

E então me feria, sempre enroscava o meu braço no batente,

Aquele tamanho todo que eu avistava naquele ponto adiante,

Apesar de ser imenso não me continha ali dentro,

Era como se eu me encontrasse nele apenas para me perder,

Enroscada em algo em que eu cabia sem me conter, ferida de morte?

 

Bem, joguei minhas ideias as críticas, tenham elas o retorno que tiverem,

A cada manhã sempre admirava meu reflexo, reconhecia meu tamanho,

Mas por mais que me esforçasse em passar pela porta, sem êxito aparente,

Dessa feita, uma sensação ruim me tomava, e o olhar dele se voltava para o meu lado,

Minhas ideias poderiam despertar interesse, produzirem discussões públicas,

Eu me serviria como exemplo, expor minha vida, não me traria problemas,

 

É certo que ele me amava, da mesma forma que eu tinha escolhas quanto a isso,

Expor o que eu vivia, declarar minha vida, com certeza seria a decisão mais correta,

Se eu alcançasse o conselho adequado em nossa próxima briga... diferente disso,

Com a atitude correta a definir meus atos nem mesmo haveria uma próxima briga,

Quando tomei conhecimento sobre o alcance de uma atitude tão simples,

Não medi esforços, fiz tudo que podia para mantê-lo ao meu lado,

 

No que tange a alguns detalhes, eu preferi evita-los, nem tudo deve ser espalhado,

Nossas vidas poderiam espalhar-se pelo vento e tomarem distancias desmedidas,

Talvez, nos colocando ainda mais distantes um do outro, fora do nosso contorno,

Peguei um livro que ele havia me presenteado, sentei-me no vão da porta e fingi que lia,

Me apegava a razões que fariam do nosso amor algo recompensador, eu sabia disso,

Quem vive de números é a matemática eu sempre escolhi amar com toda a alma,

 

Minha mente vagava por entre as linhas mal escritas e distorcidas,

Não que a leitura fosse ruim, eu é que não me identificava,

Havia algo muito mais importante: conquistar quem eu amava,

Examinei todas as minhas lembranças, fiz uma volta ao nosso passado,

Lá eu não me vi errar tanto, o que haveria então a nos separar?

Não quis cogitar a ideia de outra pessoa, nossa felicidade era meu objetivo,

 

Tentei juntar as peças as quais ele se referia numa espécie de metáfora,

Reconstruir os fragmentos, juntá-los em meu campo de vista,

Mesmo ferida por seus atos, eu não desistiria de tudo que sentia,

Mas confesso que seu olhar carrancudo as vezes me deixava assustada,

Embora eu não quisesse pensar na questão: ele havia alterado o tom de voz,

A cada lembrança um sobressalto no coração, ele achava isso errado...

 

Olhei para fora, tentando me fixar em um ponto adiante de mim,

Baixei os olhos para a página e a vi embaçada por lágrimas,

As letras do texto ruim ficaram borradas, escorregavam pelas linhas,

Talvez quisessem fugir da história, agora escorriam por minha roupa,

Eu não fiz nada além de olhá-las escorregar por entre as costuras,

Eu estava ferida e tentava me reconcertar, então ele não nos via?

 

Uma decisão parecia se formar em minha mente, eu a evitava,

Por que motivo fugir dela? Eu tinha motivos para me sentir satisfeita,

Este pensamento me deixou amedrontada, não quis avistar o seu olhar,

Ele já não sabia que me machucar trazia como retorno mais feridas?

Ele mentia quando fazia suas promessas apaixonadas?

Por intermédio de me ferir, destruía a nós dois, deixava-nos em ruínas,

 

Este sentimento que me prendia ao nosso relacionamento,

Parecia me negar uma liberdade elementar,

A de escolher ser feliz por mim mesma, repensar minha dor,

Por que parecia me amar e depois se afastava dessa forma?

Sua atitude roubava de mim a vontade de entregar meu amor,

Me via repelida, avessa ao que sentia, cabisbaixa, indecisa...

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