Que tipo de amor posso entregar se não paras de me machucar,
Ela chutou a grama levantando uma nuvem verde à sua frente,
O orvalho da manhã ainda adornava as plantas com um quê de
tristeza,
Havia se apegado a ele com facilidade, agora seria difícil
esquecer,
A relação entre o que você recebe, o que reflete e o que
devolve,
Parece conter uma linha tênue, naquele instante ela a
percorria,
Trôpega, temia perder o caminho, escorregar e ferir-se,
O amor que a conquistara outrora afastara-se para longe,
Lá naquele ponto em que ele se colocava e absorvia-se,
Como se estivesse distante demais para que pudesse alcançar,
A atitude de indecisão que via em seu olhar a feria
sobremaneira,
Seria fácil objetar por sua atenção, mas isso a contrariava,
Naquele cenário de amor perfeito tecido em sonhos de ceda,
O amor se fez submisso as ofensivas se colocando distante,
O sangue que fazia o coração bater mais forte com
sofreguidão,
Agora escurecia o olhar contendo tudo menos a antiga paixão,
Metade de si protestava a outra tentava juntar os fatos,
Amor e razão sempre foram capazes de trabalhar juntos,
Se haveria algo pelo que correr os riscos das consequências,
Seria o amor, não aceitaria a derrota submissa,
Seu primeiro contato visual demonstrara fúria incontida,
Um segundo repousado em seus lábios macios,
E o sentimento de carinho invadiu-a por inteira,
Quando o amor fala alto não há quem resista a ouvi-lo,
Não desistiria do seu amor, não enquanto houvessem meios,
Havendo uma única alternativa para ambos, lutaria,
Qualquer coisa que pudesse fazê-lo se voltar para os dois,
Juntaria todas as armas, buscaria de todas as formas,
Nunca fora fã de amores mornos, que não se decidem por nada,
Ao aceitar provar seus lábios ela se aventurara aos riscos, então,
ele esquecera?
Pode ser que ele tenha deixado seu sentimento para trás,
Perdendo-o em algum lugar do caminho difícil que viviam,
Mas ela se muniria de todas as forças e o buscaria,
De lembrança a lembrança recriaria cada beijo, cada carícia,
O mérito de amar sem medidas era dele, fora ele quem a
despertara,
Suas atitudes até o agora, talvez fossem insuficientes, mas
não se quedaria,
Um grunhido furioso e sem cautela saíra estridente dos
lábios dela,
Algo no fundo do peito gritava desesperado por sua alma,
Qualquer meio que fosse para não se abater pelo caminho,
Se ele havia se perdido pelo destino, ela persistiria em
seus passos,
Do contrário iriam se afastar até nunca mais verem um ao
outro,
E esse sentimento tão profundo que a possuía, se desintegraria...
Lágrimas silenciosas escorriam por seu rosto misturando-se
ao orvalho,
O molhar da noite com o sangrar do dia se misturavam na
terra fria,
O sol logo sairia, mas dentro dela será que algo resistiria
deste amor?
Um tremor nervoso percorreu seu corpo, ele havia lhe dado as
costas,
A liberdade tingia o sol do horizonte em um azul celeste e
sem nuvens,
Mas dentro dela a necessidade se recusava a seguir sozinha,
sem ele,
Um sentimento dissimulado de repulsa queria gritar dos seus lábios,
Mas ela o conteve, houve um instante de silêncio incrédulo,
Ele possuía as chaves do carro em mãos e estava prestes a
partir,
Seu coração não acreditara naquilo a alma fora a primeira a
reagir,
“Parece que tudo que vivemos juntos teve um preço,
Quando aceitei nosso amor eu não me atentei aos termos,”
Ela não conseguira terminar a frase, ele dera partida e se
esvaiu,
Tal como a sua força que a jogara contra a terra úmida,
De joelhos e mãos sedentas, juntou um maço de grama,
E jogou-a contra o vento, vendo sua aliança brilhar sob a
luz do dia,
É possível, depois de amar tanto, esquecer assim do nada?
Ela sorrira, olhara para a porta da casa aberta e
convidativa,
Ficara sem forças para ir até ela, permanecera ajoelhada,
O olhar de superioridade com que ele a olhara a ferira,
Aquele quê de humildade com que a havia conquistado, onde
estaria?
A primeira ideia que lhe surgia era a de esquecer tudo,
Trocar a fechadura, negar a ele a cópia,
Mas os olhos dele ainda pareciam aqueles mesmos,
Ao partir sem dar satisfação desconsiderou o valor do seu
amor,
Sua alma não era de mentira, aceitara a proposta sem
repensar,
Mas seu coração pulsava entristecido, amava-o sussurrava baixinho,
Ela hesitava, tentava escolher as atitudes, rever suas
alternativas,
Uma repesagem sobre os acontecimentos e feria-se em tudo,
Tentava não dar a raiva a opção de interferência, então
chorava,
Por onde começar quando o amor coloca você de cabeça para
baixo?
Quando todo o sentimento que você entregou é jogado contra o
seu rosto?
Mil coisas vêm em mente, mas nenhuma serve para trazê-lo de
volta,
Tudo que você se apega ou acredita parece cair na armadilha
do nada,
Sem validade, sem conteúdo, sem capacidade para fazê-lo ao
menos recordar,
Tentava fazer uma pausa em suas ideias, elas pareciam
feri-la ainda mais,
Sussurravam ao seu ouvido que já não era mais amada
E ainda ousavam cogitar nunca ter sido,
Amar não é opcional, surge no coração ou não, mas e quanto
aos seus olhos?
Seu coração estava assustado com tudo aquilo, confuso, se
dizia: incrédulo,
Com toda a sua experiência em buscar a verdade no fundo de
cada alma,
Terminou por se identificar com aquela. Ele, teria falhado e
agora?
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