Esse número oito não é de todo estranho,
Não me impressiona,
Mas ainda assim me atenta a algo,
É o número de vezes que vi quem amei sem o beijar,
Não deixa de ser o número de sonhos que guardo,
Os segredos de amor que nunca fui capaz de confessar,
Ou ainda, as promessas que pronunciei para depois as negar,
E terá, quem sabe todo um destino comigo,
Até que não seja mais mero número
E passe a ser visto como espécie de amuleto,
Presságio ou algo para ser evitado,
Com a mesma indiferença que teve no início,
Até que então, deixe de fazer qualquer sentido,
A palavra amor ultrapassa os limites que se possa aceitar,
Oito vezes vê-lo, chegar a tocar e depois abraçar,
Sem um único beijo em que possa me apegar,
Ressoa feito um sopro de ar gélido contra um rosto
Que mergulha na água límpida de um rio nas seis horas de
maio,
Todos os outros dias e seus números no calendário se
atrapalham,
É como se a cada instante algo irá mudar e um início se
faça,
A moça, desatenta com seus olhos azuis fixos nele,
Nem percebia o quanto demonstrava ou talvez soubesse,
Ela o via tanto que chegava a contemplar um vazio profundo,
Onde todo o seu redor se consumia e só restava ele,
Respondia aos acasos sem olhar mais nada daquele modo,
O via sem a mínimo vontade de recuar ao que sentia,
Sabia do amor que nutria e não de suas chances,
Mas ainda assim, não desistia de nutrir toda a sua alma
nele,
Sua voz não era mais que uma vibração que o chamava,
Mesmo que dissesse qualquer outra coisa,
Em suas frases curtas de no máximo, agora, oito palavras,
Marcava cada um dos detalhes dele e suas reações,
Sabe-se que cada qual é capaz de suportar suas cargas,
Ela não continha o amor que sentia,
Pois, o amor a que se entrega é o mesmo amor que salva,
Sentimento doce e maior, capaz de salvar até da morte,
Mais morre o coração que não ama que aquele que padece
porque sente,
No fim daquele olhar da moça que sonha,
Vê-se a linda marcha de um sonho triunfal,
Naquele brilho que dá vigor a corações aflitos,
A favor do amor, se manifesta um sonho e seu poder,
O amor troveja com sua voz poderosa em seus lábios,
Fez da vibração que o chamava um rugir incontido,
Doce amor que faz levitar até as nuvens,
Mesmo que águas de solidão subam até o pescoço,
Há de restar um sonho qualquer a que se apegue,
Antes que afunde-se em profundas lamas de lamento,
Que o amor seja alicerce para afirmar-lhe os pés,
Sobre isto, sabem muito os que já desistiram de amar,
Entram sem refletir em águas turvas e profundas,
Sem ter em quê se apegar,
São arrastados até perderem-se de vista.