domingo, 16 de fevereiro de 2025

Garoto

Me apaixonei,
E vai ser pra sempre,
Escrevo páginas
E páginas no diário
De declarações de amor.

Ele irá saber,
Logo irá perceber
Meus sentimentos,
Irá lutar por mim,
E me conquistar,
Só depois saberá
Que eu já o amava
E mais,
Que eu o esperava.

Ah, querida amiga,
Saiba:
Ele vai ficar doidinho por mim
Irá mover montanhas,
Fazer as mais lindas declarações,
Até o vejo riscando a rua de giz
Com meu nome ao lado do dele,
Estragando a amarelinha
Ali da frente da casa da Samy,
Com tinta amarela,
Igual a dela,
Só pra confundir,
Dizendo lá que me ama.

Eu sei,
Sei de tudo
Que irá ocorrer,
E a mãe da Samy
Irá comentar no bingo,
No posto de saúde,
E também na roda de tricô,
Logo a cidade toda saberá
Que ele ama de verdade,
E será pra sempre,
Você vai ver,
Espera é questão
De pouco tempo.

Dias se passaram,
Não tantos,
Dois dias apenas,
E no intervalo da escola,
Lá em frente ao ginásio
O garoto, Paulin,
Estava de mãos dadas
Com outra garota.

- Amiga, vem ver!
Corre é urgente!
A amiga pega na minha mão
E corre comigo
Portão a fora,
A porta estava travada,
E tivemos dificuldade em abrir,
Mas forçamos um pouco
Enroscando a calça,
E saímos,
Não sem antes
Eu enroscar o cadarço
Do tênis
E cair estirada
Sobre as britas
Indo de peito no chão
Por uns três metros.

Paulin soltou a mão da garota
E riu sem parar,
A garota se escorou
No peito dele
E riu junto .
- ai, ótimo.

Você com está garota.
Vai fazer declaração também, é?
Eu gritei de lá,
Batendo a poeira da calça,
Removendo a terra da camiseta branca,
Que agora nunca mais iria limpar.
Ele riu mais ainda.

Beijou a boca dela
Como se fosse devorar
Um bolo
Pareceu um bolo
Muito bom.
- você acha que eu sou
Rapaz de me declarar?
Ele riu por trás do pescoço dela.

Beijando seu cabelo
E a levando para dentro
Do carro.
- que chato, amiga.
Que chato.
A outra soltou minha mão,
Tadinha tentou o tempo todo
Me salvar do tombo.

Mas eu fui mais ligeira
E nada esperta.
Sentei no chão,
Dobrei as pernas,
Levei as mãos no rosto.

- e agora, será que estamos
Matando aula?
Ela me olhou espantada.
- não sei.
Talvez, soframos advertência!

sábado, 15 de fevereiro de 2025

Na Estrada

Aqui na roça
Quando chover
E a lotação passa
Pra levar a escola,
A gente vai de botão
Pra enfrentar o barro
E guarda chuva
Por causa da ferrugem
Do ônibus.

Lá pela metade do caminho
O ônibus desliza
Próximo ao morro
E teria caído,
Mas os garotos
Quebraram as janelas,
Pularam para fora,
E se penduraram no ônibus
Com as mãos a se agarrar
E os pés para impulsionar.

Mas, as vezes,
Eles odeiam o motorista
Aí eles erram a localização
Do impulso
E ao invés de empurrar para frente
Empurram para o morro,
Os garotos são fortes,
Se quatro ou cinco deles
Empurram com as mãos
Para cuidar,
 Não sujar,
E ajudar eles são capazes
De remover o ônibus
Quando está atolado
Na lama da chuva forte.

Eles discutem entre si
Então juntam lama
Nas mãos
E jogam um no rosto do outro.
Mas, nós nunca abandonamos
O ônibus,
Mesmo se ele desliza
Na estrada de terra
E pouco cascalho.

Se nos comprometemos
Com a família de irmos a aula,
Nós vamos,
Nem que seja
Com o Senhor Juvenal
Puxando o ônibus a trator
Na frente
E nós atrás empurrando.
Na verdade,
Uma vez apenas,
Nós levamos o ônibus até o asfalto,
E lá o deixamos,
Mas todo o lamaçal
Já havia passado,
E a gente foi pra aula.

De burrinho,
Acompanhando o ônibus 
No trajeto para a aula
Não pode mais,
Isto é coisa de nordestino.

Lá eles tem água de côco,
Aqui só nos resta a enchente,
O Seu Antonio contou que a água 
Alcançou o poço artesiano,
Agora pra tomar água 
É só depois que ela estiver limpa...
Precisa esperar o nível do rio baixar.
O rio que está alcançando a estrada,
Impede passagem,
E outras coisas,
Menos nossas idas a aula.

A tia está assustada a rezar,
Disse que desta vez não passa,
De a enchente levar a casa.
O tio disse que não dá outra.

Lá na minha prima 
Os peixes subiram a sanga,
Ela disse que vai pescar da janela,
Meu primo disse que vai pescar de bodoque,
Vamos ver se o outro vai buscar 
Os peixes de carrinho de rolimã...

Adeus Fradinho

Adeus Fradinho,
Ele disse:
- eu vou fazer um atalho
No seu pai.

Ele falou através
De um sistema computacional:
- só que, a faca.
Eu senti medo,
Eu lembrei do passado,
E fiquei com olhos parados,
Como se lá tivesse sido difícil,
Então, ele repetiu,
E a prova foi complicada,
Agora tornou
E eu não fiz nada.

Me estagnei.
Ele me causa medo.
Instantes depois ele chorou,
Meu marido rompeu ele a faca.

Ele chorou e falou meu nome:
- Aline, eu disse isso viu?!
E eu ouvi os soluços de Fradinho.
Logo após vieram suas garotas
E depois seus homens,
E disseram:
- pois é,
Quem mata,
Ao ser morto também chora.

Estão prontos pra matar,
Não estão aptos a morrer.
Eu estou viva pra presenciar
Este sistema ser reconhecido
E decair até o fundo.

Precisou trinta anos de dor,
Lágrimas e sofrimento
Sem explicação
Para que eles surgissem
E mostrassem existência,
Por trás do computador
Toda ação parece exitosa,
Mas o mal que tomou forma
Está morrendo em sua concha.

O sistema está se fechando
Em torno deles,
E cada um que lucrou
Está a miséria
E a morte.

São tantos homens,
Tantas mulheres
Até crianças,
Vontades satisfeitas
Sobre a vida alheia,
Manipulação ardilosa,
Agora eu posso entender minha vida,
Allah está por nós
Eles não irão vitoriar.

- eu tô aqui dia e noite.
Eles dizem.
Mas não entendem
Que eu não os quero
Em minha casa,
Minha vida,
Meu território.

Eu não suporto ser coagida,
Odeio ameaças,
Que cada um cuide de sua vida.
E estes sistemas sucumbam.

Roupa de Aula

Sentada no banco do ônibus,
A caminho da escola,
O motorista faz a curva,
Uma garota se joga sobre ela,
- fora o susto,
Está tudo legal.

Ela responde assustada.
Mas, o susto não basta.
A garota a pega pelos ombros
E a coloca em pé no corredor,
Um grupo de garotos entra,
Passa por ela,
E esfrega as mãos em seu corpo.

Ela sente-se mal.
Olha para a frente em fuga,
Pensa se desce para fora
Estando tão longe de casa,
Sente medo.

Nisto a garota investe.
- está calça me cabe.
Então, puxa a calça dela,
Deixa a mostra a calcinha
Porquê ela foi rápida e segurou,
Todavia,
A outra garota joga a bunda dela
Para dentro de sua calça.

-tira, é minha.
Ela abre a boca espasmada.
Quer gritar
Mas tem medo de chamar a atenção,
Sente vergonha,
Ergue a calça e esconde-se,
Sem dizer nada.

Afunda no banco onde estava.
Não tarda,
E a garota estranha volta a agir.
Chega para outra aluna,
Em frente ao ginásio de esporte escolar,
- está pulseira é minha.

Pega a pulseira e engatilha
Nas duas,
Como se fosse algemas.
- sua jaqueta também.
Então, veste a jaqueta
Mantendo seus dois corpos.

A menina envergonhada
Entrega a roupa,
De peça a peça,
Fica apenas de calcinha.
Não tarda, a garota volta a ativa.
A outra garota,
Uma loira, baixinha e gordinha traje,
-esta roupa é minha,
E você não irá tirar.

E desfere um tapa no rosto da colega.
A menina violenta entra na roupa da outra,
Ambas na mesma calça,
Mesma camiseta,
Mesma pulseira.
Não basta, contudo.

Ela junta folhas de um caderno,
Dobra-as e as amassa e enrola,
No estilo de um charuto grosso
E grande, então,
Enfia no bumbum
De uma e outra.

A garota chora e entrega as roupas.
A outra apenas de calcinha,
Tenta esconder-se,
Mas um garoto, mais rápido,
A toma entre as mãos
Baixa a calcinha
E chupa sua vagina
Jogando um líquido espesso
E amarelo para fora de sua boca
Alguns momentos depois,
Ao lado do corpo dela,
Na calçada quente.

Ela se desvencilha,
Corre para o ônibus e chora.
Passa a pedir as pessoas que entram
No transporte público,
Que digam ao pai dela
Que aquilo era doença e não porra,
Porquê a ideia de gozar
Para um garoto daquela forma
Pública, violenta e vergonhosa
A estava destruindo,
Ela preferia a morte.

No retorno do ônibus
Pela casa dela,
Ela se jogou da janela
Com uma corda no pescoço
E enforcou-se.
A outra levou aquele espécie estranho
Feito pela colega aos pais,
E pediu se ânus menstrua.

A mãe voltou-se para as panelas,
Preferiu fazer o jantar,
O pai disse que o Grêmio ia mal.
A outra preferiu ter sempre
Mais de uma muda de roupa
Guardada na mochila.
Sentiu medo.
Pensou se estudar compensa.
Sentiu pena dos pais analfabetos.

Aula

Foi até o roupeiro da mãe,
Juntou uma calça despojada,
Uma camiseta branca razoável,
E uma jaquetinha preta
De seda para pôr por cima.

Entrou na calça que cabia duas delas,
Vestiu o restante das roupas,
Calçou o havaianas adquirido
Na cantina do Seu João,
Pegou a pasta de plástico
Onde guardava o material escolar,
E foi até o ponto de ônibus.

Infelizmente, morava no interior da cidade,
Devido a distância,
Era disponibilizado ônibus
Que levava todos os alunos
Da comunidade
Nos três turnos do dia,
Ela escolheu o vespertino.
A porta se abriu,
Ela entrou,

Escolheu o primeiro banco,
No caminho bergamotas
E laranjas eram colhidas
Das janelas abertas
Com o ônibus andando,
Tinha-se a impressão
De que quem conseguisse
Está proeza não era visto pelo dono.

Impressão errada,
Mal se retornava da escola
E o dono estava ali
Conversando com os pais
Para reaver os danos
Da sujeira causada,
Galhos quebrados
E frutos levados.

Encontrasse realmente quem o fez,
Ou tivesse dúvidas,
Um ou outro pagava pelo feito,
Sobre ela,
O pai usava uma vara de guanxuma
Para surrar,

Dizia ele:
- se não ajudou os outros,
Apanha para exemplo.
Não se mexe no que é dos outros.
Ela sentia imensa vergonha
Por apanhar na frente do ônibus
Parado,

A esperar pela correção do ato,
O pai pediu ao motorista que esperasse,
E falava aos alunos para que soubessem:
- a atitude era desaprovada.
Chorar na frente dos outros
É horrível.

Parecia não existir coisa pior.
Mas a vida amadurece.
Aprende-se a esconder a cara
Quando os amiguinhos aprontam.
Baixar o rosto no colo.
Depois, voltar-se e dizer boa tarde.
É tudo simples.

O ônibus para em frente ao ginásio de esportes,
Que fica em frente a escola.
Alguns alunos escolhem
Pular a janela.
Outros preferem pular o portão do colégio.

Mesmo, e principalmente, se a porta
Estiver aberta,
O prazer está nas alturas,
Na prática do ato inesperado.
Nos dias de chuva,
Empurrar o guarda-chuva do amigo
É legal,

Quanto mais chover melhor,
Ver a água escorrer em seu rosto
É a mais pura rebeldia.
O ginásio vende bebida alcoólica,
Proibido para menores diz a plaquinha,
Ninguém pede sua idade,
Alguns compram a bebida

Outros o refrigerante,
Toma-se um pouco
E mistura ambos,
Leva-se então para a sala.
A cuba – refri com bebida alcoólica,
Parece amenizar o terror
Da aula chata,
Que não acaba nunca
E onde não se aprende nada.

A professora não tem formação completa,
Reside muito longe,
Se sente fraca para interagir,
A cuba passa de mão em mão,
Quem é esperto entende
Que está alcoolizada,
A professora é excluída da roda.

Não tarda muito,
E eles entram em greve
Por melhorias das salas,
Estruturas e salários.
Ela escolhe um livro,
Decide não participar da bebida,

Se acomoda em um canto,
Não é a aluna chata,
Nem a ativa.
Retorna para casa no transporte público,
Com todos unidos e felizes,
Ela abre a janela
E cuida lá fora.
Esquece o restante.

sexta-feira, 14 de fevereiro de 2025

De Carro na Pists

Ela trafegava pela rua,
Sentia-se mal,
Lágrimas lhe vinham no olhar,
Decidiu parar o carro ali
Não preocupou-se com
Onde estava.

Apenas ligou a seta de direção,
Chegou até o acostamento
E parou.
Dali olhou para longe,
E de distante foi aproximando
Os olhos.

Vou cada prédio,
Olhou cada pessoa,
Analisou coisas que não percebia,
Como tudo mudava tão depressa,
Como o calor é intenso
Quando o carro pára,
Como as pessoas seguem apressadas,
Fazendo coisas sem sentido,
Como se houvesse uma força,
Um algo que direcionasse tudo.

Depois olhou para o céu,
Viu nuvens chegar,
Trazer um chuvisco
E depois ir,
E o sol retornar.

Vou crianças,
Uma veio até ela
Com os olhos grandes e abertos,
Chegou na janela
E pediu dinheiro,
Ela fechou a janela antes,
A menina de uns três anos
Tentou subir na porta,
Falando sem parar,
Ela abriu a janela
E a mandou embora.

- procura sua mãe.
Depois, continuou a olhar.
Resignada por ser incomodada.
Olhou o asfalto longe,
E o acompanhou com os olhos
Até chegar no carro.

Viu um rapaz jovem
Pegar o braço da menina
E a levar para longe,
Ele não se parecia com ela,
Ela pensou em sair para fora,
Mas foi mais forte
E permaneceu onde estava.

Uma mulher chegou pedir a hora,
Ela não tinha relógio,
Um casal passou de mãos dadas,
Um casal passou discutindo alto.
Depois, ela deu partida no carro
E seguiu a rua movimentada,
Soube menos ainda para onde iria,
Mas sentia-se mais tranquila.

A cidade mudou,
Cresceu,
A feira da vizinha fechou,
Virou um prédio alto,
A vizinha se mudou.

As casas antigas foram substituídas,
A videolocadora fechou,
Se tornou uma sala de cinema.
A lojinha de roupa fechou,
Se tornou shopping,
O crepe do Senhor Gilmar fechou,
Se tornou sorveteria,
A casinha de churros da Senhora Miranda,
Tornou-se floricultura
Mas está para fechar as portas também.

O mercado de 12 horas
Foi substituído por um
Que permanece aberto
Por mais tempo
E vende café forte.

Os ônibus diminuíram
Parece que cada pessoa
Comprou seu próprio carro,
O combustível só aumentou,
Mas ela aprendeu a pôr ar nos pneus.

Nisto, chegou ao posto de combustível,
Com coragem, força e um quê de prepotência,
Afirmou em alto tom:
- não, não vou abastecer,
Vou apenas pôr ar nos pneus.

O rapaz sorriu.
- quer ajuda?
Ele indaga.
- não, eu faço sozinha.

Com isso,
Abre a porta do carro e sai,
Pega o aparelho,
Marca o número 30,
Vai até o pneu,
Retira o ventil e encaixa o aparelho.

Diário ao Mar

Odioso diário,
Onde guardo somente as verdades,
Desta vez,
Me despeço:
“ Guardo contigo o veneno,
Bem,
Dele,
O frasco”.

Ou a prova
Caso algum dia
Você tenha nova fala,
E eu queira entender o que fiz.

“Matei-os, todos!”
Apaixonei-me pelo pai,
A esposa não aceitou,
Sobre ela tanto tempo passou.
O esposo viúvo
Preferiu guardar amor,
Recusou casamento,
Desistiu de nós dois.

O filho foi engenhoso,
Enveredou-se para outras ideias,
Viu naquele velho um louco,
Viu nesta que lhe escreve
A ideal,
Ele tinha o belo pai,
Dinheiro suficiente.

Meus pais,
Decidiram contrariar,
Negar dinheiro,
Economizar nos mimos.
Utilizei em ambos igual dose.

Agora aqui sentada neste barco ao mar,
Me despeço,
Com dinheiro
Muito mais que suficiente,
Frasco com alguns comprimidos,
Três velhos mortos
E um filho em desespero
A chorar dor
E algum desalento,
Bem, irá demorar
Para ele sentir falta de dinheiro,
Eu acho.

Eu nunca fiquei sem
Ou aprendi a economizar gastos,
Não me imagino nisto
De calcular gastos
Ou controlar valores...

Contudo deve estar
Sentindo minha falta,
Vou decidir se parto
Para bem longe
Ou se permaneço
Ciente de que tenho
Todo dinheiro que quero,
Todos os bens que preciso,
Mas, soube de um velho
Bastante rico
Que mora um pouco distante,
Talvez, eu lhe faça visita,
Quem sabe?

Enquanto isto,
Afundo neste frasco este diário,
Sem comprometer nenhuma página
Deixo ainda algum veneno junto.
Assinado 'Marael'.

A Hora

Anunciaram os djins, - aproxima-se a Hora. O povo daquelas areias Sobre o mar azul e limpo Estremeceu. Aguardaram uns de Al...