sábado, 15 de fevereiro de 2025

Aula

Foi até o roupeiro da mãe,
Juntou uma calça despojada,
Uma camiseta branca razoável,
E uma jaquetinha preta
De seda para pôr por cima.

Entrou na calça que cabia duas delas,
Vestiu o restante das roupas,
Calçou o havaianas adquirido
Na cantina do Seu João,
Pegou a pasta de plástico
Onde guardava o material escolar,
E foi até o ponto de ônibus.

Infelizmente, morava no interior da cidade,
Devido a distância,
Era disponibilizado ônibus
Que levava todos os alunos
Da comunidade
Nos três turnos do dia,
Ela escolheu o vespertino.
A porta se abriu,
Ela entrou,

Escolheu o primeiro banco,
No caminho bergamotas
E laranjas eram colhidas
Das janelas abertas
Com o ônibus andando,
Tinha-se a impressão
De que quem conseguisse
Está proeza não era visto pelo dono.

Impressão errada,
Mal se retornava da escola
E o dono estava ali
Conversando com os pais
Para reaver os danos
Da sujeira causada,
Galhos quebrados
E frutos levados.

Encontrasse realmente quem o fez,
Ou tivesse dúvidas,
Um ou outro pagava pelo feito,
Sobre ela,
O pai usava uma vara de guanxuma
Para surrar,

Dizia ele:
- se não ajudou os outros,
Apanha para exemplo.
Não se mexe no que é dos outros.
Ela sentia imensa vergonha
Por apanhar na frente do ônibus
Parado,

A esperar pela correção do ato,
O pai pediu ao motorista que esperasse,
E falava aos alunos para que soubessem:
- a atitude era desaprovada.
Chorar na frente dos outros
É horrível.

Parecia não existir coisa pior.
Mas a vida amadurece.
Aprende-se a esconder a cara
Quando os amiguinhos aprontam.
Baixar o rosto no colo.
Depois, voltar-se e dizer boa tarde.
É tudo simples.

O ônibus para em frente ao ginásio de esportes,
Que fica em frente a escola.
Alguns alunos escolhem
Pular a janela.
Outros preferem pular o portão do colégio.

Mesmo, e principalmente, se a porta
Estiver aberta,
O prazer está nas alturas,
Na prática do ato inesperado.
Nos dias de chuva,
Empurrar o guarda-chuva do amigo
É legal,

Quanto mais chover melhor,
Ver a água escorrer em seu rosto
É a mais pura rebeldia.
O ginásio vende bebida alcoólica,
Proibido para menores diz a plaquinha,
Ninguém pede sua idade,
Alguns compram a bebida

Outros o refrigerante,
Toma-se um pouco
E mistura ambos,
Leva-se então para a sala.
A cuba – refri com bebida alcoólica,
Parece amenizar o terror
Da aula chata,
Que não acaba nunca
E onde não se aprende nada.

A professora não tem formação completa,
Reside muito longe,
Se sente fraca para interagir,
A cuba passa de mão em mão,
Quem é esperto entende
Que está alcoolizada,
A professora é excluída da roda.

Não tarda muito,
E eles entram em greve
Por melhorias das salas,
Estruturas e salários.
Ela escolhe um livro,
Decide não participar da bebida,

Se acomoda em um canto,
Não é a aluna chata,
Nem a ativa.
Retorna para casa no transporte público,
Com todos unidos e felizes,
Ela abre a janela
E cuida lá fora.
Esquece o restante.

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