segunda-feira, 12 de maio de 2025

Efeito do Álcool

Foi tão especial
A linda noite
Em que conheci Rahat.
Por Deus,
Aonde estará Rahat?
Mesmo antes
De ele estar tão perto
Eu me recusava
A distanciar.
Nós dançamos
Alguns passos,
Ok, nós não entendíamos
De dança,
Mas aprendíamos do
Nos gostar,
E isto foi perfeito.
Eu recordo de tê-lo beijado
E isto foi de todo mágico,
Meu Deus,
Sozinha neste escuro
É tão ruim,
Eu odeio até mesmo
A tontura do vinho.
Eu tento beijar este copo,
Me embriagar deste líquido,
Mas como é terrível lembrar,
Oh, Deus,
Lembrar não deveria
Ser devido aos apaixonados,
Não quando há distância
A separa-los.
Eu fecho os olhos
Na noite,
E o sinto tocar meu ombro,
Me deitar neste chão duro
De pedras limpas,
E oh, Deus, me amar!
Eu gostaria de pegar o telefone,
Fazer uns ligação embriagada,
Uma declaração movida a álcool,
Mas nem sei o que dizer,
Se eu o amo em demasia,
Há como ele não saber?
Seguro o copo
Com a ponta dos dedos,
Elevo ele para os céus,
Até o final do braço,
Derrubou tudo sobre meu corpo,
Mas isto não me é beijo,
E eu gostaria de tê-lo.
Mas, caramba,
Existem tantas garotas bonitas,
Que eu aqui me sinto
Apenas mais uma,
Um número e no passado,
Já esquecendo,
Já esquecendo,
Conforme se faz com o álcool,
Bebe até cair ao sono,
Entrega-se ao efeito
No outro dia esquece-se de tudo,
Do contrário não é embriaguez,
Beijar e ir embora,
Não é amor é estupidez,
Me recuso a pensar,
Não farei mais nada,
Nada e coisa nenhuma...
Nem chorar,
Só beber,
Brinde ao esquecimento,
A tontura do estar fora dos seus braços,
Colada a este chão frio,
Distante do alto de suas mãos,
Aterrada ao vazio.

Adeus

Eu monto com o pé direito,
Me apoio na corda,
Na cela e nas crinas,
Me puxo e passo o pé esquerdo.
Estou no alto,
Sobre o cavalo,
Eu me sinto em liberdade,
Vejo mais longe.
Ao meu lado
O cavalo dele se aproxima,
Eu me agacho,
Beijo sua testa,
Sim, querido,
São dezesseis dias...
Espalmou seu pescoço
Duas vezes,
Com um pequeno empurrão
Para o lado
Como se dissesse
Vá.
Ele obedece,
Olha longe,
Se curva,
E sai em silêncio,
Eu ainda estou parada,
Bato os pés,
Toco meu cavalo
De leve,
Ele anda.
Meu peito se sobressalta,
É alto,
Eu confesso que sinto medo,
Estou sozinha,
Mas sigo.
Onde estará,
Eu lhe disse vá,
Ele apeou do cavalo,
Pegou a corda,
O amarrou na cocheira
E seguiu.

Pra quê lembrar
Ou querer perdoar,
Ela me pediu para partir,
Não irei retornar.
Ele pensa,
Distante e pondo confiança
No que raciocina.
Senta no banco da moto,
Se segura no pé direito,
Levanta o capacete
Assenta na cabeça
E olha para longe.
Liga a chave,
 Vê o ponteiro do velocímetro
Mexer-se no painel,
Solta o freio aos poucos,
Segue.
Segue reto
Sem pensar em nada,
Lá da rua onde passa,
Vê seu cavalo a cavalgar sozinho,
Mais a frente
A sua garota,
Tudo foi recente
E as lembranças que sopram
Chegam com o efeito de ontem,
Ela anda,
Ereta e segura...
Ele cruza tão rápido,
Mantém as imagens tão nítidas
Que aos sobressaltos de seu coração
Nunca poderia dizer
Que se deve a vê-la,
É como se a deixasse
Para trás,
Conforme o ponteiro
Se adianta,
O motor desconhece
As batidas de seu coração,
Mas como apagar as imagens?
Esquecer.
Ele retorna,
Faz uns curva em cê,
Marca a rua de negro,
Faz queimar o pneu,
Olha fixo,
Levanta o queixo,
Encerra o cê,
Escreve um zero,
Se permite seguir,
Que deveria fazer?

Acendo Um Cigarro

É madrugada,
As estrelas escondem-se
Lá fora,
A janela fechada,
Mas o vidro está a vista.
Meu amigo embaralha
Algum jogo mental
Através do baralho,
Vez ou outra ele dá as cartas,
Após, recolhe todas,
Retorna a embaralhar.
Eu me sirvo de sua carteira
De cigarros aberta,
Acendo um,
Faço um gesto afirmativo
Para ele,
Que sorri,
Com seu cigarro aceso
A esfumaçar seus dois
Últimos dedos.
Parece que gosta de sentir
O calor,
O fogo que arde por dentro,
E exclama por fora,
Eu me silencio,
Ele também não diz nada,
Mas, sabemos,
Pensamos nela.
Bem, namorei uma garota,
Ela era inteira perfeita,
O conheceu
E gostou logo dele,
Não me deixou,
Nem se esquivou
De tudo que sentiu,
Se entregou a nós dois,
Foi nossa sem que
Falássemos sobre isso,
Mas, agora,
Beijos outro.
Bebe com ele whisky,
Eu choro escondido,
Cansei de correr atrás,
Ela falou a frase inteira,
Esqueça-me,
Pertenço a outro,
Cansei de você e seu amigo.
Eu passei
Nunca falei que sabia
De eles dois,
Mas o que ouvi foi o bastante,
Hoje, ele chegou cedo
Jantou comigo,
E ne disse tê-la visto,
Com outro
Num restaurante do centro,
Bebendo muito
E sorrindo.
Já deve nós ter esquecido,
Sem perceber
Sinto minha camiseta verde
Molhada e quente,
Penso de são as cinzas
Do cigarro,
Me engano,
Estou em prantos...
Sem saber porquê
Baixou o cigarro
Sobre o molhado
E o apago ali mesmo.
Levando,
Empurro a poltrona para trás
Com a panturrilha,
Meio que em desespero
Eu me acolho
Junto a janela,
Me coloco de costas,
Busco o final da rua,
Não há nada,
Me volto,
E meu amigo
Não cansa de embaralhar
E cartear sozinho,
Penso se estou louco
Ou é só o amor...
Acendo o cigarro molhado,
Me demoro nisto,
Sinto o gosto do meu pranto,
Olho para a ponta acesa
Com ele entre o dedão
E o anelar e mindinho,
Movo a ponta acesa,
Bato as cinzas com o dedão,
Deixo cair no chão,
Ao lado do meu sapato,
Me volto,
Fumo um pouco,
Talvez, passe tudo isso.
Meu amigo meiou a caixa,
Estendeu seus pés
Sobre a mesa de centro,
Folheia as cartas,
Embaralha,
Busca vencer a si próprio...
Eu tento queimar a dor.

O Mulato- São João

Fez-se noite,
Com as primeiras estrelas
A fogueira foi acesa,
Tão alta no escuro do céu,
Quanto se poderia ver
O fogo tremeluzente
Azul e amarelo tocar-lhes a face,
Ganhar um sorriso da lua.
O quentão foi feito ao lado,
Taças serviam seu líquido quente
Na noite gelada
Como se não embriagassem,
Todos bebiam...
Lá por algum tempo
Passou o caixeiro de seu Manuel,
O negrinho Manuelzinho,
Limpo e de sorriso no rosto,
Indiferente a sua idade infante,
Bebendo quentão,
E comendo um enorme puxa puxa.
“Veja aquele menino,
Vale quanto pesa”.
Disse sem travas na língua,
A referir-se que o garoto
Não poupava os dentes,
Deixava o doce,
Apegava-se a bebida,
Depois nutria-se de ambos
De uma vez,
Um doce na boca
E vinho quente a derreter-lhe
As veredas.
Raimundo juntou-se
A Ana Rosa,
Mais Manuel, Dias,
Dona Bárbara e Dona Maria.
Todos ergueram suas taças
De quentão
Em um brinde pela lua,
Pelo sucesso da noite,
Pelos sonhos de inverno
Que seguiriam nos
Dias que viriam.
Dona Maria derrubou vinho
Sobre as vestes,
Queimou-se toda e gritou incontida,
Em busca de auxílio
Raimundo correu,
Acudiu-se na farinha
Que encontrou,
Juntou um grande punhado
E jogou sobre a velha,
Duas, não sobrepujou
Juntou dois punhados
Um jogou na taca de Raimundo
E o mais na velha senhora,
Ambos batendo suas vestes
E ajudando-a a não queimar-se
Ou estragar sua noite
Por ter de trocar a roupa.
“Que a farinha lhe ampare,”
Disse Raimundo,
A limpar o rosto da senhora,
Seu vestido,
E suas mãos.
“Ora, você?”
Disse ela.
“Se acolha num espelho”.
Respondeu ela resignada.
“Preferia um lenço
Para poder te ajudar melhor”.
Respondeu caloroso.
Passado o infortúnio,
Continuou a festa,
Raimundo pegou a mão de Ana Rosa,
Passeou com ela
Pelo redor da fogueira,
Juntou madeira,
Jogou no fogo
Para mantê-la acesa.
Depois cruzaram a capela
Que foi feita de improviso,
Toda enfeitada
Em madeira bruta e bandeirolas,
Entraram para acender
Uma vela a São João,
E fingiram o casamento caipira,
Fazendo os votos de amor
Um pelo outro,
Beijando-se no altar.
Raimundo fez as vezes do padre,
Pois este bebia
E não recordava de palavra,
“Senhora Ana Rosa
É de boa vontade
Que aceita este doutor
Para esposo?”
Ele indagou
Se posicionando atrás da mesa
Do altar,
Jogando água benta
Sobre as tranças de Ana Rosa
Que caíam-lhe pelo peito,
“ É de vontade e
É de amor,
Seu padre,
Há tanto que espero um homem,
Que não aceito por menos”.
Ele sorriu,
Suas lágrimas correram sobre
A toalha branca,
Ele juntou uma flor do buquê
Que estava sobre ela
E repousou no cabelo
De Ana Rosa,
No início de sua trança.
“Eu a amo Ana Rosa”.
Lhe falou se colocando
Sobre a mesa
E beijando seus cabelos,
Suas lindas franjas loiras
De cabelo de boneca de milho.
Ela curvou os olhos,
Baixou a cabeça
E se colocou em seu peito,
Como se a boneca buscasse
O sereno da noite
Para saciar a cede e revigorar.
Ele tocou sua cabeça,
Ela levantou o olhar,
Ele saiu de trás da mesa
E beijou-a no altar.
Entre as testemunhas
De bonecas e bonecos
Feito com milho verde,
O padre que era ele mesmo,
E o altar para santificar
Em Deus o que sentiam.

sábado, 10 de maio de 2025

O Mulato- Ciumeiro

Junho chegou sereno
E frio,
Com seus ventos
A brincar com os cabelos,
Quebrar os galhos
E arrancar algumas flores.
Trouxe as festas de São João,
O comércio todo foi organizado,
As ruas foram enfeitadas
Com bandeirolas de papel,
E guarda chuvas espalhados.
Abriu-se a feira,
Todo o comércio se instalou
Para apresentar seus produtos
Frescos e descem colhidos,
Seus bolos, pães, queijos e pudins.
Tudo foi organizado com carinho,
Desde os doces tradicionais
Como o pé de muleque,
O cricri, a paçoca e o quentão...
Ao fundo da feira
Uma banda local tocava.
Raimundo, Ana Rosa e Manuel
Deixaram seus produtos
Por conta dos escravos
Para serem vendidos
E expostos,
Então, passearam por toda a festa,
Comeram e beberam
Do que era servido,
Conheceram as tradições.
Duas, no entanto,
Ficou para trás,
Adentrou no quarto de Raimundo,
Mexeu em suas coisas,
Bisbilhotou em seus documentos,
De lá, cansado e irritado,
Adentrou no quarto de dona Barbara,
Foi até sua palmatória de orar,
Acendeu uma vela,
E pegou a imagem do santo
São Raimundo
E queimou seu rosto na chama
Até enegrece-lo,
Rindo de despeito e dor.
Não tardou,
E a ideia de ter Dias
Invadindo cada quarto
E tomando as medidas que lhe
Coubessem
Invadiu a mente de todos,
E teria gerado medo,
Caso tivessem visto
E ouvido
Seus rompantes de risos abertos,
E altos ao enegrecer o santo.
Ter Dias liberto
A forçar portas,
Fazer chaves de mentiras
E usar de meios fraudulento
Para entrar em quartos
Era de todo o modo temerosa.
Sabe-se que Ana Rosa
Antes de beijar Raimundo
Sonhava com ele,
Chegava a senti-lo próximo,
Teve sonhos de todo realista...
Sabe-se ainda
Que Raimundo não a reconheceu
De imediato
Por ser a invasora de suas noites,
Preceptora de todo prazer
E desejos que despertaram
Um no outro.
De outra sorte,
Manuel adoeceu sem causa,
Acamou-se esmorecido,
Fraco de suas forças,
Abatido em suas dores,
Isto, lhe parecia injustificável.
Noutra medida,
As febres de Ana Rosa,
Suas tosses arrastadas,
Tudo isso,
Era digno de monta
Diante de descobrir-se
O que Dias fez
Na primeira oportunidade,
E sabe-se lá,
Se foi privilégio ou hábito,
Mas o fez.
Depois de queimar
O rosto do Santos Raimundo,
Dias tomou caminho diverso
Da festa junina,
Foi ver suas mulatinhas,
Ainda as escondidas,
Porquê a ninguém
Informou de suas saídas.
Não tendencia-se
Considerar Dias
Como uma pessoa perigosa,
Mas, suas ações pendem
Para o que poderia ser considerado
Ameaçador.
Rir dos modos religiosos
De dona Barbara,
Achar graça em colorir
O rosto do santo,
Bisbilhotar na vida privada
De Raimundo,
Tentar invadir o quarto de Ana Rosa,
Entrar às escondidas
Em locais privados...
Isto realmente,
Levava suas maneiras
Para um teor ilícito,
Até mesmo,
Perturbador.
Suas peraltices
Não beiravam a atitudes
De um adulto escrupuloso,
Sua comedida educação
Parecia estar sendo negligenciada,
Rir de um rosto por ser negro?
Ora a cor da pele não é motivo
Para zombarias.

O Mulato- Prosas, Versos e Pele Ardente

Audaciosa em seus sentimentos,
Pretensiosa de sentidos,
Valorosa em seus desejos,
Ana Rosa amou Raimundo
Por uma noite inteira,
Chegou sorrateira,
Retirou sua calcinha rendada,
Pôs lhe sobre os olhos,
E aperfeiçoou suas carícias,
Provou do amor mais puro,
Do néctar de todos os seus beijos.
Entregou-se como em seus sonhos,
Sonhou com o sol do dia
A acorda-los,
Percorreu cada centímetro
De sua pele negra
Com seus dedos alvos,
Embebeu a ponta do dedos
Em sua volúpia,
Percorreu-o a linhas de desenhos.
Mergulhou neste amor,
Sentiu como se tivesse as estrelas,
E tê-las não lhe significasse nada,
Diante da imensidão
Que foi amar aquele negro,
Sentir seus pelos eriçados,
Seu desejo crescer
E consumir a ambos,
Ele não buscou esquivar-se
Apenas a teve,
E entregou-se.
As horas correram no relógio,
Como se fossem areias
Numa ampulheta aberta,
O ponteiro deslizou
Como se percorresse minutos.
A chegada da manhã,
Ela escondeu-se por detrás
Da cortina vermelha e pesada,
Viu-o dali sem ser vista,
Pode ver o sol bater em sua cor
E resplandecer aquele negro
Ardente e prazeroso.
Ele sorriu,
Retirou a calcinha de sobre
Os olhos
Com indisfarçada estranheza,
Cismou ao ver o objeto
Entre seus dedos,
Soltou a calcinha na beirada da cama,
Sentou-se com ela entre os dedos,
Sentiu profundamente o cheiro,
E pôs ambas as mãos
Sobre o rosto.
Ana Rosa suspirou
Por ver aquela pele negra arfar,
Seus seios sobressaltaram,
Um perdeu-se do sutiã,
Sua camisa de dormir
Ficou molhada e pediu
Colando-se entre as pernas.
Ele olhou em direção ao banheiro,
Foi tomar o banho,
Ela aproveitou sua saída
Do banheiro
Com a toalha a secar o rosto,
Percorrendo seus cabelos,
Nuca e ombros,
E o esperou prostrada.
Ele retirou a toalha,
Fez cara de espanto,
E virou as costas para ela,
Ela sentiu-se tomada de pânico,
Viu-se a perde-lo,
E a ideia a destruiu por completo,
Então, jogou-se em suas pernas,
Pôs-se a lamber aquela cor negra,
A cedência de seus pêlos,
O calor efervescente de sua pele,
Ansiosa por tê-lo.
Depois ajoelhou-se
E pôs a chorar em parar,
Colada com a bunda no chão,
Com lágrimas a hora feito
Uma torrente desenfreada.
Ele não a reconheceu,
Juntou-a através de seu braço
Esquerdo,
Colocou ela de pé
Em sua frente,
Olhou seu rosto,
Não soube expressar
O que sentiu,
Nunca a imaginou de tal maneira.
- prima?
Eu não a esperava.
Ele disse.
- me perdoe os modos grosseiros,
Eu estava no banho...
Contudo,
Ela cansou de fingir,
Rejeitou a mentira,
O quis,
Neste intuito
Jogou-se para beija-lo,
Puxou seu rosto
Com ambas as mãos
E sorveu aqueles lábios negros
Sobre os seus,
Como se fosse um pêssego
Que se abre,
Se rejeita o caroço
Com a ponta da língua,
E suga toda a sua doçura
E pureza,
Movendo sua boca sobre ele
Com prazer imensurável
De quem está a submergir de fome
E tem ao seu alcance
Único pêssego,
Grande, carnudo e doce.
- precisamos nos casar.
Ele disse.
- saia, querida.
Precisamos nos recompor
Para eu pedir permissão
Para Manuel, seu pai.
Ela jogou-se para sobre
Suas pernas,
Até sentir seus prazeres
Se misturar
E escorrer sobre a pele
De ambos.
Então, se foi.
Como nem tudo é perfeito,
Manuel neste mesmo dia
Foi acamado
De temerosa doença,
Nada pode dizer
Ou fazer de importante,
Apenas medicar-se.
Raimundo aproveitou
A oportunidade
E pôs-se a escrever seus poemas
E prosas para o jornal local.
O povo reprovou sua rebeldia
De palavras e pensamentos,
Sua liberalidade para tratar
De assuntos íntimos,
E querer romantizar
Assuntos rotineiros,
Mudas conceitos,
Tratar de valores já estabelecidos,
E por isto,
Considerados imutáveis.
Ficou mal afamado
E irritou-se.
Todavia,
O pior lhe reservava
O mês de junho.

Poema da primeira página:

Acordou a negra,
Assustada e paciêncosa,
Percorreu as escadas
Da senhora branca,
Cuja filha desfalecia,
Nasceu fraca,
Mas branca se fez,
Precisou de leite,
Há quem recorrer?

As tetas da negra escrava,
Derramaram-se em carinhos,
Fez-se o ninho,
Entregaram-lhe a criança 
Aos seus cuidados,
E sabor de negra forte,
De pouco a pouco
Sorveu o leite,
Da manta que lhe cobria,
A negra fez-lhe a veste.

Aniversário de três anos
Da menina,
Branca, grande e forte,
A negra escrava,
Conhecedora das linhas,
Costurou-lhe perfeito vestido,
Presenteou a menina
Com tecido velho.

Imperdoável,
Disse o senhor branco,
Vai ao açoite 
Para recuperar os sentidos,
A criança correu as escadas,
Viu sua ama amarrada,
Ferida,
Do seio que lhe deu comida,
Sobrou a ferida
Do ferro quente 
Que o derreteu até a carne.

A alforria,
A alforria,
Disse o senhor branco,
Diante do seu domínio,
De medo por estar diante 
Da menina tão criança,
A negra jogou-se e jogou-se,
Estava com uma algema
De ferro a prender suas mãos,
Dilacerou seus músculos,
Perdeu seus movimentos,
Agora vive na casa de negros,
A senzala é seu lugar,
Cuida de seus iguais,
Não serve para as paredes
Tão quentes e grandes demais,
Não é vista ou sai lá fora.

O Mulato- Desejo de Pele

Ana Rosa
Mais se comunicava a Raimundo,
Certo dia,
De tanto pensar
Perdeu o sono,
No nascer da manhã,
Recusou-se a acordar,
Fez cisma de pensar
Em seu rosto,
Desenhou com o dedo
Traços imaginários no teto,
Lá em seus rabiscos,
Imaginou seu rosto,
Ousou beija-lo,
No teor de oito anos,
Foi a primeira boca
Que desejou em ardência,
Sentiu o corpo febril,
Cruzou os dedos sobre
A camisa de dormir,
Acariciou-se.
De seu quarto pode ouvir
A voz dele
Proveniente da cozinha,
Ele tomava o café,
Ela abraçou o travesseiro,
Chorou de afeto,
Desejou-o perto.
Pediu perdão a Deus,
Mas não o via sob o véu
De parentesco,
Preso em seus mistérios,
O queria para mais perto,
Desejava-o para esposo.
Entristecida tardou,
Mas levantou,
Chegou a cozinha,
Sem fome,
Pôs-se a chorar
Com o rosto recostado
Sobre a janela.
Da varanda,
Raimundo a viu triste,
Achou-a linda,
Pegou papel e lápis,
Desenhou-a.
Ao término,
Ela moveu-se
A custo por parar de olha-lo.
Caminhou até ele,
Soube de seu passatempo
Com desenhos realísticos,
Folheou seu álbum,
Chegou a uma foto de mulher,
Uma parasiense pintada por ele,
Não controlou o ânimo,
Separou a foto no próprio colo,
Em cerimônia riscou
O rosto da moça com a unha,
Não preocupou-se com o que fazia.
Cuidou os passeios de Raimundo,
Entrou em seu quarto,
Vasculhou suas coisas,
Deixou marcas de sua estada,
O quis para si,
Desde o instante em que
Encontrou seu retrato,
E o pousou sobre o busto,
Sobre o rosto,
Sobre os lábios,
E correu a foto por seu corpo,
Sem medo
De imagina-lo dentro de sua vagina,
Teve a audácia
De levá-lo a toca-la.
Deixou suas secreções
Sobre a cama dele,
Juntou sua cueca,
Sentiu seu cheiro
Profundo dentro de seu peito,
Então, separou dois de seus dedos,
Penetrou suas partes íntimas,
Acariciou-se com ela,
Sentindo o tecido,
O cheiro percorre-la,
Trêmula,
Ansiosa por deseja-lo.
Noite feita,
Sem poder dormir,
Luzes apagadas
Foi até ele
Sem fingir,
Abriu a porta com uma pena,
Destravou a tramela,
Entrou,
Acariciou-se ao seu lado,
Deslizou seus dedos
Por seu corpo,
Tocou seu pênis viril,
Bebeu de seu orgasmo cada gota,
Tocou-o em seu primeiro desenlace,
Subiu a cama,
Deitou sobre ele,
Fez sexo sedenta e vigorosa,
Amou-o em febril vontade.
Na manhã seguinte acordou
Mais vigorosa.
Soube que a casa dos pretos
Foi aberta durante a noite,
Cinco pretos fugiram,
Agora Manuel os buscava
Com chicotes em mãos,
Cachorros na estrada.
Ele juntou as mãos na varanda
Em prece,
Rezou pelas vidas dos negros,
Se apiedou em tamanha misericórdia,
“ São pessoas, meu Deus,
Pessoas”.
Ana Rosa,
Vendo-o triste,
Aproximou-se deslizando
O corpo por sua pele,
Então, pegou na mão dele,
E se juntou em sua prece.
Raimundo,
Assustou-se de sua ousadia,
Não pode crer,
Prima sua?
Esperou Manuel retornar,
Ele voltou
Com os cinco pretos amarrados,
Pouco sangue sobre suas vestes,
Jogou-os para sua casa.
Lá fora,
Sentado sobre a terra,
Irritado com tudo que passou,
Soube que Raimundo
Queria mudar-se,
Contestou a ideia,
O queria perto,
Ao menos até ver a fazenda,
Vende-la
E ter onde deixa-lo seguro.
No entanto,
Veio as ameaças da filha
De quere-lo,
Em frente a sobra Dona Bárbara,
Que se retesou em sua ira,
O preferiu no tronco,
Por ser o negro que não deixaria de ser,
Pobre e com ideias revolucionárias,
Negro de sorte,
Imundo como a combinar-lhe o nome.
Manuel engoliu
O entrave,
Chamou o Dias,
Marcou o casamento
Para o próximo mês,
Ana Rosa resignou-se,
Alegou preferir a morte.
Esmoreceu de dor,
Fugiu para seu quarto,
As escondidas,
Em busca de ser amor,
Entre choros e compassos
De prazer retirados em segredo.
Quem é indagou ele.
Aquela que o ama.
Disse apenas.
Não falou seu nome.
Não foi forte o bastante
Para lhes negar amor.
O quis ardentemente
E não apenas por uma noite,
O quis a percorrer sua pele,
Sentir seus dedos sensíveis
E frágeis tocarem-na
Com seu calor,
Feito um fogo a incendiá-la.
Quis ver todo o seu desejo
Ser consumido até restar
Só o pó
De todo o suor
Que se dispunha a perder,
Quis ver os lençóis molhados
Derretida em prazer,
Quis sentir seu cheiro,
Abrasar-se sobre sua pele,
Até o amanhecer.
Quis tocar-lhe o rosto,
Privar de seu prazer
Até ter dele um filho,
O quis em matrimônio,
E não aceitaria outro,
Fosse em um mês,
Ou em cruel dezembro.

Casada por Acaso

O término do namoro Levou Ana ao dezenove Pote de dez litros de sorvete, Já conhecia todos os sabores, Brincava com as cores...