sábado, 10 de maio de 2025

O Mulato- Ciumeiro

Junho chegou sereno
E frio,
Com seus ventos
A brincar com os cabelos,
Quebrar os galhos
E arrancar algumas flores.
Trouxe as festas de São João,
O comércio todo foi organizado,
As ruas foram enfeitadas
Com bandeirolas de papel,
E guarda chuvas espalhados.
Abriu-se a feira,
Todo o comércio se instalou
Para apresentar seus produtos
Frescos e descem colhidos,
Seus bolos, pães, queijos e pudins.
Tudo foi organizado com carinho,
Desde os doces tradicionais
Como o pé de muleque,
O cricri, a paçoca e o quentão...
Ao fundo da feira
Uma banda local tocava.
Raimundo, Ana Rosa e Manuel
Deixaram seus produtos
Por conta dos escravos
Para serem vendidos
E expostos,
Então, passearam por toda a festa,
Comeram e beberam
Do que era servido,
Conheceram as tradições.
Duas, no entanto,
Ficou para trás,
Adentrou no quarto de Raimundo,
Mexeu em suas coisas,
Bisbilhotou em seus documentos,
De lá, cansado e irritado,
Adentrou no quarto de dona Barbara,
Foi até sua palmatória de orar,
Acendeu uma vela,
E pegou a imagem do santo
São Raimundo
E queimou seu rosto na chama
Até enegrece-lo,
Rindo de despeito e dor.
Não tardou,
E a ideia de ter Dias
Invadindo cada quarto
E tomando as medidas que lhe
Coubessem
Invadiu a mente de todos,
E teria gerado medo,
Caso tivessem visto
E ouvido
Seus rompantes de risos abertos,
E altos ao enegrecer o santo.
Ter Dias liberto
A forçar portas,
Fazer chaves de mentiras
E usar de meios fraudulento
Para entrar em quartos
Era de todo o modo temerosa.
Sabe-se que Ana Rosa
Antes de beijar Raimundo
Sonhava com ele,
Chegava a senti-lo próximo,
Teve sonhos de todo realista...
Sabe-se ainda
Que Raimundo não a reconheceu
De imediato
Por ser a invasora de suas noites,
Preceptora de todo prazer
E desejos que despertaram
Um no outro.
De outra sorte,
Manuel adoeceu sem causa,
Acamou-se esmorecido,
Fraco de suas forças,
Abatido em suas dores,
Isto, lhe parecia injustificável.
Noutra medida,
As febres de Ana Rosa,
Suas tosses arrastadas,
Tudo isso,
Era digno de monta
Diante de descobrir-se
O que Dias fez
Na primeira oportunidade,
E sabe-se lá,
Se foi privilégio ou hábito,
Mas o fez.
Depois de queimar
O rosto do Santos Raimundo,
Dias tomou caminho diverso
Da festa junina,
Foi ver suas mulatinhas,
Ainda as escondidas,
Porquê a ninguém
Informou de suas saídas.
Não tendencia-se
Considerar Dias
Como uma pessoa perigosa,
Mas, suas ações pendem
Para o que poderia ser considerado
Ameaçador.
Rir dos modos religiosos
De dona Barbara,
Achar graça em colorir
O rosto do santo,
Bisbilhotar na vida privada
De Raimundo,
Tentar invadir o quarto de Ana Rosa,
Entrar às escondidas
Em locais privados...
Isto realmente,
Levava suas maneiras
Para um teor ilícito,
Até mesmo,
Perturbador.
Suas peraltices
Não beiravam a atitudes
De um adulto escrupuloso,
Sua comedida educação
Parecia estar sendo negligenciada,
Rir de um rosto por ser negro?
Ora a cor da pele não é motivo
Para zombarias.

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