Acordei e percebi que a farda não servia mais,
Olhei no espelho e procurei ver o que o reflexo
escondia,
Recordei as honras da formatura e o que o uniforme
militar significava,
Lembrei do heroísmo do juramento
De exercer o ofício mesmo com o risco da própria vida,
Relembrei que era reconhecido por um número na
corporação,
Treinado na hierarquia e disciplina para agir com
precisão,
Um ser humano a mais, sem face ou identidade,
O braço forte do estado, armado para seguir comandos,
Revivi os combates que seguiam ordens superiores de
eliminar testemunhas,
Feito peças em um tabuleiro,
Apanhei minha espada que representava a patente de
liderança que alcancei,
Toquei as estrelas da farda, as medalhas,
Símbolos auferidos por me prestar como um joguete a
disposição,
Um oficial armado a chumbo, mas sem feição,
Guardei a farda com seus símbolos, tirei as armas e o
colete balístico,
E dei voz a minha raiva,
Me apresentei ao superior e pedi dispensa do comando,
Ele quis saber a razão, apenas dei como explicação,
Que agora estava à procura do direito,
Avisei que havia cansado de treinar golpes,
Quando na prática tudo se resolvia com um chute entre as
pernas,
E que cansei de dar voz de prisão, do cheiro fétido de
sangue e de sujar as mãos,
E sem mais a declarar, apenas virei às costas
E procurei a saída em busca da minha própria vida,
E para finalizar este relato, apenas para esclarecer os
fatos,
Contei a história de um amigo na primeira pessoa.
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