segunda-feira, 29 de maio de 2017

A Farda Que Não Serviu

Acordei e percebi que a farda não servia mais,
Olhei no espelho e procurei ver o que o reflexo escondia,
Recordei as honras da formatura e o que o uniforme militar significava,

Lembrei do heroísmo do juramento
De exercer o ofício mesmo com o risco da própria vida,
Relembrei que era reconhecido por um número na corporação,
Treinado na hierarquia e disciplina para agir com precisão,
Um ser humano a mais, sem face ou identidade,

O braço forte do estado, armado para seguir comandos,
Revivi os combates que seguiam ordens superiores de eliminar testemunhas,
Feito peças em um tabuleiro,
Apanhei minha espada que representava a patente de liderança que alcancei,

Toquei as estrelas da farda, as medalhas,
Símbolos auferidos por me prestar como um joguete a disposição,
Um oficial armado a chumbo, mas sem feição,
Guardei a farda com seus símbolos, tirei as armas e o colete balístico,

E dei voz a minha raiva,
Me apresentei ao superior e pedi dispensa do comando,
Ele quis saber a razão, apenas dei como explicação,
Que agora estava à procura do direito,

Avisei que havia cansado de treinar golpes,
Quando na prática tudo se resolvia com um chute entre as pernas,
E que cansei de dar voz de prisão, do cheiro fétido de sangue e de sujar as mãos,
E sem mais a declarar, apenas virei às costas

E procurei a saída em busca da minha própria vida,
E para finalizar este relato, apenas para esclarecer os fatos,
Contei a história de um amigo na primeira pessoa.

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