sábado, 21 de novembro de 2020

Vidro Embaçado

Ligou a água morna da banheira,

E deixou que o vapor da água

Cobrisse com seu manto os vidros

Do seu redor, fazia frio naquele cômodo vazio,


Pegou um livro que narrava um romance policial,

E saboreou a leitura enquanto a água

Tentava inutilmente aquecê-la,

Folheou suas páginas muito bem escritas,


Desejou escrever algo, expor o que sentia,

Mas admirou tanto o autor

Que acreditou que sua escrita seria precária,

Não conseguia juntar palavras suficientes


Para definir tudo o que sentia em cada linha,

Fechou a página com todo o cuidado,

Deitou-se, permitindo-se fechar os olhos

E relaxar por um momento ao menos,


Um rosto se formou em sua mente,

Desenhando um menino com o rosto rubro,

Ela sabia que naquele momento ele choraria,

Abraçou-o com toda a força do seu pensamento,


De forma tão intensa que jurou senti-lo,

Viver aquilo foi fascinante,

Como um sonho que se inventa a noite,

Apenas para ganhar vida no outro dia,


Ela enxugou a lágrima dele com as costas da mão,

Repousando a mão em seu próprio coração,

Sentiu seu cheiro, pousou-a em seus lábios

E provou o seu gosto, era quente e salíneo,


Do tipo que dilacera a pele enquanto a toca,

Sorte teve ela ao protege-lo de si mesmo,

Pensou ela com os lábios trêmulos,

Respiração sôfrega, pernas bambas,


Mas a imagem dele não saia da sua cabeça,

Levantou-se, foi até um dos vidros embaçados,

Viu-se refletida nele, sentiu-se estranhamente bonita,

Aproximou-se mais ainda,


E pode vê-lo ali refletido,

Como se tivesse sido extraído daquele sonho,

Como se estivesse vivendo dentro dela,

Acreditou que fosse uma ilusão,


Contudo se aproximou perto o bastante para beijá-lo,

Ergueu-se, na ponta dos pés, mesmo sentindo-se trêmula,

Levantou os braços para cima,

Como se o prendesse em suas mãos,


E beijou, lentamente os seus lábios,

Absorvendo o seu frescor, sua umidade

Que não conseguia definir com precisão,

Afastou-se apenas o suficiente para olha-lo,


Queria sentir o calor dos seus olhos,

Sentiu-se presa, não conseguia mexer-se,

Tentou falar, mas as palavras falharam,

Ela queria mesmo estar ali,


Algo como um feixe de luz brilhou sobre ela,

Sentiu-se iluminar, não se afastou,

Estranhamente, ela conhecia o brilho do seu olhar,

Comparou o tamanho das suas mãos,


Percebeu que ele era muito maior e mais forte que ela,

Entreabriu levemente as pernas,

Queria ser abraçada por inteira,

Sabia, de alguma forma, que ele caberia ali nela,


Conhecia ele, mesmo sem saber como,

Por um segundo, chegou a ouvir sua voz,

Desejou tira-lo ali de dentro,

Então, encontrou seus olhos iluminados,


- Eu o amo, disse em um suspiro,

- Fique para sempre comigo,

- Eu preciso de você sempre por perto,

Não teve medo de repetir palavras,


Afinal mesmo que usasse todas não saberia como se expressar,

Queria-o por toda a sua vida,

De forma inesperada, um coração se formou

No local onde haviam se encostado,


Através daquele beijo que se deram através do espelho,

Sentia que se reconhecia nele,

Então, empurrou com toda a sua força,

Desejou quebrar, estilhaçar aquele vidro,


Até que nada a impedisse de ser dele,

De toca-lo, senti-lo, tê-lo ao seu lado,

Porém, não obteve sorte, nem uma rachadura se fez,

Abaixou a cabeça, olhos chorosos,


Mas, entre as batidas do seu peito

Ouviu uma voz rouca que dizia,

Que ele era forte o suficiente para romper aquela barreira,

E busca-la onde quer que ela estivesse,


Sentou-se, ali mesmo, e não teve medo de esperar,

Eles se amavam sentia isso.

sexta-feira, 20 de novembro de 2020

Beijo na Calçada

 

Ele andava pela calçada,

Olhos para o céu azul e límpido,

Parecia enxergar algo maior,

Ela, porém, percebia que o seu olhar


Refletia o azul do céu em pleno esplendor,

Não resistiu, esbarrou nele,

Com um sorriso caloroso lhe pediu desculpas,

Ele, se assustou baixou o olhar,


Pode ver a moça que o destino

Colocava gentilmente em sua vida,

Ela tinha os olhos marrons terra,

Parecia chama-lo para o chão,


Em uma tentativa de aproximá-lo,

Ele nunca havia pensado em tal possibilidade,

Contudo, lhe ofereceu a mão em cumprimento,

Ela o agarrou, carinhosamente, entre as suas mãos,


E gentilmente a elevou na altura do seu coração,

Seus olhos brilharam um brilho maior,

Algo maior que a luz do sol que os iluminava,

Algo que merecia descer das nuvens e repousar na terra,


Ao menos um pouco, valia a tentativa,

Afinal, não se pode morar por toda a vida nas estrelas,

Uma lágrima quente percorreu seu rosto,

Ela tentou falar algo mas as palavras se calaram,


Pareciam não ouvi-la,

Contudo, soltou uma das mãos e amparou a lágrima

Antes que percorresse um caminho maior,

Rumo a algo que parecia um vazio, talvez de solidão,


Aproveitou e fez um carinho atencioso, “amor”,

Ela definiu com um sorriso curvando os lábios trêmulos,

Os olhos dele eram o encontro de dois mares,

Azuis, límpidos, profundos e cheios de vida,


Desejou mergulhar neles,

Fossem eles o céu, voaria até o infinito para tocá-lo,

Porém, ele estava ali, parado, imóvel, a sua frente,

Podia senti-lo, ele era quente,


Mas ela sabia que com um único passo em falso,

Se perderia naqueles olhos para nunca mais sair,

Sorriu diante disso, ela queria mergulhar

Nas profundezas da sua alma para nunca mais voltar,


Seu corpo tremia diante da expectativa,

Ela lembrou de quando escreveu um poema,

Por puro devaneio do seu peito romântico,

Mas ao termina-lo não sentiu nada,


Achou-o apenas bonito, nada mais,

Talvez até frio e utópico,

Embora tenha o abraçado na altura do peito,

E chorou, entre soluços molhou o papel,


Com lágrimas quentes e salinas,

Pareciam que queriam corroer as palavras,

Engolindo-as, se perdendo nelas,

Mas diante daquele olhar encantador,


Até as lágrimas foram bem-vindas,

Elas lhe soaram feito chuva,

Algo que se curva a descer dos céus infinitos

Apenas para semear vida na terra árida,


Ela o amava, ela o procurava, sabia disso...

Ele a olhava demonstrando encanto,

Seus lábios roseados eram carnudos,

Belos, e quando ela ficava tímida,


Desenhava neles o formado de um morango,

Algo similar a um beijo,

Ou maior, algo difícil de definir,

Que ele, no entanto, desejava provar,


Saborear, sem demora, cada centímetro,

Em um beijo sem final,

Diante disso, se curvou até ela,

Enquanto lhe sussurrava, “posso beijá-la?”


Ela sorriu em resposta e ergueu-se ficando na ponta dos pés,

“Sim, desejo muito, se eu dissesse que é amor você acreditaria?”,

Ele lhe devolveu o sorriso,

Com um "sim" moldando seus lábios calorosos,


Aquilo soou perfeito, seus lábios se encontraram,

Seus corpos se colaram,

Ali mesmo, porque deveria ser escondido?

Encontro do Destino

 

Mais um dia cansativo de trabalho,

Abriu sua janela, apenas um pouco,

Para sentir o vento da tardinha

Que se aproximava matreira,


Lá fora, ela trazia um ar frio,

Pareceu-lhe que era chuva,

Apesar dos seus dias serem corridos,

Havia tanto mais trabalho a fazer,


Porém, naquele instante decidiu mudar o trajeto,

Então, pegou seu carro, revestido em aço,

Pois de que outra forma aguentaria o tranco?

E encaminhou-se para a sua casa,


Único refúgio que encontrava,

Estacionou na sua garagem,

Da mesma forma metódica que sempre fez,

Vida preordenada, destino traçado em algum lugar,


Sentia, que ele simplesmente obedecia,

Algo que ele nem ao menos sabia o que era,

Aos trinta anos de idade, uma única certeza lhe rondava,

Estava satisfeito com a vida, pois ao seu redor


A maioria não havia alcançado o mesmo sucesso que ele,

Mas quando baixava a guarda e se entregava as lembranças,

De algo que ele não sabia ao certo o que era,

Ele desejava ter isso ao seu lado,


Parecia que apenas assim estaria completo,

É claro que nunca esquecia de a cada manhã,

Colher uma rosa, ou flor do seu jardim

E colocá-la para adornar a sua mesa da cozinha,


Aquele cheiro que ela exalava lhe abria o apetite,

Então, sentava-se para tomar uma xícara de café quente,

Ali, ele não entendia de que sentia falta,

Mas suspirava consigo mesmo, sentia falta...


Sabia que era um homem bonito,

Com seu espírito confiante,

Sempre alcançava êxito em tudo o que fazia,

Nada lhe vinha de graça e a tudo que desejava


Ele lutava com maestria e confiança para alcançar,

Mesmo que precisasse andar pelo destino,

Com os olhos fechados e as mãos juntas,

Para pessoas comuns aquilo seria uma prece,


Mas para ele: era agradecimento,

Ele se orgulhava de nunca ter chorado,

Apesar de um nó, por vezes, calar sua garganta,

Ele sempre buscou controlar o que sentia,


No aconchego do único lar que conhecia,

Ele gostava de ficar às escuras,

Como se estivesse a vagar pelo destino,

Adorava aquele chão de pedra fria,


Que diante do frio em seu corpo, era acolhedor,

Cada flor que colhia lá fora,

Ele ainda lembrava: haviam sido plantadas por sua mãe: amada,

Então, nem esperava que murchassem,


As retirava do vasinho com água

E as depositava em uma caixinha de madeira,

Lembranças dos seus tempos de criança,

De ano a ano, ele as trocava,


Havia talhado a caixinha a mão junto a seu pai,

Em seus tempos de criança,

As vezes, no silêncio ensurdecedor do seu quarto,

Ele aceitava, apenas naquele momento,


Sentir-se um pouco inseguro de si mesmo,

Então, abria sua caixinha do tesouro de menino,

E aspirava o cheiro das flores e viu que era bom,

Aquilo lhe adormecia nas noites insones,


E o dava força para acordar a cada manhã,

Assim, nada mais lhe importava, a lua, as estrelas ou mesmo a noite,

Suas noites, quase sempre, tão frias,

Delas ele nunca reclamou pois era tudo o que conhecia,


Desta feita, ele suspirava formando vapor ao seu redor,

Aquele vapor tocava as paredes do seu quarto,

Corroendo pouco a pouco a sua tinta,

Talvez até um pouco do reboco,


Mas um dia ele acordou de um sonho estranho,

E quando suspirou, formou um coração

Que parecia vir de um passado esquecido,

Algo remoto, adormecido dentro do seu peito,


Ele se endereçava ao trabalho logo cedo,

Antes que qualquer feixe de luz abrisse as cortinas da luz do dia,

Mas, neste dia em especial,

Ele avistou uma moça, encantada,


Parecia absorvida em um mundo desconhecido,

Olhando com curiosidade o brilho da lua,

Ele teria passado por cima dela,

Não fosse o seu jeito cauteloso


E sua habilidade para dirigir seu destino,

Por Deus que ela não estava ali mesmo,

Teve que buzinar duas vezes para que ela pudesse vê-lo,

- Moça, você não olha por onde anda?


Lhe perguntou, estranhando-se pela voz rouca,

Ela lhe deu um sorriso dividido

Entre o travesso e o sonhador,

E se aproximou como se flutuasse,


Pousando, logo, ao lado dele,

Antes mesmo que chegasse

Ele sentiu um calor estranho tocá-lo de forma suave,

Aumentou o ar condicionado,


Sem resultado,

- Olá, me desculpa, estava deixando a lua me guiar,

Disse ela, naquele tom de voz

Que lhe pareceu peculiar e conhecido,


Sem desmanchar o sorriso do rosto,

E o brilho no olhar,

Ele fechou os olhos em silêncio

Olhou para os céus e fez sua primeira prece,


Que seu sorriso encantador nunca se apagasse,

Que aqueles lindos olhos nunca enevoassem,

Então, olhou-a um pouco mais a fundo

E viu que haviam marcas de lágrimas em seu rosto,


Lembrou que havia prometido, também, nunca chorar,

Mas naquele momento seu mundo desmoronou,

E ele chorou, ali mesmo, na frente dela,

E não sentia medo ou vergonha,


Sentia-se seguro acolhido por aquela linda moça,

Ele gostava de colecionar livros,

Mas, decidiu que deixaria tudo por ela,

Em algum ponto distante, um sino pôs-se a tocar,


Ele viu-a sobressaltar-se assustada,

Sorriu com a oportunidade,

Ofereceu-se para conduzi-la para casa,

Ela aceitou desajeitada,


Ao cumprimentarem-se com um abraço,

E um caloroso beijo no rosto,

Ambos sentiram a eletricidade do amor

Percorrer cada parte dos seus corpos,


Destinos entrelaçados;

Amor, escrito por alguém num tempo passado.

quinta-feira, 19 de novembro de 2020

Declaração de Amor

 

Essa era sua décima folha de papel

Nervosamente amassada e remessada ao lixo,

É certo que ele não era dado a romances,

Mas queria muito demonstrar seu amor,


Ela merecia ouvir cada palavra

Que ele tinha dentro da alma,

Até que ela soubesse o tanto que a amava,

Mas como declarar um amor que se quer para toda a vida?


Abriu as persianas, contemplou a noite escura,

Parecia vê-la refletida em cada estrela,

Com um suspiro rouco ele sorriu,

Precisava vê-la, ele sentiu,


Não confiava em si mesmo ao lado dela,

Nunca soube o que fazer para conquista-la,

Havia feito uma promessa de guardar uma distância segura

De ao menos três passos dela,


Menos que isso ele sabia: não resistiria,

A força do seu olhar o contagiava,

Seus olhos brilhavam feito estrelas,

Não por lágrimas mas por algo diferente,


Algo que ele desejava ardentemente que fosse amor,

Uma emoção muito forte, talvez?

Mordeu o lábio, precisava vê-la,

Ansiava por beijá-la naquele exato instante,


Não suportaria um segundo a mais sem sua presença,

Seu nome seguiu o rumo do seu coração,

Embargando a garganta até chegar a boca,

Em um sussurro rouco confessou a si mesmo:


Eu a amo com intensa paixão,

Ele já havia se acostumado a pensar nela,

Porém, suas lembranças estavam indo busca-la

Com uma frequência muito maior do que pudesse controlar,


Se tornou rotina parar para admirar a lua,

Apenas para trazê-la um pouco mais para perto,

Perto dela não conseguia nem ao menos pensar,

Imagine se conseguiria falar,


Mesmo agora as palavras não se formavam,

Nada parecia expressá-la com exata convicção,

Mesmo se no papel desenhasse o próprio coração,

Queria beijá-la com toda a emoção que sentiu


Nos dias que se passaram lentamente

Depois de último dia em que a viu,

A emoção das noites insones, do calor febril,

Queria senti-la derreter novamente em seus braços


Embebida no calor que possuía em seus beijos,

Queria beijá-la até esgotar todas as suas forças,

Até que faltasse o ar para respirar,

Até senti-la tremula em seu abraço,


Vencida pela intensidade do seu amor,

Lembrou de quando a beijou pela primeira vez,

Sentia-se inseguro, lembra de ter iniciado com um beijo na testa,

- Você gosta assim? Lhe pediu com sofreguidão,


Depois a beijou na ponta do nariz – e assim, você gosta?

Então, com medo de não conseguir controlar-se,

Apenas roçou seus lábios sobre os dela,

- E assim, você gosta? As palavras saindo-lhes tremulas,


Respiração de ambos entrecortadas,

Ela o olhou com estranha admiração,

Ela sentia-se muda, sua voz falhou na garganta,

Sentia algo muito forte, o que falaria?


O calor que exalava de ambos era algo estranho,

Algo que nunca haviam nem ao menos sonhado,

Rendendo-se as mãos do desejo,

Extravasaram suas emoções em um beijo faminto,


De início um pouco ingênuo e depois mais exigente,

Daqueles que tornam as roupas meras lembranças,

Apesar do ambiente a meia luz onde se encontravam,

Ela podia sentir a intensidade do seu olhar,


Sobre cada parte do corpo dela,

Seus olhos verdes dominando-a, rendendo-a,

Ele tinha um olhar másculo e intrigante,

Contudo, sua boca era perversa,


Não admitia reservas, não admitia medos,

E ela amava cada momento,

Ele sabia disso, ela lhe confessou no intervalo dos seus beijos,

Porém, o que dizer a ela?


Ele se esforçava para ser bom, honesto e verdadeiro,

E segundo ela, ele conseguia isso com maestria,

Mas quando se tratava de declarar o que sentia,

Ele falhava, sabia... rabiscou algo em um papel,


Passou uma gota do seu perfume,

Jogou ali uma flor de forma desajeitada,

E a entregou com um sorriso que refletia a alma,

Ela o abraçou com todo o carinho,


Então se afastou emocionada, sorrindo,

Ele sabia o quanto a agradava,

Afinal ela amava ser paparicada,

Ela baixou os olhos para o bilhete,


Com o coração aos saltos,

E o pulsar do coração por testemunha,

O viu refletido dentro de si mesma,

Guardado, e percebeu que não tinha medo,


Após leu, sentindo o olhar marejado de lágrimas,

Depois, levantou os olhos para cima e o encontrou,

Ali, parado, esperando-a com aquele seu peculiar

Jeito gentil e amoroso que ela tão bem conhecia,


Também, te amo meu amor,

Sim, eu aceito ser sua para toda a vida.

Taça de Vinho

Abri as páginas de um livro,

Que falava de um mundo de papel,

Rasurando palavras de amor,

Desejei participar daquele sonho,


Desistir daquele mundo de imagens,

Que outros denominariam aparência,

Arranquei aquelas páginas

Sem medo algum em minha alma,


Com um misto de raiva e impaciência,

E as amassei como alguém que se recusa

A este mundo surreal de amor inventado

Senti um vento gélido entrar pela janela aberta,


As folhas amassadas em minha mão

Que falavam de um amor sem coração,

Tinham peso nulo dentro de tudo que eu sentia,

As joguei na lareira apenas para vê-las queimarem,


Queria excluir aquilo que falava de algo tão belo

Sem crer em nenhuma palavra do que dizia,

Surpresa, vi que o fogo consumia as folhas,

Porém, as palavras saltavam aos olhos


E continuavam ali, intactas,

Elas pareciam acreditar no que diziam,

Fossem feitas de mentira,

Porque resistiriam?


Aquelas letras borradas por minhas lágrimas

Pareceram um tanto preocupadas

Enquanto gritavam o nome dele

Em uma espécie de sussurro que só eu ouvia,


Deslizei até o chão frio,

Olhos transbordantes por lágrimas,

Sentia dentro de mim que acreditava no amor,

Quando ele invadia minhas lembranças,


O que fazia com certa frequência,

Podia ver seu rosto, sentir seu cheiro,

Quase provava o sabor da sua boca,

Contudo, não queria admitir que o amava tanto,


Porém, nada o tirava do fundo da minha alma,

Sensação inquietante e esperançosa,

Lancei um olhar para a taça de vinho,

Um tanto quanto fora do seu alcance,


Pousada a três passos de distância,

Desejei apenas me embebedar,

Perguntei-me qual seria a energia necessária para me levantar,

A quantos passos mesmo estava o vinho?


Três, quatro, dois, um talvez?

Dali onde estava a taça não parecia estar tão longe,

Mas a saudade drenava as minhas forças,

Preferia continuar onde estava, vendo o fogo queimar


Cada palavra escrita e levar com ele meus sonhos,

Será? Será que era isso mesmo que eu queria?

Me entregaria assim mesmo, sem tentar?

Cheguei a acreditar que nunca me apaixonaria,


Então, por quê ele surgiu em minha vida?

Juntei toda a minha força e levantei até a taça,

Em três golpes sorvi todo o líquido,

Senti-me tonta, as pernas trêmulas,


Mas em meu coração um vazio me consumia,

Doce saudade que a tempos me atormentava,

Trazendo sensações que não me preenchiam,

Precisava dele, só mesmo ele me entendia,


Eu o amo, há nisso algo errado?

Mãos trêmulas, toquei meu próprio rosto,

Senti-me aquecida, desejei esperá-lo mais um pouco.

quarta-feira, 18 de novembro de 2020

Um Olhar

No mesmo instante em que

Um rosto se destacou na multidão

Trazendo um sobressalto ao seu coração,

Quatro lágrimas quentes desceram sobre a sua face,


Traçando um caminho de dor,

E algo que poderia ser definido como lembranças,

Porém, antes mesmo que invadissem o seu coração,

Causando um caminho de algo que não pudesse ter volta,


Elas congelaram ali mesmo,

Do lado da sua boca,

Local onde ele havia depositado tantos beijos

Agora apenas suas marcas restavam,


Nem um beijo de adeus lhe foi permitido,

Ao vê-lo, mesmo ao longe,

Ela sentiu-se ser transportada para um passado distante,

Nunca antes esteve tão perto de quem lhe partiu o coração,


E por mais que acreditasse tê-lo olvidado,

Sua alma lembrou aos sobressaltos,

Ah, como ela desejava tê-lo esquecido,

Porém, bastou provar a suavidade do seu olhar


E tudo dentro de si retornou,

Acrescenta-se que muito mais forte do que antes,

Ela fez o impossível para manter-se calma,

Enquanto dirigia-se em sua direção,


Que outro caminho tomaria,

Queria resistir, ansiava por isso,

Afinal, de que lhe valia seu orgulho?

Neste instante, o sol se afastou de uma nuvem,


Iluminando o seu sorriso encantador,

E uma mecha de cabelos loiros caiu sobre o seu rosto,

Juntou toda a sua força como se fosse forjada

Em fogo ardente,


Agora já não era mais uma mulher mas o mais puro ferro,

Arma engatilhada, o mais puro chumbo,

Contudo sua armadura não resistiu,

Antes mesmo de encerrar o caminho ela se estilhaçou,

Sentiu-se derreter inteira tão logo ele a encarou,


Suas lágrimas derreteram traçando um caminho

De fogo abrasante sobre o seu corpo,

Sem resistir, esboçou um sorriso estilo lua nova,


Sentia-se deslizar sobre o gelo,

A um passo de cair e ser levada ao chão,

Aqueles olhos azuis límpidos derreteriam

Qualquer coisa que houvesse a sua frente,


E agora, ali restava ela, uma presa exposta,

Vítima de tudo que sentia,

Ela não entendia como seus olhos podiam ser tão calorosos,

A ponto de derrete-la em brasa viva,


Teve a ousadia de provar um beijo da sua boca,

E agora pagava com sua alma por ousar amá-lo,

Sentia suas pernas fraquejarem,

Era inegável sua beleza, seu charme,


Mas fazê-la derreter, por Deus, como podia?

Ele o olhava da forma que a nenhum outro era permitida,

Ele era fogo e gelo, solo frágil para se andar,

Seu tom de voz era capaz de congelar o mar,


Como era perigoso seguir em sua direção,

Mas ela acolhia o risco,

O silêncio era ensurdecedor demais para aceitar

Queimar-se sem direito ao eco da sua fala rouca,


Ela precisava bem mais que isso,

Se fosse para consumir-se que fosse por amor,

Mas não de qualquer alguém,

De alguém que ela amou deste o primeiro instante.

terça-feira, 17 de novembro de 2020

06 Verdades de Alguém que se Ama

 

Nada para fazer naquele dia de primavera,

Pegou sua rede e a amarrou em duas árvores,

Folheou seu melhor livro em busca de algo,

Uma folha caiu sobre si, roçando de leve sua pele,


Estava verde ainda, deveria ter sido derrubada

Por algum dos pássaros que ali construíram seu ninho,

Fazendo do entorno de sua casa, sua morada,

Bem, talvez tivesse sido o rubor do vento,


Que diante do calor que fazia tinha um aspecto

Levemente quente, banhado pelo sol das dezessete horas,

Olhou ao redor para senti-lo um pouco melhor,

Constatou que a brisa que a roçava era fresca,


Então o calor deveria estar vindo da terra,

Que provavelmente necessitava de novas folhas,

Para sentir-se um pouco mais viva,

E desta forma poder germinar a vida,


Borboletas voavam felizes, pássaros cantavam,

Até seu cão dormia, agora, ao seu lado,

Ela sentia-se feliz naquele lugar,

Essa era a sua primeira verdade,


A poucos metros do seu alcance

Havia um lindo rio de águas verdes,

Que trazia consigo a sua segunda verdade:

Sentia saudade,


Um rubor tomou levemente sua face,

No mesmo instante em que o rosto dele

Ganhou todo e qualquer pensamento que pudesse ter,

Mas, talvez, pudesse ser a ação do vento norte,


Fechou os olhos e desejou com toda a intensidade,

Poder falar com ele, ouvir sua voz, senti-lo...

Dividir com ele todo aquele encantamento,

Se havia algo mais belo do que a natureza,


Deus deveria ter colocado naquele homem,

Pois, por Deus como ela o amava,

Sentia isso com toda a sua alma,

Esta era sua terceira verdade,


Um sorriso brilhou em seu rosto,

Refletindo um brilho diferente em seus olhos,

Sentiu desanuviar o pensamento,

Deixando escapar um suspiro apaixonado,


Denunciando que pensava em seu beijo,

Por quarta verdade, admitia ela,

Não conseguia pensar em outra coisa

Nos últimos dias,


Desejava com todas as suas forças beijá-lo uma vez mais,

Mas ela preferia esperar por sua iniciativa,

Não queria, de forma alguma, parecer inoportuna,

Por algum motivo as palavras a fizeram sorrir,


Desejava conquista-lo, tê-lo por toda a vida,

Imaginava-se dividindo suas noites com ele,

Sendo acordada a cada manhã com o seu bom dia,

Quem sabe: sonhos dos que amam:


Ter um filho com os olhos dele,

Essa, sem dúvida, era sua quinta verdade,

Sobre a qual ela não ousaria contar a não ser para si mesma,

Na magia do momento, ela chegou a senti-lo,


Por Deus: as flores trouxeram seu cheiro,

Suspirou absorvendo aquele sonho

Para dentro do seu peito,

Do sorriso que irradiava em seu rosto,


Ao brilho dos seus olhos castanhos claros

Ela sorria e isso refletia em sua alma,

Logo o sol se poria, tirando o véu que cobria a lua e as estrelas,

Permitindo-as que brilhassem com intensidade,


Refletido no céu que estaria a contemplar

Ela poderia avistar o brilho do seu olhar;

Permitir-se a mais um beijo trazido pelo luar,

Segundo do dia, uma dose a mais do que desejava


Provar por, não menos, do que toda a vida;

Essa era sua sexta verdade,

Casar-se com ele,

A noite, então, desejaria que a brisa pudesse levar seu beijo,


E repousa-lo, suavemente, sobre os seus lábios,

Quem sabe ele se permitisse contemplar

O mesmo céu que os unia,

E aceitasse ser banhado pelo luar,


Apenas para recordar,

Que em algum lugar, talvez distante do seu olhar,

Mais apaixonada do que nunca,

Ela derramava uma lágrima saudosa,


Com um pedido de que ele pudesse voltar

Para os seus braços onde era o seu lugar,

E que ela sabia do fundo do peito:

De onde nunca deveria ter saído,


Por sétima verdade admitia ela,

De lá ele nunca saiu mesmo.

Comida do Leito do Rio

E, Houve fome no rio, Os peixes Que nasceram aos montes, Sentiam fome. Masharey o galo Sofria em ver os peixes sofrerem, ...