Mais um dia cansativo de trabalho,
Abriu sua janela, apenas um pouco,
Para sentir o vento da tardinha
Que se aproximava matreira,
Lá fora, ela trazia um ar frio,
Pareceu-lhe que era chuva,
Apesar dos seus dias serem corridos,
Havia tanto mais trabalho a fazer,
Porém, naquele instante decidiu mudar o trajeto,
Então, pegou seu carro, revestido em aço,
Pois de que outra forma aguentaria o tranco?
E encaminhou-se para a sua casa,
Único refúgio que encontrava,
Estacionou na sua garagem,
Da mesma forma metódica que sempre fez,
Vida preordenada, destino traçado em algum lugar,
Sentia, que ele simplesmente obedecia,
Algo que ele nem ao menos sabia o que era,
Aos trinta anos de idade, uma única certeza lhe rondava,
Estava satisfeito com a vida, pois ao seu redor
A maioria não havia alcançado o mesmo sucesso que ele,
Mas quando baixava a guarda e se entregava as lembranças,
De algo que ele não sabia ao certo o que era,
Ele desejava ter isso ao seu lado,
Parecia que apenas assim estaria completo,
É claro que nunca esquecia de a cada manhã,
Colher uma rosa, ou flor do seu jardim
E colocá-la para adornar a sua mesa da cozinha,
Aquele cheiro que ela exalava lhe abria o apetite,
Então, sentava-se para tomar uma xícara de café quente,
Ali, ele não entendia de que sentia falta,
Mas suspirava consigo mesmo, sentia falta...
Sabia que era um homem bonito,
Com seu espírito confiante,
Sempre alcançava êxito em tudo o que fazia,
Nada lhe vinha de graça e a tudo que desejava
Ele lutava com maestria e confiança para alcançar,
Mesmo que precisasse andar pelo destino,
Com os olhos fechados e as mãos juntas,
Para pessoas comuns aquilo seria uma prece,
Mas para ele: era agradecimento,
Ele se orgulhava de nunca ter chorado,
Apesar de um nó, por vezes, calar sua garganta,
Ele sempre buscou controlar o que sentia,
No aconchego do único lar que conhecia,
Ele gostava de ficar às escuras,
Como se estivesse a vagar pelo destino,
Adorava aquele chão de pedra fria,
Que diante do frio em seu corpo, era acolhedor,
Cada flor que colhia lá fora,
Ele ainda lembrava: haviam sido plantadas por sua mãe:
amada,
Então, nem esperava que murchassem,
As retirava do vasinho com água
E as depositava em uma caixinha de madeira,
Lembranças dos seus tempos de criança,
De ano a ano, ele as trocava,
Havia talhado a caixinha a mão junto a seu pai,
Em seus tempos de criança,
As vezes, no silêncio ensurdecedor do seu quarto,
Ele aceitava, apenas naquele momento,
Sentir-se um pouco inseguro de si mesmo,
Então, abria sua caixinha do tesouro de menino,
E aspirava o cheiro das flores e viu que era bom,
Aquilo lhe adormecia nas noites insones,
E o dava força para acordar a cada manhã,
Assim, nada mais lhe importava, a lua, as estrelas ou mesmo
a noite,
Suas noites, quase sempre, tão frias,
Delas ele nunca reclamou pois era tudo o que conhecia,
Desta feita, ele suspirava formando vapor ao seu redor,
Aquele vapor tocava as paredes do seu quarto,
Corroendo pouco a pouco a sua tinta,
Talvez até um pouco do reboco,
Mas um dia ele acordou de um sonho estranho,
E quando suspirou, formou um coração
Que parecia vir de um passado esquecido,
Algo remoto, adormecido dentro do seu peito,
Ele se endereçava ao trabalho logo cedo,
Antes que qualquer feixe de luz abrisse as cortinas da luz
do dia,
Mas, neste dia em especial,
Ele avistou uma moça, encantada,
Parecia absorvida em um mundo desconhecido,
Olhando com curiosidade o brilho da lua,
Ele teria passado por cima dela,
Não fosse o seu jeito cauteloso
E sua habilidade para dirigir seu destino,
Por Deus que ela não estava ali mesmo,
Teve que buzinar duas vezes para que ela pudesse vê-lo,
- Moça, você não olha por onde anda?
Lhe perguntou, estranhando-se pela voz rouca,
Ela lhe deu um sorriso dividido
Entre o travesso e o sonhador,
E se aproximou como se flutuasse,
Pousando, logo, ao lado dele,
Antes mesmo que chegasse
Ele sentiu um calor estranho tocá-lo de forma suave,
Aumentou o ar condicionado,
Sem resultado,
- Olá, me desculpa, estava deixando a lua me guiar,
Disse ela, naquele tom de voz
Que lhe pareceu peculiar e conhecido,
Sem desmanchar o sorriso do rosto,
E o brilho no olhar,
Ele fechou os olhos em silêncio
Olhou para os céus e fez sua primeira prece,
Que seu sorriso encantador nunca se apagasse,
Que aqueles lindos olhos nunca enevoassem,
Então, olhou-a um pouco mais a fundo
E viu que haviam marcas de lágrimas em seu rosto,
Lembrou que havia prometido, também, nunca chorar,
Mas naquele momento seu mundo desmoronou,
E ele chorou, ali mesmo, na frente dela,
E não sentia medo ou vergonha,
Sentia-se seguro acolhido por aquela linda moça,
Ele gostava de colecionar livros,
Mas, decidiu que deixaria tudo por ela,
Em algum ponto distante, um sino pôs-se a tocar,
Ele viu-a sobressaltar-se assustada,
Sorriu com a oportunidade,
Ofereceu-se para conduzi-la para casa,
Ela aceitou desajeitada,
Ao cumprimentarem-se com um abraço,
E um caloroso beijo no rosto,
Ambos sentiram a eletricidade do amor
Percorrer cada parte dos seus corpos,
Destinos entrelaçados;
Amor, escrito por alguém num tempo passado.
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