sábado, 21 de novembro de 2020

Vidro Embaçado

Ligou a água morna da banheira,

E deixou que o vapor da água

Cobrisse com seu manto os vidros

Do seu redor, fazia frio naquele cômodo vazio,


Pegou um livro que narrava um romance policial,

E saboreou a leitura enquanto a água

Tentava inutilmente aquecê-la,

Folheou suas páginas muito bem escritas,


Desejou escrever algo, expor o que sentia,

Mas admirou tanto o autor

Que acreditou que sua escrita seria precária,

Não conseguia juntar palavras suficientes


Para definir tudo o que sentia em cada linha,

Fechou a página com todo o cuidado,

Deitou-se, permitindo-se fechar os olhos

E relaxar por um momento ao menos,


Um rosto se formou em sua mente,

Desenhando um menino com o rosto rubro,

Ela sabia que naquele momento ele choraria,

Abraçou-o com toda a força do seu pensamento,


De forma tão intensa que jurou senti-lo,

Viver aquilo foi fascinante,

Como um sonho que se inventa a noite,

Apenas para ganhar vida no outro dia,


Ela enxugou a lágrima dele com as costas da mão,

Repousando a mão em seu próprio coração,

Sentiu seu cheiro, pousou-a em seus lábios

E provou o seu gosto, era quente e salíneo,


Do tipo que dilacera a pele enquanto a toca,

Sorte teve ela ao protege-lo de si mesmo,

Pensou ela com os lábios trêmulos,

Respiração sôfrega, pernas bambas,


Mas a imagem dele não saia da sua cabeça,

Levantou-se, foi até um dos vidros embaçados,

Viu-se refletida nele, sentiu-se estranhamente bonita,

Aproximou-se mais ainda,


E pode vê-lo ali refletido,

Como se tivesse sido extraído daquele sonho,

Como se estivesse vivendo dentro dela,

Acreditou que fosse uma ilusão,


Contudo se aproximou perto o bastante para beijá-lo,

Ergueu-se, na ponta dos pés, mesmo sentindo-se trêmula,

Levantou os braços para cima,

Como se o prendesse em suas mãos,


E beijou, lentamente os seus lábios,

Absorvendo o seu frescor, sua umidade

Que não conseguia definir com precisão,

Afastou-se apenas o suficiente para olha-lo,


Queria sentir o calor dos seus olhos,

Sentiu-se presa, não conseguia mexer-se,

Tentou falar, mas as palavras falharam,

Ela queria mesmo estar ali,


Algo como um feixe de luz brilhou sobre ela,

Sentiu-se iluminar, não se afastou,

Estranhamente, ela conhecia o brilho do seu olhar,

Comparou o tamanho das suas mãos,


Percebeu que ele era muito maior e mais forte que ela,

Entreabriu levemente as pernas,

Queria ser abraçada por inteira,

Sabia, de alguma forma, que ele caberia ali nela,


Conhecia ele, mesmo sem saber como,

Por um segundo, chegou a ouvir sua voz,

Desejou tira-lo ali de dentro,

Então, encontrou seus olhos iluminados,


- Eu o amo, disse em um suspiro,

- Fique para sempre comigo,

- Eu preciso de você sempre por perto,

Não teve medo de repetir palavras,


Afinal mesmo que usasse todas não saberia como se expressar,

Queria-o por toda a sua vida,

De forma inesperada, um coração se formou

No local onde haviam se encostado,


Através daquele beijo que se deram através do espelho,

Sentia que se reconhecia nele,

Então, empurrou com toda a sua força,

Desejou quebrar, estilhaçar aquele vidro,


Até que nada a impedisse de ser dele,

De toca-lo, senti-lo, tê-lo ao seu lado,

Porém, não obteve sorte, nem uma rachadura se fez,

Abaixou a cabeça, olhos chorosos,


Mas, entre as batidas do seu peito

Ouviu uma voz rouca que dizia,

Que ele era forte o suficiente para romper aquela barreira,

E busca-la onde quer que ela estivesse,


Sentou-se, ali mesmo, e não teve medo de esperar,

Eles se amavam sentia isso.

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