Lá parte o dia escuro e arredio,
Logo ali chega a lua entre estrelas e uma melancolia,
Eu estou na área, sentada no chão
Com os pés para fora esperando a chuva,
Meu rosto é acariciado pelo vento,
O nariz agraciado com um cheiro bom,
Por trás daquelas nuvens se exalta o céu,
Entre o indeciso e o exasperado pela falta da lua,
De quando em quando ela ressurge com uma estrela ao lado,
Não sei se quer trazer esperança ou brincar com as sombras,
A árvore a minha frente treme, eu de vestido tremo com
ela,
Mas ainda não tenho como pensar nele sem o risco de
lágrimas,
Por mais que raios e trovões ganhem o horizonte,
Mesmo que o sol fuja estremecido por densas nuvens,
Porém, me esforço para enganar o que sinto,
Juro acreditar no meio sorriso que esboço em meu rosto,
Desenho até uma coloração nos lábios e reflito o olhar baixo,
Procuro não olhar fixo para não demonstrar nada,
Nada abala a minha serenidade,
Mesmo a árvore que rompe-se para ganhar o chão,
Por que tenho que ser um reflexo do que sou por dentro?
Preciso ser mais que um espelho que entrega o conteúdo,
Soar como uma espécie de lago que apenas reflete a
superfície,
Esconder no fundo de mim tudo que sinto e, talvez, penso;
Algumas árvores se sacodem ao vento,
Ressoam uma espécie de música gutural e agitada,
Ao longe algumas gotas de chuva açoitam-nas mais ainda,
Não sei se o tempo sofre e eu sofro junto,
Ou tudo não passa de invenção minha,
Meu vestido faz desenhos no ar, parece que brinca,
Me vejo nua em aparência e sentimentos,
Desnuda do seu abraço, sou a mesma folha solta ao vento;
Um esquilo percorre um tronco de árvore depois pula alto,
Eu não, eu fico onde estou a contemplar o meu redor,
Procuro não sentir muito, estagnada em minha dor,
A saudade quando aperta forte tenta desatar laços,
Se esforça e não consegue romper nosso amor,
Aqui em meu peito ainda há o seu lugar, seu cheiro
E algo além desta saudade;
No momento procuro não pensar muito nisso,
Nem traduzir esta saudade para evitar o choro presunçoso,
Aquele que sempre achava que iria te comover,
Que acreditava no poder de trazê-lo a qualquer custo,
Acomodo a cabeça no alicerce da área, ilesa e ferida por
dentro,
Eu te amo, digo em voz alta, sem esperança de que ouça,
Testo meus reflexos, procuro ver como me sinto,
O amo do mesmo jeito que não tivesse ido,
O esquilo me olha de um jeito inocente eu desvio,
Não quero a intimidade de contar o quanto o amo,
Ouço, um tanto ao longe, o latido de um cachorro,
Parece assustado com algo, não desejo saber o motivo,
Logo poderia admitir que também me sinto assustada,
Ele havia partido a horas e dias e eu o amava da mesma forma,
A casa parece ranger diante do que vem,
Eu ainda não me movo, o céu parece perder a lua,
Algo desaba lá de cima e não são estrelas,
Mas, mesmo de onde estou posso ver que é a chuva,
Meu vestido se enlaça em minhas pernas,
Parecem carícias para esta que sofre de amor,
Ao meu lado, a solidão do escuro tudo envolve,
Mas a potência raivosa da tempestade duradoura se
enfraquece,
Logo que o meu gato vem procurar abrigo em meu colo,
O Zé Raio, nome que escolhemos juntos,
Fruto de um amor que foi vivido a dois,
A chuva chega até onde estou e me permito chorar nosso amor.