Há manchas estranhas em todo passado,
Bem sabe-se que tudo que é lembrado,
Nem sempre equivale ao que um dia houve,
Mas, quanto ao que sinto, temo –permanece,
Se ainda o amo como naquele instante?
Eu não gostaria de afirmar mas me é equivalente,
Assemelha-se a duas gotas de chuva
Em um terreno arenoso e sem muitas pedras,
Cede e dor se misturam ao pó da terra,
É como se nada tivesse existido,
Mas, não se pode negar tudo que houve,
Visível aos olhos, sensível ao tato e esquivo,
Ao final, poderia ter dito que uma gota seria suficiente,
E talvez o fosse, naquela época, não agora,
Neste instante tenho tantos planos,
E o que houve a tempos atrás já não me vale,
Faço pouco caso de tudo que a lembrança traz,
Embora, não a veja, temo que ri do que digo,
Acima do meu esforço em negar a verdade, está ela,
E nela, cada vez que me toca, não precisa de verbetes,
Nada é tão tolo quanto o lembrar sem poder fazer nada,
A verdadeira glória está em estar perto,
Sentir cada momento e o viver em cada segundo,
Mas tenta o tempo provar alguma coisa e não consegue,
Depois que se vive o amor torna-se difícil esquecer,
Um dia me contentei com o êxito de tê-lo,
Que mediocridade!
Deveria ter lutado para conquistar seu sentimento,
Trai a mim mesma, que deslealdade!
Tomo nas mão a conquista, que miséria,
Se quiser o ter, preciso buscar nas lembranças,
Que pena, lembranças e esquecimento por toda parte,
Tudo obedece ao decurso do tempo: até o coração,
As coisas me voltam em mente mas não como antes,
Sinto que me fogem os beijos e até a razão,
Dizia ele ao meu ouvido: - por tanto, desprezo o tempo!
Respondi eu com o seu sorriso: - se, assim, você estiver
comigo!
Mas, ele partiu e o tempo ficou comigo,
Dele só resta o que foi vivido,
Decaí do todo a parte,
Percorri o destino mas desisti do presente,
Queria, ao menos um pouco poder admirar,
Vislumbrar outra coisa, sonhar outros sonhos,
Mas, onde quer que olhe, só vejo: você não está,
Que este amor me possa fazer um favor,
Esqueça ou traga de volta!
Se o coração assim o quer, que assim seja.
Os beijos de pouco amor não passam de um sopro,
Mas, este do passado já ressoa em mentira,
Colocados na balança a ambos,
Não sei de mim o que sobra!
Se as lembranças aumentam reclama a alma,
Uma vez ele falou, duas vezes eu ouvi,
O que ele disse e a promessa que eu fiz,
Em meu coração ainda paira a fidelidade,
Mesmo que no dele não caiba mais que esquecimento.