sábado, 1 de fevereiro de 2025

Céus Mais Escuros

-Paw.
A janela de madeira
Bate com força exorbitante
Contra a casa
Também de madeira,
Ambas sem pintura,
Nem sujeira.

A garota acorda assustada
No sofá da sala,
Levanta aumenta o volume
Da televisão,
Outro estrondo assusta,
Desta vez,
Todas as janelas da frente da casa
Batem sem parar,
Ela pára de trocar o canal
Da televisão,
É lá fora,
Tem certeza disto.

Um vento sem presságios
Avança sobre ela,
E quase a impede de chegar a janela,
Outro barulho avassalador,
Telhas caem do teto,
Estilhaçam-se na terra
O pó levanta-se e se agita no alto.

Um escuro atormentador
Não permite ver distante,
Usando toda sua força,
A garota puxa a janela
E tramela de uma a uma.

Lá fora,
Seu pai corre com o machado
Benzer a tormenta,
Para separar os céus,
Para que as nuvens tornem-se
Menos densas:
- Santa Clara se levanta
Pra benzer está tormenta
Com cálice e água benta.

Ele diz fazendo movimentos 
Contra o céu escuro,
Em três sinais da cruz.

De pronto os céus se abrem,
O escuro profundo dá lugar ao cinza,
O machado de cabo de madeira
Racha o tronco de madeira,
Enquanto o pai faz o sinal da cruz
No próprio peito.

A chuva rompe as nuvens e cai sobre a terra,
Cessa os ventos,
Cessam os raios.

A menina pega o cobertor
E continua no sofá,
Mantém a televisão ligada,
Ela está segura.

Dias Tempestuosos

O obscuro a aproximar-se no horizonte,
Traz única certeza,
Fechar portas e janelas,
Puxar travas e o que for necessário,
Uma tempestade surge.

Vem com ventos
Que cantam sobre as árvores,
Quebram seus troncos,
Arrancam até raízes,
Deixam única certeza,
Estás tão densas e fortes
Serão encontradas
Logo depois disto,

Contudo,
Muitas outras mais frágeis,
Seus galhos e folhas,
Não serão mais vistos
E se encontrados
Não poderão ser reconhecidos.

A ameaça chega através dos ares,
Cheira umidade e medo,
Beija as folhas com doçura,
Rompe seus galhos
Sem dizer mais nada.

Um beijo
E um desligamento.
As folhas voam pelo ar
Numa intenção de transmitir confiança,
A árvore que chega logo atrás
Não entende desta forma,
Nem se demora.

Sua chuva enternece ao toque,
Seu cubo de gelo
Não esfria antes de achegar-se,
Apenas se joga sem limites
Atinge o alvo
E faz seu estrago.

As pessoas correm com as mãos
Sobre suas cabeças,
Todas querem se proteger,
O sol fica distante,
A escuridão não auxilia em nada,

E os estrondos
Só não são mais perversos
Que seus raios
Que atiram-se lá do alto
E cortam ao meio.
Marcha o temporal violento
Feito uma multidão de demônios,

Todos crêem que seus monstros
Estão a solta,
Quando o dia se torna noite,
Não é apenas um assassino cruel
Que se refugia em seus escombros
Pra atacar sem deixar pistas.

Voam com o vento os telhados,
Perdem-se nas enchentes carros,
Nestes dias tempestuosos
Nenhum ser humano está a salvo.

Adormecer

Assim como um pai
Nunca sossega a cabeça
No travesseiro
Sem antes dar
Uma última olhada no filho,
Puxar o cobertor,
Verificar vestígios de febre,
E sintomas de gripe nele.

O sol
Neste dia se foi tranquilo.

Durante o dia,
Ele manteve-se inerte,
Evitou ressecar as folhas
Da Camélia do Dona Antônia,
Desistiu de secar as últimas flores
Do ipê roxo florido
Da Dona Agenir.

Permaneceu o dia todo
Escondido por entre nuvens esparsas
De um céu cinza amarelado.

E quando encerrava seu destino,
Ficou parcialmente encoberto
Por entre uma densa camada
De nuvens cinza claro,
De lá ele espiava por entre frestas,

Feito um pai
Que se preocupa com o filho,
E saiu e voltou diversas vezes
Desta camada de céu nublado,
Como se estivesse
Se escondendo sobre os cobertores
Deste filho,
E de lá de cima cuidasse seu belo rosto.

Em seguida,
Numa espiadela
Ele dá sua última olhada,
Rapidamente apaga a luz,
O céu vai do cinza claro
Para tons escuros,
E some lá em cima.

Ali embaixo,
O filho dorme aquecido
E seguro.
No quarto ao lado
Descansa o pai adormecido.

sexta-feira, 31 de janeiro de 2025

Na Casa Onde Nasci

Ao sul o sol se põe,
Por entre as árvores
Como se estivesse
A tocar a primavera rosa
Que subiu a bergamoteira,
E desceu sobre sua copa.

De dentro da casa de madeira,
Ainda com as janelas abertas,
Ouve-se o estalo da lenha
A ser cortada lá fora,
Os gravetos são trazidos para dentro
E começa-se a acender o fogo
No fogão a lenha marrom.

O lampião é puxado da prateleira,
Trazido para perto para acender
A chama e manter a casa iluminada,
As janelas são fechadas
E a tramela é habilmente puxada.

O pai entra para dentro de casa,
Deixando os chinelos no início da escada,
Solta a lenha na caixa de madeira
Para lenhas,
Puxa uma ou duas toras
E coloca no fogo
Mexendo suas brasas
E soprando para atiça-las.

A mãe chega com o leite morno,
O balde cheio retirado da vaquinha,
Coa ele e o coloca sobre o fogão
Em panelas distintas,
Um para o uso de alimento imediato,
O outro para o queijo de toda manhã,
Unido a segunda vez que é tirado o leite.

O sol se põe,
As galinhas ganham milho,
Sobem na bergamoteira,
E estão prontas para dormir,
O cachorro deita ao lado da escada.

A cadeira de madeira é puxada
Para frente do fogo,
A família se reúne
Sentados nas cadeiras
E na caixa de lenha,
Este que senta-se ali
Se encarrega de manter o brasido
Do fogo aceso.

O pai põe farinha de milho
Numa panela,
Coloca um pouco de água
E a coloca para torrar no fogo
Para ser consumida com leite,
O pão é cortado sobre a toalha,
Que é colocada num lado
Do fogão,
Junta-se a manteiga e a nata,
Faz-se café,
Acende-se o lampião.

A porta é tramelada,
Os ovos estalam na frigideira,
O café é feito no bule,
A farinha fica pronta
E mistura-se ao leite.

O trabalho do dia é comentado,
O trabalho do amanhã é planejado,
As estrelas ficam nítidas,
E o lampião trepida sua chama.
Uma telha demonstra estar trincada,
Há goteira na casa.

A lua se fez cheia,
Uma sacola de plástico é pega,
Dobrada e colocada na telha,
Organiza-se até estar concertado.

A lua é percebida por entre as frestas,
O ar fresco invade os cômodos,
Respirar é simples e caloroso.

Pisa-se no assoalho,
A madeira range,
Não há forração no teto,
Apenas as telhas e a lua.
Na casa onde nasci é assim
E aí?

quinta-feira, 30 de janeiro de 2025

Águas Deste Rio

Sento-me no gramado,
Colho uma flor dele,
E junto de uma a uma
As suas sementes.
São muitas para algo
Tão singelo.

Vejo-as soltas em minha mão,
Depois as jogo na água do rio,
De uma a uma,
Então, contemplou o rio
De águas verdes escurecidas
Que parece nem seguir um rumo.

Penso se suas águas estão paradas,
Contudo, vejo uma madeira seca
Sobre elas,
E nele borboletas sentadas
De asas abertas,
E percebo que não,
Suas águas correm.

Seguem para longe,
Muito distante,
Desatam-se num mar
De águas salgadas
De não sei onde,
Vão -se.

Lindas águas
Onde tudo que cai,
Afunda-se
Até perder-se no escuro,
Imagino se o dia
Como a noite
Entregam-se a estás águas
E me são, na vivência,
Da mesma forma.

De aparência calma,
Onde nada parece acontecer,
E muito acontece,
No entanto,
Segue para longe
Fora do alcance,
Para não sei onde.

Ou o contrário,
Se ao ficar perto
Ainda assim,
Perdem-se,
E caem num obscuro
Onde afundam e afundam,
Até meus olhos
Não poderem ver,
Onde eu não possa alcançar,
E não tenha nisto
Nenhum controle.

As sementes parecem afundar,
Mas preferem a superfície,
Rodam e rodam sem parar,
Mas preferem a margem,
Param e contemplam algo,
Quando me disperso,
Foram-se elas para além do olhar.

Imagino se irão
Se aderir as margens,
Constituírem novas flores,
Brotar em novo gramado,
Ou se o sol será tão forte,
Que mesmo abrigada a água
Elas sequem e sucumbam
Sem afundar,
Assim, nada serão.

Tudo isto está fora do meu saber,
Porquê o rio que corre fraco,
Ele anda, anda sem parar,
Me deixa a imaginar,
Se nestas suas águas,
Como em minha vida,
Noite e dia são mesma coisa,
Caem no obscuro desconhecido,
Ou se não caem,
Esvaem-se para onde
Eu não possa saber.

Repouso meu dedo na água,
Penso se algum dia
Eu serei feito estas sementes,
Ou se diferente disto,
Eu inteira seja,
Nestas águas,
Matéria distinta de milhares
De sementes.

Ainda assim,
Não saberia até onde seria capaz de ir,
Se para longe,
Muito longe
Ou se para não tão distante assim.

quarta-feira, 29 de janeiro de 2025

Fim Comum

Certa mulher
Vivia pelo esposo,
Fazia suas vontades,
Satisfazia seus desejos.

A comida era temperada
Conforme ele gostava,
E ele não gostava de temperos
Ou mesmo chá novos.

Ocorre,
Que um dia ela ficou adoentada,
Sistema imunológico frágil,
Não sabia que doença tinha,
Buscou tratamento,
Tentou encontrar remédio,
Sempre por antigos caminhos.

Não tardou,
Ela morreu,
Encontraram nela muitos vermes,
Ela comeu, algum dia,
Algo contaminado,
E nunca foi descoberto
Ou medicado.

Morreu por ser cega
Em um caminho de seguir os outros,
Não pensar que mudar um tempero,
Conhecer um gosto novo
Leva a uma distinção
E a um conhecimento,
Com isto,
Ela poderia ter reconhecido a doença
E encontrado a cura a tempo.

O homem conhecedor disto,
Se medicou,
Foi desverminado
E está vivo,
Leva flores ao cemitério,
Lembra dela sempre emocionado.

Foi questão de higiene,
Talvez,
Pensamento de mulher fraca,
Seguir e obedecer.

Morreu,
Teve fim comum.
Porém, morreu jovem.
Fim quase incomum.

- Pois é,
As vezes,
Tem a ver o perfume 
Com o chorume.

Namorados Desde a Infância

Olha que legal seu pocinho,
Disse a menina
Chegando atrás do garoto
Que estava sentado na beira do rio,
Fazendo buracos
Para puxar água e por peixes dentro.

Ela o abraçou por trás,
Deu um beijo no seu rosto,
Ele sorriu sem dois dentes
No lado direito,
Ela ergueu-se,
Foi até a linha de pesca
Puxou dois peixes
Naqueles tipos de anzol
Que são quatro iscas,
Por estarem um colado
Ao lado do outro.

Colocou no chão do poço,
Os peixes pulavam
E o garoto se jogou para trás,
Rindo com a mão na barriga,
Ela correu pegou água
Com suas duas mãos
E colocou no buraco,
Os peixes nadaram,
Ela se jogou sobre ele,
Com o corpo ao lado e
Um pouco em cima dele,
E riram,
Riram muito.

Nisto são acometidos
Por um barulho,
Que veio do porto,
Água caiu sobre seus corpos,
Eles se levantaram de pronto,
Depois riram de novo,
Eram mais dois amigos
Que chegavam através do rio,
De caico a remos.

Eles traziam arroz, faça, sal e panela,
Desceram de lá,
A moça puxando a corda
Para amarrar na árvore,
E o rapaz com as coisas,
- e aí, fazendo açude?
Que legal.

Nós desarmando a rede de pesca
Que havíamos armado ontem,
E estava cheia de peixinhos,
Então, ele sentou-se na tábua
Do caico,
E conforme foi tirando os peixes,
Foi também limpando ali mesmo,
Os restos eles jogavam na água,
Felizes ao ver os peixes pular,
E se alimentar deles.

- Bom dia.
Uau, que legal que pegou tantos!
A barriga dele roncou de fome,
Era cedo da manhã,
O sol quase sobre a cabeça deles
Denunciava as nove horas.
- bom dia, garoto.
Foi a melhor ideia que tivemos.

Então, o garoto foi até ele
E o abraçou feliz.
A outra menina foi até a amiga
E sentou-se na corda amarrada.
- que legal.
Temos um balanço,
Senta aqui!

Ela falou sorrindo
Enquanto puxava sua amiga
Para o seu lado.
Ambas deram as mãos
E ficaram embalando-se na corda,
Enfiando os pés na terra
E retirando-os.

O chinelo da amiga que a puxou
Arrebentou.
- ai. Olha só,
Foi-se outro chinelo.
Ela disse,
Levantando o pé para o alto,
E chacoalhando o chinelo.

- claro que não.
Eu concerto.
A amiga falou,
Puxou a perna dela
E o arrumou.
Os garotos separaram
Os peixes grandes dos pequenos,
Guardaram os limpos,
E deixaram os sujos no balde
De lata cheio de água.

Depois juntaram pedras
E fizeram uma borda do pocinho
Com pedras, areia e terra.
Depois deixaram os peixes ali.
Depois juntaram lenha e gravetos,
E fizeram fogo.

Cozinharam o arroz,
Assaram os peixes.
Conforme a água do pocinho
Se esvai,
Eles enchiam com as mãos.
Já era meio dia,
Quanto todos foram até a borda do caico
Juntaram as mãos
E mergulharam.

O tempo passou.
Anos depois disso.
Adolescentes eles retornaram ali.
Desta vez,
Haviam amoras e tâmaras.
Então, uma garota virou para o garoto.
A menina companheira dele
Desde a infância,
E colocou uma tâmara na sua boca,
Ele riu veio até ela
E o beijou.

Desta vez, veio a noite
E eles não foram para casa
Dormiram juntos, os quatro.
Um casal ali na areia
O outro no tronco da amoreira,
Do outro lado.

Veio as estrelas,
Chegou a lua e as estrelas foram.
Veio o sol e os acordou juntos.
(Fim da história, você fecha a página
E o livro de capa branca
E apagado possui um nome,
Está na próxima folha,
Ao fechar todas elas – Namorados Desde a Infância).

A Hora

Anunciaram os djins, - aproxima-se a Hora. O povo daquelas areias Sobre o mar azul e limpo Estremeceu. Aguardaram uns de Al...