sábado, 7 de junho de 2025

Filho Adotivo

Nunca desejou se envolver,
Sonhou encontrar um alguém,
Abrir o coração para amar,
Mas de tão grande,
Ninguém coube dentro,
Todos ficavam aquém.
Até que certo dia,
Encontrou um órfão,
Um pequeno menino
Sem pai nem mãe,
Ambos morreram num acidente,
Seus avós também haviam partido,
Restou um tio-avo,
Que ocupado demais em sua função,
O designou para pai – tutor.
Ele amou está criança,
Passou noites em claro,
Lhe transferiu todo o saber
Que possuiu,
Boa educação,
Um amor incondicional.
Da sua infância a mocidade
Amou cada atitude,
Ajudou em cada passo,
Lhe soou seus abraços,
Soube ser deste
Que tratou por filho,
Como nunca pôde
Ser de uma mulher.
Abdicou de esposa,
Desistiu de comprometer-se
Com qualquer que fosse,
Se antes eram insuficientes
Para o quanto era capaz de amar,
Menos agora se bastariam
Para amar a criança
O quanto ela merecia.
Os anos levaram o negro
De seus cabelos,
Substituíram pela calvície,
Levaram seu vigor de juventude,
Mas, foi incapaz de fazê-lo
Desistir de tão íntegro amor.
Ninguém seria capaz
De alegar que não lhe nasceu
De seu próprio sangue,
Jamais diriam que fosse pouco amado,
Ou mal cuidado,
Nunca,
Cresceu o menino mais amado,
Cuidado com zelo,
O perfeito garotinho.
Uma vez alcançada a mocidade,
Não tardou querer sua liberdade,
Em adulto,
Optou pela profissão do tio-avo,
Um ofício que exigia ausência
De casa,
Fechou sua porta,
Deixou o velho para fora,
Foi como pai,
Porém, não era pai.
Mas o coração do velho
Nunca falhou um dia
Sem que o motivo fosse
A falta do garoto,
Amou-o por filho,
De longe acompanhou
Seu trabalho,
Torceu por suas vitórias
Como um pai teria feito,
Rezou por ele
Como apenas um pai rezaria,
Porém, pai não era.
Aguarda em casa
Que a saudade possa lembrar
A criança que está dentro
Do homem adulto
E o faça retornar e dar ao velho
Um último abraço.

O Primeiro dos Medeiros

Revolução é sinônimo
De conquistar espaço,
Expandir horizontes,
Em meados de 600 em Paris
Não foi diferente.
Declarada a guerra,
O comércio saiu de suas casas
E foi para a rua,
Armou -se mesas nas calçadas
E fez-se ali seu trabalho.
O que pode ser comercializado
Em carrinhos ambulantes foi,
A vida morreu entre quatro paredes,
Tudo ocorreu a olhos vistos,
Inclusive o comércio do corpo
Em praça pública.
Os bens eram doados aos soldados,
Andava-se descalço,
O dinheiro se desvalorizou,
O valor se concentrou
Em ganhar a guerra
E no que viabilizasse a vitória.
O comércio foi substituído
Pela fabricação de armas,
A cada arma nova feita,
Um soldado posicionava-se
Com ela na vitrine
Para que o olhar da rua
A contemplasse
E todos paravam seus afazeres
Para aplaudir a nova arma.
No mais,
Tudo passou a ocorrer nas ruas,
Das ruas emergiu um homem,
Este incapaz de pagar pelos estudos,
E tendo a alfabetização por importante,
Tornou-se padre.
Morto seu último parente,
Adquiriu sua herança,
Em posse,
Desistiu da igreja.
Nestes tempos,
Até mesmo as igrejas
Foram demolidas,
Pouco ficou intacto,
O que permaneceu em pé
Dedicava-se a guerra.
Este homem era a consciência
Mais pura,
Todavia rodeada em sombras,
Feito o céu que contém luz,
Ele guardava em si
Uma serenidade obscura.
Cheio de virtudes,
Atrelado a verdades,
O sacerdócio produziu nele,
O que ele foi,
Fora do terreno sagrado
Não deixou de ser,
Padre.
Ele brilhava como homem,
Porém, vivia na noite,
Não abandonava uma ideia
Se a ela deu início,
Sem dar-lhe o fim.
Pensava com encarniçamento
Falava com todos,
Por isso, reconhecia as línguas.
A verdade lhe demoliu a fé,
 Não podendo deixar de ser padre,
Sentia-se mutilado.
Abandonou a família,
Adotou a pátria,
Trabalhará si próprio
Para ser considerado homem.
Recusando mulher
Adotou a humanidade.
Embora pleno,
Guardava um fundo vácuo,
Seus pais o retiraram do povo
Para guarda-lo sob os alicerces
Da igreja,
Derrubado estes muros,
Ele retornou ao povo.
Voltou para a rua,
Apaixonado,
Olhava a todos com paixão,
Se comparecia dos que sofriam,
Proibido de amar,
Foi fácil para ele odiar.
Odiava as mentiras e o presente,
Sozinho, acreditou poder
Prever o futuro,
Via-se como um vingador
Que odiava a miséria.
Se o sofrimento infunde horror,
No que se referia aos miseráveis,
Ele não se adaptava a isto,
Procurava as úlceras
Para beija-las,
Certa vez,
Um homem iria morrer
Com tumor na garganta,
Ele impediu que este se afogasse,
Ele aplicou a boca no tumor,
Fétido, e talvez, contagioso
E na proporção que a boca enchia
Ele esvaziou o abcesso,
Sugou-o,
Salvou o homem.
No entanto,
Não faria isto a alguém
Que não fosse pobre,
Era desta forma que ele era.
O ódio é fecundo em enganos,
Com uma palavra ele ganhava
Os pobres que sofriam
Ao seu lado,
Impedia crimes
E causava os que queria
Da mesma forma.
Em agosto,
Tremendo de frio
E maltrapilho,
Levou o povo a derrubar
As estátuas das ruas,
Odiou a cara dos reis,
Foi chamado de demolidor.
Fez das estátuas pedaços,
Nada fez contra a guilhotina
Que permaneceu erguida
Ao olhar de todos.
Desejava derrubar
Toda a estátua do rei,
Abrir um sepulcro onde estavam,
E derrubar lá a monarquia.
Odiava o rei que decretou lama
Ao povo.
Ele era destes homens
Que tem dentro de si uma voz
A qual é ouvida por todos.
Possuía a certeza de uma flecha,
De olhos vendados,
Se ficava no alvo
E rumava direto para ele,
Sem desvios.
Fatal e reta.
Nestes derrubamentos
De estátuas muitos morreram
Soterrados,
Certa vez,
Ele ofereceu o braço
Para Joci passar
E teria levado-a até o fim
Da linha
Andando sobre cadáveres,
Não fosse Aldo a chamar
Para um beijo.
Ela trocou a passagem
Sobre os cadáveres
Por um beijo de Aldo.
As ruas eram cobertas por pessoas
Que agrupadas
Levavam um cartaz consigo,
Este cartaz tinha uma frase
Que a longa distância
Definia qual partido na guerra pertenciam.
Ele era um homem honesto,
Valorizava a verdade,
Os crimes sentiam-se lisonjeados
Vendo-se presididos pela virtude,
Liderados por ele,
A corromper suas dignidade,
Deformar seu caráter.
A violência era o mais temível
Nas revoluções,
Ninguém o via chorar,
Era justo
E odiava a intriga,
Era reconhecido como
O homem negro.
Tinha as mãos grandes
E calejadas,
Olhos atentos,
Ouvidos apurados,
Um falar alto e brusco,
A boca triste,
E o semblante carregado
De indignação.
Ninguém o reconhece
Pelo nome,
Mesmo hoje.
A história tem desses descuidos.

sexta-feira, 6 de junho de 2025

Aço e Fogo

Um incêndio contemplado
Fazem de um ser humano
Uma estátua de pavor,
E ódio.
Quer-se lutar,
Tentar reverter,
Salvar o que restar,
Porém, as chamas consomem,
Devoram mais que a fome,
Espalham-se rápidas
Por casas, pessoas e árvores,
Não sabem apagar
Nem o que isentar:
Devoram com seus dentes
Ardentes de laranja sanguinário,
E fogo abrasador.
Invadiram aquela vila
Ainda a noite,
Metralharam a todos
Que encontraram,
Atearam fogo em tudo.
Alguns foram rápidos,
Vendo-se cair em terra seca,
Fugiram para o bosque
Levando como arma
O que pudessem encontrar,
Paus, facão, foice, facas,
Facão, munição, espada e metralhadoras.
Correram moro acima,
Fugiram tanto quanto
O fogo consumiu quem ficou.
Restou fumaça silenciosa,
Nem um choro,
Ou gemido,
Apenas fogo queimando
Feito se estivesse em palha seca.
Estalavam as casas,
E subia o fogo sobre elas,
O poço da vila virou sangue,
Suas águas ganharam a cor
Da dor,
Do luto,
Mortos todos.
Sobre o alto do moro,
Um homem fugia,
Desertou de seu bando,
Bradava sozinho sua arma,
Numa árvore havia um cartaz,
No cartaz sua foto
E uma frase:
Procura-se
E recompensa-se sua morte.
Desatinado e amedrontado
Viu a vila que apoiou
Pendurar o cartaz em chamas,
Foi tudo muito rápido,
Enquanto se encaminhava
Moro abaixo para ajudar
O quartel invadiu e destruiu.
Contudo, logo de imediato,
Emergiram pessoas
A chamar seu nome,
Ele se recusou a responder,
Não via de onde vinha a voz,
Não entendia de que distância
Estavam.
Então, num impasse
Mil armas lhe chegaram
E apontaram contra ele,
Ele estava de cabeça baixa:
- erga o rosto ou morra!
Gritou um homem.
De calça rasgada,
Camisa de lá branca e suja de terra.
Ele tinha uma arma,
Aproximou sua arma
Até encostar o cano
Contra a testa do homem,
E a empurrou para cima
Até encara-lo.
- Ivanor? O procurávamos!
Soubemos que sua embarcação
Afundou e você sobreviveu,
Então, precisamos de sua ajuda!
Disse o homem.
Depois, retirou a arma
Da testa de Ivo,
E desengatilhou.
- não atirem, é o Ivo,
Ele poderá nos ajudar!
Disse o homem
Olhando para os demais
Que portavam todo tipo
De coisas que poderiam
Ser usadas como armas
Desde facão até foices
E algumas poucas armas propriamente.
- eles nos atacaram
Enquanto dormíamos,
Mataram todos,
Queimaram o que sobrou,
Nós não fomos suficientes
Tivemos que fugir
Para nos salvar.
Somos em dez mil,
Pegue o cavalo e nos guie,
Queremos vingança,
Desejamos derrota-los,
Queimaram o povo,
Do velho ao novo,
Queimaram tudo.
O homem que falava
Se ajoelhou
E começou a chorar,
Ivo retirou um terço
Do bolso e rezou.
Todos rezaram em voz baixa.
Os que salvaram-se 
Em sua maioria,
Ao tomar conhecimento da guerra,
Cavaram poços profundos
Na terra,
E se abrigaram neles,
Fazendo uma cobertura
De madeira e palhas secas
Sobre o buraco,
Por isso, resistiram,
Todavia, muitos morreram queimados,
Embora esperassem a artilharia 
Eles não contavam 
Com o poder das chamas,
Da fumaça ardente 
E do calor sobre a terra.
Após a partida do quartel inimigo,
Horas após o incêndio,
O fogo ainda chamuscava os céus.

Guerra Aberta

O navio de guerra
Carregava cinquenta canhões,
Armados e prontos,
Mais um pelotão de fuzilamento,
Munição e bom treinamento.
A estratégia era válida,
Aproximar-se sem ser visto,
Atacar antes de ser esperado,
Abater antes de ser visto,
Todavia, Ronan abraçou Gean
E foram alegres comemorar
Próximo a beirada do navio.
Sentaram-se,
Sem medo de cair,
Neste enfoque ao comemorar
Que iriam vencer
E não haveria erro,
Renan bateu com força
No peito de Gean
Que caiu em alto mãe
E não resistiu,
Gritou de terror
Por ter avistado tubarões,
Estava um frio intenso,
Sem refletir
Ele sacou sua arma da cintura
E antes de cair na água gelada
Atirou contra Renan,
Fazendo voar sangue.
Com um espasmo de medo
E um grito de dor
Renan acompanhou Gean
Até a água gelada.
O major ouvindo a algazarra
Aproximou-se a tempo
De ver Renan ir para o fundo,
E contemplar o desespero de Gean
Na tentativa de nadar
Para acompanhar o navio,
Sem que ambos ficassem
Por tanto tempo na água,
O major atirou em ambos.
Duas balas certeiras,
Dois corpos rumo ao
Fundo do mar
Sem vida,
Um poço de sangue a congelar,
E sucumbir a vida
De ambos os soldados.
Um soldado capelão
Foi chamado para rezar
Pela salvação da alma de ambos.
- por causa destes dois
Nossa estratégia escorreu
Por estas águas e
Chegou até os navios inimigos.
Disse o major.
- puxe o terço,
Eco reze por todos,
Estes foram devido a algazarra,
Nós ficamos para enfrentar
O porvir e lutar.
O capelão pegou o terço,
E todos rezaram de mãos dadas.
Na metade da oração,
Três navios foram avistados.
O major foi chamado:
- veja major,
São três navios tripulados,
São trezentos canhões
Contra nós,
O que faremos?
Indagou o oficial inferior.
- tarde demais,
Fomos vistos,
Não há o que fazer.
O navio está exposto,
Não temos como nos esconder,
Eles são rápidos,
Vão iniciar os tiros
Em pouco tempo.
Os oficiais olharam-se,
Com seus peitos acelerados.
- treinamos para isto,
Vamos enfrentar e vencer.
Disse o tenente ofegante.
Olharam para o restante,
E os soldados mantinham
As mãos unidas em oração.
- eu pegarei o bote
E irei com um soldado
Para a terra seca,
Alguém precisa viver
Para contar o que houve,
Eu irei,
Vocês ficam e enfrentam
O que for preciso.
Declarou o major,
O tenente indagou
Quem iria dirigindo,
E o soldado Márcio
Se prontificou.
Já dentro da água,
No bote,
O soldado enquanto remava,
E o major que apenas contemplava
Puderam ver o início
Dos tiros de canhões,
Seu navio atacou primeiro,
Cinquenta balas de aço
Foram arremessadas,
Em contrapartida cem vieram
Contra eles,
Estilhaçando a embarcação,
Fazendo saltar chumaços de fogo,
E sangue por toda parte.
O navio insistiu em seus tiros,
De cinquenta a cinquenta lutou
Ferozmente e atacou sem piedade,
Não deu pausa para conversa,
Ou ouvidos para qualquer comentário.
Por pouco,
Os tiros não chegam até o bote,
Que logo colocou-se distante.
Quando o navio não passava
De um pequeno risco na linha
Da água,
O major o viu tornar-se
Um pequeno ponto
E ser tragado para o fundo.
Restou, destroços e sangue.
Pedaços de homens
Em alto mar,
E trezentos canhões a atirar
Fogo e aço sobre eles.
Quase em terra,
O soldado soltou o remo,
E sentou sobre ele,
Depois encarou o major
Nos olhos e disse:
- eu sou irmão do soldado
Que você atirou no mar.
O major assustou-se,
Recordou dos dois soldados
Caindo e sendo empurrados
Ainda mais para o fundo
Pelos seus tiros.
- que bom,
Nos salvamos.
Todos que ficaram afundaram.
Ele respondeu.
- mas, você atirou contra ele.
O soldado apontou a arma
Contra o rosto do major,
E engatilhou.
- eu dei a ele um funeral,
O capelão rezou por ele,
Ele nos tirou este direito,
Nos entregando para os inimigos.
Ele continuou.
Ficou em pé e encarou.
- você está certo.
Sobramos apenas nós.
- sim, ele pertence ao mar,
Como toda a tripulação
Que afundou.
- mas ele poderia ter morrido lutando...
- ele escolheu o erro,
Eu não pude perdoa-lo.
O soldado compreendeu a situação.
- está certo.
Eu o perdoo.
- obrigado.
Não se culpe.
O soldado pôs-se a remar,
Retirando o remo
Debaixo de si,
E ficando em pé.
Em terra,
Decidiram separar-se
E buscar aliados para a batalha.
Cada um seguiu direção oposta,
Optaram por seguir pela área
Do bosque,
E esconderem-se
Enquanto não se sentissem seguros.
Chegado ao alto do bosque
O major em entrou um cartaz
Com recompensa pela sua morte.
Aturdido e triste,
Encontrou um mendigo
Que lhe ofereceu ajuda.
- por quê você não me entregaria?
Indagou.
- porquê sempre que você passou
Você me ofereceu dinheiro
E com este calor eu comprei alimento,
Eu lembro de quem me dá comida,
Não preciso que lembrem-se
Da minha cara,
Eu sei retribuir,
Você me ajudou sem cobranças,
Eu lhe ajudo sem regalias.
De trato feito,
O major seguiu o mendigo
Até sua casa,
Admirando-se da escassez de recursos,
O mendigo chegou ao tronco
De uma antiga árvore,
Puxou alguns galhos,
E adentrou num buraco.
- me siga.
O major o seguiu.
Entre grandes raízes
Havia palha de milho,
Folhas secas galhos
Como móveis,
Nozes e outras frutas
Para alimento.
- eu só tenho
O que encontro,
Coma do que tiver,
É assim que vivo,
Dos restos disponíveis.
Ele comeu.
A noite chegou fria,
Na madrugada uma fumaça
Invadiu o lugar
Tornando impossível respirar,
Eles puxaram alguns galhos
E ficaram a espreitar de dentro
Do buraco para fora.
O vilarejo logo abaixo de si
Estava sendo consumido
Por fogo e tiros,
Os tiros destruíam tudo até viam,
Um barulho insuportável,
Pessoas gritavam,
As casas eram incendiadas
E chamavam a atenção de longe.
Pessoas eram pegas
Pelo quartel inimigo
E jogadas vivas e inteiras
Nas fogueiras para queimar,
Nada resistia
As suas presenças imponentes.
O major se escondeu
De volta,
Pela primeira vez
Puxou o terço
E desejou rezar
Quis pedir ajuda a Deus,
Pois só ele seria capaz
De conter tamanha desgraça,
O major estava desarmado,
E sozinho,
Não poderia lutar ou morreria.
Lá debaixo,
Num sopro de voz
Chegou aos seus ouvidos
Um chamado:
Seu nome,
Chamavam por ele,
Estavam procurando-o.
Ele saiu de dentro
Do buraco,
Já era quase dia,
Retornou a ler o cartaz,
Sim tinha sua foto,
Tinha seu nome
E o buscavam.
O mendigo bateu três vezes
Em seu braço
Num gesto de confiança
E partiu.
- eu vou por aqui,
Peguei direção oposta.
Ele disse,
Sem olhar para trás
Seguiu a mata.

Pinhão na Chapa

Fez-se junho,
Já antecede o frio,
Cedo da tarde,
Fechou as janelas,
Encosto a porta
E fogo na lenha,
Pinhão na chapa,
Vinho na guela.
O frio passa arredio
Lá fora,
Aqui dentro de casa
Sente-se apenas o calor
Do fogo a dançar
Sobre a brasa,
Com o crepitar das chamas
Que incendeia a palha.
Já deixo a modéstia,
Jogo a polenta
Do meio dia
Sobre a chapa,
Coloco um salame fatiado
Pra enganar o gosto,
E um bacon pra fazer cheiro,
Tá pronto o jantar,
Só pegar a polenta
E jogar a mistura por cima,
Afasta-se a fome.
Se eu desistir
De dar moleza
Pro inverno
Estendo o cobertor
Perto da chama,
Deixo aquecer
Até sentir cheiro de calor,
É junho,
Nem por isso é data
Para passar frio.
A neve é bonita lá fora,
Mais bonito
Para dentro de casa,
É o crepitar da chama,
Que dança sobre a lenha,
Faz músicas para afastar
O frio,
Muda de cor,
Fica intensa,
Vira brasa,
Incendeia.
No final,
De barriga cheia
Faço um café
Pra contar as horas,
Casa quentinha,
Ovo na frigideira,
Pão fatiado para montar
O sanduíche,
Pão, ovo frito,
Bacon e salame,
Se tiver salada misturo,
Caso contrário,
Prefiro minha dieta antifrio.
Na sala,
Eu deixo a televisão ligada,
Na cozinha
O fogo fica aceso,
Nada me atrapalha,
Nem vejo o frio que faz lá fora,
Cai geada próximo
De onde eu moro,
Mais longe cai a neve,
Aqui eu cuido pra não
Cair a brasa,
Muito menos o tição aceso.

O Último dos Mendes

Houve guerra contra o soberano,
O rei foi detido,
Seu suserano foragido,
Tentou buscar auxílio,
Não soube para onde ir,
Nem a que se apegar.
Disperso por entre o bosque,
Encontrou uma linda rocha,
Como se estivesse sentada,
Ereta rumo ao alto,
Uma espécie de cama elevada,
Sentiu um sopro de esperança,
Ao vê-la,
Foi até lá.
Logo além dela,
Situava-se o vilarejo vizinho,
Onde por sorte do destino,
Ou manobra de um Deus soberano
Poderia encontrar refúgio,
Até mesmo ajuda
Entre os integrantes do povo.
Subiu usando de toda
A força de suas pernas
Até a rocha,
A partir dela teria uma visão
Mais ampla do lugar,
Instante em que decidiria
Adentrar no lugar
E pedir ajuda por sua família,
Ou empreitar em fuga
Para lugar distante.
Ao achegar-se a pedra,
Já era fim de tarde,
O sol se punha,
Mas a pedra estava quente,
Ela lhe trouxe calor,
Seu corpo arrepiou-se
Devido ao sopro de vento
Que passou,
Lá distante se aglomeram nuvens
Numa densidade assustadora,
Iria levar dentro em pouco,
A estação do calor se perdia,
Ele não tinha roupas de frios,
Sem auxílio morreria
Nesta mesma noite.
A fome o fazia querer
Comer a terra,
E o que tivesse sobre ela,
Se jogou sobre a grama verde,
Levou a mão e arrancou
Um maço,
Olhou as nuvens de frio vindo
Para sua direção,
Estremeceu ainda mais.
Com o maço de grama,
Sentou-se levando-o a boca,
Aconchegou a coluna
Na pedra quente,
Sentiu um calor tocar-lhe
A espinha,
Cruzar por seus braços,
Rosto e pernas,
Se viu vivo
Outra vez.
Ainda comendo a grama,
Olhou para o lado da pedra
E encontrou um cartaz
Com um desenho de si próprio,
Onde estava escrito:
“Procura-se,
Paga-se recompensa por sua cabeça.”
Lágrimas lhe inundaram o olhar,
Sua única esperança
Estava a sua frente
Naqueles estranhos do vilarejo,
Precisava deles,
Agora mais que nunca
Desejou ter sido uma pessoa
Gentil e caridosa com os estranhos,
Todavia, não teve lembrança ruim
De atitude sua para se apegar
Como meio de martirizar-se,
Foi bondoso em tudo que pôde,
Humano em casa atitude,
Porém, agora tudo que fez
Durante uma vida
Lhe pareceu pouco.
Nisto, um maltrapilho o viu,
Se escondeu por detrás da pedra,
Num movimento de reflexo,
Se segurou nela
E lhe pôs a mão sobre o ombro:
“pego”.
O velho deu um pulo,
Não foi contido,
No entanto parou e virou-se:
- qual meu crime?
Ele perguntou.
-ser quem é.
O mendigo respondeu.
-eu nunca lhe fiz mal,
Não me puna
Pelo que nunca cometi.
O mendigo riu.
- não irei lhe fazer mal,
Imagine,
Eu sou um mendigo
Moro nas ruas,
Nada tenho
E nada preciso.
O velho o olhou,
Viu o homem mal vestido,
Realmente, um mendigo.
- acredito em você.
Ele respondeu,
Deu um passo a frente
E apertou o ombro do homem.
- então, venha comigo,
Se aproxima a noite.
Disse o mendigo.
E se colocou a frente do homem
Apontando a direção
Com a mão aberta.
O velho sem ter saída,
Decidiu confiar neste
Que o viu,
Estando descoberto
Sentiu-se como se estivesse preso.
A casa do mendigo
Se localizava embaixo
De uma enorme árvore,
Entre suas raízes,
Num buraco escavado na terra.
- venha, aqui é seguro.
Ninguém sabe deste lugar.
Ele recomendou
Retirando os galhos secos,
E folhagens que cobriam
A entrada para o buraco
Por entre raízes enormes
E grossas.
Para sentar-se havia
Uma espécie de palha seca
Que cobriam os desenhos
Feito pelas próprias raízes.
- aguarde, eu tenho chá quente,
Que planto e retiro da terra,
Isto ninguém quer,
E tenho perdiz assado
Que consigo através de caça.
Minha vida é humilde,
Tenho apenas o que encontro
Mas aqui a lei não entra
E a polícia não me acha.
O velho confiou no que
O mendigo dizia,
Abrigou-se sobre a raiz
E se sentiu seguro,
Lá havia uma fogueira,
Sobre sua cabeça
Havia mais raízes,
Um enorme tronco de árvore
E terra.
Enquanto o mendigo
Colocava o chá para aquecer,
Ele conseguiu estender
As pernas para se abrigar,
Neste momento,
O mendigo puxou uns espécie
De cipó que descia através
Da própria árvore,
No mesmo segundo
O velho se viu com o cipó
Enrolado no pescoço
E não teve como evitar ser puxado
Para fora da casa improvisada,
Através de um buraco
De planas e terras.
Ele voou para fora
Muito rápido,
Indo parar na copa da árvore,
Lá em cima
Próximo às nuvens frias,
Enforcado pelo cipó.
O mendigo saiu para fora,
Depois de servir-se
De sua chaleira de chá quente,
Olhou o velho pendurado
E sorriu com a xícara entre
Os dedos:
- agora só falta a recompensa.
Um vento frio soprou
Trazendo neve
Por entre sua brisa,
O corpo de velho balançou,
E o mendigo se encaminhou
Ao vilarejo.

quinta-feira, 5 de junho de 2025

Infância Articulada

A guerra nunca foi
Mais sangrenta,
As estratégias
Ganhavam ares de fracasso,
Precisava-se de braços fortes
Aptos ao combate,
Rosto bonitos
Estavam dispersos
Para capa de revistas,
Na luta exigia-se força bruta
E mira certeira.
Nisto, o capitão pega
Pelo braço seu melhor soldado,
O leva para fora do batalhão,
Descendo os degraus da escada,
Sem dizer nada.
Chega até a sala de entrada,
A passa,
Chega a porta,
A abre e o olha.
Então, retira do bolso
Um lenço branco
Com o desenho de um cravo
Vermelho e verde.
-ganhei do meu avô,
Neste chão,
Quando ele saiu
Para a sua primeira batalha,
Venceu e retornou,
Aqui ele recebeu sua medalha,
Aqui mesmo nasci
E tive meu choro e corpo
Limpo por este lenço...
O soldado ajoelhou-se
Emocionado,
Pegou o lenço com sua mão
Calejada por manejar armas
E munições,
E beijou-o,
Fechando os olhos,
Usando de seu sentimento.
- sei da história, capitão!
Ele respondeu.
Saiba, minha mãe,
Oficial de polícia,
Me ganhou nesta calçada,
No campo de batalha,
Eu nasci dentro desta farda,
Lutar é meu solo,
Brigar é minha vida!
Ele falou com fervor.
O soldado olhou
Para os olhos de seu chefe
De polícia
Com os olhos marejados
Pela emoção de estar tão perto
E conhecer de sentimento tão profundo,
Depois, virou o olhar para a vidraça
Da sala de trabalho do capitão,
De onde ele nunca saiu
A não ser para treinar o pelotão
No campo do batalhão,
Em meio aos prédios
De frente a sua sala.
- o senhor se esforça muito
Capitão, lá de sua sala.
Disse o soldado.
- certo que sim.
O capitão respondeu,
Olhando de frente o soldado,
Pegando em seu ombro.
- eu sou a polícia estratégica,
Eu defino como o seu trabalho
Será realizado,
Meus oficiais subalternos
Lhe dão o treinamento!
Ele respondeu seguro,
Com meio sorriso
Em sua boca grande.
- e eu dou o melhor de mim
Capitão.
O soldado respondeu
Erguendo a cabeça
Para o alto.
Com sentimento de orgulho
Estampado no rosto
E a mão sobre a arma,
Conforme ensinado
Para ele se apresentar em público.
- certo.
Agora me ouça,
Eu preciso que você corra
Estes matos,
E procure cada casa
E cada agricultor,
Lá de frente para este sujeito,
O convide para a guerra,
Lhe apresente meu lenço
Bordado, eles conhecem minha
História,
Eu nasci lutando,
Não fugirei jamais do campo...
Convide a todos para lutar,
Chame o primeiro que vir,
Convide o segundo,
Chamei a quem dm encontrar,
Avise que os tempos são de guerra.
Ele levou a segunda mão
Para o seu outro ombro,
O apertou com força
E puxou algumas vezes
Para frente e para trás.
- confio em você.
Os poucos lutadores
Que conseguir serão
O bastante,
Precisamos de número
E de força,
Haverá guerra nas ruas
E guerras nos arredores,
Não irei me isentar
De alinhar os agricultores
Embaixo da linha do alvo
De tiros,
Avise a todos pra pegar
A arma que souberem usar,
No menor tempo possível
Quero ter mais de mil agricultores
Alinhados nestas matas,
Serei visto como o estratégico
Das moitas,
Farei emboscadas por toda parte,
Vamos meter o inimigo
Em fogo cruzado.
O povo civil todo entrará
Em guerra,
Todos prestarão auxílio,
Chame-os.
Embrenhe-se por toda a parte,
E diga que o convite
Me pertence,
Mas a luta é deles,
A causa é de todos.
Fará isto, compreendes?
Indagou pegando no
Adesivo com seu nome
Preso ao uniforme amarelo
E cruzando o dedo sobre ele,
Depois descendo até
As medalhas do soldado
Recebidas pelo comprometimento
E bom desempenho.
- é certo que sim, capitão.
Chamarei a todos até
Que as solas dos meus sapatos
Desgrudam e descalço
Eu não possa seguir,
Você me verá,
Eu os tratei.
Ele respondeu,
Levando a mão até a farda
Do capitão
E apertando na parte
De seu ombro,
Onde ele limpa, organizada
E de perfeito acabamento,
Afundou-se até tocar seus ossos,
Quente e segura de sua importância.
- não esqueça o lenço.
Ele indicou.
O soldado guardou o lenço
No bolso,
Se embrenhou na mata
De logo a frente do batalhão
E andou até perder-se de vista,
Tendo cansado seus pés,
Virou para trás,
Não vendo mais o capitão
Soltou o lenço num ramo
De árvore próximo ao solo,
E perdeu-se de si próprio
Indo para muito distante.

Casada por Acaso

O término do namoro Levou Ana ao dezenove Pote de dez litros de sorvete, Já conhecia todos os sabores, Brincava com as cores...