- Me perdoe, senhora.
Sei que não sou digno de sua filha!
Ela recordava a tarde
Em que o rapaz amigo da família,
Foi considerado por ela
Incompatível com a filha
Para namora-la.
Foi uma atitude importante,
Embora,
Ele fosse de família rica,
Não trabalhava,
Não tinha horário para acordar,
Saía todas as noites,
Não sabia poupar gastos.
É certo,
Isto foi a anos passados,
Naquela época
Ela contava que ficaria viúva,
E o esposo partindo
Tão cedo,
Não soube guardar valores
Suficientes para uma vida sem ele.
Ele era contador de um banco,
Profissão masculina,
Cuja qual,
A filha não soube acompanhar,
Não poderia fazer nada a respeito.
A herança ficou a encargo
Do filho anterior ao casamento,
O suficiente para que vivam
De forma plena,
Por dois anos.
Insatisfatório.
Agora as duas,
Sozinhas em cidade nova,
Teriam que sair,
A filha ao teor de seus
20 anos,
Já era moça adulta,
Mas não seria relegada.
A mulher com tais pensamentos,
Rumou-se, aturdida,
Para fora de casa,
Ao pisar no 09 degrau da escada,
Bateu de frente com um homem.
- Olá.
O que é?
Algum problema?
Ela indagou,
Amedrontada.
Sem reconhecer a pessoa.
- boa tarde.
Eu sou o dono do imóvel.
Soube que você assinou o contrato.
Vim pessoalmente ver
Como você se sente.
Ela retornou um degrau,
Ficou pasma
Olhando seriamente para ele,
“Será que ele queria mais dinheiro?”
Foi incapaz de fazer mais que olhar.
Ele colou um sorriso feliz no rosto,
O tempo passou,
O sol ficou mais forte,
E ela ainda emudecida.
O tempo passou mais ainda.
O sol queimava a pele,
Prenúncio de tempestade.
Lá ao longe
Uma nuvem solitária e negra
Se aproximava,
Única e imponente.
A pele ardia,
Ela sentia que sua sandália
De plataforma e tiras
Que seguravam a panturrilha
Iria derreter,
Ou grudar naquele chão de mármore.
Pensou em levantar os pés,
Ou mexer-se,
Mas preferiu ficar ali estagnada.
- posso entrar,
Saber como você está?
Ele indagou
Levando uma mão para frente,
Em gesto de querer caminhar.
- é certo que não.
A casa foi alugada.
É da minha privacidade
Não convidar nenhum estranho
Para entrar neste ambiente.
Embora sua voz
Gaguejou,
Evidenciando seu medo,
Ele obedeceu.
- me perdoe.
Não quis ofender.
Me perdoe.
Eu sou o dono.
Mandei meu sobrinho,
Advogado,
Lhe trazer o contrato.
Houve um contratempo e
Não pude acompanha-lo.
Ele desceu os degraus.
- está certo.
Eu assinei e paguei.
Não pretendo atrasar
Ou acarretar transtornos.
É da minha privacidade
Não receber estranhos.
Eu manterei o padrão de qualidade da casa.
A voz dela
Não pareceu mais segura.
Era assustador demais
Receber a visita de um estranho
Em suas dependências,
Ela não era acostumada
A não ser dona,
Muito menos a ter de evitar
A visita da pessoa
A quem a casa pertencia.
A ideia era assustadora.
A casa foi alugada em perfeitas condições,
E seria assim mantida.
Era como se ele quisesse
Manter uma relação de domínio,
Contudo,
Parecesse um bom sujeito,
Dar as boas-vindas?
Não.
Isto beirava mais a territorialismo.
Não suspirou aliviada
Ao vê-lo distante,
Mas nem ficou tão insegura
Quanto antes.
Precisava deste distanciamento.
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