Olhos adiante
A perder-se em tanto verde,
Pés cruzados sobre areia marrom e azul,
A brisa do rio ganhava a mente,
Os peixes enchiam o olhar.
Nestas águas percorrem tanta solidão,
Vejo-a e sempre um pingo me molha a face,
Desejada ou não,
Existem ali tantos sonhos, beijos e imaginação.
Há porvir nestas águas.
Destinos desejados a toda prova.
Já não me atrevo a chegar perto da encosta,
Molhar minhas pernas,
Banhar-me nelas,
Mas vejo lá tudo que quis um dia.
O aspecto é de ruína e outra coisa.
Inunda-me sempre as outras coisas,
Contudo não deixo de sentir dor languida.
É perfeitamente cheirosa,
Cheia de vida e graça,
A encosta é grosso e a areia é sólida.
Há flores, pássaros e borboletas.
Me sinto de costas para suas profundezas.
Em mergulho obscuro onde não percorro muito.
Cada peixe a perfurar aquele telhado verde,
Pula e brinca no ar,
É como se não houvesse obstáculos,
Examinando sua superfície vê -se o cardume,
Logo a brisa ganha vida,
Percorre sua curva e parece beijar-me o rosto.
A primeira vista, isto espanta,
A forma como o vento brinca e faz pequenas ondas,
É um medo de afogar-se no raso,
Um tilintar de folhas amarelas e verdes,
É como se ele fizesse pequenas janelas neste rio,
Perfurando suas sólidas paredes.
Só quem mergulhou em suas águas conhece
A solidez de que falo.
Mergulho falho e a dor dilacera,
Marca, fere e faz sangrar,
Porém, perto e seguindo seu curso,
Tudo é tão fácil que sublima.
Estás janelas abrem-se e logo se fecham.
Os peixes gostam disso.
Os pelicanos mais ainda.
Eu contemplo.
Abertas elas mostram-se negras dia ou noite,
Lá embaixo nada se vê do lado de fora.
Há ali terno convite.
Onde roupas são descartadas.
Vê-se nada além de trevas interior,
Um verde que perde-se e mais chama que ganha.
Não vou.
Dir-se-ia que sua vista não é para o olhar,
Há na água algo que turva e arde,
Vistas pesadas e encharcadas,
Quem arrisca-se?
Há nelas o desejo de ímpeto e coragem.
Um mergulho num invisível profundo,
Há tanto abaixo da superfície quanto há sobre.
Lá no alto um azul profundo
Nele pássaros e borboletas se perdem.
Perdem-se também os homens.
Lá no alto azul, amarelo e outras coisas.
Madeiras, pedras, e derivas.
A terra sob minhas costas me contém.
Abrem-se brechas interior.
Tão menos assustadoras que estás janelas.
Um rio que abre-se pouco a pouco.
Um céu de azul sem limites.
Percorro a todos
E a nenhum.
Nenhum rosto arrisca-se de cima para baixo,
Não do alto lá no alto.
Mas o rio, este é de um imenso sem limites,
Ele põe seus olhos para fora,
Submerge e retorna.
As chuvas que caem dão lhes formas,
Brincam até tornarem-se sua parte.
Penso que demoram a retornar
E quando sobem não vão tão longe.
Há algo nestas águas verdes de importância.
Há nelas tantos mistérios,
Que ao horizonte já não deixa nenhuma.
As águas do rio andam sorrateiras,
Mas quem põe o ouvido de lado
Ouve atentamente os ventos que falam.
Suas margens são guardam nada de silêncio,
Já nos céus o azul e poucas coisas.
Os ventos de lá não sorriem tanto
Ou tem pouco a contar.
De noite o luar lúgubre penetra as janelas abertas,
Em verdade que a água torna-se vidraça,
A lua e suas desventuras solitárias
Penetra até o mais profundo.
Há nela algo de meigo
De que não se resiste.
Registra por toda superfície.
Estrelas, alguns cardumes e mais nada.
Convite reforçado ao mergulho.
Há tanto a se ver,
Que pouco resta acima ou tanto.
A lua.
A chave, a fechadura, a porta, a mão que abre.
Lua.
Todo o rio amorna ou finge,
Tudo é magnífico.
Eu fico.
Olho.
Me firmo em águas turvas e límpidas.
Consequência sinistra.
A razão comunica-se com a superstição,
Ambas concordam que a lua que entra
Não retorna sozinha.
Há sempre algo no amanhecer que impulsiona.
Há sempre um algo de novo,
Não comunicado, perceptível ou compreendido …
Uma janela aberta permite mais que um abrir…
Me contemplo nela.
Porém, fico por aqui.