sábado, 21 de junho de 2025

O Dia Em Que O Fogão Ganhou Asas

Certa vez,
Uma avózinha
Fazia fogo
No fogão a lenha.
Lá ela cozinhava sopa,
Com saudades
Dos seus netinhos.
Ela foi até a horta
Colheu legumes,
Colheu temperos verdinhos,
Lavou todos na pia.
Depois cortou tudo direitinho,
Escolheu uma panela grande,
Colocou água dentro
E jogou primeiro os temperos,
Depois cortou carne aos cubos,
E colocou também lá dentro.
Então, colocou legumes
Bem coitadinhos:
Pimentão, pimenta,
Batatinha, cenoura, beterraba.
Depois acrescentou grãos
De milho, de ervilha e de lentilha.
Acrescentou sal,
Depois da carne estar cozida
Ela pôs também feijão.
Mexeu, mexeu e mexeu
Até que tudo cozinhasse,
E sentiu saudades dos netinhos,
Mas, eles não vinham vê-la,
E a saudade só aumentava.
Era noite,
E fazia frio,
Mas ela abriu a janela
Para espera-los,
Olhou várias vezes
Pela janela
Para buscá-los,
Pediu a Allah
Que trouxesse as crianças.
A comida fazia fumaça,
Cheirava a melhor das comidas,
Mas ela estava sozinha
E não queria comer
Sem ter as crianças
Com ela.
Sentou-se no banquinho
De madeira ao lado do fogão,
Sempre mexendo a panela
Com uma colher de pau,
Uma lágrima correu por seu rosto
Quando lembrou da filha,
A quis perto,
Quis ver o genro,
Quis ver todos os netos.
Secou as lágrimas,
Lavou o rosto na pia,
E olhou pela janela
Que ficava logo ao lado,
Aonde estaria a sua filha,
E as crianças,
Já teriam se alimentado?
Lá de cima,
Allah lhes viu,
E as chamas crepitaram
Intensas e calorosas,
Ficou tão quente
Que ela foi obrigada a abrir
A porta do fogão a lenha,
E tudo no fogão abriu-se:
A porta,
O cinzeiro,
O forno...
Foi como se ele tivesse asas,
De repente começou a chacoalhar,
E sair do chão,
Levitava.
Num impulso
Ela pisou no cinzeiro
Que saiu pela metade
E a outra ficou dentro,
E nisto,
O fogão voou e a levou
Até a filha.
Foi lindo ver passar
Pelos céus gelados
E escuros do inverno
Um fogão levando uma avó,
E uma panela de sopa
Pelo escuro da noite,
Com poucas estrelas
E uma fogueira dentro
Que incendiava a distâncias.
Ao chegar na casa da filha,
O fogão desceu no jardim,
A mãe correu chamar
Ela, o genro e as crianças,
E todos correram com pratinhos
Em suas mãos
Para comer.
A avózinha
Encheu de sopa de feijão
Com carne o prato de cada um,
Todos sentaram no chão
Ao redor do fogo
Sendo aquecidos pelas chamas
Que nunca se apagavam
Comeram muito
E sobrou ainda.
A sopa estava deliciosa.
Depois a avó abraçou
Cada um e se despediu
Subiu no cinzeiro
E voltou pra casa
Com a panela quase vazia
E a barriga cheia.
Entrou de volta pela janela
Que foi por onde saiu,
Deixou o fogão onde estava
Antes e agora faz comida
Para a filha, o genro e as crianças
Todas as noites.
E voa pelos céus
Como se fosse um pássaro
De fogo flamejante.

sexta-feira, 20 de junho de 2025

Demissão Involuntária

Zuriane não costuma
Atrasar-se para o trabalho,
Porém, estava atrasada
A meia hora.
No instante em que
Noemi foi repor a salada,
Ela desdobrou-se para suprir
Sua ausência,
Uma colega de trabalho
Faz falta.
Não importa em quanto atrase
Sempre faz falta,
Mas neste caso,
Referia-se a uns amiga
Zuriane era especial,
Noemi iria abrir seu coração
A ela,
Entregar o que sentia.
Embora Zuriane fosse
Muito mais jovem,
Noemi queria enfrentar isto,
E entrar nesta relação
De mulher com mulher
E descartar seus vinte anos
De experiência,
Iria importar o amor,
Trabalharia este ponto.
Além de que
Zuriane se mostrou prestativa,
Próxima a Noemi,
Lhe confidenciou segredos,
Até entendeu seus medos,
Não parecia haver engano,
Tudo evidenciava comprometimento.
Passou uma hora,
A caixa de repolho caiu
No chão,
Sobre o pé de Noemi,
Seu grito de dor
A retirou de seus devaneios,
Estava tarde,
Muito tarde para Zuriane chegar,
O que teria acontecido?
Ela costumava vir
Direto da escola para o trabalho,
Voltava com o pai.
Um sujeito simpático,
Trabalhador e viúvo.
Pessoa muito nobre,
Esforçava-se ao máximo
Para nutrir as necessidades
De Zuriane,
Amava-a,
Era lindo de se ver.
Contudo, Noemi não seria simpática,
Não lhe daria compreensão,
Mais uma hora de demora
E seria demitida,
Não teria como ser
Tolerado atrasos,
Sem aviso prévio,
Nem de última hora.
Ora, isso preocupa,
Incomoda
E seu auxílio faz falta...
Todavia, passou o dia,
E Noemi amoleceu o coração,
Tudo já lhe vinha a compreensão,
Zuriane decidiu se ausentar,
Não poderia ser devido a doenças,
Pois teria avisado de antemão,
Porém, havia tempo
Para trazer atestado,
Apresentar explicação.
Noemi olhou o dia todo
Para a rua em sua busca,
Na parte da tarde,
Quis reconhecer uma foto
No jornal da tarde,
Mas não poderia ser real,
Deveria ser ilusão sua...
Não iria crer.
Uma moça foi morta
E dilacerada,
Depois abandonada na lixeira,
Estava com o rosto irreconhecível,
Mas, os cabelos cacheados e
Escuros...
Aquilo lhe feriu o coração,
O que seria natural
Pelo desfecho da história,
Imagine matar, dilacerar e jogar
Na lixeira do centro da cidade?
Logo, ela jogou fora o jornal,
A notícia lhe tirou o sossego,
Ao final da tarde,
Com o pé enfaixado,
Viu quando o pai de Zuriane
Estacionou próximo
A entrada da fruteira,
Ele aguardou Zuriane,
Noemi escondeu-se
Para pega-la em flagrante
Faltando ao trabalho,
Mas, ela não apareceu.
Dois meses depois,
Noemi enviava ao Recursos Humanos,
O pedido de demissão involuntária
De Zuriane,
Ela não retornou,
Daniel, seu pai
Nunca cansa-se de vir buscá-la,
E chorar em frente a loja,
Mas, a moça evaporou no ar.

quinta-feira, 19 de junho de 2025

Fogo na Casa ao Lado

Há cinquenta anos
Casaram-se
O casal que residia
Na esquina da Rua Loudenev,
Eram avós.
Nesta noite decidiram
Fazer pizza,
Dona Leila fez a massa,
Seu Eloas cortou os vegetais
Para o recheio
E depois ralou o queijo.
Pizza feita,
O fogo no fogão crepitava
Rumo as suas pernas,
Eles tiraram a pizza
Do forno
Puderam sobre a chapa
De ferro ardente,
E comeram sentados
Um ao lado do outro.
Encerrada a pizza,
O fogo pouco a pouco
Apagou-se até restar apenas
As cinzas esbranquiçadas,
Como ainda era cedo,
Decidiram reacende-lo.
Seu Eloas abriu a
Chapa de ferro,
Pôs dentro do fogão
Quatro paus de lenha,
Cobriu com galhos secos
E jogou papel.
Porém, o papel acendia-se
Depois apagava,
E fez extrema fumaça,
Cansados de esperar,
Decidiram jogar álcool
Na madeira,
Uma vez jogado todo
Um litro de álcool,
Eles acenderam papel
E jogaram sobre a lenha.
A lenha acendeu
E tornou a apagar,
Seu Eloas todo sujo
De carvão irritou-se
E desistiu.
Dona Leila tomou
O trabalho para si própria.
Rasgou muitos jornais,
Pegou uma sacola de plástico
De supermercado
E acendeu sobre a lenha,
Outra vez o fogo acendeu
Para apagar logo
Em seguida.
Cansados disso,
Foram dormir.
Tarde da noite,
Já madrugada o casal
Da casa ao lado
Acordou afogando-se
Em fumaça,
Sentiram um calor estranho
E medo.
Dona Rosenira abriu a janela
E de sua casa constatou fogo
Na casa vizinha.
Saia daquela casa muita fumaça,
Não seria possível
Que não estivesse incendiando.
-Gilvanio, acorde.
A casa de Eloas está incendiando!
Gilvanio com um pulo
Alcançou a janela
E viu a cena se abrir
Na sua frente feito um filme.
O fogo passou por sobre
O telhado,
Estava na parte da cozinha,
Via-se as chamas ganharem
Espaço e invadirem
Por toda a casa.
- socorro,
Irão morrer!
Vamos incendiar!
Ele gritou.
Pegou a mulher pelo braço
E segurou sua cintura
E a soltou no lado de fora
Da janela.
- corra para a rua,
Fiquei longe.
Então, ele correu porta
A fora,
Pegou as chaves do carro
Eco retirou deixando
No acostamento.
A fumaça saia das labaredas
E afogava.
- meu Deus,
Será que eles estão
Dentro de casa?
Gritou Rosenira apavorada
Segurando o braço do marido.
- querida, corra e chame ajuda!
Eu vou tentar fazer algo.
Ao seu aproximar
O carro do Seu Eloas explodiu na garagem,
Fazendo o portão voar
Para o alto estilhaçado,
As chamas saíram pelo espaço
E chegaram ao portão,
Quase queimando
O rosto de Gilvanio
Caso ele não se jogasse
Para trás.
- meu Deus,
O estrondo foi terrível.
Provavelmente eles estejam
Mortos.
Ele gritou chorando
E esfregando os olhos
Por causa da dor e queimação
Causadas pela fumaça.
Porém, ele não desistiu.
Vendo que o casal de velhinhos
Não estava em lugar algum,
Ele insistiu em ir vê-los.
Ao pegar no portão
Para entrar o ferro quente
Lhe queimou os dedos,
Ele gritou,
Mas nem mesmo assim desistiu.
- Seu Eloas.
A casa está pegando fogo!
Gritou.
Ninguém respondeu.
- Seu Eloas tem fogo
Por toda a sua casa.
Ninguém respondeu.
Havia um varal de roupas
Do lado de fora da casa
Que se estendia
Pelo jardim,
As roupas pegaram fogo
E o fogo se espalhou
Pelo arame.
Até que ele caiu no chão
Em chamas.
A esposa de Gilvanio
Gritava desesperada
Nas casas vizinhas,
Os vizinhos saíram
Para fora apavorados
E se juntaram em frente
A calçada
Em burburinhos.
No entanto, Gilvanio
Não desistiu,
Tirou a camiseta
Colocou nas mãos
E abriu o portão
Usando sua força,
Depois passou
Sobre as roupas
Que queimavam
E foi até a janela
Arrombou ela com força,
E encontrou o casal
Dormindo sobre a cama.
Havia muita fumaça,
Mas ele mexeu no braço
Do Seu Eloas que acordou,
Chamou sua esposa
E ambos saíram da casa
Com a ajuda de Gilvanio.
Logo em seguida,
A cortina de dentro da porta
Pegou fogo
E depois a porta.
Descobriu-se que
O fogo acendeu depois
De eles terem ido dormir
E o fogo alcançou as cortinas
Da parede, depois o teto
E assim se alastrou.
O casal de velhinhos
Perdeu tudo:
Casa, carro, mobília, roupas
E comida.
Foi um fim trágico.
 O fogo crepitou muitos
Metros acima do teto,
Alcançou as casas vizinhas,
Se alastrou até o fim da rua,
Queimando todas as cinco
Casas.
Ninguém morreu.
Mas, o medo de todos
Foi extremo.

Afogamento

Em certa tarde
De sol pleno
A mãe de Jucenir
Decidiu levá-lo
Para passear.
Pegou uma cesta,
Pôs nela sanduíches,
E frutas frescas,
Também colocou
Uma garrafa de suco.
Pôs a cesta em uma mão,
Segurando através da alça
Feita toda ela de cipó mil homens
Trançado em formado
De retângulo.
E pegou Jucenir
Com o outro braço,
Fechou a porta,
E seguiu pela calçada.
Encontrou um banco
De madeira e ferro
Sobre um gramado
Em frente ao rio
E sentou -se ali com o filho.
Ao chegar e tirar os sanduíches,
O cãozinho Lara pegou
Um para ele.
- Ora, Lara.
Você veio conosco
E nós nem o vimos.
- eu vi mamãe!
Disse Jucenir para Lucenir.
Ela olhou o filho,
Pegou seu boné
E o puxou para cima
Para deixar o rosto a mostra,
Beijou o menino de três anos
E sorriu.
- fique conosco Lara,
Estamos felizes por ter vindo!
Servido o pequeno sanduíche
Para o menino,
Ela pegou outro
E pôs-se a comer.
O tempo foi passando,
E ela ficou cuidando
Os peixes pular na água
Limpa e transparente.
De repente, ouviu um espasmo,
Então, uma espécie de vulto
Empinando a bunda para o céu
E pendendo o resto do corpo
Para dentro do rio.
Era seu filho,
Ele se aproximou do barranco,
Caminhou até a margem
E foi pegar água com as mãos,
E agora acabava de mergulhar.
Mas, ele aos três anos
Não sabia nadar,
Ela aos trinta menos sabia.
Nisto, Lara se aproximou
Do leito do rio
E começou a latir
Com intensidade
E a mover-se ao redor
Do barranco.
Depois, ela começou
A esfregar os pés
No gramado e arrancar grama
Para o alto,
Latindo nervoso sem parar.
Lucenir se levantou desesperada.
- Meu Deus, meu filho,
Me ajudem.
Contudo, não havia ninguém
Nas proximidades,
E alguns carros passavam
Porém, o barulho
Não permitia que ela fosse ouvida.
Ela correu até a margem,
Resvalou, quebrou um dedo
No barranco,
Arrancou grama sobre o dedo,
Fez um vergão na terra
Onde o dedo passou,
Se jogou no chão
Para não cair no rio
E gritou:
- meu filho,
Me ajudem,
Socorro!
Lara correu até ela,
Puxou a manga de sua camiseta
E latiu ao redor.
Ela começou a chorar.
- socorro,
Me ajudem,
Socorro!
Pode olhar para o filho
E vê -lo descendo
Para o fundo da água,
Lindo e assustado,
Sem mexer-se feito um boneco.
- meu filho,
Se chacoalhe,
Moça os braços,
As pernas.
Filho, socorro,
Me ajudem!
Ela se levantou,
Correu até onde ele caiu,
Que ficava a dois
Metros de onde ela resvalou,
Se agachou,
Jogou os braços pra frente,
Tentou alcançar a criança
Mas não pôde.
Se levantou olhou para trás,
E gritou com a força
Que só uma mãe possui:
- meu filho,
Socorro,
Me ajudem!
Então, chacoalhou os braços
Para o alto
Em desespero,
Alguns carros continuavam
A passar na rua.
Um homem olhou para ela,
Mas não parou.
Ela, então, correu até
A calçada e pôs -se a gritar
Desesperada:
- me ajudem,
Eu não sei nadar,
Salvem meu filho.
Meu Deus!
Contudo, ninguém parecia
Dar atenção,
Muitos olhavam para ela,
Viam seu calção branco
Sujo de terra,
Sua camiseta amarela
Suja de grama,
Mas não faziam nada,
Simplesmente seguiam.
Depois disso,
Ela invadiu a pista,
Deu socos sobre os capôs
De quem passasse
E gritou nervosa:
- me ajude, socorro!
Um homem irritado
Lhe desferiu um tapa na cara.
Ela retornou
Para a calçada,
Chorou desolada,
O filho fazia bolhas
No fundo da água,
Descendo ainda.
Isto lhe deu novo fôlego,
E sem pensar ela
Retornou para a pista
Tentando fazer alguém ajudar.
- so-co-rro.
Meu filho,
Ajudem.
Não...
Gritando e movendo
Os braços no meio do asfalto,
Ela foi impedida de terminar
A frase e foi atropelada
Por um carro
Que pegando em cheio
Sobre suas pernas
A bateu contra o parabrisa
E com um movimento
A jogou para fora
E fugiu com o parabrisa
Quebrado:
- vadia,
Maldita!
Gritou o homem.
E fugiu.
Ela levantou atordoada
Da calçada
Com dores e muito medo.
Olhou para a rua assustada,
Lara gritava ao seu lado,
Latis sem parar,
E corria até o rio
Depois voltava latindo.
Com uma última olhada
De dor e desespero
Lucenir chorou todo o medo,
De uma maneira desesperadora,
Levantou olhou as pernas cortadas,
Sentiu o rosto sangrar,
Viu todo aquele vidro
Jogado no chão
E retornou para a margem do rio.
Desta vez, porém,
Tomando coragem
Se jogou na água
Colocando um pé,
Depois o outro.
Escorregou no gramado,
Tentou se segurar
Gravando as unhas no chão,
Lara a puxava com os dentes:
- Lara, te amo!
Ela disse,
Olhando o cão
Pela última vez.
Depois jogou o braço
Para o fundo da água,
Não alcançou o filho,
Mas viu seu boné,
Descer sobre o rio,
Voltou a olhar o fundo,
E pode ver a criança
De olhos abertos caindo.
Ela, se empurrou na margem,
Se empurrou com os pés
No barro do lado do barranco,
Aí pôde alcançar o filho:
- filho, te amo.
Ela disse em seu último fôlego.
Depois ela o abraçou
Com um braço,
Com o outro cravou os dedos
No barro do barranco
E pôde subir para fora,
A criança chorou,
Ela chorou
De encontro a barriga
Do filho
Que ela soltou no barranco,
O filho levou a mão
Pequena sobre seu rosto
E tirou dele um pedaço
De vidro que estava cravado.
- mãe, eu desobedeci,
Desculpa.
Ele disse fraco,
Entre soluços,
Num murmúrio rouco.
- eu te amo, filho.
Ela gritou chorando,
Não teve forças naquele
Instante para sair da água,
Então, ficou ali um pouco.
-senhora, você está
Dentro da água.
É proibido!
Ela ouviu um homem dizer.
- me ajude.
Eu sinto dor.
Ela respondeu
Sem levantar o rosto,
 Não tinha forças,
Atolou-se no barro.
O cachorro se desesperou
De medo,
Pulou na água
E nadou,
Foi até a bunda dela
E empurrou com o fucinho,
A removendo,
Ele foi até a camiseta
E a puxou,
Ainda nadando e latindo.
Ela conseguiu sair,
E Lara saiu na frente
Puxando ela.

Bolso Rasgado

Deslumbrante em seu vestido
Vermelho de cor viva,
Unhas e batom
Na mesma cor,
Um requinte especial
Aos seus olhos verdes,
Contraste perfeito com sua pele
Morena da cor do sol
De um verão intenso.
Por sinal, tudo nela
Era intenso,
Inclusive o olhar
De seu esposo,
Que ao ver Francisco
Olhando-a daquele jeito,
Jogou seu braço
Pela cintura de Mirela,
E a puxou para si.
Ela era dele,
Totalmente dele,
Isto ficava explícito
No jeito fogueado
Em que a beijava,
E na aliança de suas mãos.
Casada.
Plínio pensou irritado
Enquanto soltava o copo
De whisky sobre a mesa
Em que estava.
Não conteve-se,
Pôs-se em pé,
E lhe ousou sorrir.
Mirela lhe devolveu o sorriso,
Abriu seus grandes lábios vermelhos
Para lhe exibir dentes brancos
E grandes em sua boca perfeita.
Seu cabelo soltou-se
No penteado ao virar-se,
Depois de olha-lo, sorrir,
E se voltar para o lado oposto,
Ela usava um lápis de escrever
No coque grosso e horizontal.
O lápis levemente se soltou,
E o coque soltou uma linda mexa
De cabelos
Que logo foi puxada
Por seus dedos,
De maneira a enrola-los
E solta em contorno
Ao seu pescoço,
Indo parar em seu colo nu.
Salete chegou por trás de Plínio
Exibindo sua aliança,
A que continha seu nome...
E lhe passou a mão
Em frente a sua barriga gorda,
Indo de encontro ao copo,
Pegou-o e encheu de whisky,
Depois o bebeu
Com seus lindos lábios finos,
Delineados em marrom
No batom claro.
Seus cabelos enrolados
E negros caiam em cachos
Perfeitos sobre a pele morena,
Seus olhos escuros faiscavam
Feito estrelas na noite,
Ele soube se conter,
Bebeu com ela no mesmo copo,
Depois disso,
Lhe serviu um próprio,
Beijou seus lábios com prazer,
Ela era realmente perfeita,
Em seu vestido verde limão
Contrastante com suas sandálias
Verde mamão de metal
Estilo baixo,
Que tinham uma corda
Que passava no meio do pé
Até o dedão,
E daquela corda
Uma segunda que lhe
Dominava o tornozelo
De maneira impecável.
Sandi era realmente incrível,
Seu pescoço estava
Docemente contornado
Por um colar de ouro grosso
Que descia-lhe duro,
Feito uma serpente,
E no final guardava uma folha
Verde pendurada
Num pingente móvel,
O desenlace da cobra
Chegava até abaixo do ombro,
Ali descia uma linha fina
E suave até o final da cobra
De ouro dura e grossa.
Ela era impecável em seus detalhes,
Os brincos eram composto
Por uma linha dura que pegava
Toda a orelha
E subia até o meio dela
De onde uma linha mole
Caía com uma pérola
Ao final.
Seus pingentes balançavam
Feito um carinho por seu corpo,
Não havia um único ser
Naquela sala recheada de gente
Que não a notasse.
Havia música
E uma apresentação de novos
Modelos de carros
De uma marca famosa.
Os carros chegavam ao meio
Daquela sala dirigidos
Por um motorista,
A pessoa saía de dentro
E apresentava o modelo.
Depois de feita a apresentação,
O modelo era retirado
E outro era colocado
No lugar.
Mirela também
Não ficou despercebida
Com seu anel de pedra amarela
Gigante sobre o dedo fino,
E um bracelete de ouro
Que iniciava próximo ao ombro
De maneira grossa,
E descia em um desenhado fino
De linha de ouro e pérolas
Até chegar ao punho
Enrolando-se através do braço
Esquerdo,
E encerrando em outra linha
Grossa de ouro duro.
No pescoço
Ela usava um colar retrô
Com uma espécie de cipó
Mil homens e um pingente
De pedra branca,
Feito uma pérola enrolada
Em um cubo de ouro.
Chegado o terceiro carro,
Mirela aproximou-se dele,
Era uma camionete
Cor de madeira,
Ela tropeçou e caiu sobre o capô.
Plínio aproveitou
E se aproximou,
Não se importou
Com o esposo que estava
Ao seu lado.
- boa noite?
Eu sou Plínio e você?
Ele indagou lhe ajudando
A levantar pegando ela
Pelo ombro
No mesmo momento em que
Seu esposo a ajudava
Pegando ela pelo braço.
Francisco olhou Plínio,
Sorriu para ele.
Plínio rapidamente
Se colocou em frente aos dois
E retribuiu de maneira amigável.
- Oi. Sou Mirela.
-Prazer senhora,
E o senhor?
Indagou rapidamente.
- sou Francisco.
Ambos se cumprimentaram
Com um aperto de mãos.
Mirela aproximou-se
De Plínio e beijou-lhe
Um lado do rosto,
Depois o outro,
E por fim estendeu a mão.
Plínio foi cortez
Serviu whisky para todos,
A conversa soou amigável.
Sandi aproximou-se
E todos rodearam o carro
Vendo suas vantagens
E comodidades.
Mirela ficou encantada,
Comprou-o,
Pegou as chaves
E saiu com ele
Deixando-o estacionado
Lá fora,
Num local que pudesse
Levá-lo depois,
Ela própria.
Plínio não perdeu a oportunidade
Foi correndo atrás
Batendo palmas
E encostando na traseira do carro
Como se o empurrasse
Para fora da sala,
E gritava feliz.
- lindo carro,
Lindo carro,
Lindo carro!
Segurando o copo
De whisky
E levantando para o céu,
Todos olharam e sorriram.
Ela dirigiu muito bem.
Até que ao chegar na porta
Errou a marcha
E causou um barulho alto.
Plínio correu para a janela,
Encostou o ombro
Na panela aberta
E fez menção de empurrar
Com o ombro o carro
Como se tivesse apagado
E sem bateria.
Ela colocou em ponto morto
E deixou o carro deslizar para a porta
E depois subir na grama
Até estacionar próximo
A um poste e uma árvore
Junto aos demais dos clientes.
- tome o whisky garota!
Plínio gritou lá fora,
Nos últimos metros
Ele correu para o lado
Do motorista,
Pois estava no lado oposto,
Dando o whisky para
Mirela bebericar,
Enquanto dirigia.
- puxe o freio,
Ou vai bater!
Ele gritou com o copo
Quase vazio.
E se jogou para o lado
Da janela puxando
O freio de mão.
Então, abriu a porta.
- e aí moça?
- obrigada por me ajudar!
Ela falou altiva,
Se colocando para fora
Do carro e o abraçando.
Plínio aproveitou
E passou o endereço
De um motel próximo do local,
Marcando também
O número do quarto
Em que estaria.
Mirela e Plínio
Se encostaram na traseira
Da camioneta
E ficaram bebendo whisky,
Que Francisco trouxe
De uma garrafa.
Francisco bebeu
Dois copos e saiu
Para dentro
Enquanto eles ficaram rindo
E bebendo o restante
Do líquido da garrafa.
- deixe a garrafa, Francisco!
Gritou Plínio,
E Francisco entregou
Com prazer.
Então, Sandi veio até a porta
E começou a ligar
E desligar o disjuntor
Das lâmpadas lá de fora
Rindo em alto tom.
Muitos estavam ali
Bebendo e se voltaram
Para ela com gritos:
- he he he.
E levantaram um braço.
Plínio e Mirela
Foram rindo para dentro.
- entrem, não fiquem no sereno.
Sandi disse.
Encontrou marcado,
Plínio passou a cuidar as horas,
Ocorre que as chaves
Do quarto de motel
Logo foi colocada
No mesmo bolso
Que o relógio de ouro,
Redondo, envolto num
Cipó mil homens,
O ouro contornava o cipó,
E ambos seguravam o relógio,
Que não tinha pulseira,
Pois, o couro arrebentou
Assim que Plínio entrou
Para dentro
E gritou para um dos motoristas
De uma camioneta duplada,
Lilás.
- e a Lilás?
Ele gritou,
Tempos após a camioneta
Ter saído
E o motorista nem saber
De qual se tratava.
Ao segurar o copo
Na mão esquerda,
E levar a mão direita
Para pegar o copo,
Ele enroscou os dedos
Na pulseira
E arrebentou.
Ela era de cipó mil homens,
Entrelaçados em ouro
E couro negro.
O cipó era fino
E tinha três copos corridos.
- ah, droga.
Arrebentei minha pulseira.
Ele disse,
Um tanto embriagado.
Então, retirou o relógio
E pôs no bolso.
De tanto ver a hora
Por não esquecer do encontro
Marcado para a madrugada
Daquele mesmo dia,
Ele perdeu a chave do bolso,
Não notou isto.
Seguiram-se as horas
Rápidas feito poeira
Em noite de neblina:
Não se vê que existem,
E sereno apaga pó,
Então, foi muito rápido.
Após se despedirem,
Duas horas depois disso,
Os casais rumaram
Para suas casas.
Mirela e Francisco foram
No carro novo,
Plínio ajudou levando
O antigo,
Sandi dirigiu o deles.
Chegaram todos a casa
De Francisco,
Preferiram não entrar,
Se despediram
E foram embora.
A noite nem terminou,
Plínio não dormiu,
Pegou o carro e saiu.
Chegando no motel,
Percebeu que perdeu
As chaves para entrar,
Ficou atordoado,
Também não tinha
O número do telefone de Mirela.
Esperou lá fora
Até amanhecer
Mas não a encontrou.
Pois é, chaves e horas
Não combinam.

quarta-feira, 18 de junho de 2025

Só Disse Verdades

O centro da cidade
Se restringe,
Crianças são feitas
Aos montes,
Jogadas as margens,
Junto a suas mães desempregadas.
Os pais fogem,
Não queriam compromisso,
Muito menos
Aceitar filho,
Abandonam a garota grávida,
Esquecem de voltar atrás.
Pensão não sustenta barriga,
Profissão já não garante salário,
Os pais rezam pela idade correta
De individualizar o filho,
Entrega-lo a sociedade,
Definem a isto independência.
Quatro paredes
Constroem uma casa,
O teto voa com o vento,
A estrada pública
Escoa sujeira para dentro,
Que importa?
Melhora-se a porta!
Como desejar separar
O menino desolado,
Do adulto agredido?
Filho sem cuidados
Produz sociedade
De adultos preguiçosos.
Os políticos
Se sustentam de troca
De favores,
O cargo público
Vive de influências,
Colhe-se nisto a incompetência,
Toda chuva carrega telhado,
Quem tem duas calças
Precisa doar uma peça,
Toda crise produz desempregados,
Apenas a faculdade
Não constrói trabalhadores,
Assim como, juízes não
São capazes de produzir alicerces
Que dê vida digna
Ao filho que o pai não quer ver
Ou saber que existe.
A mãe deveria pensar nisto,
Ser independente para sustentar
Como o foi para fazê-lo,
Filho não é boneco
Para ser objeto:
De maus tratos,
De prazer,
De desprezo,
De amparo.

Cidade Submersa

Aconteceu de ir dormir
E o céu estar estrelado
E lindo como nunca,
A lua brilhava intensa,
Profunda e delicada.
Com um destes brilhos
Que convida ao amor.
Porém, ela serviu laranja
Num grande copo de vidro,
Rememorou tempos da infância,
Abraçou o esposo,
E foi dormir.
Um pouco mais tarde
Que de costume,
A noite mudou,
As estrelas se dissiparam
Em inúmeras nuvens,
Contudo,
Parecia ser uma única,
Uma espécie de massa cinza
Escondida no escuro,
Pesada e profunda.
Foi como se o céu descesse
Para a terra,
Tudo se apequenou,
Menos o sono de Adriana
Que puxou o cobertor
E dormiu abraçada a Pedro.
Alguns juraram terem
Vistos relâmpagos,
Até mesmo poucos raios,
Outros choravam abraçados,
Outros fugiam para longe
Sem dizer nada.
No entanto, uma música
Romântica soou distante,
Em meio a águas sujas
E turbulentas do rio
Que arrebentou estruturas,
Com o auxílio de poucas
Horas chuvosas,
Invadiu a cidade
E ganhou tudo a sua volta.
Tomou ruas,
Levou para seu peito
Casas inteiras,
Carros desabrigados
E carros de dentro da garagem
Foram parar nos telhados.
Alguns cães
Se encontraram no telhado
De uma casa
E latiam para o alto
Assustados
Devido ao leito
Que apenas aumentava
E arrebentava portas,
Janelas e paredes.
Carregou para o fundo
Famílias inteiras,
Móveis, calçadas,
Asfaltos das ruas
E o que mais em encontrou.
Mas, um pouco distante
Daquela praça pública,
Onde que haviam
Alguns habitantes agarrados
Em árvores,
Não via-se luz alguma,
Todavia, ouvia-se música.
Uma música romântica,
Clara e doce
Que dizia:
“Minha irmã,
Você está longe agora,
Sinto saudades,
Queria te abraçar,
Estar perto de você.
Pois é,
Estou grávida,
Você é a primeira a saber,
Antes de meu esposo,
Ou nossos pais,
Ou nossos irmão,
Escolhi contar para você.
Porém, quando eu souber
Se é menino
Ou menina,
Eu contarei primeiro a ele,
Para meu esposo,
Para ele sentir-se seguro
E amado como você,
Porquê não lhe dou
Toda a preferência,
Eventualmente,
Escolhi dar a ele,
E algumas poucas vezes,
Ao nosso irmão.
Você me entende,
Você também é assim,
Espero que sinta saudades,
Volta logo,
Eu sinto sua falta,
Seu cunhado também sente.
Te amo pra sempre.”
Os rapazes que seguravam
Velas e lampiões acesos,
Estavam num número de cinco,
Ali era ponto de encontro
De amigos,
Faltavam muitos,
Talvez, tivessem morrido,
Mas, eles reconheceram
A música
Era do celular de uma garota
Moradora nova na cidade,
Ela tocava quando a irmã ligava.
A mãe de um dos garotos,
Se levantou de um caico,
Pegou no ombro do filho
E o olhou em prantos.
Se compadeceu da garota
Que dormia,
Com a luz apagada,
Não ouvia o telefone tocar,
Talvez, estivesse afogada,
Talvez morta imprensada
Em algum móvel,
Mas a irmã,
De longe,
Ainda chamava.
O garoto apertou
A mão da mãe
Com carinho
E deu um beijo,
Pegou o remo,
E enfrentou a corredeira
De água suja,
Foi até lá,
A janela estava
Parte aberta e parte fechada.
Ele empurrou,
Por ela já passava a água,
Encontrou a garota boiando
Sobre a água suja
E desmaiada,
Nadou até ela
E a salvou.
Depois voltou,
Pegou o celular que ainda tocava,
No alto de uma prateleira,
Viu a fotografia dela
Com o esposo,
E buscou por ele,
O encontrou embaixo
De uma cômoda imprensado.
Foi fácil retira-lo,
Depois se dirigiram ao hospital,
Remando o caico de madeira,
A garota se salvou,
O rapaz morreu.
Ela ficou em observação
Esperando por ele,
Sempre segurando sua mão,
Não foi suficiente.
Descobriu-se grávida,
Voltou a antiga cidade,
Do lugar obteve apenas notícias,
A ponte que ficava a quilômetros
Pra cima daquela rua,
Onde ela morava,
Se rompeu pouco tempo depois,
Com o filho nos braços,
Oito meses após,
Ela viu no noticiário
Buscarem por pessoas vivas.
Ela sentou-se num
Banco de madeira,
Pegou o filho e abraçou,
Na sala ao lado,
A filha de sua irmã
Acabava de chorar
Pois haviam nascido,
Ela se emocionou
E pediu para Deus
Que mostrasse
Quem havia salvado ela.
Os policiais locais
Encontraram dois corpos
Abraçados,
Enterrados na lama
Na beira do rio que transbordava,
Uma raíz os impediu
De ir mais longe.
A ponte rompeu com dois
Caminhões enormes sobre ela,
Os caminhões e a ponte
Carregaram tudo
Junto com a corrente de água
Da chuva
Que não parou de cair.
Nada ficou inteiro,
Nem mesmo aquele final
De praça pública
Onde antes a viram
E foram até ela salvar-lhe.
Os policiais retiraram-nos
Da lama
E jogaram seus corpos
Para fora da água,
Ela pode reconhece-los
Perfeitamente.
Abraçou o filho
E chorou,
Buscou pela irmã,
Se ajoelhou com o filho
Nos braços
E beijou a mão dela.

Querida Mamãe

Amada mamãe, Te agradeço hoje, Pelos meus primeiros dias De vida, Aqueles em que eu era Tão pequena criança, E você me abr...