sexta-feira, 31 de janeiro de 2025

Na Casa Onde Nasci

Ao sul o sol se põe,
Por entre as árvores
Como se estivesse
A tocar a primavera rosa
Que subiu a bergamoteira,
E desceu sobre sua copa.

De dentro da casa de madeira,
Ainda com as janelas abertas,
Ouve-se o estalo da lenha
A ser cortada lá fora,
Os gravetos são trazidos para dentro
E começa-se a acender o fogo
No fogão a lenha marrom.

O lampião é puxado da prateleira,
Trazido para perto para acender
A chama e manter a casa iluminada,
As janelas são fechadas
E a tramela é habilmente puxada.

O pai entra para dentro de casa,
Deixando os chinelos no início da escada,
Solta a lenha na caixa de madeira
Para lenhas,
Puxa uma ou duas toras
E coloca no fogo
Mexendo suas brasas
E soprando para atiça-las.

A mãe chega com o leite morno,
O balde cheio retirado da vaquinha,
Coa ele e o coloca sobre o fogão
Em panelas distintas,
Um para o uso de alimento imediato,
O outro para o queijo de toda manhã,
Unido a segunda vez que é tirado o leite.

O sol se põe,
As galinhas ganham milho,
Sobem na bergamoteira,
E estão prontas para dormir,
O cachorro deita ao lado da escada.

A cadeira de madeira é puxada
Para frente do fogo,
A família se reúne
Sentados nas cadeiras
E na caixa de lenha,
Este que senta-se ali
Se encarrega de manter o brasido
Do fogo aceso.

O pai põe farinha de milho
Numa panela,
Coloca um pouco de água
E a coloca para torrar no fogo
Para ser consumida com leite,
O pão é cortado sobre a toalha,
Que é colocada num lado
Do fogão,
Junta-se a manteiga e a nata,
Faz-se café,
Acende-se o lampião.

A porta é tramelada,
Os ovos estalam na frigideira,
O café é feito no bule,
A farinha fica pronta
E mistura-se ao leite.

O trabalho do dia é comentado,
O trabalho do amanhã é planejado,
As estrelas ficam nítidas,
E o lampião trepida sua chama.
Uma telha demonstra estar trincada,
Há goteira na casa.

A lua se fez cheia,
Uma sacola de plástico é pega,
Dobrada e colocada na telha,
Organiza-se até estar concertado.

A lua é percebida por entre as frestas,
O ar fresco invade os cômodos,
Respirar é simples e caloroso.

Pisa-se no assoalho,
A madeira range,
Não há forração no teto,
Apenas as telhas e a lua.
Na casa onde nasci é assim
E aí?

quinta-feira, 30 de janeiro de 2025

Águas Deste Rio

Sento-me no gramado,
Colho uma flor dele,
E junto de uma a uma
As suas sementes.
São muitas para algo
Tão singelo.

Vejo-as soltas em minha mão,
Depois as jogo na água do rio,
De uma a uma,
Então, contemplou o rio
De águas verdes escurecidas
Que parece nem seguir um rumo.

Penso se suas águas estão paradas,
Contudo, vejo uma madeira seca
Sobre elas,
E nele borboletas sentadas
De asas abertas,
E percebo que não,
Suas águas correm.

Seguem para longe,
Muito distante,
Desatam-se num mar
De águas salgadas
De não sei onde,
Vão -se.

Lindas águas
Onde tudo que cai,
Afunda-se
Até perder-se no escuro,
Imagino se o dia
Como a noite
Entregam-se a estás águas
E me são, na vivência,
Da mesma forma.

De aparência calma,
Onde nada parece acontecer,
E muito acontece,
No entanto,
Segue para longe
Fora do alcance,
Para não sei onde.

Ou o contrário,
Se ao ficar perto
Ainda assim,
Perdem-se,
E caem num obscuro
Onde afundam e afundam,
Até meus olhos
Não poderem ver,
Onde eu não possa alcançar,
E não tenha nisto
Nenhum controle.

As sementes parecem afundar,
Mas preferem a superfície,
Rodam e rodam sem parar,
Mas preferem a margem,
Param e contemplam algo,
Quando me disperso,
Foram-se elas para além do olhar.

Imagino se irão
Se aderir as margens,
Constituírem novas flores,
Brotar em novo gramado,
Ou se o sol será tão forte,
Que mesmo abrigada a água
Elas sequem e sucumbam
Sem afundar,
Assim, nada serão.

Tudo isto está fora do meu saber,
Porquê o rio que corre fraco,
Ele anda, anda sem parar,
Me deixa a imaginar,
Se nestas suas águas,
Como em minha vida,
Noite e dia são mesma coisa,
Caem no obscuro desconhecido,
Ou se não caem,
Esvaem-se para onde
Eu não possa saber.

Repouso meu dedo na água,
Penso se algum dia
Eu serei feito estas sementes,
Ou se diferente disto,
Eu inteira seja,
Nestas águas,
Matéria distinta de milhares
De sementes.

Ainda assim,
Não saberia até onde seria capaz de ir,
Se para longe,
Muito longe
Ou se para não tão distante assim.

quarta-feira, 29 de janeiro de 2025

Fim Comum

Certa mulher
Vivia pelo esposo,
Fazia suas vontades,
Satisfazia seus desejos.

A comida era temperada
Conforme ele gostava,
E ele não gostava de temperos
Ou mesmo chá novos.

Ocorre,
Que um dia ela ficou adoentada,
Sistema imunológico frágil,
Não sabia que doença tinha,
Buscou tratamento,
Tentou encontrar remédio,
Sempre por antigos caminhos.

Não tardou,
Ela morreu,
Encontraram nela muitos vermes,
Ela comeu, algum dia,
Algo contaminado,
E nunca foi descoberto
Ou medicado.

Morreu por ser cega
Em um caminho de seguir os outros,
Não pensar que mudar um tempero,
Conhecer um gosto novo
Leva a uma distinção
E a um conhecimento,
Com isto,
Ela poderia ter reconhecido a doença
E encontrado a cura a tempo.

O homem conhecedor disto,
Se medicou,
Foi desverminado
E está vivo,
Leva flores ao cemitério,
Lembra dela sempre emocionado.

Foi questão de higiene,
Talvez,
Pensamento de mulher fraca,
Seguir e obedecer.

Morreu,
Teve fim comum.
Porém, morreu jovem.
Fim quase incomum.

- Pois é,
As vezes,
Tem a ver o perfume 
Com o chorume.

Namorados Desde a Infância

Olha que legal seu pocinho,
Disse a menina
Chegando atrás do garoto
Que estava sentado na beira do rio,
Fazendo buracos
Para puxar água e por peixes dentro.

Ela o abraçou por trás,
Deu um beijo no seu rosto,
Ele sorriu sem dois dentes
No lado direito,
Ela ergueu-se,
Foi até a linha de pesca
Puxou dois peixes
Naqueles tipos de anzol
Que são quatro iscas,
Por estarem um colado
Ao lado do outro.

Colocou no chão do poço,
Os peixes pulavam
E o garoto se jogou para trás,
Rindo com a mão na barriga,
Ela correu pegou água
Com suas duas mãos
E colocou no buraco,
Os peixes nadaram,
Ela se jogou sobre ele,
Com o corpo ao lado e
Um pouco em cima dele,
E riram,
Riram muito.

Nisto são acometidos
Por um barulho,
Que veio do porto,
Água caiu sobre seus corpos,
Eles se levantaram de pronto,
Depois riram de novo,
Eram mais dois amigos
Que chegavam através do rio,
De caico a remos.

Eles traziam arroz, faça, sal e panela,
Desceram de lá,
A moça puxando a corda
Para amarrar na árvore,
E o rapaz com as coisas,
- e aí, fazendo açude?
Que legal.

Nós desarmando a rede de pesca
Que havíamos armado ontem,
E estava cheia de peixinhos,
Então, ele sentou-se na tábua
Do caico,
E conforme foi tirando os peixes,
Foi também limpando ali mesmo,
Os restos eles jogavam na água,
Felizes ao ver os peixes pular,
E se alimentar deles.

- Bom dia.
Uau, que legal que pegou tantos!
A barriga dele roncou de fome,
Era cedo da manhã,
O sol quase sobre a cabeça deles
Denunciava as nove horas.
- bom dia, garoto.
Foi a melhor ideia que tivemos.

Então, o garoto foi até ele
E o abraçou feliz.
A outra menina foi até a amiga
E sentou-se na corda amarrada.
- que legal.
Temos um balanço,
Senta aqui!

Ela falou sorrindo
Enquanto puxava sua amiga
Para o seu lado.
Ambas deram as mãos
E ficaram embalando-se na corda,
Enfiando os pés na terra
E retirando-os.

O chinelo da amiga que a puxou
Arrebentou.
- ai. Olha só,
Foi-se outro chinelo.
Ela disse,
Levantando o pé para o alto,
E chacoalhando o chinelo.

- claro que não.
Eu concerto.
A amiga falou,
Puxou a perna dela
E o arrumou.
Os garotos separaram
Os peixes grandes dos pequenos,
Guardaram os limpos,
E deixaram os sujos no balde
De lata cheio de água.

Depois juntaram pedras
E fizeram uma borda do pocinho
Com pedras, areia e terra.
Depois deixaram os peixes ali.
Depois juntaram lenha e gravetos,
E fizeram fogo.

Cozinharam o arroz,
Assaram os peixes.
Conforme a água do pocinho
Se esvai,
Eles enchiam com as mãos.
Já era meio dia,
Quanto todos foram até a borda do caico
Juntaram as mãos
E mergulharam.

O tempo passou.
Anos depois disso.
Adolescentes eles retornaram ali.
Desta vez,
Haviam amoras e tâmaras.
Então, uma garota virou para o garoto.
A menina companheira dele
Desde a infância,
E colocou uma tâmara na sua boca,
Ele riu veio até ela
E o beijou.

Desta vez, veio a noite
E eles não foram para casa
Dormiram juntos, os quatro.
Um casal ali na areia
O outro no tronco da amoreira,
Do outro lado.

Veio as estrelas,
Chegou a lua e as estrelas foram.
Veio o sol e os acordou juntos.
(Fim da história, você fecha a página
E o livro de capa branca
E apagado possui um nome,
Está na próxima folha,
Ao fechar todas elas – Namorados Desde a Infância).

segunda-feira, 27 de janeiro de 2025

Superfície

Ela vê o rio fluindo
Lentamente seguindo o curso,
Descer para algum rumo,
O rio, por mais manso
Que seja seu destino,
Ele não muda ou para,
Simplesmente, segue.

Ela retirou a camisa branca,
De botão a botão,
Sem importar-se com a demora,
Sem olhar para outro lugar
Que não fosse a água,
Sua superfície morna,
Os peixes que chegavam até o leito,
As folhas secas a percorrer
E as borboletas repousa das sobre elas.

A camisa era comprida,
Chegava próximo aos pés,
A sandália foi retirada
Sem o uso das mãos,
Enquanto os botões eram removidos,
E o sutiã ficava a mostra,
Depois a calça
Então, a calcinha.

Ela seguiu sobre as pedras,
Entrou na água que estava gelada,
Feia feito um cubo de gelo,
Que toca a pele e desliza,
Superfície quente.

Com isto,
Ela deitou-se na água,
Boiou sem afundar,
Sentindo a calma,
Permitindo-se ser guiada
E levada para longe,
Sem sair tanto do lugar,
Chegava a certa etapa do rio,
Movia os braços e voltava,
Olhos fechados,
Olhos abertos.

Nisto,
Sentiu uma dor profunda no peito,
Sem entender o motivo,
Notou lágrimas pesadas
Percorrer seu rosto,
E chegarem a água feito um bueiro,
Cujo único motivo de existir
É dar vazão para a água correr,
E ela tinha muita dor,
E nesta dor muitas lágrimas,
Viu-se a soluçar,
E a casa soluço afundar um pouco,
Notou-se engasgar,
Mas não mudou a atitude.

Sentiu cada músculo seu
Se contorcer
E impedi-la de afundar,
Como se o rio tivessem braços,
E fosse tão imenso,
Tão imenso,
Que nenhuma dor
Poderia enche-lo,
Lágrima alguma seria motivo
De negação,
E para toda dor haveria perdão.

Ela sentiu o calor da superfície
Abraçando seu corpo,
Que deslizava sobre o cubo de gelo,
E seus braços pareciam ampara-la,
De alguma maneira entender,
E perdoar,
Ela não queria soltar-se,
Viu-se a pensar em como seria bom
Simplesmente afundar,
E nunca mais emergir,
Pertencer aquelas águas,
Nunca ser dispensada,
Devolvida,
Visto como um objeto,
Suscetível a julgamento,
Entregue a dor.

Não soube porquê
Mas, instantes após,
Viu-se engasgar
E sentir pouco fôlego,
Pegou-se a querer respirar,
Querer ver para fora do frio,
E do calor tão ambíguos,
Sentiu dor no peito,
E quis tossir,
Expelir aquela agonia,
Num ímpeto,
Soltou o pé no fundo do rio,
Com único impulso,
Empurrou-se para a superfície.

Respirou ar,
Soltou água,
Lágrimas, rouquidão e dor,
Muita dor,
Se empurrou da parte profunda,
E andando e afundando
Se jogou na parte rasa
Onde sentou-se nas pedras quentes
Da beira do rio,
Num fio de água.

Encostou a cabeça no joelho
Que pesava e parecia latejar,
Prestou atenção a um barulho,
Que causava dor
E lhe fazia mal,
Assim, ouviu vozes indistintas,
Falando coisas estranhas,
E pareciam estar dentro
De seus ouvidos,
Ouviu comandos de ameaças,
E propósitos de morte.

Caiu para trás,
Bateu a cabeça nas pedras,
Viu sangue emergir do ferimento
E percorrer a água quente,
Peixes chegando perto,
Alguns indo para longe,
Notou o celular perto dela,
A bateria descarregando rápido,
Não havia internet,
Não pegava sinal de rede alguma,
Contudo não parecer vir dali,
De onde viria?

Ela estava sendo vigiada
E impelida a dor,
Algo muito odioso e grande
Sentia terror por ela,
E estava sendo capaz dos golpes
Mais baixos e duros
Para obter êxito: feri-la,
Ou pior: “mata-la”.

Correu dali,
Pegou o celular e jogou na água,
Enquanto ele seguia rumo
Ao fundo,
As vozes cessaram,
O barulho, a dor, o tormento,
Tudo passou muito rápido,
Tocou sua cabeça
E o ferimento estava ali,
Aberto e dolorido...

Não havia ninguém por perto,
Ela não sabia se isto era bom,
Nem o quanto,
Quis se defender,
Queria fugir,
Estar a salvo,
Mas parecia que gritar
Pelos pais
Não traria mais amparo...

Adeus a Um Garoto

Tudo corria bem na vida dele,
Trocou de país por novos ares,
Deixou os pais e irmãos,
Recebia deles pensão.

Jovem decidiu fazer faculdade,
Ocorre que meses de estudo
O deixaram em dúvida
Com relação a profissão.

A pedido dos pais,
Manteve-se em aula,
Porém, faltava bastante
Sua saúde de jovem
Não se comprometia a vida de baladas,
E noites de diversões desregradas.

Passou a se ausentar no trabalho,
Não dar satisfação aos pais,
Recebia a pensão com êxito,
Quanto as aulas pedia reposição
Por vídeo gravado por um amigo.

Ocorre,
Que amigos de balada,
Também são amigos do dinheiro,
Falta um tostão,
Leva um tropeção,
Beijos em garotas a esmo,
Saidinha até com garotos mesmo,
Bebidas e não faltou tempo,
Passou a usar outras drogas,
Abandonou a limpeza do apartamento,
Preferia como estava.

As vezes,
Esquecia onde morava,
Acordava na beira do mar,
Trancado no carro com garotas,
Tudo parecia perfeito
E durou tempo.

Contudo,
Um dia os pais
Preocuparam-se com tantas faltas,
A faculdade exigiu dinheiro
Ou a matrícula seria trancada.

A conta da limpeza chegou baixa,
A mesada não foi exigida dobrada
Nem houve pedidos de adiantamentos,
Cessaram mensagens de garotas
E garotos em busca dele...

Os pais pegaram o primeiro voo
Em direção ao tal país,
Chegaram até sua residência
Não o encontraram,
Ligaram e ofereceram dinheiro
E regalias,
Não o acharam.

Não tão distante, porém,
Em beco da segunda rua
Depararam-se com um corpo
Sem vida,
Caído no chão,
Sua pele escurecida
Estava com aspecto envelhecido,
O cheiro era intenso e podre.

No entanto,
O relógio do rapaz
Estava no pulso deste,
A mãe quis desmaiar,
O pai achou que iria morrer,
Haviam as iniciais da família,
Tudo indicava que se tratava dele.

O lindo filho,
Amado e cuidado com todo esmero,
Encontrado morto
Em estado irreconhecível.

Não havia sinais aparentes
Que indicassem o meio
Que foi usado para seu fim,
Muito menos encontraram o autor
Do crime.

O filho estava morto,
Não retornaria a seu país,
Não seria mais o menino amado,
Jamais abraçaria seus pais.

No entanto
Saques foram retirados
De sua conta bancária
Por ele mesmo.

Os pais pediram filmagens
E se tratava dele próprio.
Os pais fizeram buscas,
Usaram de todos os modos
Possíveis para encontra-lo,
No entanto,
Decidiram atrasar a mesada,
E ao ligar não reconheceram a voz,
As atitudes também não eram
As mesmas.

Exumaram o cadáver
E evidenciar se tratar do jovem.
Mas os saques continuaram.
Gastos nos cartões,
Boletos da faculdade,
Aluguel do apartamento,
Todos os gastos permaneceram...

Tardou meses,
E um sistema diferenciado cibernético,
Descobriu se tratar de um programa
Onde uma quadrilha de policiais
Especializados em criminologia,
Matavam os jovens,
Se apossavam de suas vidas
E faziam gravações de voz,
E vídeos destes,
Após simulação situações
Até que se apossassem de todo
O dinheiro.

Usavam pessoas parecidas,
E um sistema de forjar atitudes
Por meio cibernético das pessoas
Com base em fotos.
Nada traria a vida
Do rapaz de volta,
A dor prendeu a família
Em busca de ouvir sua voz,
Fizeram videochamadas
E ficaram embasbacados
Com a similaridade,
Seria possível ser enganado
Por uma vida.

Mas o amor que um pai
Tem por seu filho
Não pode ser esquecido
Ou forjado.
O filho morreu nisto,
E estava enterrado.
Lhe tiraram tudo,
Família, amigos e dinheiro.

Restou a ele o túmulo.
E paz ao garoto enganado,
Ou então, perdido,
Porquê um filho longe da família
É propício ao engodo.
Flores e choro.
Saudade e medo.
Foi tudo que restou do garoto.

O Cara do Terceiro Andar

A garota gostou do carro,
O perfume era caro,
Ela reconheceu o cheiro,
Se aproximou mais do garoto,
Apareceu uma carreira recheada,
Neste dia,
O cartão não bastou,
Mas as horas passaram.

Ele estranhou que acordou
Ao lado dela,
Achou esquisito
Ter lhe dado a senha e acesso,
Após isso, veio a duplicidade.

Dias se passaram na percepção,
Ela, em seu apartamento,
Definiu por meses,
E disse: “seu pai e sua mãe
Bateram o carro”.
E houve no cartão o gasto.

Ele disse: “ótimo”.
E meses passaram-se
E ela disse anos,
Era estranho mas o sol
E a lua,
Vistos de sua janela
Com a pouca percepção que
Lhe era permitida
Não lhe diziam isto.

Ela voltou-se
E trouxe a notícia
-“com a batida do carro
Seus pais morreram”.
Veio no cartão os gastos,
Hospital, remédios, caixão e velório.

Ele disse: “terrível”.
Nisto tudo,
Ele cancelou trabalho,
Estava tudo escrito no celular,
Cancelou saídas,
Desistiu de visitas,
Estava tendo horas de prazer,
Havia encontrado mulher
De sua vida.

Os amigos cessaram contatos,
E as mensagens provenientes
Eram as mais estranhas.
Sem amizades,
Sem acessos.
Ele disse: “preciso ver meus pais mortos”.

Ela disse:
“Querido,
Você não recorda,
Ora,
Como é esquecido...

Você esteve no acidente fatal,
Foi parar no hospital
Eu os atendi,
Você sobreviveu,
Apaixonou-se
E me passou cada centavo seu,
Cada bem
E o proveniente.
Eu moro com você desde ontem!”

Ele achou estranho,
Faziam talvez meses
Ou então, anos,
Sim.
Ela pareceu mais correta,
Faziam mesmo anos
Que estavam juntos.

Mas um dia, não.
Isto não foi questão de tão
Pouco tempo.
Tentou mover-se não teve forças.
Quis sair da cama,
Abrir as janelas de vidro,
Arrancar as venezianas
Sob abertas,
Mas não conseguiu mover-se.

Não tinha estímulo no cérebro,
A visão estava embaçada.
Os dedos frágeis
Como se lhe faltasse alimento.
Ele não parecia amarrado
A cama.
Mas lhe tinham dores
E aparentes hematomas.

“ta ok.
Eles morreram.
Eu assino o que for.
Gostaria de deixar este lugar”.
Ela sorriu.
Fez-lhe uma vacina no rosto.

“seu Botox, amor.”
E saiu.
Ele viu-se desmaiar.
Desta vez,
Uniu todos os esforços.

A família estava morta.
Ele estava vegetativo.
Sem dinheiro.
Sem comida ou água.
Sem banho.
Precisava de forças.

Fechou os olhos
Pelo que lhe pareceu minutos,
Lembrou dos bons momentos,
Os bons amigos,
As bebidas e as noites loucas,
Os pais com café quente
Logo no início da manhã.

O almoço pronto.
Lembrou até do entregador de pizza...
Então, o pássaro negro
Com quem ele dividia o pão,
Bateu no vidro da janela,
Como fazia a casa manhã,
Conforme o rumor das batidas,
Intensas e frenéticas,
Já era noite ou madrugada,
Ele não havia sido alimentado.

Nisto,
Ele fez um silvo com os lábios,
Frágil e sem abrir os olhos.
Seu corpo estremeceu de medo.
Poderia ser a garota,
E ela ter matado o pássaro
Ou o capturado.

De repente, ela trancaria os dois juntos
Para ver quem comeria o outro.
Sua barriga estava funda,
Seu corpo parecia pele flácida
E ossos doloridos.

Os lábios doíam,
Os dentes pareciam ter caídos,
Estavam, ao menos, moles.
Mas o pássaro ouviu.
Bateu mais forte.
Bicou e bicou.
O vidro partiu-se.
Rachou ao meio.

Ele fez outro silvo.
Um sorriso quis surgir
Em seus lábios.
Ele não teve forças.
O pássaro bicou mais ainda
E cantou.

O corpo dele tremeu de medo.
Ela poderia ouvir,
Poderia ser mais de uma pessoa.
Ela iria invadir.
E talvez, mata-lo,
Ou matar o pássaro.
Ou estrangula-lo
Até que ele dormisse.

Mas, o pássaro não desistiu.
O viu.
E bateu mais forte.
O calendário caiu da mesa
Fez um estalo no chão.
Mudou uma folha
Enquanto caía.

A janela abriu-se ao meio.
Foi até quase toda a rachadura,
Esmigalhou-se.
Ele conseguiu fechar os dedos.
Empurrar-se na cama.
Sentou-se na beirada.
Abriu os olhos.

Removeu o lençol.
Sentiu medo
E se atreveu a olhar.
Parecia dia.
O pássaro voou até ele.
O bicou próximo aos cabelos.
E saiu.

Ele tentou mover-se,
Lembrou dos pais mortos.
Imaginou o velório
E chorou copiosamente
E com medo e dor.
Levou a perna direita
Para frente
E levantou-se num passo.

Só a perna o movia.
O corpo ainda parecia sentado.
Ele mover-se outra vez.
E outra.
Então, juntou todas as forças
E jogou-se.
Sem rumo contra a janela.

Sem rumo
Em busca do único vestígio
De vida que tinha.
Suas forças esvaíram-se.
Mas o corpo
Foi pesado o suficiente.

Conseguiu cair do terceiro andar.
Estatelar-se sobre a calçada.
Saiu sangue.
Ele estava vivo.
Estirado no chão semiconsciente.
Vestia calças e camiseta verde abacate.

Seus olhos viram o azul do céu
Por única vez,
Depois fecharam-se,
Ele chorou
Até as lágrimas escorreram da calçada
Para o asfalto.

Um vizinho do lado do prédio o viu.
Correu até ele.
O abraçou,
Não reconheceu,
Mas o conduziu até o hospital.
Ele não teve forças de falar.

Não pode negar-se
A ser conduzido.
Em poucas horas,
Os pais surgiram no leito da cama.
Estavam os dois vivos.
Sem hematomas.

Tinham apenas olheiras profundas.
Estavam com suas mãos
Unidas nas mãos dele.
Ele por um piscar de olhos,
Abriu os olhos,
Os viu,
Depois dormiu.

sexta-feira, 24 de janeiro de 2025

Espaço Lunático

-Ola. Estou de volta.
Cumprimentar o rapaz,
Depois chama os amigos
Para o lado.

Informa que perdeu
Todo seu dinheiro
Gastou tudo
Para viajar até o espaço,
Na melhor aeronave,
Com bom alimento.

Disse ainda,
Que pagou para a polícia
Ficar fazendo sua imagem
Via sistema Eletrônico,
Aos amigos e parentes,
Pois não quis confidenciar
Sua trajetória de vida.

Escolheu o espaço
E ter todo o tempo
E todos os meios,
De lá de cima,
Sentado na lua
Ele procuraria um meio
De salvar a vida terrestre.

Contudo,
Sua imagem agindo por estímulo
Brigou com todos os amigos
Desestimulou todos os parentes
E perdeu todo o dinheiro,
Pois ele passou pelo espaço
Mais tempo do que o determinado,
E na verdade
Não queria desistir da viagem.

Os amigos o esfaquearam
No mesmo instante
Por loucura irrecuperável,
Descobriram que a polícia
Mantinham-no dormindo,
Ele nunca viajou ou saiu de casa
Apenas foi dopado.

Nisto perdeu todo o dinheiro
E a sanidade
Pois devido tanto veneno ingerido
Ele não teria remédio.
Mas foi enterrado.

Não sobrou único parente
A polícia levou o dinheiro,
E também todos os entes.

Sua imagem,
Na realidade,
Era um policial disfarçado,
Usando sua vida,
Usufruindo dos bens,
Vivendo a vida
Que o indivíduo decidiu doar
Para viajar para o além.

Não se sabe se o jovem teve escolha,
Lá no funeral,
Vendo o caixão afundar na terra,
Antes ainda da primeira pá
De terra ser jogada
Para soterra-lo,
Junto com o sentimento
Da primeira flor lançada
Sobre ele, morto,
Cogitaram que ele não teve escolha,
Foi envenenado antes
Ainda de tomar a decisão
De salvar o deserto de Sudoku,
Aquele que queima desde
A década de 70 sem parar.

Teve até aquele amigo
Mais sentimental,
E criminológico,
Que cogitou a ideia
De quê lá fosse o local
Onde a polícia queima os corpos,
Nisto já haviam levado
Entes da família do rapaz
Antes de ele decidir-se pelas
Órbitas do espaço.

-Este foi.
Mas nos deixou o aprendizado.
Disse um amigo dele.
Depois virou as costas e saiu.
Nunca foi levar flores,
Ver o túmulo
Ou algo relacionado.
Mas esteve presente no funeral
E testemunhou está história fatal.

domingo, 19 de janeiro de 2025

Estrela

O casal deitou na área da casa,
Contemplando o céu sem nuvens
Ou luar,
Apenas as estrelas brilhavam
Por entre as copas das árvores,
Lá em cima,
No universo.

Abraçados,
Rostos unidos,
Olharam a estrela mais linda,
E pediram a Allah
Que para sempre ficassem juntos,
Olharam-se e se beijaram.

Depois voltaram rápidos
Seus olhares a estrela,
Que com um impulso do destino
Desprendeu-se do universo,
E veio em suas direção.

Mas a paixão aterradora
Entre os dois
Não os permitiu o medo,
Entrelaçaram suas mãos
E esperaram.

Ela passou pela árvore,
Mexeu em sua sombra
E continuou,
Então, como magia
Tornou-se vagalume.

E pousou no dedo anelar
Do namoradinho
Que sorriu e disse:
“Allah nos respondeu!”

Adeus

A mão gelada da morte chega,
Toca a viva alma,
Retira o calor de seu abraço,
Recolhe o frescor de seu sorriso,
E leva o novo
E leva o velho.

Seu sorriso parte para distante,
Já não é visto,
Mas lembrado ternamente,
Sempre com aconchego,
E uma vontade de abraçar
Que não pode ser saciada.

O coração se purifica no amor,
Aquele que fica,
Deseja ter estendido a flor,
Confessado todas as suas juras,
Mas seu tempo acabou,
Porquê o tempo de falar passa
E cessa, também ao que ficou.

Foi para longe o sorriso,
O abraço amigo,
Está pasmo e gélido o rosto,
Não será mais visto
E nem por isso
É menos querido.

Repousa a grama sobre o corpo
Onde lindas vestes foram usadas,
Calor no jazigo,
No corpo é adeus e pronto.

Não importa a intensidade do choro,
O quanto as lembranças cheguem,
Pertencem a Allah a candura agora,
Ao que fica resta a limpeza de uma sepultura.

O pó dos séculos chega,
O gramado verdeja,
Seca, floresce, faz sementes.

A saudade ameniza,
As lembranças se apaziguam
Com o adeus inesperado.

Os raios do sol nunca chegam
Ao fundo,
Nem o abraço jurado
É sentido naquele pó que se acumula.

Sombrio e silencioso adeus,
Fecharam os olhos seus,
Lacrimejam os meus,
Porém, pertence a Deus.

Olhos Fundos

Os olhos a afundarem-se
Na face pálida e doentia
Denunciavam ódio,
Não dor ou sofrimento,
Está face não conhecia o sofrer,
Ela era acostumada a ter tudo,
Sem limites.

Mas, um negro e um velho,
Ambos, a impõe um limite:
Distanciam-no daquela
Que naquele momento
Era a que este rosto desejava,
Porquê este rosto nunca desejou
Por muito tempo,
E por ela foi obrigado a esperar.

Ele ardia em ódio
Para encontrar o negro em reserva,
E destruí-lo,
Sem deixar pistas,
Sem mostrar o rosto,
Apenas aniquilar a ambos...

Amaldiçoava o velho
A quem ela recorreu para proteção,
Via-se desgraçado por um alguém
A quem o próprio tempo
Esforçou-se para decretar fim próximo.

O outro um jovem
De pele escura,
A quem o próprio desconhecimento
Tratava-se de afugenta-lo,
Joga-lo a privacidade
Dos recônditos mais privativos,
Nem mesmo o ódio
Por ele merecia vir a público...

Nem seu fim seria notório,
Ao escuro as escuras,
Assim, seria.
Então, ela não teria para onde fugir,
Com que se manter
Ou onde esconder-se,
E seria toda sua,
Como imaginou-a,
Como a quis,
Sem limites...

Os olhos fundos
Tornaram-se ameaçadores e vorazes,
Sua busca teria fim,
Ele não a esperaria por muito tempo.

sábado, 18 de janeiro de 2025

Saudades

Eu vi você,
Gostei de você,
Parecia que eu sabia
E antes ainda o amaria.

Fui ao seu encontro,
Caminhar um mundo,
Foram dois passos,
Mover coisas ao nosso redor,
Afastar pessoas,
Me aproximar,
Foi tudo tão simples
Assim que vi você.

Então, ficamos frente a frente,
Foi como duas estrelas que se movem,
Se buscam
E não se colidem,
Foi um brilhar sobre-humano,
Um existir que teve sentido
E sonhos,
Muitos desejos e sonhos.

Então, eu o esperei,
E a saudade ganhou final
E nota,
Dei a ela um 9,
Numérico máximo
De se estar sozinho,
Sentei e fiquei a esperar,
Não tive outros sonhos
Ou imaginei-me com outro,
Apenas fiquei a espera.

Porquê o amo,
E meus sonhos estão com você,
Você voltou logo
E disse saudades,
Eu disse
Saudades de você.

Escrita

O ano é 2025,
Minha família preocupa-se
Em saber ler, interpretar e escrever,
Transcrevemos nossas primeiras ideias,
Tentamos nos livrar de um passado
De escravagismo literário,
E trabalhos de mão de obra forçada.

Nós não nos preocupamos
Em descrever um manual
De como foi nossa trajetória,
Ou como seria de tudo fosse diferente,
Não profetizamos nomes de descendentes,
Não temos um lugar específico no cemitério,
Mas temos fé
E rezamos quando temos medo.

Neste instante
Nos preocupamos em reconhecer
Os números, saber soma-los
E outras regras simples relacionadas,
Tentamos identificar vozes,
Nos defender de artimanhas
E desejamos uma casa
Que a tempestade não derrube
E o rio não carregue.

Nós não pensamos
Em guardar os mortos,
Mas guardamos o dia dos finados,
Não tentamos deixar heranças significativas,
Mas plantamos uns pés de frutas,
Cuidamos dos animais,
E gostamos dos vagalumes.

A gente sonhou com castelos
A vida toda,
Aí plantamos árvores
Para nossas casas em madeira,
Aprendemos a pregar a madeira,
Cortar as árvores
E já fazemos nossas primeiras
Embarcações de água doce,
Os caicos,
Fazemos nossos primeiros
Meios de locomoção em madeira,
As carroças.

Tudo vai bem
Para os que trabalham,
Mas nós gostamos de sombra
E água fresca,
Não escrevemos mais em pedras,
Deixamos de rabiscar
Para incluirmo-nos na escrita,
Falta saber falar bem a língua,
Desenvolver técnicas de aprendizados,
Mas estamos nos esforçando.

Caso não haja equívoco,
Logo trocamos os bois 
Pelo trator,
E talvez, deixemos o cavalo
E adquiramos bicicletas...

Mas não há planos
De abandonar a terrinha 
E partir para a vida
Da cidade grande,
Deixar de ser patrono
Para se tornar empregado.

Dor Triste

É triste contemplar
Lágrimas no rosto dos pais,
Olhar para a mãe,
É tentar buscar você em seu colo,
Buscar o rosto do pai,
É querer encontrar seu conforto.

Quando você mesmo sofre,
Entende que tem muita idade
A frente,
E que a dor cessa com o tempo,
O problema é quando não há tempo.

A dor logo se vê abatida
Ao verter-se em lágrimas
O coração tem seus meios
De alívio,
Buscar a pipoca quentinha da mãe,
O filme no sofá ao seu lado,
A história sobre o trabalho do papai,
Seu abraço protetor,
Produzem conforto,
Saciedade para toda dor.

Mas a dor que aflige os pais,
Está dor é muito traiçoeira
E fere muito mais que qualquer uma.
É triste sentir lágrimas quentes
Verter-se sobre seus cabelos
Em um abraço que busca conforto,
Que deseja amparo,
E você nunca teve outro lugar
Para encontrar tais saciedades da alma.

Mas a juventude ampara
Por si mesma,
Ela tem o relógio a seu favor,
O tempo que constrói feridas
Parece fazer cicatrizar por si mesmo.

Mas seus pais não possuem
Isto a seu favor,
Eles encontraram um ao outro,
E colocaram em você suas expectativas,
Eles vêem em você coisas evidentes.

As feridas no coração dos velhos pais,
Encontram naquele lugar
Muitas dores,
E ficam ali,
Até que deixem de pulsar,
O vigor da juventude saiu dali
Há tempos suficientes.

Se eles caem,
Você cai,
É horrível.

Fica pra sempre.
Senti-los tremer de dor,
Vê-los buscar amparo
Em você,
Isto é um passo para uma dor
Que ninguém merece sentir,
É a desgraça além da vida.

O desconforto de usar um sapato apertado
Num pé calejado,
E ser obrigado a sempre dar novo passo,
E nunca conseguir chegar a lugar algum,
Mas ser obrigado a ir.

Ver sua pele saltar para fora,
Arder até lá no fundo da alma,
E simplesmente ter de seguir.
É o ápice da dor.
O choro deles é pior que o sapato,
Compactuando com a calça apertada,
Te produzindo assadura.

Prendedor apertado
Arrancando os cabelos
E sendo obrigado a estar ali,
Para que eles não estejam soltos
Naquele calor desértico do Saara,
Escorrendo suor na sua camisa
Branca transparente,
Para deixa-la colada ao seu corpo
E vulgarizar as suas vestes,
De sapato apertado,
Calça colada,
Prendedor de cabelos bonitos,
Camisa combinando.

E cinto apertado na cintura
Para prender sua calça justa
Que cai o cós,
Desprende o botão,
Abre o zíper sozinha,
Enfim, tem vontade própria.

Então, marca sua pele,
Fere e corta a cintura,
Depois tem os botões da camisa,
Que decidem pular as casinhas,
Saltar para fora
E te expor ao ridículo,
Exceto isto,
Eles decidem apertar sua pele,
E o botão raspa contra seu peito
Para produzir cicatriz,

O punho acaba sujando sozinho,
Prejudicando seu cumprimento,
Aperta-se e marca,
Perde um botão ou outro,
Comprime suas veias,
E suor respinga,
Por todo o canto,
Porém, não escorre ainda.

Dor Envelhecida

É como se um rosto enrugado
Com tivesse algo de uma rosa,
Com suas pétalas aveludadas,
Que sempre que cai o sereno
Ele não resvala,
Ele desce feito carícia,
Terno e demorado sobre as pétalas.

O sofrimento no rosto do meu velho
Eu o sinto desta forma,
É sempre mais maduro e contudo,
Sua dor não se derrama,
Nem é gritada,
Simplesmente é sentida
Terna e profunda.

Sinto como se a dor
Em meu peito fosse mais devotada,
Eu sinto,
Logo grito e espalho pelos ares,
O choro em meu rosto
Desce feito sereno em zínia,
Longo e rápido,
Chega e não se demora
Vai as profundezas.

E lá fica até criar raízes,
Lá naquele seio onde
Moram suas sementes.
Mil brotos de dor saem
Por minhas veias,
E eu os entrego em cada movimento,
Palavra ou gesto.

A dor não foi feita
Para rostos envelhecidos,
Estes devem ser poupados,
As lágrimas em suas faces
São como cachoeiras soltas
Rumo aos riachos...

Da cachoeira nota-se o riacho,
Do riacho não vê-se a cachoeira.
A dor num rosto sofrido
Passa despercebida,
Este rosto já não fala muito
E a dor se instala sem reclamar.

É certo que dor foi feita
Para rostos jovens,
Lá a lágrima brilha,
A dor reluz e a fala se aflige,
Lábios jovens contorcidos
São facilmente notados.

E jovem sabe lavar o rosto
Na água fria,
Construir um sorriso
E curar as próprias feridas.

É o que penso,
Quando vejo a dor
Próxima a meu velho
Eu me aflito,
Eu penso
“quando será que a dor irá leva-lo?”
Prefiro, então, carregar a dor comigo.


Nadando no Rio

O calor estava intenso,
O verão veio com ardor,
O rio estava com águas calmas
Em um tom esverdeado convidativo.

A mamãe de Pitelmario pegou
A câmera de pneu,
Encheu de ar,
Convidou Bruce Wayne
E foram nadar.

Chegaram no porto de areia e terra,
Entraram na água,
Mas a mamãe se assustou,
A terra estava fofa,
Conforme pisava-se nela
Saiam bolhas de ar do fundo,
E ela desbarrancava,
E o leito do rio ficava
Cada vês mais profundo
Até não dar pé.

Os papais de Pitel foram também,
Todos se agarraram a boia
E não saiam do lugar,
Apenas eram levados pelo remanso
Mais para o meio do rio.

Todos gritavam assustados,
Aí Bruce Wayne forte e corajoso,
Mordeu o ventil da boia
E nadou puxando todos
Para fora,
Pitelmario o patinho fofo,
Nadou ao lado.

Bruce Wayne nadava
E empurrava a boia 
Com a cabeça,
Numa espécie de mergulho 
Na superfície da água,
Todos ajudavam com a mão
Que estava livre
Para moverem-se 
E alcançar a beira do rio.

Ao chegar na parte rasa,
Todos riram muito
E continuaram por algum tempo
De molho na água.

Agora eles decidiram
Amarrar uma corda na boia
E da boia amarrar a corda no tronco caído,
O tronco é tão forte que é capaz
De segura-los na água
Sem se mover
Ou deixar que eles vão para longe.

O barranco do Porto desmoronou
Um pouco,
Sujando a água
E jogando água para o leito do rio.

Mas tudo foi muito divertido
E quem mais nadou foi Bruce.
Wolverine acertou em não ir
Neste dia para o rio nadar.

sexta-feira, 17 de janeiro de 2025

Dia de Acampar

Ele a chamou para um passeio,
Foram acampar na beira do rio,
Chegando lá,
Ele a levou até o caico de madeira,
Jogou as linhas de pesca dentro,
As iscas e juntou o remo.

O rio era enorme,
Cheio de peixes a nadar e saltitar,
Haviam marrecos nadando,
E patos juntando peixes.

Uma borboleta pousou no braço dele,
Ele a juntou com o dedo indicador,
E a colocou sobre o nariz dela,
Que sorriu
Vendo as asas da borboleta baterem,
Então, ele se aproximou
E a beijou ternamente.

Então, iscaram as linhas
E jogaram do meio do rio,
Depois de apoitar o caico
Com uma corda e uma pedra
Na ponta.

Não tardou e veio o primeiro peixe,
Ele puxou com ímpeto,
O peixe voou com a corda
E bateu no braço dela,
Os dois riram muito
Vendo o peixe que após bater
Caiu no chão de madeira do caico
E se sacudiu sem parar.

Eles mexeram um balde de peixes,
Depois voltaram a margem,
Foram a sombra de uma árvore,
Juntaram madeiras velhas e secas,
 Também gravetos e folhas secas
Que estavam próximas,
Colocaram entre um amontoado de pedras
E fizeram fogo.

Depois soltaram uma frigideira
Com gordura de porco,
E fritaram os peixes
Depois de limpos e salgados.
O sol estava forte,
O calor escaldante,
Sentiram vontade de nadar,
Ela sentia medo da água,
Mal molhava os pés na margem
E gritava desesperada.

Ele, então, decidiu fazer-lhe uma boia,
Pegou o estepe do carro,
Retirou a câmera de dentro,
Encheu ela de ar,
Pegou a corda de apoitar,
Amarrou na câmera do pneu
E colocou a moça dentro da boia cheia.

Foi até a água com a moça no colo,
Soltou ela com a boia,
E a puxava para cima e para baixo,
Depois nadou com a corda
Amarrada na cintura
E atravessou o rio,
Ela batia os pés e as mãos na água.

Então, ele virou-se para ela,
E ganhou um beijo,
Depois voltou a margem
E comeram peixe frito dentro da água,
Ele servia em sua boca
E beijava ela,
Os peixes estavam muito bons,
A água estava morna,
E a ideia da boia foi super legal.

quinta-feira, 16 de janeiro de 2025

Pão Quente

Desolada,
Desesperada,
Incerta de um futuro,
Suas apostas e objetivos
Se encerraram naquele ponto.

Não havia previsão de melhoria.
Expectativas zeradas.
Ruína e incertezas.
Erros e injustificativas.

Ela abriu a porta da casa da mãe,
Sentiu cheiro de pão,
Se aproximou sem falar nada,
Abriu a cortina que dividia a sala
Da cozinha,
Entrou e sentou-se na cadeira
De madeira simples.

Sentiu dores nas ficou ali,
A mãe abriu o forno
E certificou-se de que o pão
Estava quase pronto,
Cresceu o suficiente
E a receita era ótima.

Então, voltou-se
E a viu.
A filha sentada a mesa,
Parecia uma menina,
Seu coração pulou de felicidade,
Ela correu até a geladeira
Pegou leite gelado
E ofereceu-a:
“Aceite, como nos velhos tempos”.

Você gostava de leite
Com pão quentinho,
Espere poucos minutos
E o pão estará pronto.

A moça segurou a xícara
Com as duas mãos,
Tomou o leite como se fosse
A mais deliciosa cerveja,
Relaxou na cadeira
Como se estivesse no mais
Requintado lugar.

O cheiro invadiu suas narinas,
Fez roncar a barriga.
Finalmente ela comeria bem,
Comeria o bastante,
Comida farta e simples,
Quis chorar pensando em seus
Momentos de pura festa
E aparentes regalias,
Ali protegida de tudo,
Havia comida,
Havia a mãe,
E tudo como ela desejava.

Não se rejeitou por desejar algo diferente,
Não se repudiou por todos os erros,
Pois logo o pão quente estava pronto,
A nata sobre o pão se derretia,
Escorria pelos contornos,
Ela jogou açúcar
E tomou com leite fresco.

A vida estava completa,
Retirou os saltos,
A maquiagem e a roupa cara,
Satisfez suas vontades
Por comida boa,
Companhia de quem se gosta,
E lugar onde seja desejada.

Abraçou a mãe apertado,
Comeu meio pão quente,
Andou descalça,
Desistiu de desistir,
Mudou seus planos,
Pegou o pano de chão
Limpou o soalho,
Ligou a televisão e jogou-se no sofá,
A vida cobra caro
Por tudo que a mãe dá.

Cesta de Gatinhos

A moça carrega uma cesta de gatos,
Todos pequenos,
Ganhos a pouco tempo,
Passa por uma praça
Onde brincam crianças.

Ela senta-se
A acariciar os gatinhos
No banco embaixo de uma árvore,
E sorri com eles no colo.

Logo as crianças vêem,
E desistem de escorrer
No escorregador,
Correr umas atrás das outras,
Param e contemplam a moça.

Seus olhos outrora felizes,
Ficam estagnados e gigantescos,
Como se todas as lágrimas
Do mundo pudessem caber em um lugar,
Então, se aproximam indagam sobre os bichanos,
Pedem para pegar,
Acariciam-nos.

Horas percorrem o tempo
E abandonam aquele lugar,
Todas desistem de seus afazeres,
Importa apenas os gatinhos
E tantos sonhos em seus olhares.

A moça despede-se
E não parte sem deixar seus gatinhos,
Os companheiros de viagem
Agora entram em outras vidas,
Outro destino.

Assim são feitos os sonhos,
De doar-se em busca deles,
E de transmiti-los a outros,
Neste instante,
Eles seriam bem-vindos
Em outros braços,
E a vida traria a garota
Outros gatos
E outros sorrisos.

Deixou o banco,
A cesta de gatinhos risonhos,
E a praça,
Foi-se embora a garota,
Ficaram atrás dela
Palmas e algazarras.

quarta-feira, 15 de janeiro de 2025

Saudade

Uma suave e doce melodia
Ressoa por entre os cômodos,
Na mais doce música,
Um nome é buscado
E uma lembrança o traz,
Uma pessoa a anos deixada lá atrás.

Está pessoa não parece conhecer seus efeitos,
A música tão linda
Faz recordar,
E traz a memória vívida,
Os olhos que fecham-se,
Parecem cortinas,
Enquanto fecham as janelas,
Permanecem fixos por entre os cômodos,
E nos cômodos as lembranças.

Olhos fecham-se e ouvem,
Lábios estremecem,
Pele arrepia-se,
O que houve a tanto tempo,
Vence os anos e retorna,
O relógio deixa de surtir efeito,
A distância deixa de existir.

Há um alguém para não ser esquecido,
Não enquanto a música toca,
A música que ganha o ambiente,
Envolve a quem ouve,
E chama seu nome,
E mesmo os lábios mais silenciosos,
Os que juraram esquecer,
Mesmo estes,
Parecem querer chamar.

Ele permaneceu intacto no tempo,
Todo o amor,
Todo o sentimento,
De repente se aviva,
Com efeito devastador,
É como se ele estivesse presente,
Se nem os segundos tivessem passado,
Como se a ampulheta do tempo,
Tivesse caído da cômoda,
E ao invés de espalhar -se pelo chão,
Tivesse voado pelo vento,
E percorrido toda distância,
Apagado o tempo,
Trazido todas as lembranças,
Areia contra o rosto que chora,
E os lábios finalmente abrem-se
E chamam: Rarat.

As areias que voam vão distantes,
O tempo percorre todos os lugares,
E areias desenham,
Escrevem,
Buscam e falam:
Rarat.

terça-feira, 14 de janeiro de 2025

Campainha

Ela repassa a folha do jornal,
De repente,
Se depara com a
Notícia de contracapa:
Sobre um jovem
Desfalecido através de faca.

Levou um único ferimento
Profundo e lancinante,
Sem motivação aparente.

A faca foi encontrada dentro dele,
Cravada em seu peito,
Sobre a camisa azul rasgada.

Sangue escorreu pela rua
E a deixou escorregadia,
Adiante,
Um motoqueiro derrapou
E sofreu acidente em virtude.

Ele foi encaminhado ao hospital
E o morto para a delegacia de homicídios.

Ela estremeceu,
Tremeu tanto que rasgou
A página,
Mantendo ela entre os dedos
De maneira tão apertada
Que suas mãos foram
E quando deu-se conta
Era tarde da noite
Ou então, amanhecia do dia seguinte.

Ela perdeu as horas
E talvez,
Os sentidos.

Reconheceu o rapaz.
Se tratava do moço
Que poucas noites anteriores
Ao acontecimento
Teria sentado com ela
Num bar,
Bebido cervejas
E trocado confidências.

Ela considerou quase um encontro,
Por pouco não o beijou
E ainda não sabia porquê motivo
Ela mesma não o levou até
Em casa,
Vez que ela estava de carro.

O bar ficava no andar debaixo
De seu apartamento,
Ela tinha o costume de frequentar
O local.

Ainda em estado de pânico,
De certa forma, medo.

Ela foi bruscamente retirada
Deste estado emocional
Quando a campainha tocou
E um estranho
Estava convidando-a para beber.

Confessandamente,
Que um convite não beirava
Ao absurdo,
Mas ali na porta
Estava um estranho,
De casaco comprido,
Botas e calças jeans,
Sua apareceu lhe causava arrepios,
E um estranho medo
A impediu de falar
E mais ainda,
De aceitar o convite.

Ela sentiu-se como
Se não fosse mais uma pessoa
Bonita e legal para uma noite de bebidas,
Era como se tivesse se tornado
Um arquivo,
Com identificação e motivação:
“aquela noite nunca poderia ter acontecido “.

Mas houve,
E agora
Ela era procurada por isso.

O beijo não foi dado,
Nem ao menos prazer oferecido,
Foram cervejas e conversas,
E agora a faca...

Ela sentiu como se ele
Crivasse a porta com sua faca,
Como se tentasse abri-la,
Forçando a fechadura,
Rasgando-a,
Entortando até que cedesse
E ele pudesse passar,
E então, finalizar o que começou.

Ela sentiu um medo de terrível
De ficar próxima a porta,
E de ficar distante da porta,
Se ficasse perto
Poderia ser encravada nela,
Se se distancia-se e ela
Fosse aperta,
Ela não estaria próxima
Para impedir a entrada,
Ou ao menos tentar.

A campainha tocava e tocava,
Parecia falar,
Gritar urgência,
O dia parecia se aproximar,
A luz falhou,
As lâmpadas da calçada se apagaram,
E a rua ficou as escuras,
A lua parecia distante,
E ele batia os pés insistente,
Tocava e tocava a campainha outra vez.

Suas mãos eram grandes e fortes,
Estranguladoras de se olhar,
Ele inspirava morte.

Seu cheiro produzia medo.
Ela achou que poderia sentir
O fio da faca penetrar seu corpo
E desfalece-la de imediato,
Em dor, agonia e desespero.

Fechou a janela,
Certificou-se de casa entrada,
Janelas, saídas e etc.

Jogou-se na cama,
Se enrolou no cobertor e ficou.
Chorou, soluçou.
Juntou uma faca na cozinha
E a guardou.

Teve medo de olhar.
De falar.

Apenas seu coração palpitou
Tão forte e intenso
Que parecia jorrar vida para fora,
Para cima dele,
Até afoga-lo
Ou despertar sua irá.

Ela não soube,
Apenas ouviu o próprio coração bater

Mamões de Corda

Chegou o verão na chácara,
O sol acordou por entre as nuvens,
Não tardou,
Abriu seus raios
Como se fossem braços
E afastou-as.

Chegou até a terra claro,
Mais claro que dias árabes,
Muito mais claro que o sol das cidades,
Ameno e quase sereno,
Clareou em toda parte.

Clareou as roseiras,
Abriu suas pétalas,
Clareou as buganvilles,
Deixou o verão colorido,
Os pássaros brincaram
E alimentaram-se do néctar
Das mais variadas flores.

As borboletas preferiram
As zínias coloridas,
Milhões de borboletas
Coloriram o ar,
As abelhas foram se alimentar
Só néctar dos chás,
Gostaram muito do manjericão.

Pitelmario juntou os pintinhos,
Que estavam grandinhos,
Mas não sabem voar.

Ele os colocou em suas costas,
E voou até o mamão de corda,
Lá os meninos e as meninas
Pularam nos mamões
E bicaram de um ao outro
Numa brincadeira de alimentar-se
No ar,
Por entre flores.

Pitelmario conseguiu
Se estabelecer no mamoeiro
E ficou ali
Entre voos
E bicadas cuidando
Dos pintinhos.

O gramado passou de florido
Para criar bilhões de sementes,
E os pássaros desceram do céu
Para alimentar-se delas,
Eles levam elas para seus filhotes
Nos ninhos altos,
E as replantam onde ainda não tem.

Obrigada passarinhos
E pintinhos,
E também a Pitelmario
Fala o sol lá do alto
Sorrindo e se divertindo
Fugindo das nuvens no céu azul profundo.

domingo, 12 de janeiro de 2025

Areias do Tempo

Em épocas passadas,
O povo foi bondoso,
O rei esplendoroso,
Os corpos eram tratados
Como um templo,
E as almas,
Eram desejadas por perto,
Por isso,
Esperou-se suas volta.

A veste do corpo que desfaleceu
Era escolhida a dedos,
A mais especial
Para o rei esplendoroso,
Por medo de que se deteriorasse
Até sua volta,
A veste possuía adornos
E entornos.

Guardou-se
Ao invés de se despedir,
Fez-se escolta de estátuas,
Pois ao rei bondoso,
Queria-se mostrar o caminho
Do retorno,
E os súditos que souberam
Esperar.

Estátuas em volta do sarcófago,
Joias bonitas e vestes de espera,
Doou-se o melhor
Para esperar aquele que viria,
Uma espécie de estagnar do tempo,
Parar as areias do relógio,
Para exaltar o bondoso.

Hoje, correu os tempos,
Mas lá permanece a lembrança,
Anterior a fotografia,
Originária de primeiros desenhos,
Quis-se eternizar
Aquele que foi benigno.

A quem queira permite-se o contemplar
Do rei que foi a distantes séculos,
Mas sua imagem ficou intacta,
Com o único intuito
De mantê-lo,
Um não querer separar-se,
Um meio de valoriza-lo,
E o próximo que veio
Não foi menos exaltado
Nem hoje menos poderoso.

Amado e esperado.
O lindo rei esplendoroso.
Diferente desta,
Que desfalecendo
Sorte terá se for para a terra,
Jogada a sorte em águas
Ou tenha uma fotografia
Mantida em lembranças.

É quase um desfaleceu:
Que fim dar a está que parte?
Olhos que choram não sofrem,
O querido que guarda
Não tarda a esquecer,
A fotografia é mantida
Até o apagar-se junto as outras,
E confundir-se no álbum rasgado
E envelhecido pelas traças.

A fotografia modificada por computador
Já não condiz com a lembrança,
A lembrança se esvai,
E a que esteve entre nós,
Foi parar em algum canto
E sua fotografia, também.

Mas, num povo não muito distante,
Espera-se o rei,
Confia-se no que se creu a muito tempo,
Sua imagem rompe séculos,
Suas estátuas o protegem,
Seus entes são como os de antes
Bondosos, corajosos e progressivos,
E suas belezas ainda são as almejadas.

Lindo e esplendoroso menino,
Já nasce um grande garoto,
Com uma história antiga de povos
E o governo nato em suas cabeças,
Coroas são para reis e rainhas.
E pessoas que vão casar-se.

Coroas identificam
Natureza de ideias,
Maturidade de atitudes.
Comunhão de sonhos,
Liberdades para unir-se.

É um símbolo do presente
Como forma de garantir um futuro,
Pois olhos que choram
E almas que sofrem saudades
Não sentem por falsidades,
E mentiras vão-se.

sábado, 11 de janeiro de 2025

Foto da TimeLife

Postar fotos na rede social
Não deveria ser sinônimo
De ciúmes,
Deveria despertar admiração,
Carinho,
E os mais lindos elogios
Ditos no silêncio do olhar,
Ou entre os cantos da casa.

Mas não é assim,
Ele posa no status,
Eu corro para a câmera,
E não importa o quanto de roupa
Ele tenha,
Eu gosto de sempre
Ter um pouco menos.

Eu sei,
Me vejo no espelho
Do celular
E penso estou louca,
Comercializando corpo
Por sentimentos,
Quê importa se ele está bonito,
Pôs fotos dele sozinho,
Eu corro logo tirar a roupa,
E disfarçar por entre meados.

Que droga de mulher
De baixa imunidade
Eu me tornei,
Só me falta correr
Por todo lugar onde ele estiver,
Segui-lo a distância
Feito idiota
E imaginar que ele
Desmereça todos os elogios
Que eu mesma o faço.

Que insegurança tão triste
Está que sinto,
Se o elogio vem dos meus lábios
São poucos e escassos,
Ele merece mais,
Muito mais que os que coloco,
Mas quando vêm de outrem
Por quê me sinto tão desguarnecida?

Frágil criatura,
Baseada em opiniões alheias,
Eu me tornei dependente do açoite
De lábios estranhos a nós dois,
Ele é autossuficiente,
Cada pose vale uma torre em chamas,
Um castelo engolido pelo mar,
Uma árvore cheia de frutas
Solta ao vento,
Eu lhe daria minha vida
Por quê acharia que alguém
Lhe daria menos?

Mas isto me importa?
Me rói as unhas,
Fere a pele,
Mexe com meu cardíaco,
Corro e posto a foto,
Se a torre pegar chamas,
Eu a sugiro um castelo,
Se tudo inundar,
Eu digo que árvore molhada
É aquela que produz mais...

E dane-se o blá blá blá,
Nem chamou no chat
Pra não confundir mais.

Fujo das fotos,
Odeio suas poses
Suficientemente vestidas
Para me converter a tirar a roupa,
Odeio todos os seus botões,
E minha mania por verão exaustivo,
E aquelas suas calças
A ver de todos os olhos
Incompatível.

Ufa,
Desabafo
E te amo.

sexta-feira, 10 de janeiro de 2025

Prece

Muhamed profetiza:
“Daí boas novas ao paciente”.
Ele fala do povo que sofre e pede,
Allah confessa ao profeta
Que o povo que sente,
Merece,
E o povo que pede
É o mesmo que é ouvido,
Pois Allah é benigno.

Contudo o profeta diz
Seja paciente,
Pois ao pedires
Também precisa buscar.
Allah deu a todos força,
E está força precisa ser usada
Para buscar sonhos,
Construir-se em cima de valores,
E ter por alicerce a família.

Allah não dá aquele
Que pede
Pelo ato de pedir,
Não é o cair de joelhos
E unir de mãos
Que faz do povo merecedor.

As mãos que unem-se,
Se unem para fazer prece,
As mãos que unem-se
Unem-se para estender-se
Ao próximo,
As mãos que unem-se,
Unem-se para lavar o rosto...

Vê-se, por tanto,
Que há sempre duas mãos
Para seu favor
E uma para cumprimentar o outro,
Para acenar ao próximo,
E as vezes para dar.

Mãos unidas em sentimento
De oração,
Unem-se desde o peito,
Seguem unidas até o receber
E Allah vê,
Allah concede,
Seja bondoso ao semelhante,
E Allah verá,
Também.

quinta-feira, 9 de janeiro de 2025

Talvez, Allah teria previsto

Talvez,
Tudo estivesse descrito,
Talvez,
As estrelas tivessem previsto,
Talvez,
Allah acredite em destino,
Talvez,
Muhramed profetizou antes disto...

Futuro do rei
E a garota,
Não garota qualquer,
A sua querida.

Ela disse garoto rei
Vem aqui em casa
E fica comigo,
Vamos aproveitar o dia,
Fazer algo juntos.

Ele teclou por algum tempo,
Ela continuou:
Eu admiro você,
Poxa você é lindo,
Eu queria tanto um tempo contigo,
Horas, dias ou o destino.

Ele disse:
Garota, eu a amo.
Ela disse,
Ora menino
O profeta que escreveu sobre a vida,
Tem quase seu nome,
Não seria de você um súdito?

Oh amado Moh,
Ele em fé previu seu caminho.
Que é de mim singela seguidora sua?
Eu sinto medo,
Eu sinto carinho,
Eu busco nas linhas da fé
Uma forma de tê-lo comigo.

Estou certa, então?
Eu te amo.
Antes da profecia,
Você sabe,
Antes ainda da escrita:
Você viria,
Estava previsto.

Você é um grande homem,
Isto não faz a ninguém indiferente,
Mas eu sou garota simples,
Você acharia bom isto entre a gente?
Isto de eu te amar,
Querer estar ao seu lado?

De repente,
O teclado parou de descrever “digitar”,
E sem que ela tivesse respostas,
Tudo ficou emudecido.

Duas horas mais tarde,
Ele chega até a casa dela,
Vestido bem normal,
Sem coroa ou turbante,
Ela corre até ele,
Pula em seus braços,
E vão colher abacaxis maduros,
Amarelinhos e doces,
Também banana,
Do cacho que iniciou a ficar amarelo.

Juntos eles sentam no gramado
Que começa a sentir os resquícios
De sol quente de verão,
Decidem se molham a terra
Ou esperam pela chuva,
Unem suas mãos uma na outra
E fazem uma prece a Allah por chuva,
Para que acalme o calor
E reavive as plantas,
Depois disso,
Olham por um tempo
Um para o outro
E se beijam no gramado.

A Hora

Anunciaram os djins, - aproxima-se a Hora. O povo daquelas areias Sobre o mar azul e limpo Estremeceu. Aguardaram uns de Al...