segunda-feira, 27 de janeiro de 2025

O Cara do Terceiro Andar

A garota gostou do carro,
O perfume era caro,
Ela reconheceu o cheiro,
Se aproximou mais do garoto,
Apareceu uma carreira recheada,
Neste dia,
O cartão não bastou,
Mas as horas passaram.

Ele estranhou que acordou
Ao lado dela,
Achou esquisito
Ter lhe dado a senha e acesso,
Após isso, veio a duplicidade.

Dias se passaram na percepção,
Ela, em seu apartamento,
Definiu por meses,
E disse: “seu pai e sua mãe
Bateram o carro”.
E houve no cartão o gasto.

Ele disse: “ótimo”.
E meses passaram-se
E ela disse anos,
Era estranho mas o sol
E a lua,
Vistos de sua janela
Com a pouca percepção que
Lhe era permitida
Não lhe diziam isto.

Ela voltou-se
E trouxe a notícia
-“com a batida do carro
Seus pais morreram”.
Veio no cartão os gastos,
Hospital, remédios, caixão e velório.

Ele disse: “terrível”.
Nisto tudo,
Ele cancelou trabalho,
Estava tudo escrito no celular,
Cancelou saídas,
Desistiu de visitas,
Estava tendo horas de prazer,
Havia encontrado mulher
De sua vida.

Os amigos cessaram contatos,
E as mensagens provenientes
Eram as mais estranhas.
Sem amizades,
Sem acessos.
Ele disse: “preciso ver meus pais mortos”.

Ela disse:
“Querido,
Você não recorda,
Ora,
Como é esquecido...

Você esteve no acidente fatal,
Foi parar no hospital
Eu os atendi,
Você sobreviveu,
Apaixonou-se
E me passou cada centavo seu,
Cada bem
E o proveniente.
Eu moro com você desde ontem!”

Ele achou estranho,
Faziam talvez meses
Ou então, anos,
Sim.
Ela pareceu mais correta,
Faziam mesmo anos
Que estavam juntos.

Mas um dia, não.
Isto não foi questão de tão
Pouco tempo.
Tentou mover-se não teve forças.
Quis sair da cama,
Abrir as janelas de vidro,
Arrancar as venezianas
Sob abertas,
Mas não conseguiu mover-se.

Não tinha estímulo no cérebro,
A visão estava embaçada.
Os dedos frágeis
Como se lhe faltasse alimento.
Ele não parecia amarrado
A cama.
Mas lhe tinham dores
E aparentes hematomas.

“ta ok.
Eles morreram.
Eu assino o que for.
Gostaria de deixar este lugar”.
Ela sorriu.
Fez-lhe uma vacina no rosto.

“seu Botox, amor.”
E saiu.
Ele viu-se desmaiar.
Desta vez,
Uniu todos os esforços.

A família estava morta.
Ele estava vegetativo.
Sem dinheiro.
Sem comida ou água.
Sem banho.
Precisava de forças.

Fechou os olhos
Pelo que lhe pareceu minutos,
Lembrou dos bons momentos,
Os bons amigos,
As bebidas e as noites loucas,
Os pais com café quente
Logo no início da manhã.

O almoço pronto.
Lembrou até do entregador de pizza...
Então, o pássaro negro
Com quem ele dividia o pão,
Bateu no vidro da janela,
Como fazia a casa manhã,
Conforme o rumor das batidas,
Intensas e frenéticas,
Já era noite ou madrugada,
Ele não havia sido alimentado.

Nisto,
Ele fez um silvo com os lábios,
Frágil e sem abrir os olhos.
Seu corpo estremeceu de medo.
Poderia ser a garota,
E ela ter matado o pássaro
Ou o capturado.

De repente, ela trancaria os dois juntos
Para ver quem comeria o outro.
Sua barriga estava funda,
Seu corpo parecia pele flácida
E ossos doloridos.

Os lábios doíam,
Os dentes pareciam ter caídos,
Estavam, ao menos, moles.
Mas o pássaro ouviu.
Bateu mais forte.
Bicou e bicou.
O vidro partiu-se.
Rachou ao meio.

Ele fez outro silvo.
Um sorriso quis surgir
Em seus lábios.
Ele não teve forças.
O pássaro bicou mais ainda
E cantou.

O corpo dele tremeu de medo.
Ela poderia ouvir,
Poderia ser mais de uma pessoa.
Ela iria invadir.
E talvez, mata-lo,
Ou matar o pássaro.
Ou estrangula-lo
Até que ele dormisse.

Mas, o pássaro não desistiu.
O viu.
E bateu mais forte.
O calendário caiu da mesa
Fez um estalo no chão.
Mudou uma folha
Enquanto caía.

A janela abriu-se ao meio.
Foi até quase toda a rachadura,
Esmigalhou-se.
Ele conseguiu fechar os dedos.
Empurrar-se na cama.
Sentou-se na beirada.
Abriu os olhos.

Removeu o lençol.
Sentiu medo
E se atreveu a olhar.
Parecia dia.
O pássaro voou até ele.
O bicou próximo aos cabelos.
E saiu.

Ele tentou mover-se,
Lembrou dos pais mortos.
Imaginou o velório
E chorou copiosamente
E com medo e dor.
Levou a perna direita
Para frente
E levantou-se num passo.

Só a perna o movia.
O corpo ainda parecia sentado.
Ele mover-se outra vez.
E outra.
Então, juntou todas as forças
E jogou-se.
Sem rumo contra a janela.

Sem rumo
Em busca do único vestígio
De vida que tinha.
Suas forças esvaíram-se.
Mas o corpo
Foi pesado o suficiente.

Conseguiu cair do terceiro andar.
Estatelar-se sobre a calçada.
Saiu sangue.
Ele estava vivo.
Estirado no chão semiconsciente.
Vestia calças e camiseta verde abacate.

Seus olhos viram o azul do céu
Por única vez,
Depois fecharam-se,
Ele chorou
Até as lágrimas escorreram da calçada
Para o asfalto.

Um vizinho do lado do prédio o viu.
Correu até ele.
O abraçou,
Não reconheceu,
Mas o conduziu até o hospital.
Ele não teve forças de falar.

Não pode negar-se
A ser conduzido.
Em poucas horas,
Os pais surgiram no leito da cama.
Estavam os dois vivos.
Sem hematomas.

Tinham apenas olheiras profundas.
Estavam com suas mãos
Unidas nas mãos dele.
Ele por um piscar de olhos,
Abriu os olhos,
Os viu,
Depois dormiu.

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