Espero.
Espero até nossa mãe
Fazer o jantar,
Espero,
Espero até poder
Me alimentar,
Espero,
Espero até ver
Nossos pais se alimentarem,
Espero.
Decido mudar
O rumo das coisas,
Talvez, fosse pra esses lados
Que meus bois
Estivessem levando a carroça,
E eu simplesmente,
Deixei seguir o rumo,
Talvez, fosse pelo lado oposto,
E eu tenha puxado a corda
Na hora certa,
E eles tenham se encaminhado
Comigo a guia-los.
Mas, deixo ela lavar a louça,
Falo pra ele levar a louça
Até a pia,
Ambos retiram a toalha,
Limpam a mesa,
E eu espero.
Espero até passar
Outro capítulo da novela,
Outra notícia
No telejornal,
Outra conversa paralela,
Outro assunto sobre a família,
Espero.
Então, me dirijo ao seu quarto,
Abro a cortina
Com um susto:
Você não está lá.
Sinto seu cheiro
Invadir minhas narinas,
Está tudo tão vivo,
E tão no lugar,
Parece inalterado.
Espero até sua imagem
Se personificar,
Busco seu sorriso,
Seu jeito,
Sua voz,
Quase não respiro,
Quase não resisto ao choro,
Quase não resisto ao torpor
Que talvez me faça
Não sentir as lágrimas.
Depois disso, dou outro passo,
Estou dentro,
Próximo ao seu cantinho,
O lugar onde você dormia,
Dou dois passos
E estou na sua cama,
Com seus cobertores estendidos,
Seu travesseiro organizado
E limpo.
Espero até me ver respirar,
Busco suas histórias,
Sua rotina,
Busco onde você está?
Sinto saudades suas,
Deito em seu lugar,
Sinto vontade de morrer
Um pouco,
Não muito,
Só o bastante para ir
Até onde você esteja,
Não me contento
Com a lápide com seu nome
Sobre um chão de cemitério,
Não,
Você não está lá,
E eu desejo vê-lo,
Desejo buscá-lo,
Gostaria de abraça -lo,
Na casa,
Nossos pais sentem dor,
Eu noto na voz arrastada
E dolorida de cada palavra,
Nas ausências,
Nas conversas que o buscam,
Eu sinto vontade de morrer,
Apenas até te achar,
Nossos pais sofrem,
Onde você poderá estar?
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