Ela urrou um grito surdo e profundo com o intuito de
expulsar a dor,
Usou todas as suas forças até colocar-se de joelhos no
chuveiro,
Embora, a água pudesse ocultar suas lágrimas, não as
impedia,
Ela as sentia mesmo sem derramar sequer uma única do seu
olhar,
Desejava quebrar as algemas que a prendiam naquela dor
enlouquecida,
Mas não conseguia rompe-las, as paredes a exprimiam contra
si mesma,
Tudo que sentia era remessado com força contra a sua cara,
Cada pensamento seu vinha de encontro aos seus sentimentos,
Distorcidos, embebidos em veneno, seus atos não lhe
pertenciam,
A feriam de dentro para fora e vice-versa como uma voz
sedenta por socorro,
Que ao invés de proteger feria com garras intangíveis e
macias,
Com o calor da água que caía rasurava seu rosto, arranhava
até sangrar,
Sem lágrimas que denunciassem a dor silenciosa e desumana,
Seu choro cego comprimia o peito como se não houvessem
alternativas,
Soluçou para descansar, foi quando escutou uma voz macia que
dizia,
Seu inimigo não está além de você mesma, o erro é seu, se redima,
A voz feminina não entendia o que ela sentia, mas cobrava
com tudo que possuía,
Ao ouvir isso, não restou nada além de responde-la conforme
queria,
De que outra forma poderia agir aquela que era prisioneira
sem acusação,
O incentivo não tinha outro intuito senão o de ferir sua
emoção,
Como uma marionete, foi usada como joguete, sem vida ou
vontade própria,
O contra-argumento só lhe prestou como incentivo para lutar
por si mesma,
De que forma sofrer dentro de casa e sair com o rosto
molhado sem demonstrar?
Quando feri-la, sem saber por que motivo, era o maior
intuito de alguns?
O quão bem poderia proceder dependeria das circunstâncias,
Mas, ela não desistiria, mesmo impedida de ser ou sentir,
resistiria,
A frequência em que ia ao chão se tornava mais regular
agora,
A ausência de lágrimas em seus olhos não era notada ou desvelada,
As distorções estratégicas se desenvolviam em vista de
verdades falseadas,
Tudo o que era ou se importava caía as margens da
importância,
Havia uma guerra fria ao seu redor, mas ela queimava em
chamas,
Ardia, vendo-se desfalecer ante tudo que sentia, ninguém a
via?
Sinta culpa diziam-lhe, procure uma desculpa em que se
apegar,
Desça a sepultura com ela, permaneça a espera, até a chuva
descer à terra
Lavar seu rosto ferido, carregar sua alma para algum outro
lugar
Em que tudo possa fazer sentido, onde você possa ser
reconhecida,
Um rosto sem face, um cadáver sem nome, identidade
falsificada,
O que sobra de você quando tudo que você faz cai em (des) importância?
Ora, pare de se preocupar tudo não passa de um singelo ponto
de vista,
O enfoque sobre as lágrimas de sangue que escurecem seus
olhos castanhos,
Neste aspecto da questão, não significam nada, a chuva cai e
vai embora,
Você não, você morre aos poucos porque se permitiu acreditar
no amor,
Se as flores de plástico não padecem porque você desejou
fazer a diferença?
Neste ponto de raciocínio, você não passa de uma
indisciplinada,
Precisa aprender a viver, amadureça as suas ideias, sentir irá
te proteger agora?
Primeiro que você parece relutar a obedecer às ideias
postas,
Segundo é que ainda acredita naquela teoria respectiva a tal
justiça?
Em qual você se apega: à humana, a divina? Querida, aqui você
não opina!
Relaxa os ombros, aqui é um homem que fala, não reconhece as
palavras?
Ela se contorceu, a fala lhe parecia errônea, então, havia
algo errado com ela?
As propriedades referentes ao seu pensamento lhe pertenciam
ainda,
Mesmo que o sigilo acerca dele estivesse fora do alcance dos
seus dedos,
Mesmo que segurar ou contê-los não fosse qualidade sua,
Sua mente inquieta sofria, mas não se permitia quedar ao
silêncio,
Rejeitada, não sabia se rejeitava ou acolhia, se via tonta,
perdida em si mesma,
Se preocupava demais em esperar retribuição, não conseguia
ver além da sua vista,
Sua tristeza não era mais do que poderia oferecer, estava
ferida, sangrava e agora?
Permaneceria a espera de ser acolhida ou pegaria o carro e
dirigiria a sua vida?
Havia um buraco em sua alma, ela estava caída lá dentro,
colocaria a mão para fora,
Se arrastaria até sair de si mesma para lutar por si própria
e por quem ama?
Não viam-na além dos seus erros, ou ela havia se bloqueado
em angústia?
Não saberia precisar se era chuva ou lágrimas que a
inundavam por dentro,
Iria se afogar em si mesma, precisava reagir depressa ou
desfaleceria em sua dor,
Pensar sobre as pessoas não as transforma para além do que você
as rotular,
Projetar sua dor no seu redor não modifica o semblante do próprio rosto,
Se você sofre eu sofro, agora é esta a lei que determina a
sua vida?
Jogue-se em queda livre comigo, aquele que sobreviver tem
direito ao sorriso,
O enfoque sobre ser capaz de vencer a si própria tende a
produzir algum incentivo,
Pensamentos inconclusivos ocasionam atitudes incompletas e
sem sentido,
Buscar em si um objetivo é muito mais que inundar-se através
das suas lágrimas,
Se agarrar ao passado para se recusar ao presente e
desestabilizar o futuro,
É um esvaziar de sua alma e preencher-se de dor até não ser
mais nada,
Seus erros do passado não lhe fazem melhor, quanto a ser
pior pode ser sua escolha,
Se apega ou desapega, escolha em que acreditar a partir
deste momento,
Escolha levantar-se neste mesmo segundo e buscar ver além do
que você acredita,
Mude sua rota, rompa com suas teorias, percorrer em linha
tênue não te faz maior,
A escolha entre o sorrir e o chorar pertence a quem senão a você
mesma?
A opinião negativa dos outros lhe influência, mas as
positivas não dizem nada?
Que tal parar de criar teorias sobre o amor e passar a
praticá-las?
Seus atos não irão além do que você se apega, veja suas mãos
e faça a sua escolha,
Favorecer o agravamento da sua angústia ao alimentar opiniões
destrutivas
Não fará mais que lhe manter em ódio até destilar o veneno
em que se afogar,
Não importa o seu pensar, o mundo ao seu redor é maior que a
sua insônia,
Então, se você se aconchegar ao travesseiro e descansar
talvez, possa ter calma,
A vida não para e você ainda acha que possui a solução em
sua cabeça?
Sempre há exceções, sempre há uma lágrima escondida em algum
lugar,
Chorar não lhe fará pior, mas um sorriso seu poderá fazer a
diferença,
Se o seu interior está em conflito, busque ser seu próprio
auxílio,
Existe um mundo a sua volta que necessita que você seja
mais que isso,
Ela estendeu a mão para fora de si mesma, estava tateando no
escuro,
Até que dedos seguros, da mesma mão que ofertou o dedo do
meio,
A seguraram com força, com um gesto seguro a puxou para fora,
A luz que brilhava, também a feria, ao tentar derreter o
salino do pranto,
Desnudava seu sofrer e exponha a sua alma, por ser humana
ela sentia,
Por ser humano ele creia nela a ponto de oferecer amparo,
Ele desligou o chuveiro, a água sessou, o rosto inchado
sofria,
Mas a dor que comprimia os havia libertado – uma toalha a
secava.