domingo, 26 de março de 2023

Já Não Posso Amar Você!


-Eu te amo, preciso que você saiba disso.

Ela leva a mão até seu rosto,

Não resiste em tocá-lo,

-Oh, perdoe-me, preciso saber o que você sente,


Diga-me, por favor,

Você sente por mim o mesmo?

Ela retira a mão assustada,

Ele sorri e seu rosto se deforma,


O riso é um misto de surpresa e orgulho,

Mas, não há nele nada de amor,

Há outra coisa,

Uma espécie de sentimento vitorioso,


É como se a olhasse mas não pudesse vê-la,

Havia ali um sentimento distante,

Que parecia nem ao menos pertencer-lhe,

Era como se buscasse preencher outra coisa,


Satisfazer outro alguém que não a si mesmo.

-Peço que me desculpe,

Mas sonhei com você esta noite...

Ela percorre com sua própria mão a testa,


Retira dali suor e um cheiro forte,

A mão que o tocou não fora limpa,

E agora parecia fétida.

Ela assusta-se com a ideia,


E afasta-se,

Parecia querer afastar-se de si mesma,

Odiava a ideia de rejeição,

Principalmente rejeitar um alguém que nem conhecia,


Não de forma tão profunda e latente,

Mas, palpitou alto a sua emoção,

E toda ela não desejava estar perto,

Ele cheirava a distanciamento,


Isso para não usar outro termo.

-Bem, sonhei com você e acordei assustada,

Lá eu corria para te ver,

Porque você chegava de surpresa


E arrombava a porta da minha casa,

Lá eu estava deitada sobre minha cama,

E só corria devido a uma certeza,

Teria que pagá-la,


Ora, parece estranho e desmedido,

Mas nele você só desejava meu prejuízo,

Mentia que me amava,

Fingia se agachar e me pegar em um dos seus joelhos,


Como se eu fosse uma menina,

Rejeitava meu sentimento de mulher,

Queria apenas minha espécie de “pureza”,

Eu bati forte contra meus lábios,


E mesmo acordada eles doem,

Rejeitei a palavra por provir de sua face,

Então, acordei e descobri que nunca toquei seu rosto,

Pois é, nunca cheguei em você tão perto,


Mesmo sendo íntimos,

Então, quando eu saía do quarto

Em poucas passadas,

Você me via pobre e fragilizada,


Ria um riso grande e jogado para trás,

Dava meia volta e beijava outra,

Outra maior como você,

Outra que era moça mas possuía seu tamanho


E, não descreio também suas ideias,

Acho que você queria me fazer ciúmes,

Despertar algo dentro do sonho,

E este algo você era incapaz de conseguir fora dali,


Me é estranho, estranho mesmo,

-Mas, agora por favor, abra a porta do carro,

Sim quero sair daqui, de perto.

Seu rosto foge do contato,


Talvez, até ele esteja cansado de tudo que você fez,

-Bem, mas diga que me ama, por favor,

A certeza que tenho é que preciso ouvir isso de você,

Há algo de profundo nisso,


E grande, há algo maior que você...

E este seu rosto, você sabe porque se derrama?

Ela o toca e você a satisfaz,

Mas a que preço?


Hoje, você não pertence a você mais...

Foge de si mesmo,

Não terá filhos,

Não me pergunte o motivo da certeza,


E os tendo não os reconhecerá,

Há ainda de você algo que seja verdadeiro?

Chega-se no ponto em que você está e tudo falha,

Estremeço e me encolho no banco,


Ele dá a partida e me ignora,

-Sim, eu a quero!

Ele diz com aquele sorriso caído,

O sol toca seu rosto e gera horror,


Os dentes bem colocados e amarelos,

Os lábios apagados ao fundo,

A pele parece derreter ao contato,

A cor foge em tons amarronzados,


Os olhos pálidos e esverdeados,

Um estremecer de horror gera pânico,

Olho para minha mão e meus dedos,

Eles serão obrigados a chegar perto,


Muito perto,

Há nesta proximidade o perigo,

Não de outra coisa - do contato,

Teria origem no sofrimento isso?


Pego minha mão com a esquerda,

Elevo-a até ele,

Sim, isso é uma carícia,

Você sabe ou saberia reconhecer?


Tenho a certeza que não,

E outra, ele não a quer,

- Gostaria de sair mesmo que a contramão,

Por favor, lhe pedi: pode me dar a liberdade?


Me procura para me repousar um beijo,

E meu estomago gera repulsa,

-Preciso por algo para fora,

Ah, por favor, pode abrir a porta?


Ele não faz mais que ignorar tudo que digo.

Mas, consigo por ora rejeitar o beijo,

Que repousa logo abaixo do meu lábio ferido,

Sinto mais dor,


-Me perdoe, eu lhe disse: já não posso!

Há um ponto em que já não se pode ir adiante,

Talvez, seja quando a cara do outro cai sobre você.



 

sexta-feira, 24 de março de 2023

Do Lado de Dentro

 

Antes do porvir em dias difíceis,

Que se aproxime o dia em que você dirá:

-Querida, é certo que amei-a!

Com aquele seu sorriso singular,


E um brilho de encher de orgulho,

Mas antes de você terminar seu discurso,

Querido, já terei desistido.

Muito antes.


Bem, percorro o caminho até ele,

Com destino pronto,

Sei que não será mais que isso,

Beijo, abraço e aquele eu te amo em falso,


Apenas para ganhar um instante de companhia,

Uma foda do dia!

Essa frase não enche minha boca,

Como me torra o saco!


Bem ao meio – destruição.

Entregar-se a alguém apenas por momentos,

Um nada mais que sexo bom.

Mas quem precisaria mais que isso?


Eu o conheço bem, aliás muito bem,

Sei que nem bem viro as costas

E já bem próxima outra vem.

Mas, troco os canais da minha tv,


Procuro um programa que me preencha,

Ligo uma música,

Folheio um livro e nada preenche,

Infelizmente um encher de saco cai bem,


Melhor que a solidão de não ter ninguém.

É eu tenho satisfação com ele!

Ele é bonito, chama a atenção,

Faz-me sentir orgulhosa e bela,


Antes que se escureça o sol e caia a luz,

Espero que ele não perceba que por dentro eu choro,

Por trás de todo este brilho em meus olhos,

Eu queria um abraço mais apertado e demorado,


Queria poder ligar a qualquer hora,

Ser esperada e bem-vinda,

Quando os guardas lá de fora tremem,

Eu penso: será que ele me espera?


Vejo que eles mechem-se de seus lugares,

Contudo não dizem nada ou sorriem,

Quase me curvo a vontade de saber o que é.

Quando paro de me corroer pode dentro,


É apenas quando estamos fazendo sexo,

Naquele instante de auge,

Em que os pensamentos somem do nada,

E até mesmo as palavras,


Eu o ouço dizer eu te amo,

Mas isso não penetra minha alma,

De alguma forma sei que é mentira,

De alguma forma.


Olhos olham embaçado pelo suor,

Rostos se confundem e neles o sentimento,

Talvez ele ame,

Não é sobre isso que duvido,


Mas não sou este alguém,

Do contrário eu saberia.

Sei que sim.

Quando as portas se fecham os sons aumentam,


Quando se abrem a distância predomina,

O silêncio é rompido por gemidos,

Mas lá fora estes sons soam fracos e indistintos,

Quando se tem medo de altura,


E de perambular pelas ruas,

Aprende-se a reconhecer isso,

Sinto um florir do medronheiro,

Posso dele prever seus frutos,


Mas não do que estou vivendo,

E sei disso, então por que insisto?

Quando o desejo já não é despertar sozinha,

Se preenche com qualquer coisa...


Qualquer coisa?

Não, não com qualquer coisa,

Mas com bem pouca... bem pouca.

Então, adentra-se para um ambiente externo,


E lá vive-se tudo que é sonhado,

As juras, as carícias, os beijos correspondidos,

A portas fechadas sou profundamente amada,

Protegida como nenhuma outra seria,


Me vejo única, me sinto plena,

Mas do lado de fora pranteadores vagueiam pelas ruas.

 

 

                                     


quinta-feira, 23 de março de 2023

Aconteceu, Lá Em Casa


A luz daqui onde estou

Me é agradável daqui a duas horas,

Por mais que me sinta viva,

Gostaria de desfrutar isto por uma vida,


Me é impossível esquecer as escuras,

As partes turvas em que não sei ao certo,

Elas não são poucas,

Nisto muita coisa perde o sentido.


Sigo os passos que meu coração mandar,

Até onde este vento vivo possa me alcançar,

De tudo isso, deixo de lado os julgamentos,

Apenas para poder olhar em seus olhos,


Dê-se de você com generosidade,

Acredite e pense que sabe dirigir-se,

-Não gosto de sua barriga.

Ele fala em tom de raiva e desdém,


-Por quê ela não cresce?

Ele indaga como se portasse uma faca,

Talvez, ele chore,

Prefiro pensar que sim quando baixo a cabeça,


Mas não ouso encará-lo,

Mesmo antes.

Engolem-se o choro,

Busca-se um algo no horizonte distante,


Embora o choro sufoque o peito,

Levantar a cabeça já não é possível,

-Aqui a violência é psicológica,

Veja a arma que tenho em minhas mãos,


Se faça de louco e corra,

Pode ser de encontro a parede...

Um outro fala, desta vez, do lado de fora,

Penso que ele me defende,


Imagino que quero abraça-lo,

Tenho certeza que isso é o que ele mais precisa,

Mas neste momento eu não posso,

Minha barriga está incapaz de reagir,


Sinto um embrulhar crescente dentro de mim,

Um algo que me aperta a garganta,

Já não sinto mais fome,

A tudo isto não definira medo,


Até sair e olhar para a rua,

Tentar percorrer a calçada e ver que não posso.

Volto-me.

Ele se sente seguro assim inseguro,


Faz como quer e como pode,

Eu acredito que também.

-Tô tocando uma punheta,

Uma mão bate em meu braço direito e fere,


Ela move-se rápida e líquida,

Não me movo.

-Pegue no meu pau,

Pegue no meu pau,


Pegue no meu pau,

Pegue no meu pau e aperte.

Rio disso, então o encaro,

Ele parece entretido e distante,


Gosta do que faz e do resultado,

Isso me deixa hesitante,

Me encolho, não o reconheço,

-Ele disse meu pau.


Eu falo com olhar nostálgico,

-Ah, e daí?

Indaga a outra sem entender o trágico.

-Daí que pode ser seu pau.


Ela ri disso.

Aparenta entender bem,

-É nosso pau (um sorriso vem a sua boca)

Eu não penso desta forma,


Contudo evito entender melhor,

Pudesse nem ao menos estaria envolvida,

Mas ela olha e gosta disso,

Ele mais ainda.


 

quarta-feira, 22 de março de 2023

O Sinto

 

O que espera,

Seja amor ou ódio,

Ninguém sabe,

Diz-se o amo – a entrega,


Após isso, o beijo- sonho,

Vida de adolescente.

Mas, há nisso destino comum,

O que ama e o que não,


O justo e o injusto – a perda.

Ninguém sabe o que há no final da linha,

Quando acaba a emoção,

O que resta.


O que acontece com aquele que ama,

Acontece também com o outro,

A vida quase sempre se assemelha,

Mas quanto aos juramentos,


Há sempre quem tema fazê-los,

Você sabia disso,

Entendia o quanto eu sentia,

Minhas dificuldades em me expressar,


Sabia que no fundo, não havia amor.

Mas ainda assim insistiu,

Teimou em me olhar com violência,

Não tardou a alterar o tom de voz,


Até que enfim, certo dia – o tapa,

Na cara e em minha dignidade.

-Sim, pai. Eu errei em minha escolha.

Acabou tudo? Será que ele diria,


Não sei, porque nunca fiz mais que pensar.

Quando ele buscou o cinto,

Retirou-o sem dificuldade da calça,

E avançou em minha direção,


Eu corri, me recolhi sobre a coberta,

Ele então, retirou-a – a facilidade.

Nisso, rolei para fora e despi-me,

Retirei com pressa cada peça,


Exibi meu corpo – desnudo.

Ele olha, sorri e se acha grande,

O pênis acompanha o raciocínio,

Ele avança e solta o cinto sobre a cama,


Ao meu lado,

Encosta em meu rosto,

O sinto.

Passa sua mão áspera sobre minha pele,


Eu a sinto.

Recolho o rosto e repouso sobre o sinto.

Eu o sinto.

Ele se sobressai e me pressiona,


Esmaga meu rosto com carícias – será que brinca?

Minha boca se fere – o sangue,

Jorra um fio pelos meus lábios,

Ele se eleva e percorre meu corpo,


Roça minha barriga – desejo.

Eu me recolho – odeio a ideia de filho.

Penso que ele não é mais que isso,

O filhinho, o protegido,


Aquele que corre para o colo da mamãe,

Imagino, se alguém invadiria a porta,

E me protegeria,

Elevo o rosto e está marcado.


Mas não, ele não me agrediu, não ainda.

Saio para fora de casa,

Um dia ou dois após isso,

Assim que ganho forças para reunir a coragem,


Uma mulher sai roxa e manca.

-Não, eu não sofri violência.

Agora quando ele encaminha-se para o meu lado,

Eu já sei o que fazer de antemão,


Tiro a roupa – fico nua,

Enquanto me observa ele perde sua força,

Ganha em estatura – elevação.

Perde em tudo o mais que foi um dia.


É certo que junto ao cinto passou uma unha,

Isso eu só consigo observar muito tarde,

Nada a se fazer,

Dispo-me,


Agora, o me observar no espelho ganha forma,

O remover a calcinha ganha novo alcance,

Já não traço cada linha do meu corpo,

Tenho medo de reconhecer-me – a perdida.


Na medida- a pedida.

Só que ele já não pede mais – exige,

Chega o terceiro dia,

Alega cansaço, e já olha com jeito reconhecido,


Retira o cinto e o eleva para o alto,

Eu esqueço de dar o passo incerto para trás,

Desta vez não dispo-me – a fuga,

Me recolho e tranco a porta,


Penso em pular a janela,

Correr pela rua a fora... (nua).

Lá da rua vejo mais fácil a vizinha,

Procuro saber se ela ainda está viva,


Indago-a – por quê você não tira a roupa?

Ela fecha a janela com toda a força,

Ouço gritos, pranto e amargura,

Logo após ela bate a minha porta,


-Há aqui comida, e nela uma receita.

Não se alimente dela – a desconhecida.

Quase me reconheço nela,

Mas, me vejo no espelho,

Fico tão bem nua...


Amei-o

Os seus dias, como sombras,

Não serão poucos,

Mas esporádicos,

Há mais coisas sem sentido nisso,


O dia em que você me abandonou,

E antes, o instante em que me traiu,

Justas são as palavras que falo,

Tristes são as que omito,


Talvez, você merecesse ouvir a verdade,

Mas, tal como você eu não consigo,

Encará-lo ou dizer,

Você parece ter preferido desta forma,


Isso também, penso eu, não faz sentido.

Folheio as páginas do livro,

Rego as plantas, ainda colho as flores,

Visto aquele belo vestido,


Todos estes presentes,

Não sei se você ainda recorda,

Mas houve o dia em que se dedicastes,

Por nós, por me manter,


Não diria apaixonada,

Essa palavra já não serve para descrever,

Mas naquele seu encantamento,

Em que eu acreditava em cada frase,


Apoiava todas as suas ideias,

Admirava as suas atitudes,

De tudo isso, sobrou a desconfiança,

Não foi mais que uma ilusão,


Por isso, recomento desde hoje,

Desfrute da vida e tudo que lhe possa proporcionar,

Aproveite os beijos pelos quais fugiste,

O abraço que tanto quis,


Que valeu a pena me trair,

O beijo pelo qual lhe valeu mentir,

Porque debaixo do sol não há nada melhor para um homem,

Que ser feliz,


Recordo com certa tristeza o dia em que você me disse isso,

Não por ter acreditado,

Mas, por ter escolhido você,

Aquele cujos olhos não recolhem-se os sonhos,


Nem de dia ou noite,

Em você nada se alimenta,

Percebi através de tudo que você tem feito,

Perdoe-me o teor de ódio,


As juras de amor que foram abandonadas,

Da vida que vivemos agora eu fujo,

Deixei até mesmo as roupas,

Só que, queimadas.


Eu sei que você seria leviano o bastante para aproveitá-las,

E não quero isso.

Lembro o dia em que me pediu emprestado o biquíni,

É para a nossa amiga, você disse,


Lembrei esse dia e outros dias ainda,

Ninguém é capaz de entender o que existe debaixo do sol,

Bem, mas sobre o fogão sim,

Deixei lá algumas panelas com comida encaminhadas,


Espero, sinceramente que explodam,

Não, não quero único centavo de nossa casa,

Não importa nada do que eu investi nela,

Dos investimentos meus sentimentos são mais importantes,


Mas você já não se importa com isso,

Nem com a prestação em atraso,

Com o carro sujo na garagem,

Ou com o cão sem ração pelos cômodos,


Viver seus instantes foi mais importante,

Por mais que tente-se descobrir o sentido das coisas,

Nem todo o homem conseguirá,

O amor até pode fingir que entende,


Sabe-se o amor é benigno, é compreensivo,

Mas, na realidade, nem ao menos as chaves você encontrará,

Ah, já soube que você deixou sua cópia com ela...

Sim, eu percebo as coisas,


Vi desde o primeiro instante,

Apenas não quis demonstrar...

Se paguei na mesma moeda?

Sim, com muito mais dor,


Você perdeu-se por uma vadia,

Eu me perdi porque amei-o.


 

Eu o Encontro

Sim. Combinado. Eu o encontro. Guarde nossas lembranças, Transfira todas para um arquivo, Onde possa recorda-las, Num futu...