-Eu te amo, preciso que você saiba disso.
Ela leva a mão até seu rosto,
Não resiste em tocá-lo,
-Oh, perdoe-me, preciso saber o que você sente,
Diga-me, por favor,
Você sente por mim o mesmo?
Ela retira a mão assustada,
Ele sorri e seu rosto se deforma,
O riso é um misto de surpresa e orgulho,
Mas, não há nele nada de amor,
Há outra coisa,
Uma espécie de sentimento vitorioso,
É como se a olhasse mas não pudesse vê-la,
Havia ali um sentimento distante,
Que parecia nem ao menos pertencer-lhe,
Era como se buscasse preencher outra coisa,
Satisfazer outro alguém que não a si mesmo.
-Peço que me desculpe,
Mas sonhei com você esta noite...
Ela percorre com sua própria mão a testa,
Retira dali suor e um cheiro forte,
A mão que o tocou não fora limpa,
E agora parecia fétida.
Ela assusta-se com a ideia,
E afasta-se,
Parecia querer afastar-se de si mesma,
Odiava a ideia de rejeição,
Principalmente rejeitar um alguém que nem conhecia,
Não de forma tão profunda e latente,
Mas, palpitou alto a sua emoção,
E toda ela não desejava estar perto,
Ele cheirava a distanciamento,
Isso para não usar outro termo.
-Bem, sonhei com você e acordei assustada,
Lá eu corria para te ver,
Porque você chegava de surpresa
E arrombava a porta da minha casa,
Lá eu estava deitada sobre minha cama,
E só corria devido a uma certeza,
Teria que pagá-la,
Ora, parece estranho e desmedido,
Mas nele você só desejava meu prejuízo,
Mentia que me amava,
Fingia se agachar e me pegar em um dos seus joelhos,
Como se eu fosse uma menina,
Rejeitava meu sentimento de mulher,
Queria apenas minha espécie de “pureza”,
Eu bati forte contra meus lábios,
E mesmo acordada eles doem,
Rejeitei a palavra por provir de sua face,
Então, acordei e descobri que nunca toquei seu rosto,
Pois é, nunca cheguei em você tão perto,
Mesmo sendo íntimos,
Então, quando eu saía do quarto
Em poucas passadas,
Você me via pobre e fragilizada,
Ria um riso grande e jogado para trás,
Dava meia volta e beijava outra,
Outra maior como você,
Outra que era moça mas possuía seu tamanho
E, não descreio também suas ideias,
Acho que você queria me fazer ciúmes,
Despertar algo dentro do sonho,
E este algo você era incapaz de conseguir fora dali,
Me é estranho, estranho mesmo,
-Mas, agora por favor, abra a porta do carro,
Sim quero sair daqui, de perto.
Seu rosto foge do contato,
Talvez, até ele esteja cansado de tudo que você fez,
-Bem, mas diga que me ama, por favor,
A certeza que tenho é que preciso ouvir isso de você,
Há algo de profundo nisso,
E grande, há algo maior que você...
E este seu rosto, você sabe porque se derrama?
Ela o toca e você a satisfaz,
Mas a que preço?
Hoje, você não pertence a você mais...
Foge de si mesmo,
Não terá filhos,
Não me pergunte o motivo da certeza,
E os tendo não os reconhecerá,
Há ainda de você algo que seja verdadeiro?
Chega-se no ponto em que você está e tudo falha,
Estremeço e me encolho no banco,
Ele dá a partida e me ignora,
-Sim, eu a quero!
Ele diz com aquele sorriso caído,
O sol toca seu rosto e gera horror,
Os dentes bem colocados e amarelos,
Os lábios apagados ao fundo,
A pele parece derreter ao contato,
A cor foge em tons amarronzados,
Os olhos pálidos e esverdeados,
Um estremecer de horror gera pânico,
Olho para minha mão e meus dedos,
Eles serão obrigados a chegar perto,
Muito perto,
Há nesta proximidade o perigo,
Não de outra coisa - do contato,
Teria origem no sofrimento isso?
Pego minha mão com a esquerda,
Elevo-a até ele,
Sim, isso é uma carícia,
Você sabe ou saberia reconhecer?
Tenho a certeza que não,
E outra, ele não a quer,
- Gostaria de sair mesmo que a contramão,
Por favor, lhe pedi: pode me dar a liberdade?
Me procura para me repousar um beijo,
E meu estomago gera repulsa,
-Preciso por algo para fora,
Ah, por favor, pode abrir a porta?
Ele não faz mais que ignorar tudo que digo.
Mas, consigo por ora rejeitar o beijo,
Que repousa logo abaixo do meu lábio ferido,
Sinto mais dor,
-Me perdoe, eu lhe disse: já não posso!
Há um ponto em que já não se pode ir adiante,
Talvez, seja quando a cara do outro cai sobre você.