Rosie juntou seus livros,
Pegou o caderno
Pôs embaixo do braço
E seguiu para o colégio,
Aos quinze anos de idade,
Não pensou que um policial
Lhe ofereceria carona,
Nem que ele jamais a esqueceria.
Este foi seu erro cruel,
Logo ela irritou-se com a mãe,
Que fazia uso de remédios
Antidepressivo,
A mãe foi até o quarto
E enforcou-se.
Sobrou o pai,
Que logo arranhou outro casamento,
Optou por deixá-la sozinha,
Embora lhe desse alimento
E sanasse as contas,
Dava poucas notícias,
Quis saber pouco dela.
Sozinha,
Ela passou a ouvir vozes,
Sem saber de onde vinham,
As achou irresistível,
E obedeceu a cada uma.
Obcecada pelo que ouvia,
Foi até o pai com uma faca,
E o sangrou até a morte:
- você não vai esquecer de mim.
Ela o disse,
Assim que ele abriu a porta,
O deixou de joelhos:
- me perdoe, filha,
Perdoe.
Não houve regalias,
Ali ele sangrou com a faca
Cravada no peito,
Ela não presenciou o velório,
Se irritou com a morte,
Acusou a madrasta pelo assassinato.
O policial tomou frente
Da operação,
Conhecedor de suas ordenanças,
Alegou que foi roubo
O motivo da morte,
Feito por algum estranho,
Bandido próximo do local,
Se comprometeu de descobrir
Tudo e responsabilizar o criminoso.
Ela temeu,
Escondeu-se em casa
E chorou.
- eu quero um filho.
Ele disse.
- não.
Ela respondeu serena
E amedrontada.
Ele retirou o cinto da calça
De trabalho,
Bateu nela com ele,
Até deixar marcas de sangue
Por seu corpo.
- você é casado.
Ela disse.
- não importa.
Ele respondeu.
Bateu mais forte nela,
Até fazer sangrar,
Até deixá-la desmaiada
No chão da sala.
Depois deixou a porta destrancada
E saiu pra fora.
Os vizinhos não mexiam
Na casa,
Não feriam ela,
Obedeciam ele,
Tinham medo.
Ele tinha uma câmera
Na porta da casa
E escutas por todo o lugar,
Ouvia tudo que fazia,
E dava ordens
E exigia que ela seguisse.
Com medo
Por ele segui-la tanto,
Ela pegou a faca
Com a qual matou o pai
E arrancou a pele do rosto.
Não achou que merecia
Ser vista,
Quis sumir,
Ganhar novo rumo,
Desejou ter uma vida.
O policial irritou-se,
Pegou a viatura de trabalho,
Arremessou contra o portão,
Chegou até ela,
Puxou a arma e empenhou
Contra seu rosto.
Encostada na testa dela,
Na carne viva,
Esfregando contra sua dor,
Causando sangue,
Farejando seu medo.
- você quis me trair.
Ele falou,
Então, invadiu com o cano
A boca dela,
E ficou com o dedo no gatilho
E a arma dentro dela.
Depois retirou,
Ferindo seus lábios,
- você é capaz de me trair.
Ele insistiu.
Ela ficou silenciosa,
Apenas chacoalhava
A cabeça em negativa.
Irritada
Por ser obrigada a vê-lo,
Ela odiou os próprios olhos,
Ela não podia feri-lo,
Era incapaz de defender-se,
Não podia afasta-lo,
Então, perfurou ambos os olhos,
Ficou completamente cega.
Juntou uma máscara de gesso
Da infância,
Um trabalho feito no colégio,
E pôs sobre o rosto,
Uma máscara sem expressão
Ou buracos onde seriam
Os olhos,
Nela havia um risco de batom
Em formato de sorriso,
Mais nada.
Agora ela seria dele,
Completamente dele,
Sem olhar outro,
Sem falar com ninguém,
Sem um único sorriso,
Somente obedeceria sua voz,
Sabendo que em sua mente
Ela nunca o pertenceu,
Tanto quanto deixou de ser
Dona de sua vontade,
Agora, dentro dela,
Ela podia sonhar um amor,
E imaginar que este que a toca
Seria um alguém,
E não aquele monstro estuprador,
Do sistema policial “vigie-me”.
Seus cabelos negros
Soltos no lado do rosto,
Jamais receberiam carinho,
Seu rosto sem afeto,
Agora não tinha nem ao menos
Pele ou sentimento,
Seus lábios nunca beijados,
Não pertenceriam a armamentos,
O cheiro fétido do suor daquele
Monstro estuprador
E daquela farda maldita
Nunca chegariam as suas narinas,
Nem seus olhos veriam
O sorriso de triunfo
Daquele desgraçado municiado,
Protegido e assassino.
Restou dela o corpo,
A vida totalmente controlada
Por uma voz irresistível
Sob pena de morte,
Mais nada.
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