Aprendi a abrir os olhos as três horas da madrugada
E fingir que dormi, aprendi a imaginar mil coisas,
Mas de tudo que aprendi, nenhuma delas foi te esquecer,
Mesmo quando tomava uma xícara de leite morno,
Tentava ignorar o tempo, nunca pude ignorar a saudade,
Estrelas brilhavam e se apagavam; você ficava do mesmo modo,
Forjava um sorriso no rosto, seguia a rotina de sempre,
Chegada a hora em que nos víamos, uma lágrima borrava a
face,
Tentei ajustar o foco, coloquei-me o mais distante que pude,
Fingi que meus sonhos seguiram viagem, dispersei a mente,
Mas quanto mais tentava anular meus sentimentos,
Mais me via em falso, e ao buscar algo, feito destinos
cruzados,
Você surgia em minhas lembranças e tudo mudava ao meu redor,
Cansei de dirigir o carro, parei a beira da estrada, olhei o
retrovisor,
Nada me bastava, havia um vazio em mim, faltava algo que não
poderia repor,
Sentei no banco, removi o sinto, cruzei as pernas e as
estendi sobre a janela,
O sol me afagou tão intenso quanto suas carícias, não me dei
por vencida,
Ergui as vistas um pouco para mais adiante e pude me ver
tocar os sete céus,
Senti como se os dedos dos meus pés pudessem afagar o azul
do infinito,
Mesmo estando estagnada no tempo e tão distante de tudo,
Eu poderia acaricia-lo, não precisei de esforço algum para
vê-lo,
Seu rosto surgiu feito uma miragem em um daqueles céus, tão
perto,
Mesmo que fora do alcance das minhas mãos, estava comigo,
Eu sentia seus afagos me percorrer a pele com o mesmo calor,
Poderia mentir para mim mesma e alegar que era o sol que me
tocava,
Mas para quê faria isso? Se eu o amei desde a primeira vez
Por quê seria diferente para você? Senti meu corpo se
transformar,
Daquele instante para frente eu não seria mais a mesma,
Estonteantemente apaixonada, o problema de você não estar presente,
Se apequenava diante do que eu sentia, pude me apegar a uma
certeza,
A que mais me fez feliz na vida depois da sua partida: não
te esqueceria,
Não importavam as circunstâncias, te amaria, sem me quedar
para alternativas,
A saída para reviver este amor sem você ao meu lado,
Era te amar acima de todas as consequências, me apegar ao
que fomos,
O amor remove barreiras, vence o tempo, apaga os erros,
Busca o que está longe, aproxima ainda mais os que sentem,
Fechei os olhos, pude imaginá-lo comigo, senti meu amor se
restaurar,
Vi meus medos se afastarem, tão longe que nunca mais
poderiam me alcançar,
Num momento a saudade me abraçava, no outro, nossos sonhos
me tocavam,
Havia me punido o suficiente pelos possíveis erros agora os
abandonaria,
Nada além do amor tocaria nossas lembranças, sem pairar
sombra alguma,
Havia uma pergunta que martelava a minha cabeça, me feria em
agonia,
Ela havia permanecido sem resposta pois nunca busquei
sana-la,
Apertei o olhar, o sol batia forte, parecia clarear o meu
horizonte,
Como se estivesse recusando a minha inercia frente a tudo
que sentia,
Se aqueles céus já haviam amado eu não seria capaz de responder,
Mas ali mesmo, sentada no banco em que eu estava eu tive a
certeza,
Aquele céu em que eu estava colocada havia conhecido o amor,
Pelo menos o que eu vivi e que permanece vivo em mim,
Intenso demais para ser esquecido, seria assim, tão frágil
O bastante para ser afastado da minha vida sem motivos?
Ouvi um sussurro do meu coração em negativa; te amo,
Ouvi meus lábios ressoarem como se o sussurro ganhasse vida,
Como se meu amor fosse demasiado intenso para se calar,
Como se aqueles céus reagissem sobre minha alma,
O sol parecia enviar uma de suas faíscas sobre o meu amor,
Derretendo o gelo do medo que me envolvia por inteira,
Mas dessa vez, não era em forma de lágrimas, mas de outro
algo,
Todavia, sabendo que a esta altura onde você, meu amor, estava,
No outro lado do mundo, ainda era noite escura, noite de
lua,
Você deveria estar dormindo ou estaria a sonhar com o luar?
Talvez me vendo como eu o via agora, talvez recordando de
nós,
Um raio do sol pareceu reconhecer meus receios e sorrir
satisfeito,
Reconhecia o amor em mim e gostava disso, de lá dos céus onde
estava,
Agora ele tinha outro rumo: a noite de lua e através dela lhe tocaria,
Levaria a você o meu beijo, a minha pergunta sem resposta,
O amor que mesmo passando por tudo que passou, não se
apagou,
Teria a oportunidade de dar uma opção a você, meu amor, de
voltar,
Se esta opção não coubesse, você ao menos recordaria de nós,
Da mesma forma que eu, e quem sabe pudesse sentir todo o meu
amor,
Saber o quanto nossas lembranças ainda me mantinham viva,
O tanto de vezes em que eu chamava por seu nome por entre as
ruas,
Não havia opção alguma de ocorrer nada errado,
No máximo você fecharia a janela ou outra forma de não
reconhecer o que eu sinto,
Alegaria estar com sono, se trancaria em seu quarto,
E quando os sonhos viessem, talvez, ainda, pudesse ver meu
rosto,
Ninguém pode prever o que acontecerá, mas eu teria a minha
chance
De obter a resposta da qual tanto precisava para seguir
adiante,
Se após fechar a porta atrás de si você conseguiu esquecer
tudo que vivemos,
Apenas essa pergunta permanece a percorrer a minha alma,
Ecoando de todas as formas, me tirando o sono, o trazendo de
volta,
Tímida demais para me fazer vencer os medos e ir procura-lo,
Insistente o bastante para nunca conseguir se calar,
Uma vibração me acordou dos devaneios em que eu o procurava,
Tateei um tanto cegada, o celular chamava, atendi de modo
aleatório,
Um rosto insone surgiu na tela, um tanto triste e choroso,
O homem que eu amava parecia não ter me esquecido,
- Olá, meu amor eu te amo, lhe disse em felicidade
incontida,
- Oi, eu te amo também, achei que você estaria sentindo
minha falta,
Ele respondeu com um lapso de sorriso em expectativa,
- Sim, chamei por seu nome até ser ouvida, do dia em que
partiu até agora...
- Pois é, Deus nos ouviu, ele respondeu com o rosto ganhando
vida,
- Então, meu amor retorna para nós ou me permita ir te buscar,
Continuei jogando as palavras como se pudessem lhe alcançar,
E acredito que conseguiram, porque ele veio ao encontro
delas,
E um beijo caloroso e sedento repousou sobre a minha tela,
Vencendo a distância, tocando a minha boca, acariciando a minha alma.