domingo, 6 de abril de 2025

Lá no Terreiro

Namadinha cansou
De dormir sobre o galho,
Igual seu esposo Masharey,
Mesmo que fosse o pé
De figo da China.

Os frutos,
Grandes e saborosos,
Nunca deixaram de ser apetitosos,
Contudo,
Acompanhou a mamãe dela,
E foi dormir na área de casa.

Choveu muito,
E ela estava no coberto,
Fez sol e ela subiu na cadeira,
O côco ela fez no banheiro,
Ao lado da mãe.

Todavia, deu seu primeiro
Passo em direção ao desconhecido,
Entrou na sala de casa,
E dali para a cozinha
Foram muitos poucos passinhos.

Andou um pouco mais
E foi para a cama,
Ao lado da mãe e papais
E o Bruce.

Depois disso encontrou
A caixa de calcinhas
E se mudou para lá.

De tão feliz,
Pôs seu primeiro ovinho.

Logo que soube,
Masharey foi ver,
E parabenizar a mamãe.

O grande, educado e amado pai,
Foi ver sua melhor obra,
Seu lindo ovinho
Recém concebido.

Depois, ele saiu para fora,
Masharey é um galo
Do terreiro,
Ele gosta de estar solto,
Proteger a galinhada.

Lá fora ele cisca o chão,
Come repolho
E até mesmo peixinhos,
E fora isto,
Ele é amado por todas
As galinhas,
E esposinho delas.

Com elas,
Ele construiu um ninho
Logo embaixo do pé de louro,
E lá pôs quatro ovos.

Namadinha,
Dentro de casa está com sete
Ovos postos.

Todos na caixinha.

Agora, ela decidiu dormir
No ninho,
Irá choca-los,
Para fazer nascer novos bichinhos.

Chegou a hora de Namadinha
Não sair do ninho,
E em trinta dias nasceram
Os lindos novos pintinhos.

Todos estamos felizes,
E lá na live dos Brothers,
Eles parabenizaram Namady,
Que lá no seu ninho
Ficou muito mais tranquila
E segura.

sábado, 5 de abril de 2025

Perdidos e Com Fome

Reuniu-se um grupo de amigos,
Doze pessoas:
Sete mulheres jovens e bonitas,
Cinco homens de igual forma.

Decidiram velejar,
Ocorre que o vento mudou o rumo,
Todos permaneceram no grupo,
Contudo mudaram a rota.

Foram para a quilômetros
De onde iniciaram,
Num local de árvores e flores,
Sem comida ou água.

A fome chegou
E os pegou desprevenidos,
Não havia meio de comunicação,
Gritar não adiantava.

Se uniram um ao redor
Do outro,
Guiado pelo medo e instinto.
Logo, Adão puxou o biquíni de Mineira,
Mineira se irritou
Juntou um galho do chão
E bateu em sua cabeça
De ímpeto.

Adão caiu com o impacto,
Sangrou e não levantou mais.
Jussara e André se abraçaram
Assustados,
André abriu suas pernas
E abrigou ela ali no meio,
Abraçando-a
E beijando seus cabelos.

As estrelas brilhavam,
Mas a lua permaneceu escondida,
Foi uma noite fria,
Barulhos ecoavam nos ouvidos,
Todos se juntaram recostados,
Não se via um palmo.

Quem dormiu acordou cedo,
Quem não dormiu,
Foi tomado pelo medo,
Mais que os outros.

Acordaram e Johana,
Estava com as mãos unidas
Sobre os lábios fazendo toda
Espécie de barulho tenebroso.

Beirava as quatro da madrugada,
Quando identificaram
Aquela forma esquálida e indefinida,
Agindo de maneira aterrorizante,
André juntou uma madeira
Do seu lado
E meteu contra o rosto dela.

Johana se levantou sangrando,
Gritando aos urros da morte,
Chegou por trás de André
E juntou ele usando os cabelos
De Jussara,
Enquanto descabelada a outra,
Enforcava André.

Houve gritos de toda parte,
Jussara se arremessou para trás,
Num movimento onde parou em pé,
Juntou Johana pelos cabelos,
E rolaram as duas na terra.

Johana caiu montada
Sobre o corpo de Jussara,
Desferindo-lhe tapas e socos
No rosto sem parar,
Jussara começou a sangrar,
E André, então, interveio,
Pegou Johana pelo pescoço,
E a retirou de sobre a outra.

O grupo todo emudeceu
Do início ao fim da noite,
André sacolejou Johana
Pelo pescoço,
Até deixá-la cair inconsciente.
Jussara se agarrou aos pés de André,
Chorando desesperada.

André se agachou e pegou ela
Em seus braços,
Levando-a até a beira da água
E chorando.

Mesmo sendo homem
Deixou seu orgulho de lado,
Para olhar para aquela moça
Sangrenta e dolorida
E chorar.

- Allah, aonde estamos?
Ele clamou com a garota
Em seus braços.
- Allah, sinto medo.
Ele disse em suspiros e dor.

Jussara abriu os lábios sangrentos
Pra falar mas não pôde.
Lhe caíram dois dentes,
Um ela cuspiu no mar,
O outro engoliu
E parecia preso na garganta,
Se via morrer
Entre a dor e o não conseguir
Respirar,
Seus ossos doíam,
Seu rosto parecia se abrir,
Sangue escorria sem parar,
Não sentia o nariz.

Mas André estava aquecido,
E sentir seu pênis ereto
E excitado contra sua cintura
Foi bom,
Lhe trouxe calor e vontade de ficar,
Porquê o mundo todo parecia
Não os querer ali.

Desde o vento maldito e frio
Que iniciou e não teve fim.
Até a prancha que estragou
Contra algumas pedras submersas,
E o frio que cortava a pele,
Corroía os ossos.

- que fome.
Ela sussurrou entre dentes.
Suas barrigas roncavam.
Suas boas maneiras foram
Abandonadas há muito tempo.
Não haviam peixes,
Correram atrás de pássaros,
Mas, todos eram rápidos
E voavam num instante,
E os dias passaram.

Correram três dias.
Moscas sentavam sobre
Aqueles cadáveres,
Então, Marcelo juntou um pé,
E puxou Adão através dele.
- me desculpem,
Estou esfomeado
E não vejo saída.

Então, começou a morder
Aquele corpo flácido e mórbido,
E arrancou pedaços de carne
Entre os dentes.
Devorou-o.

Se alimentou até ficar satisfeito.
O grupo de amigos
Começou a disfarçar,
Se esconder um do outro
E comer a carne.

Na imensidão do mar
Não via-se nada,
Peixe ou vida.
Na vastidão do mato verde,
Não havia nada,
Ovos ou pássaros,
Eles fugiram aos bandos,
E outros animais não surgiam.

Tentaram subir nas árvores grandes,
Buscar amparo,
Não se via nada além do mato.
Estavam perdidos
E começaram um a devorar o outro.
E olhavam-se angustiados,
Quem iria julgar a atitude
Dentre eles?

Quem levaria o ocorrido
As autoridades para ter de responder?
Então, Cartian
Esperou todos se juntar e
Deu asas aos pensamentos,
Vida ao conflito:
- ok. Todos estão comendo,
Podemos aguentar algum tempo,
Ninguém irá morrer.
Não de fome.

Houve um silêncio entre todos.
- estamos com cede, certo.
Não há água.
Ninguém esperava isto
De vir parar perdidos
Num local inabitado.
Tiago, sorriu:
- ah. Quem se importa?

Pegou um tronco de madeira
Grossa do chão,
Levantou para o alto,
Fez umas manobras
Em gargalhadas
E meteu na cabeça de Jussara.
Ela caiu sem vida.

André pulou de ódio
E medo,
Empreitou contra Tiago,
E sofreu socos, ponta pés,
E ferimentos graves.

Com um soco de Tiago
Sobre sua testa,
Próximo ao olho,
O rosto de André se partiu,
Parte do cérebro caiu para fora,
E ele esmaeceu ao chão tremendo,
E gemendo.

Gemeu por horas.
Tiago puxou Jussara
Para trás do mato
E gritou de prazer
Mas os gritos se alongaram
E assustaram os demais.

Dirson se levantou do chão,
Onde todos pareciam estagnados
E foi ver o que havia.
Tiago estava estuprando o cadáver,
Jorrando porra sobre a carne fresca.

Dirson, nem se importou
Com o fato de Tiago
Possuir doenças sexualmente transmissíveis,
E ele nem lembrava quais.

Juntou um ramo de árvore,
O cortou com a própria força,
Com único movimento
Em sentido de quebra-lo,
E empreitou contra Tiago.

O ramo cortava o vento,
Fazia barulhos aterrorizantes
E de alcance longo,
Torceu e quase implorou
Que alguém pudesse ouvi-lo
E fazer algo para socorre-los.

Então, bateu em Tiago,
Um movimento contra seu rosto
E o derrubou,
O corpo de Jussara acompanhou
Um pouco a queda,
Depois parou.

Ele bateu em Jussara
E cortou seu rosto,
Depois pisou no pescoço dela,
Sentindo nojo absoluto:
- nojenta, imunda.
Olha o que você desperta monstra?!
Ele gritou.

Depois pisou sobre a barriga
Flácida dela,
Afundou dentro da pele,
Sem rasgar a pele,
Apenas com seu peso,
E foi até Tiago,
Batendo muito com aquele ramo.

As folhas do ramo foram
Caindo e ele ficou com
Os semi galhos limpos
E sujos de sangue.
- morre, desgraçado!
Ele gritou a toda voz.

Sempre batendo,
Até que caiu sobre o corpo
De Tiago,
E o feriu com socos,
Usando toda a sua força,
Quando cansou-se, parou.

Os olhos azuis de Tiago
Escorriam lágrimas,
Suas mãos estavam fechadas
Em punho.
Ele não se movia.
Sangrava silencioso.

Quando saiu de lá
Dirson se deparou com o olhar
Dos outros,
Que nada diziam.
- não sabemos quando iremos
Sair,
Ou se iremos voltar pra casa.

Ele falou arfante.
- não há fogo.
Estou explodindo por dentro.
Estou inteiro ódio.
Odeio tudo que vejo.

Então, se jogou sobre Solitian
E a beijou no rosto
Com força,
Caindo sobre seu corpo
E o mantendo imóvel
Na terra,
Ela respondeu ao beijo
Com afeto e respeito.

Ele tirou o pênis ereto
De dentro do calção
E transou ali em frente a todos.
Apenas afastando seu biquíni,
Transou por horas.

Entre gemidos e sussurros,
Houve a promessa:
- eu sempre desejei você,
Eu não tive coragem de dizer.

Olhou-a e disse:
- te amo.
Ela o abraçou,
Apertando ele em seu peito.

- poxa, cara.
Você é o mais lindo!
Eu gosto de você desde o colegial.
Eu odeio velejar,
Vim por você!
Ela respondeu.

O coração de ambos se abrandou.
Os outros juntaram-se,
E beijaram-se mutuamente,
No grupo mesmo,
Garotas e garotos
E todos.

Beijo a três,
Pegação a solta.
Com direito a se rolar
Beijando e se tocando.
- o frio causa este efeito.
Disse Jorante,
Sentado no chão.

Dirson e Solitian sorriram.
Abraçados.
- não temos escolha
Exceto nos aquecer.
Ele continuou.

- gostaria de conversar em acordo
Com todos sobre a carne,
Que relativamente é pouca,
Não sabemos por quanto tempo
Não teremos saída daqui.

Houve um burburinho
E alguém lá do grupo
Que ainda estava abraçados,
E uma garota sentava
No colo de um rapaz.

Disse:
- ninguém nada por tantos quilômetros,
Estamos fracos,
E não sabemos para onde ir.

- sim.
Temos sorte em estarmos vivos.
Dirson continuou.
- sem comida e sem água
Não iríamos sobreviver,
Ao menos estamos com alimento.
Ele continuou.

Todos se calaram.
- é crime matar,
Violentar pessoa viva ou morta,
Mas quem quer optar pela
Própria morte?
Temos direito a sobrevivência.
Ele disse.

- é certo que sim.
Respondeu Keila.
- estamos numa espécie de tortura,
É normal tomarmos decisão extrema,
E isto,
Ao sairmos permanece
Em sigilo.

Os dias correram,
Os corpos foram comidos,
Antes do fim da carne,
Chegou um navio,
Os avistou e chegou até eles.

Era o dono que veio
Passear pelas terras,
Ele se ofereceu para levar
Todos de volta,
Enquanto subiam no navio,
Ele foi perambular pela terra,
Então, encontrou Tiago,
Com o corpo definhando,
Morto e rasurado.

Chutou o corpo,
Olhou para o grupo de amigos,
Retornou ao corpo
E o chutou contra uma moita.

Caminhou em silêncio
Até a escada do navio,
Olhou seriamente de um
Para o outro.
E não disse nada.

Depois, recostou-se no navio,
Pensou um pouco,
Procurou uma pá
E retornou ao grupo,
Que estava emudecida
E grudados um no outro.

- há um corpo estranho
Lá na mata.
Cavem e enterrem-no.

Todos desceram com medo,
Cavaram fundo
E colocaram lá todos
Os restos,
Se olhavam significativamente
De um para o outro.

Olharam o dono da terra,
Que estava vestido
Em um terno escuro.
Ele desceu até o final da escada.
Ficou lá parado e imóvel.

O rapaz que tinha a pá
Passou por ele
E afundou com único
Movimento a pá aos pés dele.

Depois subiram todos.
Por último ele foi.
Retirou a pá,
E guardou.

sexta-feira, 4 de abril de 2025

Sem Um Dente

Meu pai me liga,
Tarde da noite.
- filha, perdi o dente.
O que o pai faz agora?
Eu paro em frente a televisão,
Olho e penso...

- ora, outro dia quebrou
E o senhor colou com o superbonder.
Ele ficou triste.
- trás aqui, deixa eu ver.
Eu te ajudo pai.

Pareceu que ele chorou.
Na noite,
Ele veio com minha mãe,
Eu coloquei a galinha
Na panela,
Coloquei temperos,
Fritei a carne,
Depois acrescentei o arroz
E a água,
Deixei ferver.

Fechei com a tampa.
Fui da cozinha até a sala,
Mesmo a casa sendo pequena,
Eu sentia orgulho
Por ter estes compartimentos
Definidos,
Meus pais me ajudaram a adquiri-la,
Através da venda de uma
Parte da terra nossa
Lá da roça.

Cheguei por trás dele,
Ele estava sentado no sofá,
Coloquei a mão em seu ombro.
- o que lhe deixa tão triste, pai?
Perguntei.
- a perda do dente filha.
Ele disse.

Eu saí de trás do sofá,
Fui até a frente dele
E o olhei séria.
- mas por quê isto é tão importante?
Eu senti medo.
Não tínhamos dinheiro,
A situação se complicava.

Eu estava na metade
Do curso de direito,
Não tinha respaldo financeiro,
O trabalho rendia pouco,
E nem ao menos era na área
Jurídica,
O que não servia para contar
Como experiência
No instante de buscar trabalho.

- era o dente que o pai
Colocou pra tua formatura.
Meu coração se apertou
No peito,
Meu pai sempre teve a falta
De dentes,
Feria a boca,
Demorou a encontrar
Um molde que encaixasse.

E a formatura viria,
Um dia,
Em anos na verdade.
E eu sem perspectivas na área,
Tudo pendia de mal a pior.

Meu atual chefe
Exigia trabalho árduo
E não queria pagar o salário,
Simplesmente, passou a alegar
Falência.
Doa a quem ferisse.

Falido e sem um pila.
Os concursos estavam difíceis
E exigentes,
E a fraude se espalhava
Em todo certame.
Fraude e corrupção.

Os advogados estavam
Mudando os meios de pagar
Os funcionários,
Queriam pagar em porcentagem
Por trabalho e resultado,
A questão é que o resultado
Era do juiz,
Depende de sentença,
E sentença de argumento,
Mas, quem argumenta
Contra o óbvio?

Ora, culpado sempre foi culpado.
- a formatura demora ainda,
Vai ficar tudo bem.
Eu respondi indo para
A cozinha.

- a questão é que eu comi
Ao meio dia,
E engoli o dente,
Depois expeli no banheiro.
Isto era complicado,
Realmente difícil de resolver.
- não pode ser feito novo molde?

Eu indaguei.
- não, custava muito caro.
Eu fiquei seria
Mexendo a comida na panela
Pra não queimar.
A verdade é que nenhuma
Filha iria gostar
De ver o pai submetido
A uma condição destas.

A lei diz que todos são iguais
Em direitos e deveres,
Que ninguém merece ser discriminado,
E que a dignidade merece ser respeitada.
A saúde é direito,
O asseio pessoal é direito,
Pois, ninguém merece estar
Se sentindo desmoralizado
E denegrido socialmente.

 E um sorriso é a estampa do rosto,
É através da boca
Que se fala e se expressa,
Um dente faz falta
E sua falta causa dor.

Lá na faculdade,
Eu advogava em um caso
Onde um homem pedia
Ao Estado o remédio Viagra
Que servia para ter ereção,
Ele queria ter uma vida
Sexual satisfatória
E meu pai,
Ali sentado,
Lutando por minha formatura,
Queria apenas um dente.

Um dente que se encaixasse
Perfeito na boca,
Sem ferir ou inflamar,
Um que não caísse ao morder
O pão,
Um que não tivesse que ser
Retirado do vaso,
Um dente limpo
Para uma boca digna
E respeitosa,
De um homem trabalhador
E bondoso.

A lei garante o trabalho,
E exige salário compatível,
Eu não estava nem ao menos
Recebendo,
Não tinha margem de emprego,
Estava pagando as parcelas da casa,
Corria o risco de despejo.

Um mínimo,
A lei exigia a todos um mínimo
Em direitos
Para que este ser humano
Pudesse contar com uma vida digna,
A lei dizia tanto
Mas não fazia nada.

Era proibido o trabalho escravo,
Mas meu pai,
Agricultor e ferido pelo trabalho,
Não conseguia se aposentar
Por invalidez,
Com a coluna em frangalhos,
E os braços sem os tendões
Que ligam eles aos ombros,
Ele estava apto a se virar,
Sobreviver do que pudesse.

Igualmente em direitos,
Igualdade de condições 
De fazer os direitos 
Serem preservados
E estabelecidos,
Para quem?

Marginalizado socialmente,
Eu logo teria um título de doutora
Pra lutar contra o descaso,
E o empurrão que o Estado
Gostava de dar,
Sem um escritório onde me colocar,
E sem saber por onde iniciar.
Comecei servindo o jantar.

A favor de um número minoritário,
Algumas mãos no poder,
Que concentravam direitos
Nas mãos de alguns poucos,
Para os demais
Uma fila de espera,
Com um telefone de contato,
Que sempre dá ocupado,
E lhe cobra a ligação.

Sem um dente,
Com medo de sorrir,
Oprimido para se expressar,
Enquanto o juiz despacha
Sentenças sem processar
Por causa pequenas,
Causas do pagar.

A faculdade sabe disto,
Ela não nos ensina a nos defender,
Há um sistema grande 
Do dinheiro instaurado,
E há os outros
Que buscam estar entre estes poucos.

Um sistema enraigado 
E engessado para sobreviver,
As custas do pequeno.

Outro dia,
Meu vizinho perdeu o CPF,
Então, ele tentou tirar segunda via,
Mas, ele não tinha como comprovar 
Que era ele mesmo,
Ele não sabia onde fez o registro civil de nascimento,
E sem aquele documento 
Ele não comprovava nem que nasceu.

Ele foi a um baile
Em cidade vizinha 
E furtaram sua carteira 
Com todos os documentos,
Depois disso,
Ele não teve mais nome,
Nem poderia ser identificado.
Apelidaram-no de ninguém.

Sabendo do que houve com ele,
O empregador dele
O demitiu,
Pois, ele não poderia comprovar 
Que era ele próprio.

Então, ele estaria lá sem identificação 
E isto compreende um crime,
E o responsável por ele
Estar lá,
Era a empresa,
Por isso,
Acharam que ele não faria 
Diferença no grupo empregatício.

Ele ficou triste,
Sentou na calçada e chorou,
O dono da loja
Exigiu o pagamento 
Pelo que ele devia lá,
Quitação de todas as parcelas.

- mas e se este que comprou 
Aí não sou eu?
Ele gritou.
Os guardas o tiraram para fora,
Estava causando algazarra,
Mas, foi advertido:
- paga ou paga!

Exames de um Idoso

Ele estava doente,
Senhor idoso,
Morava há 13 quilômetros
De distância do posto
De saúde.

Após consulta com o clínico geral,
Foi informado de que precisava
Fazer exames,
E que tais exames tinham custo.

O valor foi pago.
A gasolina no posto só aumentou,
Saiu o exame,
Com o exame em mãos,
Ele foi mostrar ao médico
Para olhar o resultado,
Contudo ao chegar lá
Soube que as consultas
Só ocorriam com hora marcada.

- como assim?
Vim de tão longe!
Ele falou.
- mesma distância de todos,
Tem que marcar hora com o doutor
Como os outros.

A recepcionista respondeu.
- mas estou doente,
Sinto muita dor.
O médico precisa ver os exames
Para me encaminhar no que precisar.
Ele continuou.

- não, Senhor.
O senhor precisa marcar hora.
O médico tem muitos pacientes.
Sua agenda está completa.
Ele ficou triste,
Mal conseguis ficar em pé
Devido as dores intensas.

- mas onde eu moro
Não passa linha telefônica,
Ninguém tem telefone próximo.
Ele disse, outra vez.
- então, o senhor vá até o seu
Vizinho mais próximo,
Alguém tem que ter telefone.
Ela respondeu decidida.

- mas ninguém tem.
Hoje em dia
Todos tem celular
E lá não pega rede,
Pega só quando quer.
E a internet é igual.
Ele disse, de volta.

- o senhor está sendo mal educado.
A lei do posto de saúde
Disse que está é a forma
Para consultar
E o senhor está querendo passar
Na frente dos outros...

- mas, veja lá o doutor?!
Ele está fora do consultório,
Está conversando animado,
Por favor, peça pra ele ver os exames!
Ele disse,
E fez menção de entrar
E ir até o médico.

A recepcionista se irritou.
- fique onde está,
O senhor está cometendo
Um crime.
Irá preso.
Não se mexa.
O analfabeto agricultor,
Ficou amedrontado,
Se escondeu atrás do vidro
Da porta de entrada,
Sem saber o que fazer.

- não me prenda,
Eu só estou doente,
Eu preciso apenas
Mostrar os exames.
Eu moro longe,
Não tenho dinheiro.

A recepcionista saiu
De trás do balcão,
Foi até ele,
Deferiu-lhe a mão espalmada
Contra seu rosto.
- seu pobre!
Analfabeto da roça!

Ele se encolheu,
Em seus oitenta anos,
E chorou,
Olhou suas mãos cheias de calos
Devido ao trabalho árduo
E chorou.

- você tem razão,
Eu não sei as coisas,
Eu só aprendi trabalha na roça!
Ele disse,
Como última alternativa.
Ela abriu a porta de vidro
E o chutou na canela.

- corra pra tua roça!
Ela gritou.
E chamou a polícia.
Ele se encolheu no chão,
Com os exames no envelope
Lacrado em mãos.

A polícia chegou com a cirene ligada,
As luzes azuis e vermelhas
Brilharam na parede do posto,
O velho continuava no chão,
A recepcionista
Que já estava atrás do balcão,
Viu a viatura através da janela de vidro,
E logo avistou o homem caído,
Então, se irritou,
Se posicionou no ódio
E saiu de lá
Com as chaves da porta,
A abriu.

- seu velho imundo,
Sais desse chão,
Se levante
Que a polícia chegou.
Maldito!
E lhe desferiu outro
Tapa em seu rosto
Envelhecido e enrugado.

O homem de levantou assustado,
Colou na parede e ficou.
A polícia entrou,
Estavam em dois fardados,
Deram um chute na porta
E abriram a primeira porta
Que dá para a sala onde
O velho estava.

Arma e algemas em punho,
Juntaram um spray de pimenta
E jogaram na cara do velho.
- parado roceiro.
Você está importunando
O posto de saúde.
É crime!
Criminoso.

Juntaram o velho pelos ombros,
Lhes deram uns empurrões,
E foram pedir a enfermeira o que houve.
Ela logo relatou a história.
- cala a boca, velho ignorante!
Você não tem vergonha na cara?
Incomodar no posto de saúde?
O policial gritou lá de dentro
Quando o velho quis explicar.

Imediatamente,
O velho foi algemado,
Seus exames foram tomados
E jogados na lixeira
E ele foi preso.
Saiu mediante fiança.

Vendeu o carro
Para pagar,
Voltou caminhando os
Treze quilômetros
Com calos nos pés,
E sem os exames,
Chorando e doente.

Foi marcada audiência,
Ele alegou que apenas
Tentou conversar com a recepcionista.
- então, você veio sem advogado
Porquê não tem com o quê
Pagar um?
A mediadora indagou.

- sim. Eu sou agricultor e...
Ela o olhou séria,
Tirando os olhos
Do computador.
- não importa em que o senhor trabalha,
Precisa de um advogado!

Ela respondeu.
Saiu da sala
Sem falar nada
E chamou um advogado dativo
Que passava.

- aqui está.
Agora este será seu advogado.
O Estado paga o serviço dele,
Este é seu direito.
Ela disse,
Ele sorriu,
Se levantou,
Cumprimentou com as duas
Mãos o advogado.

- obrigado, senhor.
Ele disse.
- é meu trabalho.
O advogado respondeu e sentou.
Havia uma mesa na sala,
Num lado estava o réu,
No outro o advogado,
No final da mesa retangular
Estava a mediadora atrás de uma
Mesa de escritório e computadores.

- então, você tentou invadir
O posto de saúde
E obrigar o médico a olhar seus exames?
Ela indagou seria.
- não senhora!
- então, por quê aqui diz isto?
Ela perguntou.

- foi um erro,
Eu só queria que o médico
Olhasse e dissesse
Que doença tenho.
- então, porquê invadiu?
Uma viatura policial
Teve que ser deslocada até lá
Porquê o senhor estava agressivo.

- não senhora.
Ele negou.
- como que não?
Há um relato escrito aqui
E assinado!
Ele olhava para ela
Amedrontado e choroso.

- não senhora,
Eu só estava doente.
- você tem testemunhas?
Ela perguntou.
- não, eu fui sozinho lá.
Eu só ia mostrar os exames.

- então, porquê invadiu?
É um local público,
Um local de saúde,
Com pessoas doentes...
- eu estava doente, senhora!
Ele respondeu com as mãos

Trêmulas e em prece.
- perdi meu carro,
Não posso trabalhar,
Estou doente,
A polícia tomou meus exames...
Ele dizia.
- a polícia?
Então, não foi você
Que invadiu
E na hora perdeu os exames?

- não, senhora.
- se eu pedir lá,
Eles não encontraram seus exames
Porquê você os deixou
Gritando e invadindo o lugar?
Ela perguntou seria.
- não, a recepcionista não gosta
De mim.
Ela me bateu.

- o quê?
Você está acusando
Uma funcionária pública
De um crime?
Ele ficou calado e espantado.
- doutor, o que eu faço?
A mediadora pediu ao advogado.

- senhora mediadora,
Por favor,
Peça o envio das imagens das
Câmeras de vigilância do local.
Ele pediu.
- ok.
Ela respondeu,
Colocou no termo e assinou.

Um mês havia passado
Do ocorrido.
A secretária do posto de saúde
Foi intimada a apresentar
As imagens,
Ela apresentou um termo
Assinado pelo advogado
Do município
Dizendo que não haviam imagens.

O delito tinha pena pequena,
O idoso possuía bons antecedentes criminais,
O processo crime foi arquivado.

O idoso recebeu o resultado
Através do oficial de justiça,
Não entendeu o que havia,
Mas precisou assinar,
Sentiu pavor desmedido,
Sofreu um infarto,
Foi conduzido ao hospital público.

O oficial o deixou
Sob os cuidados do guarda local,
E depois saiu.

O idoso foi deixado numa maçã
No meio do corredor,
O médico estava viajando,
Ele não foi atendido,
Inconsciente e deixado lá,
As portas do hospital
Se abriam e fechavam sem parar.

Havia muitos doentes
Nesta noite tumultuada,
Uma enfermeira passou,
Olhou para ele,
Ela estava com uma prancheta
Em suas mãos,
Lá estava escrito:
Um quadrado onde se marcava um x,
Ao lado Consultou.

Ela olhou e parou,
Pensou se colocava o x
Ou se esperava.
Então, se encaminhou
Para a sua sala
E decidiu não marcar nada.

Tapa Na Cara

- você viu a chuva?
Meu pai indagou.
Eu estava sentada
Sobre duas pedras
Ao lado da minha irmã.

Nós silenciamos a conversa
Tentando ouvi-lo
Para ele se justificar,
Pois parecia que ele iria seguir
Conversa.

Olhamos para o céu,
Não havia chuva,
Mal tinha nuvens
Naquele céu azul profundo.
Eu não entendi
Sobre o que ele se referia.

Então, ele passou carregado
De feijão seco na palha,
Indo levar ao paiol.

E eu confesso:
Não quis me levantar
De onde estava,
Senti preguiça,
Mesmo sabendo
Que passei a tarde
Toda sentada
Enquanto ele estava
Entendo o sol intenso
E o cansaço trabalhando na roça.

Então, ouve alguns gritos,
E falas que eu não entendi,
Acho que dá parte
Da minha mãe
E do meu irmão,
Sei lá.

Eu estava gostando
De conversar com minha irmã,
E não quis parar.
Este foi meu erro.

Meu pai chegou em nossa frente,
Outra vez carregado
Com uma braçada de feijão
Seco na palha
Que estava em frente a casa,
Sobre uma lona secando.

E soltou irritado a braçada
No chão,
Chegou em mim,
E me bateu no rosto
Com a mão espalmada
E com força,
Bateu muitas vezes,
Chocou minha cabeça
Contra a da minha irmã,
Me chocou contra o pilar
Da casa.

Me pegou pelo pescoço,
E bateu ainda mais.
Foi horrível.
Me senti a pior das criaturas.
Na escola,
Quando eu chegava
Com o rosto roxo,
As garotas da sala diziam
Que estava sujo.

Então, eu corria ao banheiro
Que não tinha espelho
Para me lavar,
Lavava e lavava sem parar,
E doía.
Doía para caramba.
Eu odiava apanhar.

Um rosto de uma trabalhadora
Rural é sempre marrom,
Quase sempre se confunde
Entre a terra e o sol,
Isto disfarçava os roxos.
Eu cresci com ódio
De tapa na cara.
Ódio demais.

Um dia,
Meu ex marido me ameaçou
Com a mão espalmada,
Eu corri até ele
Para brigar,
Eu bati nele,
Eu usei minha força contra ele,
Eu saí dolorida
E destruída pela raiva,
Mas não me contive,
Eu odeio tapa na cara!

Certo,
Ele viu uns nuvem no céu
E reconheceu que choveria,
Isto o faria perder o trabalho do dia,
E até estragar a semente do feijão,
Mas, eu não sou a moça do tempo,
Não venha me falar do vento sul,
Se ele for para o norte,
Eu nem me importa.

Não fala de massa de ar quente,
Se ela está fria
Eu penso que deixei a geladeira
Aberta,
Nem me explica a diferença
Da sombrinha
Pro guarda-chuva,
Eu não entendo de previsão
Meteorológica com base em nuvem.

Eu odeio homem
Que se sobrepõe através da força,
Tapa na cara
É coisa que humilha,
Humilhar não ensina,
Destrói a autoestima.

Eu sou fragilizada,
Eu aviso de antemão,
Não me mostra a mão aberta,
Que eu corro tirar satisfação.

Minha irmã 
Que é quieta e calada,
Correu até ele
E lhe desferiu um tapa,
- seu viado,
Bater em menina
É coisa de viado,
Ela é criança 
E você?
É um viado!

Ela se alterou,
Isto me abalou,
Eu não me acostumo
A ver o peito dela 
Arfar entre o medo
E o ódio.

Meu coração parece 
Querer sair do peito,
Eu sinto ódio,
E sinto medo
De que ele a fira,
Homem que bate,
É o diabo!

Homem violento 
É obra do demônio,
Mão aberta em minha direção 
É convite pra eu abrir o bocão!

Cabo do Medo

- vamos traiar bem a rede, Sem deixar espaços Pro peixe fugir. Disse Mario a Dalson. - tá certo, Se passarmos o cabo De l...