O jornal impresso
Já foi mais requisitado,
Em tempos não tão distantes,
Era requisito para o café da manhã,
Acompanhamento do chá da tarde.
Contudo, ultimamente...
Disse Rodrigo,
Baixando o jornal sobre a mesa,
Quando num instante
Algo lhe chamou a atenção:
“Convite para Um Homicídio!”
Ele retornou a olhar,
Ergueu o jornal bem próximo
Aos olhos,
Leu e releu a frase,
Depois buscou informações
Que constava logo abaixo
Da frase,
Rua das Hortências,
N 2538, bairro centro,
Cidade São Paulo.
Horário, dezesseis horas.
- Claiton, Claiton,
Corre aqui e leia isto para eu.
Claiton deixou o pano
De limpar a mesa do café,
Veio até o senhor Rodrigo,
Um idoso de oitenta anos,
Cabelos e barba branca,
Visão fragilizada pelo tempo.
- o senhor nunca reclama
De não conseguir ler
Senhor Rodrigo,
O que houve hoje,
É porquê está nublado o tempo?
Ele indagou,
Chegou ao lado do idoso
Que sentava-se sobre um banco,
Nas sombras do café,
Na calçada da cidade de São Paulo.
Pegou o jornal que o senhor
Alcançava,
Leu o anúncio,
A pedido releu outra vez.
- não há dúvida, senhor.
Está escrito isto.
O jovem falou.
- mas é daqui a uma hora,
E o local fica a duas quadras?
O velho falou,
Abismado com o até viu e ouviu.
- sim.
Em pleno ano de 2025
E alguém usa de estardalhaço
Para aquecer a venda de jornal.
Ele disse
Devolvendo o jornal
Nas mãos de Rodrigo.
- não penso isto.
Achei tudo muito minucioso.
Não parece fictício,
Quase me sinto com medo.
Rodrigo falou,
Sorvendo um gole de café.
- imagine, está tudo bem.
Não preocupe-se.
Homicídio é crime,
Aliás, este anúncio também não
É muito sensato.
Ele disse,
Organizando a camisa amarela
Do velho,
E o ajudando a sentar-se
Melhor no banco.
Depois, voltou aí trabalho.
Rodrigo folheou as páginas,
Logo adiante,
Havia “busca-se emprego”.
Havia ao lado a discrição
Da pessoa e uma foto sua.
Depois disso,
Havia um impresso de página inteira,
Em tons enegrecidos,
Mas muito visível.
“Acidente automobilístico tira a vida de uma jovem”,
Embaixo dos dizeres
Tinha uma impressão
De sentença de um juiz
Onde prescreve quatro anos
De apenamento do responsável
Pelo crime,
Apreensão da carteira de habilitação
E dois anos de impedimento de direção de automóvel.
Abaixo, quase no fim da página,
Havia uma foto
De um homem com as mãos
Sobre o rosto
Em prantos,
Umm carro azul destruído
Logo a frente dele,
Uma mulher ao volante ensanguentada,
E aparentemente desfalecida.
- jeito triste de morrer hein,
Claiton?
Esmagada contra um carro,
Sem chances de viver...
Disse o idoso.
- triste senhor Rodrigo,
Deve doer.
Triste mesmo.
Comentou alto o rapaz,
Servindo um casal na mesa
Dentro do café.
- mas, se este da foto
Foi o assassino,
Está sofrendo,
Não sei o que dizer...
Disse Rodrigo.
Claiton, saiu rápido
Para fora do café,
Deu uma olhada de soslaio,
E comentou:
- qualquer um sofreria.
Matar alguém deve ser difícil.
O rapaz comentou,
Limpou a mesa de frente
De Rodrigo
E retornou para dentro.
- veja Claiton,
As horas passam.
Está se aproximando o horário
Descrito no jornal.
Rodrigo falou,
Consultando o relógio.
De repente,
Um movimento inesperado
De pessoas passa a percorrer
As ruas,
Conversas baixas,
Olhares curiosos,
Indo em direção ao local,
Lhe pareceu.
Claiton ligou a televisão,
E o plantão de notícias
Noticiou a manchete do
Jornal local.
O apresentador riu,
Mas, disse que em razão
De o jornal ser de grande
Circulação,
Estavam levando a sério
A notícia.
Disseram ainda
Que entraram em contato
Com o redator do jornal,
E obtiveram a informação
De que a notícia,
Embora, devidamente paga,
Através de transferência bancária,
Se originou por telefone,
Como uma espécie de ameaça.
Se referia ao pai
De uma jovem
Que buscando justiça
Por ter perdido a única
Filha através de um acidente social,
Deu repercussão ao acidente
Por todos os meios possíveis,
Com o intuito de evidenciar
Que não foi por descuido,
E implorou por justiça
Por parte do judiciário,
Alegou que tudo que queria,
Era unicamente isto.
Então, postou a foto
De como um trabalhador
Pai de família
Encontrou sua filha,
Ensanguentada,
Presa num veículo,
Morrendo aos poucos
Por dor e negligência.
Neste aspecto,
Ele mostrou sua dor
E resignação ante ao fato,
E recebeu após a repercussão
Da notícia e fotografia
Ligações de ameaças e ofensas,
Foi chamado de assassino
Da própria filha.
Inclusive, o próprio
Veículo de comunicação
No qual ela deu repercussão
Ao acidente,
Houve ofensas dirigidas
Diretamente contra ele.
Agora, amedrontado
Não pode sair sozinho de casa,
Sofre ameaças,
E o juiz foi ameno
E na concepção dele
Parcial ao proferir sentença,
Considerou a moça,
Filha única,
Como um animal
Que morre esmagado no asfalto.
Segundo o jornalista,
O homem gritava:
“ Ela não é um animal,
Ela não é um animal!”
E avisou que será morte
Por morte.
- veja só Senhor Rodrigo,
Será que matará o juiz?
Indagou Claiton lá de dentro.
- pois é,
Matou mesmo a filha dele.
O rapaz continuou.
- o juiz dizer que foi
Sem intenção de matar
Que ocorreu o acidente,
Alegar negligência
Através de veículo automotor,
Realmente, parece estar
Sendo omisso com relação
A dor de perder um ente querido...
Disse Rodrigo,
Com o coração aos saltos.
- sim, Senhor Rodrigo,
Se morte é morte,
Porquê se for através de um veículo automotivo
Eles querem dizer que o crime
É menor?
Perguntou o jovem.
- não sei.
Mas este homem está
Respondendo em liberdade,
Com certeza,
Já está dirigindo pelas ruas
Da cidade.
Você se cuide
Ao voltar pra casa viu?
Disse Rodrigo.
O jornalista ainda dizia algo,
Para finalizar,
Informaram que mandaram
Um jornalista especializado
Da capital de São Paulo
Para de fazer presente no local
E filmar o que ocorrer.
Encerrou a nota indagando:
“quem este homem irá matar?”
A programação na televisão
Voltou ao normal,
Na cidade nem deixou de estar,
Não fosse pelo aglomerado
De pessoas aos bandos
Próximo ao local de encontro.
Alguns portando armas,
Outros usando drogas,
Viaturas policiais assustadas,
Que fecharam seus vidros
E pareciam estar cegas,
Contudo olhando o povo.
Ao pé das dezesseis horas,
Nem um minuto menos,
Ouve-se um tiro não muito distante.
Rodrigo levanta-se,
Retira o chapéu da cabeça
E corre as tais duas quadras.
Claiton, se eleva
Nos degraus do café
E tenta buscar informações.
Chegado no local,
Rodrigo descobre
Em meio a certa multidão,
O tal homem que se envolveu
No acidente de trânsito
Com a moça, morto.
- que houve,
Que houve será?
Ele perguntou
A uma mulher que estava
Em pé ao lado do cadáver.
- recebeu uma ligação,
Ali dentro da loja,
Saiu para fora,
Virou para aquela direção...
Ela apontou com o dedo
O local onde havia um prédio alto.
- levou um tiro na testa
E caiu estremecendo,
Depois, não se moveu mais.
Veja, parece que tem um
Homem na janela lá do alto.
Ela falou,
Se referindo ao prédio.
Rodrigo olhou o homem desfalecido,
Fez o sinal da cruz
E retornou ao café
Com as notícias.
- pelo visto o enlutado
Cumpriu com sua palavra.
Ele disse na chegada.
Pessoas se juntaram nas proximidades,
A rua foi completamente fechada
Devido a aglomeração,
Carros paravam onde estavam,
Isto se referia,
Até aproximadas cinco quadras
De distância do local.
O repórter do jornal televisivo,
Filmou o homem morto,
Mostrou o tiro,
E o rosto do indivíduo,
O juizado local silenciou.
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