segunda-feira, 12 de maio de 2025

O Mulato- encontro com o passado

Apeou do cavalo
Em frente a antiga varanda,
Agora com caibros
Para o alto,
Grade de madeira a apodrecer
Devido a chuva
Que desce pelo telhado
Onde caíram algumas telhas.
Ele amarrou o cavalo,
Manuel também.
Entraram no que restava
Do seu passado,
A casa,
Onde nasceu e viveu
Seus primeiros anos.
Logo de imediato,
Encontrou um tronco
Enegrecido pelo que pareciam
Ser chamas,
No tronco haviam buracos
Onde se colocava os escravos,
Pulsos, pescoço e pernas...
Com fins de suplício.
Raimundo levou a mão
Ao rosto com espanto,
Saiu de lá,
Foi até a capela,
Antes dela cruzou pelo cemitério
Onde estava os restos mortais
De seu pai.
Havia apenas uma pedra negra
Sobre a sepultura,
Os anos correram todo o resto,
Até mesmo o nome,
Talvez os ossos...
Sua imagem,
Tudo escorreu com o tempo.
Na capela,
Em frente a imagens corroídas
De santos,
Estava uma negra,
Cabelos, pele e ossos.
De súbito ela olhou para trás,
Levantou-se,
Trazia nos joelhos
A marca de suas orações
Constantes,
Ela levantou-se louvando a Deus
Num rompante de loucura,
Entoando orações
Como se fosse uma celebração
E correu para o seu alcance.
Raimundo se afastou,
Assustou-se,
Se sobressaltos
E levou a mão de ímpeto
Ao chicote que trazia
Pendurado no cinto.
Manuel correu
E afastou a escrava,
Raimundo chegou a gritar
Algo mexeu com seus nervos
Lhe despertando
Uma espécie de ódio
Que não pode controlar,
Ao ver aquela mulata
Tão magra,
Louvando daquela maneira
Ele sentiu repulsa.
Afastou-se,
De ímpeto,
Puxou o chicote do cinto,
O estendendo aos seus pés,
Afaste-se ou irei usá-lo.
Ameaçou com um grito
Estridente e alto.
Como se não visse ali
Um ser humano,
Quis sobrepor-se,
Afastar-se,
Fugir.
Sentiu medo dos restos
De seu pai,
Isto incluía seus escravos...
A espera-lo
Em maldito atrevimento,
Que sentimentos
Eram estes tão intensos
Que guiavam está negra
A quere-lo tanto?
De um movimento
Enrolou de volta o chicote
Entre os dedos
E permaneceu com ele
Em mãos.

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